quarta-feira, 20 de setembro de 2017

S52 | ACAMPAMENTO MUSICAL | HERMETO PASCOAL

FLORIANO MARTINS | Hermeto Pascoal

JADER SANTANA | Hermeto Pascoal: "É música o que eu tô sentindo!"

JOVINO SANTOS NETO | Hermeto ligado na Rede

JOVINO SANTOS NETO | O Monte Pascoal: a Cachoeira do Som

JOVINO SANTOS NETO | Tocando a campainha, na casa de Hermeto Pascoal

LUIZ COSTA-LIMA NETO | A casa musical de Hermeto Pascoal


RICARDO BEZERRA | Hermeto Pascoal, o Mago Mor

RODRIGO CHENTA | Uma conversa com Hermeto Pascoal

TOM PHILLIPS | Hermeto Pascoal: O mundo todo nas mãos

 






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Organização a cargo de Floriano Martins © 2017 ARC Edições
Artista convidado | Farnese de Andrade (Brasil, 1926-1996)
Imagens © Acervo Resto do Mundo / Acervo particular Jorge Mello
Agradecimentos especiais a Jovino Santos Neto
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 ACAMPAMENTO MUSICAL

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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TOM PHILLIPS | Hermeto Pascoal: O mundo todo nas mãos


Numa casa cor de rosa de uma alameda nos arredores de Curitiba, senta-se um homem de 75 anos de idade, vestindo calças azul berrante, óculos de sol e tênis de skate. Ele afaga a barba prateada ao estilo do ZZ-Top. Ao seu redor, centenas de brinquedos de pano empilhados sobre as prateleiras: pássaros, ursos e bebês em uma tempestade de vermelhos, verdes e amarelos. "Tudo aqui é um instrumento,” ele diz com um sorriso rasgado, apontando para o seu zoológico de pelúcia. "Os instrumentos estão por toda parte!"
Bem vindos à casa de Hermeto Pascoal, um dos compositores e músicos mais excêntricos, prolíficos e amados do Brasil, alguém que Miles Davis certa vez descreveu como “um dos músicos mais importantes do planeta."
Em sua oitava década, Pascoal – que fará uma rara apresentação no Barbican, em Londres, em 20 de novembro, acompanhado por uma big band de estrelas britânicas – diz que não tem planos de se aposentar. "Muitos artistas da minha idade estão parando – eu acho que estou só começando," diz com seu forte sotaque do Nordeste. "Sempre tenho mais coisas na cabeça. Não ia ser chato se um monte de velhos da minha geração, morresse ou dormisse no palco? Nossa maior preocupação é inovar."
A palavra inovação é há muito sinônimo de Pascoal, cujo talento para extrair música de praticamente qualquer coisa lhe rendeu apelidos como “O Mago”.
Pascoal é um virtuose do piano, do acordeom e da flauta, e há muito prefere meios mais anticonvencionais de produzir sons e canções: guardanapos, tapetes, cadeiras, copos de cerveja, membros do corpo, utensílios de cozinha e até animais. Um álbum seu de 1977 é famoso pela participação de um porco.
"Não gosto de usar instrumentos ou sons prontos. Prefiro transformar coisas em sons e instrumentos,” explica. “Ganho muitos instrumentos de admiradores, mas raramente os uso porque gosto de pegar alguma bugiganga e começar a tocar, transformando em um instrumento." Faz uma pausa e acrescenta: “escrevo partituras para esses bonecos!"
Chamar Pascoal de multi-instrumentista seria um erro. Quando pergunto quantos instrumentos toca, ele gagueja por alguns instantes, num raro episódio de falta de palavras. "Olha, não tem, não tem... a quantidade de instrumento é infinita por causa de mim – onde quer que eu esteja, vai ter um instrumento. Uma cadeira é um instrumento. Uma mesa é um instrumento. São tantos instrumentos."
"Os músicos, para mim, são como pintores. Se o cara só toca um instrumento, tem pelo menos que variar o estilo com que toca suas canções. Não tocar um só instrumento do mesmo jeito, como aquelas pessoas todas que tocam música clássica e só música clássica, ou que tocam jazz e só jazz. Isso é muito aborrecido."
Definir o estilo musical de Pascoal também é difícil. Ele rejeita os nomes jazz, MPB, bossa nova, chorinho  ou forró, todos elementos de seus shows e gravações.
"Não toco um só estilo. Toco quase todos,” gaba-se, durante uma entrevista de duas horas na casa onde vive com sua companheira, a cantora Aline Morena, de 32 anos. Ele chama o que faz de música universal. "Ela vem do universo e é por isso que posso chamá-la de música universal," explica. "É uma energia que nunca para. Ela paira sobre nós, onde quer que estejamos.”
"Não é um modismo. Não gosto de rótulos. Mas a única coisa que posso aceitar como rótulo é a música universal. O Brasil é o país com o maior número de povos do mundo. Então o mundo é o Brasil. O Brasil tem o mundo todo aqui. Então por que não podemos ser a casa da música do mundo?"
Hermeto Pascoal passou boa parte das últimas quatro décadas em turnês internacionais, mas vem de origens humildes no sertão nordestino. Nasceu em Olho d'Agua, um pequeno povoado rural perto da cidade de Lagoa da Canoa, no estado de Alagoas. "Nasci em 22 de junho de 1936. Estava chovendo; era muita chuva."
Enquanto os pais de Pascoal trabalhavam na lavoura, ele e seu irmão mais velho aprendiam música por conta própria. Pascoal, sendo albino, estava sujeito a um incentivo adicional para ficar dentro de casa e praticar a flauta e o acordeom, protegido do sol abrasador. Aos oito e nove anos, os dois já animavam bailes locais.
Em 1950, quando Pascoal tinha 14 anos, a família se mudou para o Recife, capital de Pernambuco, e ali ele continuou a desenvolver suas habilidades musicais, apresentando-se em programas de rádio. Mais tarde foi para o Sul, primeiro para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo, onde, durante os anos 1960, formou o breve porém influente Sambrasa Trio com o baterista e percussionista Airto Moreira.
Foi Moreira quem levou Pascoal em sua primeira excursão internacional – uma viagem aos EUA que culminou em um encontro com Miles Davis, que a partir daí gravou duas faixas suas em seu álbum Live Evil, de 1971. Foi o começo de uma carreira internacional que fez com que Pascoal se estabelecesse como um dos compositores mais produtivos que há.
Por um ano, em 1996, ele se propôs a meta de compor uma faixa por dia – todas registradas num livro chamado Calendário do Som. Digo a Pascoal que estou impressionado. “Rapaz, eu compus cinco vezes mais do que isso depois que o livro saiu,” ele responde. “Componho o tempo todo, o tempo todo. Ontem mesmo compus duas canções!"
"Quando estou em hotéis, na estrada, às vezes nem levo meus cadernos para me dar um descanso. Mas não adianta. Fico doido para compor – do mesmo jeito que quem usa drogas ou fica sem cigarro."
"Esta aqui, escrevi no avião,” prossegue, agarrando uma bandeja de refeições de um voo recente da Lufthansa. Está coberta de semicolcheias e claves de sol. “É a tampa da bandeja. Mas é tão maravilhosa e importante quanto qualquer outra faixa que eu tenha composto.”
"As canções são minhas amigas. São crianças. Minhas parceiras. Minhas amigas. Entende? São personagens. Quando uma canção me vem à cabeça, é como ase alguém me visitasse. Começo a conversar, bater papo, começo a escrever e nada me faz parar."





