1 | ALEJANDRO VENTURA | Conversa com os criadores da “Rede de Aproximações Líricas”
Hoje existe uma iniciativa de grande valor cultural no
Brasil chamada “Rede de Aproximações Líricas”. Quatro intelectuais, responsáveis pela criação de projetos editoriais
com forte ligação
com a cultura da América
Latina, decidiram unir forças
em um propósito
comum que se soma ao trabalho que realizam há pelo menos duas décadas, publicando revistas e livros. A mais antiga
delas é a Agulha Revista de Cultura,
que também é pioneira, pelo menos no Brasil, entre os periódicos virtuais
dedicados aos estudos críticos sobre arte e cultura. Logo foi a vez de uma
editora bastante inusitada no país, a Sol Negro Edições, especializada em
livros artesanais. Por fim, outra revista, a Acrobata, que começou como publicação impressa e logo migrou para o
mundo virtual. Falarei com seus editores sobre esta valiosa união de forças.
ALEJANDRO VENTURA | Primeiramente quero dizer que acho muito bonita
a iniciativa de criar uma rede de cumplicidade entre poetas, além de agradecer
ao Demetrios Galvão, que me permitiu esta oportunidade de falar com vocês.
Minha pergunta inicial será justamente sobre o despertar dessa consciência,
dessa luz que fez com que todos sentissem a importância do trabalho de produção
compartilhada. Quem teve a ideia? Como surgiu esse lindo projeto?
DEMETRIOS GALVÃO | Alejandro,
é um prazer responder essa entrevista, juntamente com essas parcerias
maravilhosas… Eu preciso dizer que tudo que está sendo feito passa pelo maestro
incansável chamado Floriano Martins. Já fazem algumas décadas que Floriano
dialoga com a produção literária hispânica e, mais recentemente, nos
aproximamos para desenvolver um projeto chamado “Atlas Lírico da América
Hispânica”. Esse projeto fez com que passássemos a conversar constantemente e
em uma dessas conversas, aqui em Teresina, minha cidade natal, percebemos que
existiam algumas iniciativas que passavam pelas revistas Agulha e Acrobata, bem
como a editora Sol Negro, que estabeleciam um forte diálogo com a literatura
latino-americana. Essas ações passavam pelo poder de articulação do Floriano e
em uma conversa durante o Salão do Livro do Piauí (SALIPI, 2023), tivemos a
ideia de juntar essas três peças soltas e montar a rede. Percebemos que as
energias já circundavam o mesmo núcleo e só precisávamos formalmente, juntar as
forças e dar um nome. Então, a rede surge de três iniciativas independentes que
se aproximam pelo campo de interesse em comum, no qual, um vira suporte para o
outro, um fortalece o outro, construindo a rede.
ELYS REGINA ZILS | Meu contato inicial foi com Floriano para uma
entrevista relacionada ao surrealismo no Brasil para um projeto pessoal. Ele
foi tão receptivo que mantivemos contato praticamente diariamente desde então.
Nossos interesses comuns levaram Floriano a inicialmente me convidar para
dividir com ele a direção da Agulha
Revista de Cultura, cujas publicações ele já acompanhava e admirava pelo
comprometimento com a divulgação da cultura latino-americana.
Mais tarde, Floriano me convidou
para compartilhar com ele as traduções do “Atlas Lírico”, e atualmente a
querida Gladys Mendía também está lá. Completando o trio surgiu a proposta de
colaborações com a Sol Negro, o que foi natural já que a editora publica poetas
de grande relevância que eu já havia lido e outros nomes que venho pesquisando
em meus trabalhos acadêmicos estão ausentes em seu catálogo. Então, quando
Floriano e Demetrios propuseram a Rede para unir forças e ampliar um panorama
de divulgação sistemática da tradição lírica latino-americana, fez todo o
sentido para mim.
