sábado, 27 de junho de 2020

AGULHA REVISTA DE CULTURA # 153 – Maio de 2020


• EDITORIAL – O FRACASSO DE UMA CIVILIZAÇÃO

Devemos usar a expressão correta que defina a realidade. O Brasil é hoje um país brutalmente abandonado por seu governo. Um país fora de moda que deve ser evitado pelo resto do mundo. Haverá um momento em que teremos que avaliar sinceramente o que nos trouxe até aqui. Agora nós temos um problema maior, que excede até mesmo a catástrofe sanitária que está nos infectando e matando diariamente. É sabido por todos que temos na presidência da República um psicopata genocida. Sentimento correto e amplamente compartilhado. O modo criminoso como abandonou o país o situa como o principal responsável por todos os mortos. Hoje o Ministério da Saúde é um órgão de fachada. Sua inoperância equivale à extinção. A reação a esta violência não tem sido menos criminosa, considerando a cumplicidade letal que caracteriza o silêncio ou a subestimação. De algum modo, em grau maior ou menor, somos todos cúmplices deste canalha que está destruindo o país. As exceções, que sempre existirão, devem se sentir desconfortáveis em meio à paralisia geral cujas razões não se mostram.
O que esperamos para agir? Que estejamos todos mortos? O que esperam ganhar políticos, empresários, estudantes, intelectuais, artistas com todo este morticínio imparável? O que se está provando agora é de assustadora conclusão: O brasileiro jamais tomará a frente de nada por seu país. Há os que roubam, os que lastimam, os que fazem piada. Há os que se acostumaram a entregar a vida à patética figura de um inexistente herói nacional e aqueles ainda mais inconsequentes que não se julgam responsáveis por nada e com isto encerram a questão. Há em todos eles um medo atávico de enfrentar seus próprios fantasmas. Os brasileiros só são geniais quando tudo está bem. Agora a situação é pior do que inversa, pois ocorre que um bandido desqualificado virou o jogo a seu favor, percebeu o ponto crítico do caráter nacional e está tripudiando sobre cadáveres. Não há dúvida que um país é reflexo de seu povo. E este é o país que permitimos.
Estamos vivendo em uma realidade desencontrada. Não se trata de ficção, mas sim de perversão. Tudo à nossa volta é retirado de lugar, funções e significados embaralhados. Regras desmentidas ou não cumpridas. Referências fora de órbita. Uma sociedade desorganizada pelos mesmos poderes que a estrangulam em sua capacidade de reação. Em um mundo de erros sistêmicos a ninguém corresponde a responsabilidade de acertos. Até mesmo os deuses se eximem. Enumeramos os casos mais absurdos: como pode haver flexibilização da quarentena se continua crescente a curva de mortos e infectados pelo vírus? Como o Congresso Nacional pode aceitar a inoperância criminosa do Ministério da Saúde? Somos um país com o livre arbítrio à deriva, sem poder de reação contra todo um estado de coisas que há muito manipula nosso espírito. Uns se julgam protegidos; outros se desfazem de qualquer responsabilidade; há ainda aqueles que subestimam tudo o que está acontecendo. Os verdadeiros culpados jamais aparecem no espelho. Orientados por uma falácia, o mundo já não nos respeita, pior: nos considera um país a ser evitado, uma sociedade enferma, um governo inescrupuloso. Em meio a tudo isto disparando uns contra os outros os cartuchos mofados do que nos resta de indignação.
Antes mesmo que possamos todos voltar a sair de casa e a circular pelas ruas, já sabemos, com toda a experiência do corpo e do espírito, que não podemos contar com o Estado. Ou aprendemos a viver sem ele ou nos obrigamos a inventar um novo Estado. A administração do bem comum, como a conhecemos, se fez inaceitável, já não se pode confiar em nenhuma forma de governo. Isto exige de todos nós uma forma de organização até aqui insondável, sob pena de estraçalhar o tecido social e erradicar a potência visionária do indivíduo. E há uma meta que já deveríamos considerar, a de escapar desse looping que nos foi imposto pelo Capitalismo. Entramos e saímos repetidamente em um dia padrão que se repete incansavelmente, onde o cidadão foi definitivamente convertido em mero consumidor. Tal mecanismo atesta o fracasso de uma civilização, e sua comprovação brutal se dá justamente graças à pandemia, cujo imperativo do isolamento social atua como um xeque-mate nos caixas do Grande Mercado.
A presente edição da Agulha Revista de Cultura abre a seus leitores um portal para reflexões sobre os efeitos da pandemia no mercado editorial, bem como seus entraves a outras questões. Alguns textos foram escritos especialmente para esta edição, aqueles assinados por Leda Rita Cintra, Thereza Christina Rocque da Motta, José Ángel Leyva e Omar Castillo. As duas primeiras, brasileiras, seguidas por um mexicano e um colombiano. Os quatro são editores, com experiência tanto na produção de livros como de revistas de cultura. Também para este número um outro editor, Alfonso Peña, a partir de sua base na Costa Rica, preparou uma enquete envolvendo escritores, artistas plásticos e editores, observando inúmeros aspectos ligados a nosso tema central. Àngel Leyva comparece com um segundo artigo, intitulado “Pandemia: ¿el coronavirus llegó para quedarse?”, recém publicado em um periódico mexicano (Milenio, junho de 2020). Do francês Joël Gayraud emprestamos a tradução ao espanhol, assinada por Eugenio Castro, de umas reflexões suas sobre a pandemia. Da cientista política argentina Juliana Montani reproduzimos um artigo escrito há dois meses (El País, março de 2020), texto que mantém sua atualidade no que diz respeito a preocupações como o intercâmbio de informações, regulação de patentes, invasão de privacidade etc. Por último, emprestamos de outro periódico, BBC News Mundo, um artigo do jornalista Gerardo Lissardy, que contribui com uma visão mais global. Como artista convidado deste número de Agulha Revista de Cultura optamos por um contraste dado pela grande angular da fotógrafa portuguesa Teresa Sá Couto, cuja vastidão capturada com sua câmara nos faz lembrar que o mundo pode voltar a ser maior do que a cilada em que caímos a humanidade.