 O show de Pascoal em Londres será uma reunião com uma big band especialmente formada com que ele tocou pela primeira vez em 1994 no Queen Elizabeth Hall. Na época, John Fordham descreveu a apresentação como “um dos concertos de jazz mais eletrizantes vistos no South Bank em muitos anos."
"O repertório é enorme. Sempre levamos muitas canções," diz Pascoal sobre o show. "Eu não faço uma seleção – tudo pode mudar durante o show... Temos que ter muitas canções à mão porque quando a gente sente alguma coisa, já pode tocar."
Existe o menos uma certeza sobre o show de domingo: Pascoal será acompanhado por dois outros pesos-pesados da música brasileira, o gaitista Gabriel Grossi e o bandolinista Hamilton de Holanda. Dois dos mais emocionantes expoentes de uma nova geração de músicos brasileiros que Pascoal chama de “o bando novo ".
Bichos de pelúcia também podem aparecer no palco do Barbican. "Vou levar alguns bonecos para surpreender os músicos da big band. Vai chegar uma hora em que vou distribuí-los entre os músicos e eles não vão entender nada. Vão só dizer: ‘Ah, é coisa do Hermeto’!”
De volta ao Brasil, o vivaz septuagenário tem planos para um novo CD – gravado inteiramente com sons produzidos pelo próprio corpo – e quer criar uma escola de música chamada Templo do Som.
De onde vem tanta energia?
"As pessoas me perguntam, 'Hermeto, você está drogado?', e respondo, ‘Não a droga já sou eu’!”


