∞ editorial | Circuitos elétricos da criação
02 | Breve
conversa com Thomaz Albornoz Neves | Este brasileiro, nascido em 1963, a
qualquer momento o encontro com a sua obra nos surpreende, pela grandeza em
duplo sentido: a extensão de seus escritos, sua busca inquieta de uma magia do
tempo, e a densidade dessa procura, o modo como viaja pelos rios mais
subterrâneos da essência poética, como ensaísta, tradutor e poeta. Mas
sobretudo com a percepção que o conduz pelos caminhos com uma passada firme de
quem está sempre aberto para tudo o que a paisagem tenha a lhe ofertar. Este
número de Agulha Revista de Cultura é
um reconhecimento dessa grandeza, expressa recentemente na forma de três livros
fundamentais: À espera de um igual
(2020), Oriente (2021) e 24 verbetes (2022). No diálogo a seguir
conversaremos um pouco sobre eles.
FM | Naturalmente, cada leitor acaba por formar
a própria linha de parentesco de um poeta de sua preferência. No prefácio do
volume que reúne tua poesia – ah este belíssimo título: À espera de um igual, com sua força sedutora e mesmo desafiadora – o
uruguaio Rafael Courtoisie situa a tua poética em uma quadra múltipla que eu
sinceramente não identifico ao te ler. Para mim, a tua referência clássica vem
da poesia desse raro que é Dante Milano, assim como a veia experimental a
encontro melhor sintonizada com Francis Ponge e a síntese comparativa com Juan-Eduardo
Cirlot. Talvez estejamos os dois errados e seja outra a tua linhagem. Acaso
poderias nos aclarar algo a este respeito?
TAN | É curioso,
Floriano, mas a linhagem de um poeta pode não ser a mesma dos seus poemas.
Quero dizer, muitas vezes me peguei apagando minhas influências, escrevendo contra
elas. As tirava dos versos, mas as mantinha em mim. Menos que de autores, minha
formação foi feita por poemas esparsos. Ou melhor, por determinados versos desses
poemas. No começo, me interessava o poder que as palavras têm de transformar
minha percepção do mundo. Eu era um caçador de revelações. Os poemas 4 e 6 de O capuz do olhar (2018), livro que encerra
À espera de um igual e que revisita o
caminho do poeta que surge através dos meus poemas, ilustram melhor a que me refiro.
4
Rio
de Janeiro, 1982
Peculiar leitor de poesia
Só se interessa por alguns poemas de uns poucos poetas E
mesmo o poema escolhido rara vez permanece inteiro
apagado pelo clarão daquele verso único que o captura
Tendo conhecido a força dessa experiência lendo
está determinado a repeti-la também escrevendo
Persegue a centelha, o rapto repentino
da vida pela linguagem
Não nutre interesse algum
nos poetas
Ler o que se escreve sobre eles e sobre as suas obras
lhe parece uma espécie de sacrilégio
Para que dissecar a estrutura de um poema contextualizá-lo
na vida do autor e na galeria da língua
embutir-lhe um ismo, se o
que vale já está ali, nele mesmo?
Sim, é sabido
Há toda uma indústria em torno do verso
guiando a voz depois de ouvida
que também é conhecimento
Mas para ele há mais no que ignora de Safo do que sabe sobre Rimbaud
Ou Vinícius
A Literatura, ou seja, a soma das suas leituras essenciais
resiste a ser um todo definido e definitivo
Pensar num contexto poético brasileiro
restringir o poema à sua língua
lhe parece o mesmo que
reduzir o homem à sua espécie
Se termina por aprender
idiomas
não o faz através de um curso sistemático
(como a lógica, a gramática o tortura)
mas através da poesia e com
um dicionário
Dito em outras palavras
Se aprende uma língua é para ler poemas
Traduz para tomar posse
É um processo de revelações
Muitas vezes, no primeiro entendimento
dúbio e nebuloso
a impressão é de ter se aproximado tanto
da origem do verso na mente do autor
quanto daquele silêncio
onde as palavras se formam
Aprender um idioma através do poema
remete ao silêncio onde nascem as palavras
que é o mesmo da poesia
6
Folheia os ensaios nas livrarias pela riqueza das citações
Não pelo pensamento dos ensaístas
O pensamento sempre almeja
algo, é inacabado
e ele procura a fenda que a
beleza abre nas palavras
O subsolo da PUC, embaixo dos pilotis da Faculdade de Direito onde
o Papaléguas vende seus livros e revistas é escuro e acolhedor O
lugar perfeito para a solidão que sente
Saudosa de inverno, albina
no trópico
À direita de quem desce as escadas para o refeitório comunitário há
um balcão de bar
e bancos dispostos como os de trem contra a parede sem janelas As
estantes verticais giratórias
ficam entre as mesas
cobertas pelas publicações à venda
Aquela gruta é seu lugar de leitura
Esvazia durante cada período de aula
e quando lota de repente a interrupção é bem-vinda