Os Editores

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Teresa Sá Couto



• ÍNDICE


ALFONSO PEÑA | Historias de los ocho de La Corona y el delirio… (parte 1)

ALFONSO PEÑA | Historias de los ocho de La Corona y el delirio… (parte 2)

GERARDO LISSARDY | Coronavirus: escenarios mundiales para después de la pandemia

JOËL GAYRAUD | Detrás de nosotros, el día después

JOSÉ ANGEL LEYVA | Los libros antes del tsunami

JOSÉ ÁNGEL LEYVA | Pandemia: ¿el coronavirus llegó para quedarse?

JULIANA MONTANI | La pandemia es global, pero su respuesta es nacional

LEDA RITA CINTRA | O mercado editorial e livreiro do Brasil no ano de 2020

OMAR CASTILLO | El Ábrete Sésamo de la escritura y la industria editorial

THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA | O mercado editorial e a pandemia


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Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NO MUNDO INTEIRO
Número 153 | Maio de 2020
Artista convidado: Teresa Sá Couto (Portugal)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2020


THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA | O mercado editorial e a pandemia


Em 2000, fundei uma editora, depois de 20 anos da minha primeira experiência editorial, em 1980, quando lancei um primeiro livro de poemas. Nesse momento, eu entrava, sem saber, num mundo que pertence a um grupo muito seleto de pessoas (e ao qual muitos querem pertencer) e que é o sonho de muita gente, mesmo que nunca seja realizado.
Já analiso e observo a entrada no mundo editorial há 40 anos, da publicação de um primeiro livro, da abertura de uma livraria, da fundação de uma editora, da preparação de um livro em todas as suas fases, da impressão, divulgação, distribuição, venda e controle de consignações. A vida de um livro (nome de duas edições que fiz sobre o assunto, em 2010 e 2018) é longa e extensa, e fazemos livros para a vida inteira, como escrevi em uma de minhas crônicas.
A atividade editorial é cansativa, se formos avaliar por suas dificuldades e entraves. Mas a necessidade ou a vontade de publicar um livro supera todas elas, porque, olimpicamente, os editores superam essas dificuldades, galgando-as, uma a uma, enfrentando todo tipo de desafio, desde a produção do próprio livro, até a negociação com a livraria para poder vendê-lo. As livrarias não são boas nem más; são parceiros na alegria, mas não na tristeza. Eles querem andar junto com o seu sucesso, mas não dividem fracassos. O mercado editorial é um campo que só admite vitórias.
Já vínhamos mal das pernas desde que, em 2005, nos avisaram como o mercado livreiro estava literalmente encolhendo, vendendo e produzindo cada vez menos. Essa palestra na Primavera dos Livros no Jockey Club naquele ano, trouxe dois economistas para nos explicar o que estava acontecendo conosco. Estávamos cada vez menores. E disseram: Se a Volkswagen estivesse perdendo tanto dinheiro assim, já estaria batendo na porta do Palácio do Planalto para conseguir uma solução. E por que a solução não veio? Porque vender livros não é a mesma coisa que vender carros. Há um poder muito maior no mercado automobilístico do que no editorial. Estranho, mas é verdade. O carro confere um status que livro nenhum consegue dar.
Estamos sendo absolutamente materialistas. A luta para se publicar livros no Brasil (digo luta, porque é uma luta mesmo) é tamanha, que lidamos com todos os senões que um livro pode ter, até não vender por falta de divulgação, ou de distribuição suficiente. Os editores precisam, além de saber fazer livros, saber vendê-los, como se vende banana. Temos que fazer exercícios mercadológicos para que o livro editado chegue onde tem que chegar, sejam bibliotecas ou escolas, ou sejam comprados por um programa governamental. Essa foi uma das experiências mais transcendentais que tive e das mais dificultosas, porque a burocracia come pelas beiradas.
Mas o objetivo, uma vez que se consiga superar os obstáculos, é alcançado. E assim vivem as editoras, fazendo de tudo um pouco para que os seus livros circulem por todo o território nacional e além. E é aí que começaram os novos problemas por causa da pandemia. As livrarias fecharam, os lançamentos deixaram de acontecer desde março de 2020. E o mercado editorial, que já estava chafurdando na lama há mais de dez anos, teve que fazer seu salto olímpico.
Especialistas não se cansam de analisar o que está acontecendo com a produção e a venda de livros no Brasil e na América Latina, porque com a pandemia não é (só) mais o Brasil que vai mal (antes, até as grandes livrarias nos EUA começaram a fechar por falta de vendas, depois que a Amazon entrou no circuito), porém, diante da pandemia, graças ao coronavírus, o que estava em estado terminal, passou a viver em estado mortal. A saída passou ser o livro digital.
Aquilo que já vinha se configurando há alguns anos desde que os ebooks passaram a existir, foi empurrado garganta abaixo daqueles que não aceitavam ler livros numa telinha. Agora só os livros digitais podem circular mais rápida e eficazmente do que os impressos, além da produção ser muito mais barata. Não é mais preciso imprimir milhões de livros para poder vender. Agora se vende primeiro e se imprime depois, já era a fórmula da impressão digital. Porém, até este ano, ninguém pensava em abrir mão do livro impresso. E quem trabalha com produção e impressão de livros sabe como a banda toca.