FLORIANO MARTINS | De algum modo a ideia da rede sempre esteve na
pauta da Agulha Revista de Cultura e
de minhas preocupações como pesquisador, ensaísta e tradutor. Talvez até mesmo
por excesso de trabalho não havíamos pensado ainda em formalizar a sua criação,
muito embora já de algum tempo vimos trabalhando com base em cumplicidades
valiosas. Evidente que a reunião de forças, da forma como agora configuramos a
rede, nos dá uma perspectiva maior, de sequência do que já fazemos, uma mais
ampla difusão, e o estímulo para ousar mais, para realizar novas ideias. Até o
momento, nosso quinteto vem sendo muito frutífero: Márcio Simões, através da Sol
Negro, já publicou muitos livros meus e agora começa a publicar livros da Elys
Regina Zils. Para ela eu passei a direção geral da Agulha Revista de Cultura e com ela realizamos as traduções do
“Atlas Lírico da América Hispânica”, editado pela revista Acrobata. O Atlas conta ainda com as traduções de Gladys Mendía,
que se reuniu a nós este ano, mas que anteriormente já me havia publicado dois
livros, ao mesmo tempo em que eu mesmo traduzi um livro dela. Demetrios Galvão
completa esse quinteto que vive no maior jazz. Sua preciosa revista é um ponto
de equilíbrio para todos nós, por sua dedicação intensa à poesia.
MÁRCIO SIMÕES | Creio que a ideia veio de Floriano Martins, que
foi/é o elemento agregador desta Rede, uma vez que todos nós, em separado, já
colaborávamos com ele de diferentes formas há algum tempo.
AV | Sei que o pioneirismo de uma concentração de esforços como
esta não tem maior valor, pois o ideal é que haja cada vez mais experiências
desta natureza. Existem muitas revistas de poesia no Brasil e imagino que
publiquem traduções de poetas latino-americanos. ¿Vocês
mantém contato com essas outras publicações?
DG | No Brasil existem
muitas revistas literárias impressas e eletrônicas, porém poucas dão atenção à
literatura hispânica feita no continente. Via de regra seguem uma perspectiva
colonizada e publicam com mais frequência traduções de escritores europeus e
americanos. A Agulha Revista de Cultura
é pioneira nessa ponte com os países vizinhos. Até recentemente essa lacuna era
maior, nos dias de hoje existem editoras atentas à literatura hispânica feita
no continente e posso citar a Moinhos e a Sol Negro, como editoras que vêm
fazendo a diferença. Os projetos que desenvolvemos hoje de forma conectada,
promovem uma novidade no cenário literário brasileiro, pois abrem um largo
horizonte de integração e aproximação. Só o “Atlas Lírico” conta já com mais de
300 poetas publicados, abrangendo 19 países, e todo esse material está
disponível em nossa página web. A Agulha
– que já está no número 240 – tem um acervo gigante de publicações ao longo de
23 anos. Acredito que nossa iniciativa com a Rede, seja inédita no país.
ERZ | Como tradutora e com especial interesse pela tradução de
poesia, já havia colaborado esporadicamente com outras revistas brasileiras,
mas nada se compara ao grande projeto como o “Atlas Lírico”, que conta com a
presença de mais de 300 poetas. Com o objetivo de unir esforços na divulgação
da poesia latino-americana, mantenho sempre as portas abertas para possíveis
alianças. Em geral, o Brasil carece de poesia latino-americana, por isso todo
esforço para contribuir para a circulação de mais poesia é importante, bem como
tornar o que estamos fazendo atualmente no Brasil conhecido para outros países latino-americanos.
Há várias cumplicidades.
FM | Um marco bastante expressivo dessa concentração de forças vem
do princípio do século, quando Soares Feitosa, do Jornal de Poesia, me convida para organizar ali o que chamamos de “Banda
Hispânica”, um vultoso projeto que reunia ensaios, entrevistas e poemas acerca
da tradição lírica hispano-americana. Atuante por mais de uma década, este
projeto – que hoje se encontra fora do ar – foi distribuído em dois outros:
“Conexão Hispânica”, que integra a Agulha
Revista de Cultura, e o “Atlas Lírico”, publicado pela Acrobata. Na época da “Banda Hispânica” eu também publiquei
traduções de poetas hispano-americanos em muitos jornais e revistas do país,
além de haver publicado uma antologia de poetas dessa região relacionados com o
Surrealismo, um livro que foi bastante comentado. De algum modo aí estava dado
o estímulo para que se desdobrasse, de modo sistemático, esse interesse
cultural. No entanto, ainda que poemas tenham sido publicados em alguns
veículos, nada houve de mais relevante. Paralelo ao nosso projeto no Jornal de Poesia surgiu, em 2004, o
“Portal de poesia ibero-americana”, criado e dirigido por Antonio Miranda, que
até hoje pode ser consultado. Lembro ainda que a revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, dedicou alguns de
seus números a países como México e Peru – este último eu tive o prazer de
organizar e traduzir, juntamente com seu então editor, Marco Lucchesi. Também o
Memorial da América Latina deu início a uma coleção intitulada “Memo”, de
livros de bolso, que publicou alguns volumes organizados e traduzidos por mim.