ACAMPAMENTO MUSICAL


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TOM PHILLIPS (Estados Unidos, 1969). Novelista, compositor e músico. Artigo traduzido por Allan Vidigal.

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Artista convidado | Farnese de Andrade (Brasil, 1926-1996)
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Agradecimentos especiais a Jovino Santos Neto
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1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 ACAMPAMENTO MUSICAL

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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RODRIGO CHENTA | Uma conversa com Hermeto Pascoal


RC | Conte sobre quando iniciou na música em Alagoas, quando pegava a "8 baixos" de seu pai escondido...

HP | Foi aí que eu descobri que nasci para a música. Comecei fazendo uma flautinha com o cano da mamona, os ferrinhos do meu avô, fazer som com a água da Lagoa da Canoa, depois peguei o 8 baixos do meu pai e daí passei para a sanfona, o piano, a flauta e não parei mais.

RC | Olmir Stocker (Alemão) dizia que a guitarra era apenas uma extensão de seu corpo e que qualquer instrumento o poderia ser. Sabe-se que a maioria das pessoas executa um ou no máximo dois instrumentos de maneira razoável. Como surgiu esta necessidade de se expressar com qualquer objeto que produza som?

HP | Surgiu da minha própria intuição! A música criativa é assim. A gente não premedita. Para mim é tão importante uma chaleira para determinado momento quanto o piano. Cada qual tem suas cores, sua natureza, seus timbres, suas funções. Ser multi-instrumentista não é ser um virtuoso em cada instrumento. É ter bom gosto para sair tocando, respeitando a natureza de cada instrumento.

RC | Vi em uma entrevista sua que certa vez, sua ex-esposa, Ilza da Silva, falou que teu professor foi Deus. Qual seria segundo seu conhecimento, a principal diferença do músico autodidata e aquele que estuda em escolas como Berkley College of Music, por exemplo?

HP | A diferença é que a pessoa que estuda na Berkley, ou em qualquer outra escola, tende a virar um técnico ou a ficar teórico demais. Na verdade, a pessoa que tem musicalidade vai sentir até que momento deve ficar na escola e quando deve seguir sua própria maneira de tocar. É o exemplo da Aline. Ela estudou canto, mas chegou numa altura em que ela resolveu parar de fazer cursos e se descobrir mais. Coincidentemente, através dessa busca pessoal, ela acabou me encontrando.

RC | Comente a seguinte frase: "é preferível errar arriscando a acertar sem arriscar".

HP | A liberdade é uma conquista. Não são todos que podem arriscar. Quem sente mesmo e é musical transforma o que seria um erro em criatividade, faz um glissando, uma apogiatura.

RC | A respeito de sua viagem aos EUA em 1969, para gravar com Airto Moreira e Flora Purim, onde teve a oportunidade de conhecer o famoso trompetista Miles Davis, ouvem-se muitas histórias, como quando vocês gravaram "Nem Um Talvez" e "Igrejinha" de sua autoria e foram publicadas como Miles sendo o autor delas na 1ª, 3ª e posteriores tiragens. O que realmente aconteceu?

HP | Aconteceu uma amizade muito grande entre o Miles e eu, e eu sempre achei que isso jamais teria sido feito por ele, mas sim, pela produção dele.

RC | E sobre a história da luta de Box "Hermeto Pascoal x Miles Davis". Fale mais sobre este episódio no mínimo muito engraçado.

HP | Estive na casa do Miles, sabia que ele gostava de box... havia um ringue e tudo na casa dele e, de repente, ele me deu as luvas para eu lutar com ele e levei a melhor. Ele quis acompanhar meu olho, mas um olho foi para um lado e o outro pro outro e eu acabei acertando ele no meio. Mas foi a minha mão que doeu.

RC | No famoso festival Jazzístico de Montreux em 1979, onde se apresentou em duo com Elis Regina. Segundo ela, em entrevista (www.youtube.com/watch?v=hRsk-WaZZxU), vocês nem sabiam que tocariam juntos, nada estava combinado e tudo surgiu naturalmente. É muito falado no meio musical, que um "provocava" o outro naquele momento. Fale sobre o assunto.

HP | Na verdade fui convidado para encerrar o Festival com meu grupo e a Elis abriu a noite com o seu. No final do meu show, pediram para nos despedirmos juntos e religaram os instrumentos para que fizéssemos um som. Então, saímos improvisando sobre as músicas que a Elis escolheu na hora (Garota de Ipanema, Corcovado e Asa Branca). Foi a única vez que tocamos juntos. Não houve provocação. O que houve foi muito som! Tanto que a Elis termina cantando: "Guarde contigo todo o meu coração".