O livro digital surgiu como uma resposta natural do meio cibernético em que vivemos. Então há anos somos convidados a transformar nossos livros impressos em ebooks. Porém o trabalho braçal que isso dá tornava a digitalização quase impossível. Tínhamos que parar tudo o que estávamos fazendo para passar a converter nossos arquivos de impressão em epubs. Até aí, não há nenhum mal, porém, ao nos vermos impedidos de vender os livros impressos, o livro virtual ganhou um lugar inigualável. Só ele consegue circular sem contaminar ninguém. E os editores passaram a fazer lançamentos virtuais de seus livros físicos (porque os leitores ainda não deixaram de querer os exemplares impressos).
Nunca pensamos que fôssemos viver uma crise dessas. Já existia uma crise no mercado editorial, como mostram as tabelas de faturamento em declínio entre 2008 e 2018. Os olhos estavam todos voltados para essa crise financeira no mercado editorial. E, com o Covid-19, passamos a viver uma situação inédita: editoras, livreiros, distribuidores e todos os que fazem parte da cadeia do livro (designers, tradutores, revisores, preparadores de texto), um exército de pessoas se viu sem trabalho ou precisando fazer concessões para não deixar de trabalhar. Uma vendedora entrou em contato comigo querendo vender os meus livros, porque qualquer dinheiro conta. É uma crise sem precedentes. As editoras continuam se sustentando com as parcas receitas reduzidas com que já viviam, só que mais magras com a queda nas vendas.
Como se não bastasse a crise das livrarias. O que aconteceu com a Cultura e a Saraiva é inominável. Resultado da má administração e de golpe contra o mercado livreiro. A dívida conjunta dessas duas livrarias somava R$ 1 milhão de reais há dois anos. A Cultura me devia R$ 600,00, e começou a pagar em seis vezes e ainda não quitou. Isso foi um resto de crédito que havia, mas graças à minha boa sorte, a Saraiva não me devia nada, pois eu a demitira há 10 anos, deixando de fazer negócios com ela. Já era mal pagadora há muito tempo, muito antes da Cultura fazer o mesmo, cortando-a da minha lista de clientes.
Assim, em que pé ficamos? Temos livros para fazer, mas não temos dinheiro para produzi-los, pois não temos mais as receitas dos lançamentos que mantinham a roda girando. Com a queda das vendas das livrarias, pois fechadas vendem muito menos do que online (embora a Livraria da Travessa continue comprando meus livros para atender as encomendas), estamos à beira de um ataque de nervos. O último lançamento que fiz em 12 de março foi pago em abril, isso porque me recusei a receber em 60 dias sem prévio aviso. Até então todos os pagamentos eram feitos em 30 dias, que, por causa da pandemia, passaram a ser de 60 na Travessa.
Depois dos primeiros dois meses do início da pandemia, começaram a ressurgir os autores com livros para publicar que desengavetaram durante a quarentena. É um contrassenso, mas é sintomático. Ninguém parou de escrever, ninguém parou de querer publicar, nem nós paramos de fazer livros, porém a circulação desses livros está num funil. Daí termos que inventar lives, vendas online, ebooks, promoções na loja virtual, descontos, porque o mercado livreiro não morreu. Pode ter sido jogado na lona várias vezes, pode sobreviver à míngua, pode passar fome, mas continua ativo, prolífico, revigorado.
As grandes editoras estão enfrentando a crise vendendo clássicos. O paladar para a leitura mudou. Todos querem entender o mundo, o racismo, a peste. As mulheres estão se saindo bem nesses noves fora. Mas a criatividade literária se perpetua. Os poetas continuam escrevendo, tenho livros para publicar o resto do ano. Eu mesma estou comemorando 40 anos de poesia. Mas é fato que temos que reaprender a vender livros num meio virtual, em que as pessoas só se encontram agora à distância. Vai demorar até todos se convencerem que a pandemia passou e de que é seguro ir a shoppings e livrarias. Por enquanto, eu não saio.
Outra saída tem sido a autopublicação, e a Amazon faz um grande serviço em relação a isso, mas simplesmente não é a mesma coisa. Todo autor tem que ter uma editora. E precisa dela. A autopublicação (que eu fiz nos primeiros tempos) não preenche um requisito máximo do selo editorial. Uma editora é e continuará a ser a casa dos autores. É preciso ter um editor pensando o livro. Quem faz autopublicação é editor também, não só autor. Aconteceu comigo. Depois de me editar, passei a editar os outros. Quem é só autor, não é editor de si mesmo.
As pessoas adoram estatísticas e os números mostram que as vendas de livros estão em queda e por isso não vale a pena publicar. Mas é o oposto que acontece. Caos em japonês une dois ideogramas: crise e oportunidade. Toda crise traz uma oportunidade. Basta procurar por ela. Eu encontrei essa explicação quando ainda estava na Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie em 1980, e fundei um grupo de poetas e editava um jornal universitário, o Análise. Tudo começou ali. Mas há 40 anos ninguém poderia prever o que iria acontecer agora, nem eu imaginava que aquilo que comecei como atividade secundária se tornaria a principal.
Aprendi a fazer livros antes de me tornar advogada. E ser editora era a minha vocação mais do que ser jurista. Quando compreendi isso há 20 anos, eu não tive dúvida em largar o que já não me satisfazia. Um jornalista me perguntou, há alguns anos, se eu penso em desistir. Eu respondi: todos os dias. Mas não se desiste de um sonho. Se desistirmos, não era sonho, era ilusão.
Por mais que o mercado editorial esteja cambaleando, ele tem tudo para voltar ainda mais forte com outros instrumentos e ferramentas. Isso está sendo inventado enquanto escrevo estas linhas. Os editores são as pessoas mais renitentes que eu conheço. Fico pasma com o fôlego que eles têm. E dizem o mesmo de mim. Mesmo com crise, com vírus, com queda nas vendas, com mudança de todos os paradigmas, o livro continuará a ser, impresso ou virtual, o melhor modo de conseguir entender o mundo.