Esta também foi projeto que não teve continuidade. Agulha Revista de Cultura e Acrobata
mantêm boas relações com todos os diretores de revistas brasileiras, independentemente
de suas pautas.
MS | Não tenho certeza se há tantas, mas as que conheço acompanho
como leitor e observador atento. Contato pessoal, no entanto, apenas com a Agulha,
[n.t.] Revista Nota do Tradutor e agora a Acrobata.
AV | Uma coisa que noto é que as três publicações que agora
ingressam são da mesma região do país, o Nordeste. Houve alguma intenção de
demarcação territorial ou essa origem foi apenas uma coincidência?
DG | Esse detalhe foi mero
acaso; no entanto, estamos fora do grande eixo editorial, econômico, do cartel
semiótico que domina o país e isso, talvez, nos dê a condição de ter um olhar
diferenciado. Não olhamos para o próprio umbigo e essa é uma questão política
importante. Buscamos estabelecer contato com outros cenários poéticos.
Particularmente, tenho me alimentado com sensibilidades decoloniais e buscado
diálogos com outras matrizes culturais e poéticas. A aproximação com a
literatura latino-americana virou uma questão decisiva para o meu trabalho como
editor, poeta, professor e sujeito que habita esse continente. Como historiador
de formação e provocado pelas leituras do giro decolonial e do sociólogo
peruano Anibal Quijano, comecei a levantar algumas questões que passam pelo
debate da colonialidade do poder e da crítica ao eurocentrismo: por que não
temos o espanhol como segunda língua? Por que sabemos pouco sobre os nossos
vizinhos e, por outro lado, estudamos tanto sobre história da Grécia e da Europa?
Por que buscamos sentar à mesa com os colonizadores e desprezamos aqueles que
têm uma história colonial parecida com a nossa? Por que formamos nosso
imaginário com imagens de mundos distantes ao passo que tornamos estranhas as
experiências originárias, ancestrais, de nosso continente? Esses detalhes
começaram a me incomodar demais nesses últimos anos e a implicarem no meu fazer
como editor, leitor, escritor.
ERZ | Floriano
é o centro vital das nossas cumplicidades. Conhece pessoalmente Demetrios
Galvão e Márcio Simões. No entanto, até agora não houve nenhum encontro pessoal
entre nós. Falo do Sul, Santa Catarina. A virtualidade já faz parte de nossas
vidas em tantos aspectos que está incorporada neste projeto sem nenhum
prejuízo. Agulha, Acrobrata e Sol Negro têm origem no
Nordeste brasileiro, mas acredito que essas três instâncias tenham obras que
rompem fronteiras. Então estamos juntos com um propósito comum, eis o que
dizemos com a Rede – independentemente da localização geográfica.
FM | Evidente que o Nordeste do Brasil é um grande polo de
criadores artísticos, que alimenta o país de modo valioso e pouco recordado. No
entanto, não cabe em circunstância alguma dar motivos ao preconceito ou à
presunção. O país precisa entender que é uma unidade, vastíssima, problematiza
tanto pelo seu gigantismo territorial quanto pelo astuto e criminoso desmonte
político de sua cultura. A rede – como consequência natural do trabalho de seus
integrantes – é um passo nesse sentido de integração. Independente do fato da
Elys Regina Zils será catarinense, o essencial é que não há entre nós nenhuma
mentalidade regionalista.
MS | | A meu ver, pura coincidência. A ideia é justamente estreitar
distâncias e abolir fronteiras.
AV | Por que especificamente a poesia e a poesia feita na América Hispânica?