RC | Em 1999, pela editora SENAC/SP, é lançado o livro Calendário do Som com uma composição para cada dia do ano (no caso 366). Pontos interessantes como a notação feita à mão, seus comentários e hora do término, entre outros, como os pássaros desenhados na partitura chamam a atenção. Como surgiu a ideia de lançá-lo em livro com o Instituto Itaú Cultural e posteriormente disponibilizá-lo gratuitamente em teu site?

HP | Foi uma intuição que me dizia para compor uma música por dia durante um ano. Não sabia que iria virar livro, nem calendário, mas tive que respeitá-la porque ela não me deixava em paz. Acabou virando uma grande homenagem a todas as pessoas porque cada uma tem a sua música, do dia do seu aniversário. Então, decidi disponibilizá-los no meu site gratuitamente para que todos tenham acesso a elas.

RC | Em 2008, Aline Morena redigiu o documento com o título de "Princípios da Música Universal criada por Hermeto Pascoal". A este formato musical é muito atribuído os termos liberdade e não premeditação. Qual seria a tua definição desse gênero executado por tantas pessoas?

HP | A Música Universal é a confraternização entre os povos através da música feita pela mistura sem preconceitos, mas com bom gosto harmônico, rítmico, melódico, tímbrico.

RC | Fale também sobre "O som da Aura", que é outra criação sua bastante interessante e comente este trecho de uma frase tua "A nossa fala é o nosso canto".

HP | Descobri isso quando era pequeno e via minha mãe conversando com suas amigas e dizia para ela que elas estavam cantando... A fala é o nosso cantar mais natural. Foi aí que desenvolvi o som da aura, primeiro com os locutores esportivos José Carlos Araújo e Osmar Santos. Percebo a melodia da fala, escrevo o tema que é essa melodia e depois faço o arranjo, que é a harmonização e o ritmo. Então, sou apenas o criador da ideia e o arranjador. A melodia pertence a quem falou.

RC | Uma característica sua é ser uma pessoa altamente intuitiva seja na improvisação ou composição como, por exemplo, em Berlim, quando escreveu em menos de dois dias, uma peça para ser executada com Orquestra Sinfônica. Conte como é o processo criativo de suas músicas e fale um pouco sobre a evolução musical.

HP | A música vem para mim de surpresa. Estou sempre preparado. Nunca faço questão de saber nada. Sou solto à minha intuição. Ela é quem manda. Posso estar em qualquer lugar, restaurante, avião, banheiro... A evolução musical não tem explicação, vem com o cotidiano, com o estudo, a partir da percepção de cada um.

RC | Muitas pessoas acreditam que as músicas compostas para o público infantil devem ser simples em relação à harmonia e ritmo. Existem aqueles que discordam de tal proposição. O que pensa sobre esta questão principalmente no contexto das crianças dos dias atuais?

HP | Eu digo que as crianças são mais preparadas do que muita gente porque não têm preconceitos ainda. E o gosto e a alma não têm idade! Nos meus shows sempre há crianças e elas sentem a música cada uma à sua maneira. Portanto, não é preciso diferenciar a música do adulto e de uma criança. Não estou falando em letra, mas em música!

RC | O livro O menino Sinhô – Vida e Música de Hermeto Pascoal para crianças, escrito por Edmiriam Módolo Villaça, e a faixa "Crianças (cuida de lá)" no álbum Brasil, Universo, refletem um pouco de sua relação com as crianças. Qual é em sua opinião, o maior benefício da música para as crianças?

HP | O mesmo que para um adulto: alimenta a sua alma se for boa e, se for ruim, polui.

RC | Sobre o livro agora pouco dito, ele saiu com muitas informações equivocadas em relação à linha do tempo de sua carreira. Como prova, são as correções (www.hermeto-pascoal.com.br/partituras.asp) apresentadas em teu website. Este ocorrido o incomoda de alguma forma, pois, sabemos que informação errada é um mal que provoca consequências muito desastrosas na construção do conhecimento?

HP | Quem não se incomoda? Nesse caso, eles prometeram corrigir para a próxima edição. Mas ainda bem que temos os sites agora, que tenho a Aline e que ainda estou por aqui para prestar os esclarecimentos... mas as pessoas devem sempre procurar as fontes certas, assim como você está fazendo, vindo direto a mim.