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Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NO MUNDO INTEIRO
Número 153 | Maio de 2020
Artista convidado: Teresa Sá Couto (Portugal)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
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revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
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OMAR CASTILLO | El Ábrete Sésamo de la escritura y la industria editorial


I | No ha sido posible definir cuándo fue el inicio de la escritura. Su origen, como tantos otros asuntos de la condición humana, vaga en la nebulosa de su memoria. Lo cierto es que desde cuando el ser humano inventó la escritura, ha venido registrando a través de ella su visión y noción del mundo, del universo, de la realidad y de la otredad en su cotidianidad y en sus ambiciones. Se podría pensar que en ella ha realizado su imagen y semejanza, por ello en las formas de escritura y en los distintos elementos donde la ha soportado, se encuentran registros que nos permiten conjeturar sobre el incógnito de nuestro origen. Con la invención del libro la escritura encontró un soporte ideal para consignar y difundir las nociones e ideas humanas en lo sofisticado y en lo abrupto de su condición. El oficio de editor también es muy antiguo y su ejercicio se ha ido modificando a medida que las técnicas de escritura e impresión lo han permitido.  
Entre los temas que me asedian en estos meses del primer semestre de 2020, sometido como la mayoría de la población al obligado confinamiento por la pandemia que cunde en el mundo, me he propuesto anotar algunas reflexiones sobre el acontecer editorial en estos años, sus posibilidades y negaciones ante todo, en lo concerniente a la literatura y su relación con la industria editorial, con las prácticas que esta prioriza en aras de masificar el consumo de su mercado, dejando de lado en muchas ocasiones la calidad literaria. En estas divagaciones inevitablemente entra mi oficio como poeta y editor de revistas y libros de literatura. Desde ahí mi mirada sobre el acontecer editorial en el mundo y en Medellín, mi ciudad de siempre.
Reflexionar, aunque sea brevemente sobre la situación de la industria del libro, su mercado, las relaciones entre editores y autores, los libros impresos en papel y en soporte digital, me resulta complejo y fascinante, dado el carácter cognoscitivo de los libros para el entretenimiento intelectual y el conocimiento humano. Empero, es preciso decir que la industria editorial hace mucho necesita escudriñarse sobre su proceder, ante todo en lo que respecta a la literatura creativa, llámese poesía, narrativa, ensayo, filosofía, historia del arte, etcétera. Entonces, las anotaciones que siguen solo son un leve aporte para tal ejercicio.
Ante el libro como objeto de uso comercial, la prioridad de la industria editorial en las últimas décadas se ha fundamentado en sus ventas masivas, por ello es común para estas empresas que el éxito de un libro se vea reflejado en la cantidad vendida, dejando de lado cualquier otro criterio, ante todo el de la calidad literaria. Así los estímulos del mercado apuntan a la consecución de lectores en masa, de lectores que compran y consumen libros por el prurito de ir a la moda, luciendo los datos informativos de la actualidad, los chismes y complicidades sobre la usurera y la depredadora condición humana. Lectores casi siempre ajenos al gusto por saborear el saber que un libro les pueda permitir.
La lectura de un libro puede ser fundamental para una persona y proporcionarle elementos que le permitan tomar decisiones en su vida. El encuentro con un autor, el ir entrando en su universo creativo, en las maneras como nos revela la realidad a través de sus poemas, o por la voz de los personajes de sus novelas y cuentos, resulta tan esclarecedor que puede terminar generando una amistad sustentada en la lectura como opción para aprehender a ver. Entonces la lectura de un libro puede brindarnos una conversación ardua, fascinante, incomoda, esclarecedora como la vivenciada en una amistad. En un mundo pronosticado para el consumo y la usura esto puede ser visto como una opción insulsa, fuera de moda. Lo cierto es que el delirio por mantenerse informado consumiendo de manera automática datos que no se asimilan ni se contextualizan, produce ansiedad e incapacita para saber y comprender las higiénicas raíces de la soledad necesaria para vivir una real relación privada o común.