DG | Acho que fomos na
direção da poesia por uma questão natural, os envolvidos na rede somos poetas e
leitores assíduos de poesia. Mas a Agulha
não publica só poesia e nem a Sol Negro. O “Atlas Lírico”, sim. A
diferença/novidade está na escolha de ser poesia hispano-americana. E isso já
expus um pouco na resposta anterior. Acredito que já passamos muito tempo nessa
ponte do Atlântico e precisamos virar o olhar para outros
lugares/sensibilidades. Povoar nosso horizonte com experiências literárias que
foram propositadamente distanciadas de nós, por um projeto político, cultural e
– por que não? – editorial, de formação da própria Nação brasileira e que, nos tornaram
o vizinho arrogante, aquele que deu as costas para os iguais e cresceu olhando para longe. Isso gerou a
formação de um povo que olha para longe e não enxerga o que está perto. Este é
um tema que exige permanente retorno à sua reflexão.
ERZ | Tanto a categoria da poesia como a América Hispânica no
sentido mais amplo são interesses pessoais que tenho há muito tempo. Nos
últimos anos tenho dedicado meus estudos à poesia de modo mais formal. Tanto no
mestrado como agora na pesquisa de doutorado me dedico à poesia hispano-americana.
Mas por que poesia? Para transfigurar a realidade através da linguagem, para
melhorar e enriquecer a percepção emocional e estética, para levar a linguagem
para além da linguagem condicionada da vida quotidiana. Destaco aqui o desejo
do Surrealismo de emancipação do sujeito através da libertação da linguagem.
Nesse sentido, a linguagem poética apresenta um aspecto único que a situa no
universo da liberdade, um gesto de reescrever o mundo. De qualquer forma, a
proposta aqui é não divagar sobre isso, até porque as paixões não são
explicadas.
FM | Com admirável precisão e abrangência Elys como que responde
por todos nós. A poesia é um veio cósmico que nos revela intimamente o que
somos e nos conduz a um diálogo fecundo com a humanidade. Lembro aqui a longeva
revista espanhola Hora de Poesía,
surgida ao final dos anos 1970, que publicava poetas de todos os recantos do
mundo. Eu tive a fortuna de acompanhá-la por quase 60 de seus 100 números
publicados. Uma grande fonte de sabedoria poética, de uma riqueza em sua
diversidade que torna hoje medíocre essa retórica midiática de uma pluralidade
baseada mais na quantidade do que na qualidade. A tradição lírica
hispano-americana é outro exemplo de uma riqueza estética raramente alcançada
em outras regiões do planeta. Mesmo que compartilhe o idioma, essa tradição se
desdobra por 19 países, com suas singularidades históricas, de modo que amplia
ainda mais a heterogeneidade de estilos e ousadias estéticas.
MS | A poesia sempre foi o foco da linha editorial da Sol Negro
Edições, devido a uma paixão pessoal minha. À medida que fui conhecendo melhor
a poesia hispano-americana, em parte a partir do convívio com Floriano Martins
e a editorial da Agulha, foi natural querer traduzir e publicar uma poesia tão
forte e diversa, e que infelizmente circula muito pouco no Brasil.
AV | Os quatro já estão planejando um próximo passo? A Rede
convidará outras publicações? Vocês pretendem ampliar o universo editorial em
relação à poesia hispano-americana? Enfim, quais são seus planos futuros?
DG | Inicialmente
precisamos fortalecer a rede e aprimorar as conexões, mas tudo está em
expansão. As atividades das três iniciativas (Agulha, Acrobata, Sol
Negro) seguem em uma onda crescente e logo mais teremos mais publicações, mais
pessoas colaborando dentro e fora do país e isso é incrível. Nesse momento,
além de Floriano e Elys Regina Zils, temos a tradutora venezuelana Gladys Mendía colaborando no projeto do
Atlas e pode ser que, logo mais, tenha mais gente. Estou animado e esperançoso
em relação ao futuro.
ERZ | A Agulha tem
dedicado cada vez mais suas páginas a levar aos nossos leitores conteúdos
literários principalmente de expressão poética hispano-americana. Sol Negro tem
diversas traduções em seu currículo e Acrobata
continua com energia e vigor, adicionando combustível à fornalha, ainda mais agora
com a colaboração de Gladys. As cumplicidades são muitas e novos contatos e
associações estão em constante crescimento. Estamos a todo vapor.
