quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Agulha Revista de Cultura # 127 | Fevereiro de 2019



SURREALISMO E JOVENS POETAS BRASILEIROS, 2

Em sequência ao trabalho iniciado na edição anterior, ARC # 126, temos agora dez outros poetas, mantendo acesa a agulha de suas afinidades com o Surrealismo. Acompanha cada mostra de poemas as respostas dadas por eles a questões em torno das relações entre vida e obra, bem como suas referências estéticas e uma estimativa do panorama da lírica de seus pares. Com isto filiamos obra e pensamento, por vezes descobrindo neles o gosto pelo ensaio, a voz franca apontando caminhos, percebendo os meandros de seu universo criativo.
Dentre as confluências nessas respostas, duas se destacam, interligadas: a compreensão de um campo aberto imperativo à criação, e o que um deles avalia como certo afastamento da tradição, ao referir-se à sua geração. A conexão entre estes aspectos é acentuada pela liberdade de viver e criar, e a compreensão de que a ausência das escolas e vanguardas trouxe até eles, mais do que a perda de referências, o desafio de criar um mundo próprio. Segundo Julia Moura: Bebemos movimentos o tempo inteiro, mas quem somos nós?
Esta é a linha do horizonte desses novos poetas. E o grande aprendizado deles vem das cataratas dos excessos de nosso tempo, do desmantelo grotesco das sutilezas, do obscurecimento dos significados mais essenciais da própria existência. O mundo tornou-se elegível pelo espectro irrelevante de repetições de conceitos e artimanhas. Uma retórica avassaladora desmembra os sentidos e deixa a todos órfãos de si mesmos. Esta foi a cerca eletrificada que apenas raros poetas nascidos em décadas anteriores (1950/1960) conseguiram identificar.
Ouçamos uma das novas vozes, Vinicius Varela: Já disseram que amor é tanta coisa que ele acabou sendo nada. Mal contemporâneo, se tiver que dizer poesia, já não é, se disser nosso nome já não somos. Bem compreendido o ardil, o passo seguinte é descobrir os elementos integrados para a construção de um novo tempo. Recapitular falhas, desmatar obstáculos, deslacrar as zonas obscuras da própria vida. Recuperar a força intrínseca da palavra. Andréia Carvalho Gavita destaca: sugerir ao invés de nomear, ser mais um sigilo entre os sortilégios e sonoridades da existência.
Os poetas que seguimos publicando em nossa série são valiosos indicativos de que é vital e possível livrar-se dos marca-passos herdados pela tradição. O sangue pode voltar a fluir livre como requer a multiplicidade de ritmos e valores. Nas dez vozes aqui presentes os timbres são diversos e distintos, mesmo que confluam, em alguns casos, as referências. E em todos eles o imperativo de dar nova razão de ser à palavra.
Ao lado deles, a plástica de Eugenia Loli, grega de nascimento e que hoje vive nos Estados Unidos. Suas colagens são um jogo articulado à beira do abismo envolvendo os excessos oriundos da tecnologia e da propaganda, e um fino humor com que desmantela a condição cosmética da realidade. Também aqui o desafio aceito de corrigir, ainda que apenas os acentuando, os efeitos da retórica.

Os Editores

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• ÍNDICE

1973 ANDRÉIA CARVALHO GAVITA

1975 JEANINE WILL

1979 DAVI ARAÚJO

1979 DEMETRIOS GALVÃO

1981 ANA FARRAH

1993 VINICIUS VARELA

1995 AMANDA VITAL

1996 PEDRO DZIEDZINSKI

1999 JULIA MOURA


Eugenia Loli



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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Eugenia Loli (Grécia, 1973)


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 127 | Fevereiro de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019




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