Lo masivo en sí mismo no define la calidad de algo, mucho menos la calidad de una obra literaria. Que la venta y la lectura de libros de poesía, narrativa, ensayo y otros de creación literaria no responda a la oferta y la demanda propuesta por la industria editorial, no significa que estos libros no tengan compradores y lectores, significa que la venta de estos es proporcional a la calidad y al gusto que ampara a los lectores, bien por su formación educativa, bien por las necesidades que estimulan sus búsquedas. Que las ventas de libros de literatura no respondan a los intereses comerciales de las editoriales, no puede tenerse como la medida para hablar de un detrimento en la calidad de los lectores, tampoco de quienes los escribimos. A través de la historia es posible darse cuenta cómo la literatura siempre ha contado con lectores, y en nuestro tiempo esto sigue siendo un hecho. En el contexto poblacional de cada región y país, estos lectores son suficientes para mantener viva la tradición literaria de sus lugares, ya con la lectura de su acervo, ya con la lectura de sus escritores contemporáneos cuyas búsquedas de ritmos y significados de la realidad, les permite aprehender sobre su ser en el mundo y en el universo.
Lo anterior no es un elogio ni un reclamo, es una realidad. En las minorías lectoras discriminadas por los intereses masificadores de la industria editorial, se fundamenta la posibilidad de que los creadores tengamos un público para la producción de nuestra escritura poética, narrativa, ensayística y demás. En esas minorías tienen vida y se esclarecen las rupturas y las fundaciones vivenciadas por las lenguas de nuestro tiempo a través de las obras de sus escritores.
En este punto es necesario preguntarse si la masificación propuesta por la industria editorial forma parte de los intereses corporativos que buscan homologar al mundo en su producción laboral y de consumo, para lo cual propician una noción de cultura que permita el socavamiento de las diferencias que hacen posible una cultura con visiones y prácticas diversas sobre la realidad en su magnitud y en su capacidad de asombro. Si las cosas son así, resulta enfermizo pensar en un mundo cuyos libros estén regidos por la imposición de una visión masificada de la cultura, un mundo sin diferencias, homologado para el consumo y la información entregada por quienes han logrado encubrir su ser usurero y depredador en fórmulas de lo políticamente correcto.
Aun con lo dicho en los párrafos anteriores, los monopolios editoriales no verían afectados sus intereses si se les ocurriera crear y mantener pequeños fondos editoriales que den salida a libros de poesía, narrativa, ensayo, filosofía y tantos otros de creación literaria, en tiradas proporcionales a los lectores posibles. Hacerlo permitiría a estos fondos mantener un público minoritario pero constante y lo que es más, apostar por escritores que en algún momento pueden obtener la atención de un público comercialmente más amplio. Autores que probablemente terminarán haciendo parte de la tradición literaria de sus lugares de origen y del mundo. Y aquí es necesario recordar cómo la cultura literaria vive de su acumulado histórico, es decir, muchos de los escritores más representativos hoy, en un momento de sus historias pasaron inadvertidos, al punto que las ediciones de sus obras fueron mínimas.
Por mucho tiempo los libros y revistas literarios en ediciones impresas en papel circularán atrayendo la atención y dedicación de los lectores, junto con las ediciones en formatos y soportes digitales. Este es un hecho que contradice a quienes insisten en hacernos creer que los libros impresos en papel están en vía de extinción. También vale recordar que para ser editor de libros de literatura, se debe ser lector y tener amplios conocimientos literarios, de lo contrario se podrían cometer exabruptos ante las rupturas e innovaciones propuestas por un autor, de esto existen ejemplos en los anecdotarios de grandes obras y sus dificultades editoriales. Para ser el editor de un libro no es suficiente con mantenerse actualizado sobre las reglas de la academia de la lengua, o saberse las preceptivas que señalan cómo debe ser escrito un poema, una novela, un ensayo, un cuento, etcétera.