FM | Na verdade, não paramos nunca de projetar e realizar coisas. O
esforço maior, ao menos neste primeiro momento de criação da rede, é nos
ocuparmos de sua difusão, para que todos saibam de sua existência, que percebam
que esta é uma experiência que pode ser imitada por todos. Criar novos mundos,
novas perspectivas de vida, com base na alteridade.
MS | Em termos de Rede ainda estamos iniciando e conversando, se
concentrando em tentar apresentar aos meios de circulação de cada um o trabalho
do outro, neste primeiro momento. Ao mesmo tempo, vamos tocando nossos próprios
projetos. Pela Sol Negro estamos trabalhando numa série de livros de poesia
hispano-americana traduzidos pela Elys, prefaciados por Floriano e editados por
mim, em que certamente teremos um espaço de divulgação na Acrobata. Para
este projeto já temos confirmado livros de Eunice Odio, Marosa di Giorgio e
Enrique Gomez-Correa e é um trabalho de deve entrar pelo próximo ano.
NOTA
ALEJANDRO VENTURA
(México, 1986). Jornalista e viajante independente. Nasceu em Tuxtla e ainda
jovem, após um período de retiro espiritual na região do Cañón del Sumidero,
decidiu se tornar um viajante, buscando conhecer e entrevistar artistas,
artesãos, escritores, de toda a imensidão americana, movido pela ideia de
reunir todo esse material em um livro que pretende chamar de Rota Selvagem da Cultura. Atualmente
mora em Piracuruca, no Piauí, em uma pequena casa alugada perto das áridas
savanas do Brasil.
∞
2 | ELYS REGINA ZILS
| “Rede de Aproximações Líricas”, a primeira linha do horizonte
Até o momento não houve um encontro pessoal entre nós.
Floriano Martins é o centro vital de nossas cumplicidades. Conhece pessoalmente
Márcio Simões e Demetrios Galvão, o que ainda não se deu conosco. No entanto,
de tal modo já incorporamos a virtualidade à nossa vida real que o surgimento
de uma “Rede de Aproximações Líricas” era algo mais do que esperado, uma
certeza de que nossos caminhos estavam prontos para a sua realização. A rede é
fruto, portanto, do desdobramento natural dos esforços realizados há duas
décadas por parceiros verdadeiramente incondicionais, suas revistas e sua
editora.
A primeira delas foi a Agulha Revista
de Cultura, que nasceu ao final de 1999. Foi um projeto virtual desde o início
e teve em seu criador, Floriano Martins, um valor pioneiro agregado. Em 2011
surge a Sol Negro Edições, definida por seu idealizador e editor-artesão Márcio
Simões, como um selo editorial voltado à edição de livros de poesia
e autores à margem dos interesses dominantes. Por último, em 2013 seria
a vez da revista Acrobata, que surge primeiramente na forma impressa. Seu
criador, Demetrios Galvão, certa vez observou: A Acrobata é uma
revista feita com o apoio e a colaboração de muita gente. Alegra-nos saber que
uma rede de pessoas transmitindo energias positivas e compartilhando
sensibilidades, nos faz ter coragem de seguir à diante com a revista.
Na medida em foram se conhecendo
esses três amigos se tornaram cúmplices de inúmeros projetos. Márcio Simões
chegou a atuar como editor assistente da Agulha Revista de Cultura por um período de 10 anos. A
Sol Negro Edições incluiria em seu catálogo a coleção “Cinzas do Sol” –
homenagem a um livro homônimo de Floriano Martins – que, segundo o próprio
Márcio Simões, traz poetas já incorporados à
tradição de diversos tempos e lugares, sempre em edições bilíngues – no caso
das traduções – ou, preferencialmente, na ortografia original, no caso daquelas
originalmente escritas em português. Em 2020, a revista Acrobata, já
incorporada ao meio digital, e que vinha publicando habitualmente traduções de
poetas assinadas por Floriano Martins, cria o projeto “Atlas Lírico da América
Hispânica”, A gênese do projeto é recordada por Demetrios Galvão: Ao longo de 2020 nós da
revista Acrobata e o poeta, ensaísta e tradutor, Floriano
Martins, desenvolvemos uma parceria que tem levado aos nossos leitores e
leitoras um conteúdo literário com diversas traduções, textos críticos e
entrevistas, com poetas de várias partes do mundo, porém, com uma pegada forte
no continente americano, principalmente de expressão hispânica. Recentemente
percebemos a necessidade de dar corpo a um projeto mais específico e
concentrado, no intuito de organizar e dar a ver/ler uma parcela da produção
poética hispano-americana. Depois de algumas conversas chegamos à ideia de
criar um Atlas Lírico da América Hispânica, audacioso projeto que
abrange 19 países, tendo como curador e tradutor o Floriano Martins.