RC | A sua obra é estudada por músicos de diversas regiões do mundo. No Brasil a sua influência é muito forte, como por exemplo, no Conservatório de Tatuí entre outros. É fato que a música brasileira instrumental mudou (evoluiu) a sua cara depois de tua presença. Qual é o sentimento de participar de maneira tão vanguardista (mesmo que talvez inconscientemente) na história da música brasileira improvisada?

HP | Na minha opinião, a música não tem pátria, ela é como o vento, o ar, as estrelas, não é de nenhum país, ela voa...por isso chamo de Música Universal. Faço música a partir do Brasil, mas sou influenciado pelo mundo todo. Meu jeito sempre foi incentivar as pessoas a criarem, a buscar a sua própria maneira. Isso só me faz muito feliz! E a internet contribui muito para a divulgação de nossos trabalhos.

RC | Fale sobre o documento “Licenciamento”, onde liberou os direitos autorais de toda a discografia presente em teu portal. Muitos músicos encaram isso com certo receio. Comente um pouco.

HP | Tudo isso foi feito com o auxílio de advogados. Entre as editoras ficarem com o meu dinheiro e nem divulgarem suficientemente minha música, prefiro que as pessoas tenham mais acesso a ela e que os músicos possam gravá-las. Mas isso só foi possível graças à ajuda da Aline, que organizou os sites e aos advogados que me ajudaram a cancelar os meus contratos. Não fiquei sabendo de nenhum músico que ficou receoso com isso. E quem tiver qualquer dúvida ou precisar de uma autorização específica é só enviar um e-mail pelos sites www.hermetopascoal.com.br ou www.hermetopascoalealinemorena.com.br.







RC | Quase todos os teus álbuns possuem a voz como instrumento. A música "A capela" presente no CD Chimarrão com Rapadura, gravado em duo com Aline Morena apresenta harmonias e texturas muito sofisticadas. Algumas pessoas colocam a música em segundo plano em relação à letra. Fale sobre esta mistura de voz, instrumento, palavras improvisadas, sons vocálicos, grau de importância...

HP | Juntar tudo isso é maravilhoso, desde que seja com interesse musical e não comercial! Quando música e a letra se casam ou a voz com outros instrumentos, fazendo com bom gosto, fica lindo! Então, tudo é importante! Mas se a letra for boa, mas for mal cantada ou se a música for feia, não dá. Qualquer coisa ruim estraga a música, seja a letra, seja a interpretação, seja a harmonia, seja o ritmo. No caso do meu duo com a Aline, a voz veio muito a acrescentar e o Idioma Universal que faz parte de algumas músicas tem um sentido puramente musical, cada um imagina o que quiser a partir dessas letras.

RC | Em seu espetáculo, seja com o Grupo ou em duo, é muito comum que brinque com o público proporcionando uma grande interação com as pessoas cantando melodias com texto ou principalmente com sílabas e sons vocais destituídos de significação verbal. O tipo de público interfere de alguma forma na execução das músicas?

HP | Não, em qualquer lugar do mundo o público é afinado e participa muito dos shows porque a energia que se forma pela música contagia a todas!

RC | Diga algumas palavras para aqueles que almejam iniciar no mundo da improvisação e aqueles que pretendem compor?

HP | É preciso tocar bem seu instrumento, como se você estivesse dirigindo um carro sem precisar olhar para o câmbio ou para os pedais ou os botões. Aí, se você tiver nascido para compor ou improvisar, acabará fazendo-o naturalmente. Composição não se aprende na escola.

ACAMPAMENTO MUSICAL


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RODRIGO CHENTA (Brasil, 1980) Compositor, instrumentista, educador musical e analista. Agradecimentos por sua autorização para que reproduzíssemos aqui esta entrevista.

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RICARDO BEZERRA | Hermeto Pascoal, o Mago Mor


O primeiro contato, ao vivo e a cores, foi na sua casa em Bangu (RJ), em 1976. Tinha ido com o Fagner convidá-lo para os arranjos do Maraponga. O interior da casa nada se parecia com uma casa normal, digamos. Era um misto de estúdio e, ao mesmo tempo, um depósito do que parecia centenas (ou seria milhares?) de instrumentos musicais, dos mais tradicionais a uns bem singulares... Tinha uma aura mágica pairando no ar. Afinal, era a casa de um mago da música mundial.
Para nossa alegria (e surpresa), ele aceitou o trabalho...! De repente, começaram as gravações no estúdio da CBS, na Praça Tiradentes no centro do Rio.  Chegava sempre na hora trazendo o Itiberê, seu fiel baixista, e o seu personal batera (que não recordo o nome). Um dia, ele chegou com um rabo de cavalo na sua farta barba branca e fez todo mundo rir e se alegrar com seu gênio brincalhão.