II | En Colombia, en el caso del departamento de Antioquia y su capital Medellín, no es posible hablar de una industria editorial en su historia. En la historia cultural del departamento y de la ciudad, las experiencias editoriales casi siempre han sido asumidas por grupos de escritores y artistas que se reúnen alrededor de un proyecto de revista literaria o de la publicación de libros escritos por sus integrantes y algunos otros amigos, en ediciones casi siempre financiadas por sus autores y en tiradas de 1000, 500, 300 y 150 ejemplares, con una circulación entre sus círculos cercanos y con algunas ventas a través de las librerías de la ciudad y algunas otras del país. La difusión de estos libros a través de los medios depende de las relaciones del autor con algún comunicador, pues son escasos los periodistas que se interesan y dedican a difundir la producción literaria. Las presentaciones de estos libros suelen ser motivo para encontrarse entre amigos y conocidos y brindar con una copa de vino o un ron.
Todavía se siguen presentando personas y entidades culturales que asumen el rol de editores, creando un pequeño fondo editorial a través del cual publican la literatura que consideran necesaria, financiando ellos los costos de producción, inclusive los derechos de autor. La cantidad de ejemplares, la difusión y la distribución de los libros publicados por estos, corren la misma rutina que las ediciones mencionadas en el párrafo anterior. Estas experiencias editoriales dependen siempre de quienes las financian, de su interés y del tiempo que dura su impulso y su credibilidad en ellas. A impulsos como estos debemos la publicación de libros imprescindibles en la literatura de la región y del país.  
Otra vía para la edición de libros ha sido la oficial, sujeta siempre a los entretelones endémicos de la política. Es así como desde la administración departamental, como desde la municipal, se han gestionado ediciones creando provisionales fondos editoriales para ello. También son varias las universidades públicas y privadas del departamento y de la ciudad que tienen un fondo editorial para sus colecciones académicas, y en este un espacio para una línea literaria, lo que ha permitido a muchos escritores de la región y del país publicar sus creaciones literarias en tiradas de 1000, 500, 300 y 150 ejemplares. La difusión y la distribución de estos libros es parecida a la realizada por los autores que publican sus libros en ediciones que muy bien pueden llamarse de autor.
Más reciente, es la implementación por las administraciones públicas de los estímulos económicos para la creación y la publicación de las obras premiadas con tales estímulos, empero, lo perturbador de esta política cultural es cómo en la mayoría de las ocasiones, los ganadores han escrito sus textos y proyectado la edición de acuerdo con los intereses mediáticos de la administración que los premia. Lo otro más perturbador de esta práctica, es cuando los gobernadores y los alcaldes creen que la literatura es un vehículo para promover sus ideas de gestión administrativa. Aun así, de cuando en cuando con estos estímulos se premian y publican autores cuyas obras bien pueden hacer parte del acervo literario regional y del país.
También las editoriales multinacionales que tienen una relación comercial o una cede en Colombia, publican ocasionalmente en sus listados autores de la ciudad y del departamento. Empero, los movimientos comerciales de estas con escritores locales, no significan que el país o sus regiones posean una industria editorial. Menos que la producción literaria de estas regiones esté representada en las listas de estas editoriales.
Lo dicho en este numeral puede parecer la narración de las dificultades para la proyección de las obras producidas en la región. Empero, y por paradójico que pueda parecer, esto mismo ha hecho posible lo característico de la escritura producida en ciudades como Medellín en los recientes 100 años de su historia literaria, porque quienes hemos asumido estas dificultades generando canales que nos permitan publicar nuestras obras, así sea en pequeñas tiradas y con las dificultades de promoción y mercado que esto implica, hemos conseguido una autonomía creativa, lo que en muchas ocasiones ha redundado en obras cuyas características y contenidos contribuyen para el acervo literario de la región, del país y del idioma español. Ahora, ¿cómo conciliar las perspectivas económicas de las editoriales con las características creativas que venimos proponiendo los poetas, narradores y demás creadores literarios?

III | ¿Qué se puede esperar? La industria editorial de libros y demás publicaciones impresas en papel, ha sido tocada drásticamente por las ofertas editoriales a través de internet, por las publicaciones hechas por esas ventanas que desbordan entretenimiento e información. Tal abundancia hace compleja y fascinante cualquier conjetura sobre los azarosos efectos propiciados por esta información o desinformación salpicada de manera tan desaforada. La famosa nube eléctrica donde se acumulan estos informes y noticias, parece vagar por la atmósfera mental de sus usuarios creando imaginarios, sujetando la oferta y la demanda, propiciando un optimismo casi delirante en unos casos y en otros alimentando conspiraciones enfebrecidas. Estos efectos sobre lo cognoscitivo que se le podrían cuestionar o celebrar a las ventanas propuestas por el internet, también han sido usados históricamente a través de los libros impresos, ya en tablillas de barro como se hacía antiguamente o en papel como se hacen hoy. Entonces, las tensiones entre los soportes tradicionales de la industria editorial y los recientes generados por la virtualidad, hacen parte del actual mercado editorial y el empleo de uno u otro soporte, va con el gusto del lector y sus necesidades de uso. 
Hoy es fácil encontrarnos con revistas literarias virtuales en las que son difundidos escritos de poetas, narradores, ensayistas y otros géneros que difícilmente encontraríamos en el mercado de las librerías. Lo mismo sucede con libros digitales en edición de autor. Estos nuevos soportes contribuyen a la difusión literaria, en ediciones que resultan casi inmediatas además de económicas. El interrogante ante la avalancha de publicaciones a través de estas ventanas es, si las revistas literarias publicadas en ellas consiguen un nicho de lectores atentos.
Así, resultan patéticos los enfrentamientos sobre la validez de las publicaciones en formato digital, como los debates sobre el final de las publicaciones impresas en papel, pues es evidente que los libros y las revistas en formato impreso en papel, como aquellos que aparecen en soporte digital, tienen público para sus existencias.
Y en todo esto, ¿cómo debe ser protegida y retribuida la propiedad intelectual de quienes escribimos y publicamos en medios impresos en papel y en los digitales? Ante semejante pregunta, sí que se cuecen las semillas del sésamo en las ascuas de quienes tienen la sartén. Abrir esta pregunta hace parte de la ecuación reflexiva que debe escudriñar la industria editorial teniendo en cuenta todos los pasos de su producción. No sobra recordar que las semillas del sésamo se nutren del sabor del saber de la literatura. 