Há dois anos os deuses de todas as venturas acharam por bem incluir-me ao lado desses três amigos. Floriano Martins me convidou para inicialmente dividir com ele a direção da Agulha Revista de Cultura, que logo passaria exclusivamente às minhas mãos, em um gesto impregnado de generosidade e mistério. Em seguida me convidaria também para dividir com ele as traduções para o “Atlas Lírico”, e a nossa dupla logo se tornaria um trio, com a presença da querida Gladys Mendía. A Agulha Revista de Cultura já se caracterizava como empenhada na difusão, embora não exclusivamente, da cultura hispano-americana. 2021, por exemplo, foi ano dedicado a uma série chamada “Partituras do maravilhoso”: https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/10/agulha-revista-de-cultura-projeto.html, onde cada número da revista tratava da cultura de um dos 19 países hispano-americanos, com a singularidade de que sua direção esteve a cargo de escritores desses países, convidados pela revista brasileira. Enquanto o “Atlas Lírico” ia formando um precioso banco de dados: https://revistaacrobata.com.br/atlas-lirico-da-america-hispanica/, que hoje conta com a presença de mais de 300 poetas, a Sol Negro Edições: https://solnegroeditora.blogspot.com/, ia editando poetas de grande relevância, tais como Aldo Pellegrini, Vicente Huidobro, César Moro, Enrique Molina, Caupolicán Ovalles, Miguel Márquez e, mais recentemente, Eunice Odio e Marosa di Giorgio.
A “Rede de Aproximações Líricas” é, portanto, o resultado de uma cumplicidade acima de quaisquer interesses que não seja a permanência de uma ação em defesa da cultura. O que as três instâncias já vinham até aqui realizando seguirá seu curso. A criação de um símbolo comum, a rede, apenas reforça o rigor de nosso trabalho editorial. Estamos juntos, eis o que estamos dizendo com a rede. Estamos determinados a ampliar um panorama de difusão sistemática da tradição lírica hispano-americana. Estamos certos de que esta aventura editorial contará sempre com a preciosa atenção de todos.
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[libros para descargar]
LIVRO 1 | Mundo Mágico – Poetas hispanoamericanos en el siglo XX
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/11/coleccion-libros-de-la-red.html
LIVRO 2 | Las cinco
puntas del abismo
https://lp5.cl/2024/02/coleccion-libros-de-la-red-las-cinco-puntas-del-abismo/
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https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
https://revistaacrobata.com.br/
FLORIANO MARTINS (1957). Poeta, editor, dramaturgo, ensaísta, artista plástico e tradutor. Criou em 1999 a Agulha Revista de Cultura. Coordenou (2005-2010) a coleção “Ponte Velha” de autores portugueses da Escrituras Editora (São Paulo). Curador do projeto “Atlas Lírico da América Hispânica”, da revista Acrobata. Esteve presente em festivais de poesia realizados em países como Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Equador, Espanha, México, Nicarágua, Panamá, Portugal e Venezuela. Curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará (Brasil, 2008), e membro do júri do Prêmio Casa das Américas (Cuba, 2009), foi professor convidado da Universidade de Cincinnati (Ohio, Estados Unidos, 2010). Tradutor de livros de César Moro, Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Vicente Huidobro, Hans Arp, Juan Calzadilla, Enrique Molina, Jorge Luis Borges, Aldo Pellegrini e Pablo Antonio Cuadra. Entre seus livros mais recentes se destacam Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad (ensaio, México, 2015), Um novo continente – Poesia e surrealismo na América (ensaio, Brasil, 2016), O iluminismo é uma baleia (teatro, Brasil, em parceria com Zuca Sardan, 2016), Antes que a árvore se feche (poesia completa, Brasil, 2020), 120 noites de Eros – Mulheres surrealistas (ensaio, Brasil, 2020), Naufrágios do tempo (novela, com Berta Lucía Estrada, 2020), e Las mujeres desaparecidas (poesia, Chile, 2022). Contato: floriano.agulha@gmail.com.