 Suas partituras eram um caso à parte. Escritas com caneta Futura preta, sua caligrafia musical era tão intensa quanto sua música. Umas notinhas minúsculas sobre as linhas, que ele lia a uma distância mínima da vista, quase roçando o papel nas suas faces rosadas. Quando fazia correções, riscava riscava riscava, até ficar uma mancha preta que quase varava para o outro lado do papel. E ali, naquelas grandes folhas de papel pentagramado, rabiscadas e garatujadas, estavam os seus fantásticos arranjos para sopros e cordas além da linha harmônica para o piano e o baixo.
As gravações, com ele comandando o estúdio, corriam, ao mesmo tempo, macias, geniais e intensas... Sua presença criava uma atmosfera prodigiosa irradiando sonoridades musicais por todos os poros do ar, encantando produtores, músicos e cantores... todos em completo estado de graça.
Tocava, regia, ouvia, repetia, tocava de novo, até ficar no seu agrado e no de todos, pois sempre queria opiniões: um maestro genial plenamente democrático...
Dessa experiência, o mais incrível que nos aconteceu, naquele estúdio, foi a gravação de Cavalo-Ferro. O Fagner mostrou a música no violão uma única vez. Ele deu um sinal que tinha compreendido e se encaminhou para o piano desaparecendo por trás de uns biombos. Não podíamos vê-lo. A música seria gravada direta, como se fosse ao vivo. 
De repente, ouvimos surpresos um trote perfeito de cavalo, depois, uns sopros como numa boca de garrafa (ele arranjou uma na hora...) e então entrou o piano numa introdução de arrasar... Mas isso, era só a introdução da introdução... Deixa que suas 'deixas' eram tão claras, que sabíamos exatamente onde iniciar a cantar e onde silenciar para o piano fazer seus intermezzos geniais.
E daí pra frente, amigos, foi tudo pura feitiçaria musical. Terminada a gravação, nada mais havia a declarar! Ao ouvirmos, decisão unânime, é essa mesmo, tá pronta, morreu, fica assim, tá bom demais... Tínhamos acabado de presenciar e participar de uma gravação antológica, da cabeça aos pés... Absolutamente inolvidável!
Outra experiência inusitada foi num show que fomos ver em Niterói. Tudo ia correndo bem, quando do meio pro fim o clima foi esquentando, os improvisos coletivos já passavam da estratosfera quando, de repente, vi o roadie entrar no palco e recolher o estande do percussionista... Por que? Depois, fiquei sabendo que nessa época no clímax do clímax da última música, estava virando costume do nosso personagem derrubar o estande da percussão para produzir aquele último e definitivo som... De passagem, um pouco antes do fim do show a banda começou a descer do palco, cada um com o seu instrumento e tocando foram saindo pelo corredor central do teatro e o público foi se levantando e seguindo o cortejo e de repente estávamos todos no meio da rua numa procissão-desfile noturno sonoro-musical da pesada. Todo mundo dançando e/ou andando, demos uma volta no quarteirão, o som e o público rolando, e voltamos para o teatro. Cada um foi indo pro seu lugar e a banda subiu para o palco. O show estava pra terminar e foi aí que aconteceu o lance do estande do percussionista...
Numas das últimas vezes que veio a Fortaleza, fui encontrá-lo no camarim depois do show. Ele estava só e sentado na única cadeira que havia ali. Para falar com ele, achei por bem me ajoelhar à sua frente, assim ficava melhor pra ele me ver a curta distância e a gente conversar. De joelhos, não pude deixar de pensar na simbologia da reverência religiosa. E percebi que era isso mesmo... estava ajoelhado perante uma das maiores santidades da música mundial da nossa era: Santo Hermeto Paschoal. 
Amém!
Fortaleza, setembro, 2017


ACAMPAMENTO MUSICAL


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RICARDO BEZERRA (Brasil, 1949). Músico, compositor, arquiteto. Gravou um disco, Maraponga, em que Hermeto Pascoal participa como músico e arranjador.