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Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NO MUNDO INTEIRO
Número 153 | Maio de 2020
Artista convidado: Teresa Sá Couto (Portugal)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
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LEDA RITA CINTRA | O mercado editorial e livreiro do Brasil no ano de 2020


2020 – Grassa a pandemia do Coronavírus no planeta terra!
A economia ameaça ruir mesmo nos países mais estruturados. No Brasil, um país não-leitor, em que a economia já vinha combalida desde, pelo menos, 2013, as estruturas balançam quase caindo ao perverso ritmo da inadimplência.
E o mercado livreiro/editorial, nesse país de poucos leitores, sente a ameaça cada vez mais de perto!
Livrarias fechadas por conta da pandemia, perdem alguns de seus maiores chamarizes de leitores/clientes. Os cursos deixam de ser realizados, as feiras são adiadas ou simplesmente deixam de ser realizadas, a comercialização pessoal de títulos inexiste, noites de autógrafos canceladas ou transformadas em chamados virtuais!
Então em abril deste ano as vendas despencam, segundo o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), com uma baixa de 45,35% em volume e em 47,6% em valor, mesmo as livrarias recorrendo a várias estratégias para atrair os leitores, incluindo nisso as vendas digitais das próprias livrarias ou aproximando-se de plataformas como a Amazon, Instagran, Watsapp e Facebook que lentamente começam uma arrancada tímida para melhores vendas. Já em maio essa perda comercial foi menor, ficando na casa de 33%, dados do SNEL e do relatório mensal da NILSEN.
Esse panorama faz os livreiros, em sua Associação Nacional pensarem na necessidade urgente de um apoio governamental para superar essa crise enquanto o presidente entrega a diretoria responsável pela compra de livros educacionais para o PL (Partido Liberal) na pessoa do deputado Garigham Amarante Pinto, cuja diretoria fica responsável pelas ações educacionais de Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável, entre outras ações, pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), cuja última edição comprou 172,50 milhões de exemplares, num investimento de 1,4 bilhão de reais.
Apontando para o auxílio emergencial para o setor como saída, há vários projetos buscando esse auxilio, como o dos deputados da Frente Parlamentar do Livro e da Leitura que lançaram um projeto com linhas de crédito para segurar o setor durante a pandemia. Jandira Fegali também lançou um projeto com esse intuito, assim como ainda outros parlamentares.
E se pensarmos em grandes livrarias como a Cultura e a Saraiva, que há pouco tempo se expandiram por todo o país e mesmo o exterior, incluindo nessa leva a carioca Travessa, e que atualmente se encontram inadimplentes, pensamos no século XX, quando pequenas livrarias fizeram história no Brasil, como a livraria Parthenon, fundada por José Mindlin, a Jaraguá e talvez a mais famosa delas em São Paulo, a Mestre Jou, em que o mestre, soberano, reinou até seu falecimento.
Épocas diversas e essas pequenas livrarias não suportaram o avanço das mega livrarias melhor situadas nas grandes cidades e cerraram suas portas. Mas então o país era outro, em vez do obscurantismo de hoje, se espelhava nas culturas europeias em que ler era primordial para a vida!
Podemos culpar a televisão por isso? Não, a televisão foi culpada, segundo alguns por tentar (o que não aconteceu) destruir o público leitor de jornais… A internet? Sim, esse elemento tira um tanto dos leitores já poucos, não pela qualidade, mas pelo tempo a que a ele as pessoas se dedicam.
Então vem a Amazon, com a oferta de livros digitais, a grande culpada pela diminuição dos livros físicos segundo certas opiniões; ledo engano porque, em várias partes do mundo, como nos EUA e muitos países da Europa, em que essa plataforma segue firme e forte, os leitores já perceberam que livros físicos e digitais podem e devem caminhar juntos!! Esse é o caso da França, Itália, Inglaterra e alguns outros… Leitores há para todo tipo de publicação, como livros físicos e digitais há para todo tipo de leitores.
O que acontece no presente momento em nosso país é que o súbito fechamento das lojas físicas, imposto pela pandemia surpreendeu os leitores acostumados a ler apenas títulos impressos, mas que, adeptos do hábito da leitura migraram para os digitais, os famosos e-books, que nesses meses deram verdadeiro salto em vendas.
Segundo Marcelo Gioia, CEO da Bookwire no Brasil, em declaração ao Publishnews, o salto em vendas alcançou 9,5 milhões de livros digitais entregues ao público leitor brasileiro, o que, em comparação com 2019, apresentou um crescimento de 57%.
Sinal dos tempos. Não muito bem recebida por alguns e com uma política nem sempre das mais agradáveis, a Amazon com os e-books permitiu a continuidade de publicações em tempos de mercado livreiro e editorial muito difíceis!!