MÁRCIO SIMÕES (1979). Poeta, tradutor e editor. Autor de O Pastoreio do Boi (2008) e Fúrias de Orfeu (2016), também é fundador da Sol Negro Edições, uma editora voltada para a edição de livros artesanais em pequenas tiragens. Essa escolha editorial reflete o próprio posicionamento da Sol Negro, que preza pela qualidade gráfica e literária de forma independente como modo de desvincular a experiência da leitura dos interesses estritamente mercadológicos. Publicando poesia, prosa e ensaios, desde os contemporâneos até poetas e escritores a muito tempo não reeditados, como Zila Mamede, Myriam Coeli e Walflan de Queiroz, a Sol Negro divide seu catálogo em cinco coleções, além de plaquetes. Como tradutor publicou Gregory Corso: Antologia Poética; Postais do Peru, de Thomas Rain Crowe; O Fruto de Saturno, de Yvan Goll, entre outros. Contato: edsolnegro@hotmail.com.
DEMETRIOS GALVÃO (). Poeta, editor e professor. Autor dos livros de poemas Fractais Semióticos (2005), Insólito (2011), Bifurcações (2014), O Avesso da Lâmpada (2017), Reabitar (2019), A inconstância dos fluxos (2023), e do objeto poético Capsular (2015). Em 2005 lançou o CD de poemas Um Pandemônio Léxico no Arquipélago Parabólico. Tem poemas publicados em diversas antologias, revista literárias e é coeditor da revista Acrobata, em atividade desde 2013. Contato: demetrios.galvao@yahoo.com.
ELYS REGINA ZILS (1986). Poeta, artista visual, tradutora. Doutoranda e Mestre em Estudos da Tradução pela PGET/Universidade Federal de Santa Catarina. Possui graduação em Letras-Língua Espanhola e Literaturas e Letras-Português também pela Universidade Federal de Santa Catarina/Florianópolis, Brasil. Se dedica à Literatura Latino-americana, pesquisando principalmente Vanguardas Literárias e Artísticas com ênfase em Literatura Surrealista Latino-americana. Editora da Agulha Revista de Cultura (2023), revista criada por Floriano Martins. Tradutora, ao lado dele, de sua trilogia dedicada ao surrealismo, composta por Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América, 120 Noites de Eros – Mulheres surrealistas, e Bússola do Acaso – Viagens do Surrealismo. Tem sido responsável ainda, parcialmente, pelas traduções de poetas hispano-americanos para o “Atlas Lírico da América Hispânica”, da revista Acrobata. Atualmente tem em preparação a tradução de livros de Eunice Odio, Olga Orozco e Marosa di Giorgio, todas para a Sol Negro Edições. Contato: elysre@gmail.com.
GLADYS MENDÍA (1975). Escritora, ensaísta e editora. Tradutora de português e espanhol, em ambos os sentidos, incluindo entre suas obras de tradução a antologia poética de Roberto Piva intitulada A Catedral da Desordem (2017). Foi bolsista da Fundação Neruda (2003 e 2017). Participou na Oficina de Criação de Poesia com Raúl Zurita (2006). Seus livros: El tiempo es la herida que gotea (2009); El alcohol de los estados intermedios (2009); La silenciosa desesperación del sueño (2010); La grita. Reescritura de Las Moradas, de Teresa de Ávila (2011); Inquietantes dislocaciones del pulso (2012); El cantar de los manglares (2018); Telemática. Reflexiones de una adicta digital (2021); LUCES ALTAS luces de peligro (2022) e seus livros mais recentes em cocriação com Inteligência Artificial: Fosforescencia tigra e Memorias de árboles (LP5 Editora, 2023). É editora fundadora da Revista de Literatura e Artes LP5.cl e LP5 Editora, desde 2004. Como editora desenvolveu mais de vinte e cinco coleções entre poesia, narrativa, ensaio e audiovisual, publicando mais de 500 autores. Contato: mendia.gladys@gmail.com.
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