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Artista convidado | Farnese de Andrade (Brasil, 1926-1996)
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1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 ACAMPAMENTO MUSICAL

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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NEIVA DUTRA | Hermeto Pascoal: o grande bruxo dos sons


Falar sobre Hermeto Pascoal não é uma tarefa fácil. Um músico “diferente”, que costuma tocar uma quantidade enorme de instrumentos, dentre os quais chaleiras, tubos, sons de animais, instrumentos de sopro, vozes e guitarras é, na verdade, mais um bruxo do que um músico.
Referência da música brasileira para todo o mundo, arriscando a ir além do samba e outros ritmos para tornar-se um ícone da música mundial, alcançou a qualidade de uma música universal, que reúne todos os estilos, envolve todas as manifestações.
Curiosamente, o único país onde houve tentativas de elitizar a música de Hermeto Pascoal foi no Brasil...
Aclamado em todo o mundo, essencialmente brasileiro, Hermeto Pascoal nasceu em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, Arapiraca, Alagoas. Sua vasta produção musical apresenta, desde sempre, duas premissas principais: a pesquisa e a inovação.
Explora novos sons, novas harmonias, estilos e correntes, não havendo estilo musical, do jazz à música brasileira, com o qual não esteja familiarizado.
Seu interesse e criatividade são estimulados por todas as coisas. Explora ao máximo os mais diversos instrumentos para produzir sons únicos, criando traçando sempre novos caminhos na música, porque descobre a música que reside em todas as coisas.
Desde a expressão máxima que pode ser alcançada por um instrumento até a harmonia do canto dos pássaros, não existem limites para o que a sua obra é capaz de produzir.
Inúmeras são as referências já feitas a ele e sua obra, como um dos maiores, mais virtuosos, talentosos e criativos multi-instrumentistas e compositores da história da música latino-americana.
Desde a infância tocava por longas horas, de maneira autodidata, porque não podia sair ao sol em virtude do albinismo, e sua curiosidade o levou a conhecer uma infinidade de instrumentos e, inclusive, a fabricar alguns.
Aos oito anos já tocava acordeom e começou a tocar tamborim e flauta. Com o irmão mais velho, começou a tocar todos esses instrumentos nas festas locais.
No início da década de cinquenta sua família mudou-se para Recife e, aos quatorze anos, passou a atuar como músico profissional, tocando acordeom e flauta nas rádios locais. Junto aos irmãos, também albinos, começou a tocar piano, formando seu primeiro trio. Durante a adolescência e a juventude, ganhava a vida tocando em clubes e rádios.
Em 1958 mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1961, para São Paulo, em busca de oportunidades. Durante este tempo converteu-se em exímio pianista e acordeonista, somado a todos os outros instrumentos que já dominava.
Na segunda metade dos anos sessenta, contribuiu com diversos álbuns clássicos da bossa nova, dentre os quais se destacam Edu Lobo, Elis Regina e César Camargo Mariano. Também vinculou-se a Sivuca.
Em 1964 formou o Sambrasa Trio, com Airto Moreira e o baixista Humberto Clayber, dedicado a tocar jazz ao estilo americano. Em 1966, em pleno auge dos programas de televisão, Airto Moreira, que tocava em um grupo chamado Trio Novo, com Heraldo do Monte e Theo de Barros, convidou Hermeto a juntar-se ao grupo, com o qual foi conhecido internacionalmente: o Quarteto Novo, um dos mais importantes grupos de música instrumental da história do Brasil.
O Quarteto Novo contava com uma técnica magnífica e uma harmonia refinada e foi um dos pontos de fusão do jazz com os ritmos brasileiros.
Em seguida, Hermeto Pascoal fez parte do grupo Brazilian Octopus, onde tocava flauta. Em 1968, escreveu seu primeiro arranjo musical, para a música Choro do Amor Vivido, de Eduardo Gudin, que estreou no 4º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record.
Com a experiência adquirida nos anos sessenta, em 1979 se trasladou para os Estados Unidos, a convite de Airto Moreira, para trabalhar com Miles Davis, primeiramente fazendo alguns arranjos e, em seguida, colaborando na gravação do disco Live evil, no qual há duas composições originais de Hermeto Pascoal.
Considerado por Miles Davis “o músico mais impressionante do mundo”, gravou muitos temas que Miles queria incorporar ao disco, gravando-os em seu primeiro disco, intitulado Hermeto e reeditado em CD com o título Brazilian Adventure.
Em 1973 voltou ao Brasil e gravou A música livre de Hermeto Pascoal, retornando em 1976 aos Estados Unidos.
No retorno, gravou Missa dos Escravos, onde se destaca a utilização de grunhidos de animais, um precedente em sua constante experimentação. Seu próximo disco foi Zabumbê-bum-á, lançado em 1978.
Com um extenso repertório de temas originais, foi convidado a participar dos mais importantes festivais do mundo, com um dos músicos mais criativos e talentosos do momento.
Em 1978, participou do Festival Internacional do Jazz de São Paulo e, no ano seguinte, do Festival de Jazz de Montreaux, onde gravou seu primeiro disco ao vivo, o que significou a consagração definitiva de Hermeto como uma estrela do jazz de vanguarda.
Também em 1979 participou do Festival de Jazz de Toquio – Live under the sky -, com enorme êxito. Em 1980 editou o álbum Cérebro magnético, um dos mais aclamados pela crítica especializada e o levou a uma extensa turnê por grande parte da Europa.
O trabalho seguinte foi Hermeto Pascoal & Grupo, de 1982, dando continuidade a sua obra única, cada vez mais alcançando novas dimensões.
Em 1984 lançou Lagoa da Canoa, município de Arapiraca, um passo fundamental na exploração musical, incorporando o que ele chama “o som da aura”, que se refere à musicalização dos sons e verbalizações cotidianas da vida na cidade. O disco é uma homenagem à sua terra natal.