Um exemplo disso é a Editora Cintra, que mantenho desde 2013, quando comecei a publicar apenas no digital, o que nos permitiu resgatar títulos apenas pela qualidade, e que muitas vezes foram recuperados das gavetas de seus autores ou do limbo do esquecimento rejeitados pelas editoras tradicionais sob a alegação, aliás até certo ponto compreensível, de que este ou aquele título, embora responsável por um excelente texto não atrairia público, logo era impublicável pelo investimento de uma edição impressa. Atualmente, em parceria com a ARC Edições, de Floriano Martins, a Editora
Cintra publica todos os seus títulos em e-book e também em papel pela Amazon, ou em tiragens impressas da própria editora, o que mostra que os livros digitais são uma oportunidade para as pequenas editoras de servirem seus leitores da forma como melhor lhes agrada, provando que livros digitais ou impressos, são sempre livros, obras a serem resguardadas do esquecimento.
Por isso, na minha opinião, os livros digitais não significam em absoluto a morte dos livros físicos aqui ou em qualquer outro pais. Para o leitor brasileiro significa apenas uma ressignificação do livro, que não precisa ser papel para ter qualidade!! Esperemos que essa onda se fortaleça, cresça e não atrapalhe os livros físicos, mas com eles permaneça!
Outro lado dos e-books no Brasil são os autores, que nem sempre percebem a importância dessa inovação para seus escritos e títulos, o que certamente acontecerá em pouco tempo, já que a própria Amazon agora disponibiliza quaisquer títulos tanto em e-book como em papel ao mesmo tempo. Ajustes ainda faltam e talvez o mais importante deles, nessa plataforma, seja a impressão dos títulos em vários países, como no nosso, para que os livros em papel não sofram os acréscimos do frete que vem diretamente e apenas dos EUA, o que onera cada título.
Mas nem só de frete é acrescido o livro. Por muito tempo trabalhando em outras editoras, ouvi a reclamação dos mais diversos leitores do preço dos livros. E isso, em nosso país de poucos leitores, é grave, porque impede uma arrancada para uma maior procura de títulos, o que acaba por impedir que o país forme leitores. E devemos muito desse alto preço dos livros à quantidade de impostos que o editor é obrigado a pagar para o governo para tirar seu produto das gavetas dos escritores e levá-lo até o público, impresso. Então, se uníssemos essas duas correntes – leitores e e-books, poderíamos formar o hábito que nos faz tanta falta da leitura, porque o e-book, por onerar muito menos ferozmente o editor, pode ser oferecido aos leitores a preços módicos. Além disso, como dizia nosso grande autor Esdras do Nascimento
– que mala pode conter três mil livros e ser leve como um kindle? Sim, o e-book oferece essa possibilidade aos leitores e aguardamos apenas o momento em que livros físicos e digitais caminhem juntos, como até hoje caminharam rádio e televisão, internet e jornais!!
Mas… e as editoras que publicavam apenas no impresso? Aquelas que hoje se vêm diante de lojas fechadas, algumas inadimplentes? Voltamos à Associação Nacional das Livrarias…é preciso um apoio do poder público emergencial, embora acreditemos que raras são as que ainda não publicam ao mesmo tempo no impresso e no digital, faltando apenas que o público leitor escolha uma dessas opções, sem desprezar a outra. E isso pode ser confirmado pelo surgimento das editoras independentes, que apostam num mercado quase nunca fácil e que fazem suas publicações sem desprezar nenhuma das opções!
Não se pode, entretanto, culpar apenas a pandemia pelo fechamento de algumas editoras, grandes ou pequenas, mas coalizões malsucedidas, em que grandes editoras estrangeiras engoliram as nacionais e também o fato de que desde 2014, quando se deixou de publicar os editais governamentais para compras de livros para a Educação, muitas foram as pequenas editoras que viram suas portas fecharem por falta exclusiva de verbas. Havia, é verdade, um patamar enganoso que sustentava essas editoras e esse patamar, patrocinado por editais públicos, fez com que muitas publicações não visassem a qualidade dos textos, mas apenas a necessidade de cumprir com as exigências dos editais, sempre recheados de recomendações que cerceavam frequentemente o poder de criação dos autores, deixando de lado as necessidades e ansiedades das crianças, com a desculpa de que teriam de estar na idade adequada para que elas entendessem, ignorando a frase da maravilhosa Tatiana Belink, uma das maiores criadoras deste país, que dizia: Criança entende tudo!


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Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NO MUNDO INTEIRO
Número 153 | Maio de 2020
Artista convidado: Teresa Sá Couto (Portugal)
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