 Os próximos discos foram Brasil Universo e Só não toca quem não quer, lançados em 1986 e 1987, respectivamente. Representam o desenvolvimento da versatilidade de Hermeto Pascoal como compositor e a continuidade de sua persistente exploração de elementos experimentais.
Em 1988 lançou Por diferentes caminhos e, no início da década de setenta, já era considerado uma lenda viva, pela genialidade e originalidade. Em 1992 gravou Festa dos deuses, iniciando uma turnê pela Europa que incluiu shows na Alemanha, na Suíça, na Dinamarca, na Inglaterra e em Portugal.
Entre 23 de junho de 1996 e 23 de junho de 1997, realizou um ambicioso empreendimento criativo: compor uma música por dia, durante um ano. Escreveu Calendário do som, que contém 366 composições musicais, uma para cada dia do ano, nos mais diversos gêneros. Sua ideia era dedicar uma música para cada pessoa, no dia de seu aniversário.
Esse legado foi publicado em 1999 e muitos músicos interpretaram seus temas, especialmente a Itiberê Orquestra Família, liderada por Itiberê Zwarg, baixista da banda de Hermeto por mais de trinta anos, que gravou um disco em 2005 com vinte e sete desses arranjos. Também a Banda Hermética, da Argentina, arranjou vários temas do livro, lançados em disco no ano de 2007.
Ainda em 1999 lançou Eu e Eles, no qual toca todos os instrumentos. Em 2003, com Mundo verde esperança, reuniu antigos temas a novas composições, com alta tecnologia de som.
Em 2006, junto com a esposa, a cantora Aline Morena, lançou Chimarrão com rapadura, explorando as raízes da música brasileira, o jazz e a experimentação. Bodas de Latão, de 2010, também junto com Aline Morena, deu continuidade estilística ao disco anterior.
No ano de 2009 realizou uma turnê por diversas cidades da América do Sul, incluindo São Paulo, Recife, Brasília, Goiânia, Santiago do Chile e Buenos Aires.
Inesgotável, Hermeto Pascoal tem gravados mais de três mil músicas e outras mil escritas, ainda não gravadas. Suas composições foram interpretadas pela Orquestra Sinfônica do Brooklin, pela Filarmônica de Berlim, pela Orquestra Sinfônica de São Paulo e diversas outras.
Como um dos músicos brasileiros mais influentes na segunda metade do século XX, tocou com os maiores nomes da música brasileira e internacional. Seu virtuosismo impressionante em cada um dos instrumentos que toca, somados a todos os outros instrumentos que cria com praticamente qualquer objeto ou som disponível, renova-se a cada ano.
O contato com a música de Hermeto Pascoal sempre é uma surpresa. Cada um de seus “experimentos” vai além, comprova uma genialidade que vê no cotidiano um aborrecimento e sempre se atreve a realizar novas e ousadas experiências nas quais, quando considera limitados os recursos de um instrumento, busca os sons da natureza, de seu corpo, de qualquer coisa que esteja à mão.
Afiançando a genialidade de Hermeto Pascoal, o documentário de Marilia Alvim registra o seu processo criativo durante a gravação da trilha sonora de Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife, de Mário Carneiro.

ACAMPAMENTO MUSICAL


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NEIVA DUTRA. Jornalista. Dirige Di anima verbum, onde este texto foi originalmente publicado, 06/22/2015.

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Organização a cargo de Floriano Martins © 2017 ARC Edições
Artista convidado | Farnese de Andrade (Brasil, 1926-1996)
Imagens © Acervo Resto do Mundo / Acervo particular Jorge Mello
Agradecimentos especiais a Jovino Santos Neto
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 ACAMPAMENTO MUSICAL

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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