porque traz os amigos e as amigas
de passagem até o começo da
aula seguinte
Além das aulas, também
evita
a envidraçada e asséptica
Biblioteca do terceiro andar
Lá, as pessoas parecem ler por profissão, circulam com pressa
e tratam os livros como instrumentos para matar o semestre
Já nós aqui, à meia-luz, fazemos tempo
Um tempo denso de ar
viciado que demora mais, como na praia
Ao contrário da Biblioteca,
os livros do Papaléguas
são objetos valiosos cedidos com generosidade a quem o frequenta
Tanto desprendimento aumenta o
cuidado com os livros
sempre repostos à posição
de venda nas estantes ou nas mesas
O lugar rescende a vinho barato, a cerveja derramada e, senão a maconha,
a maconheiros vindos do pebolim
na Vila dos Diretórios
Entre nós, é um rito de passagem superar o crivo
desse culto camelô e ter poemas mimeografados ali
entre Vallejo, Artaud e Cacaso
Às vezes, enquanto folheia no encalço de pérolas
o Papa e sua melena rasta na penumbra
são para ele quase como
quando o néon some
Epígrafe em um daqueles
ensaios
a primeira estrofe de Éluard que lê mais que pérola é uma aparição
Por ela compra o livro sobre
Surrealismo
e sobe ao terceiro andar pelo poema original nas Obras Completas
Retira o tomo da Pléiade, em papel
bíblia, sem abri-lo sequer
e tenta voltar ao seu canto no fundo da cantina
Mas está lotada
Sai da Universidade para a luz
da tarde
sentindo na bolsa de pano o peso dos livros não lidos
imantados por esse tipo de expectativa
que se tem quando
pressentimos epifanias
Mas, para a sua surpresa, a estrofe em francês não chega aos pés
da tradução da Sra. Eugénia Maria Madeira
Aguiar e Silva
Nem versão alguma que viesse a pôr os olhos nas semanas seguintes jamais chegou
fosse a do Zé Paulo, a do
Quasimodo, a do Beckett ou a do Octavio Paz
– que se permite a heresia de abolir da sua tradução ao espanhol
justo os dois versos que o elevaram –
Diz a estrofe final
do poema sem título que faz
parte da coletânea Facile, de 1935:
Femme tu mets au monde un corps toujours pareil Le
tien
Tu
es la ressemblance
e traduz a portuguesa:
Mulher tu dás à luz um corpo sempre semelhante O
teu
Tu
és a semelhança
Éluard – e a tradutora com
o seu “dar à luz”
a provocar tanta ternura
pela Língua Portuguesa –
cria uma imagem de mulher que se renova nela mesma diante do leitor
E o que mais ocorre quando olhamos
fascinados para a mesma pessoa
senão a impressão de
estarmos a olhar sempre pela primeira vez?
Foi ler a um só tempo o movimento e sua origem que o suspende Ele
vem de locuções estáticas, vem de
Puedo escribir los versos más tristes
esta noche
Ele vem de isto como aquilo
Cultivar
o deserto como um pomar às avessas
ou
y sus muslos me escapaban como peces
sorprendidos
Aquela alquimia verbal
a palavra criando algo que até então não existe mas que é real
agindo sobre o presente imediato do leitor
em vez de remetê-lo ao tempo em que foi escrita
dá um novo poder ao ofício
E por não ser retórico
esse poema se ajusta ao seu errático ritmo de leitura
Salteado, caçador de flashes
Alguém já escreveu como
ele, sem saber, pretendia
A evidente questão que se coloca ainda não chega a pesar
Como fazer assim, à sua maneira?
A evolução do meu estilo parte de uma
apropriação de certos autores. O modelo romântico de poeta na adolescência é
nerudiano (o Neruda hermético de Residencia
en la tierra) transfigurado pela descoberta do verso de Éluard e de Char.
Mas não saberia dizer com que intensidade se notam esses reflexos em Renée e em Sol sem imagem. É claro, Éluard deixou uma galeria de influenciados
que eu também me apropriei: Elytis, de Sol Primeiro; algo no vocabulário
neutro, o ambiente onírico, em Schehadé; a erótica de Paz. Não é possível negar
a presença formal de Mallarmé nos fragmentos de “O Sono” e tampouco de João
Cabral (e Valéry) na minha obsessão pela concisão. Uma obsessão que implodiu e
se dissolveu em Versos para poemas não escritos,
essa tentativa de escrever uma poesia sem poema, feita entre 2010 e 2015.
Apesar de ter escrito contra os meus mestres,
tentando encontrar uma voz em que me identificasse por sobre a deles, não posso
afirmar que me reconheça nos meus poemas. Se me leio, é como se eles tivessem sido
escritos através de mim, apesar de mim.
Quanto ao Milano, não. Dante Milano chegou
na minha vida por uma obrigação acadêmica. E o que me levou à sua biografia –
uma biografia construtivista e experimental – foi a oportunidade que o seu comportamento
recluso e avesso à fama me ofereceu para discutir os mecanismos da legitimação de
um poeta no contexto literário modernista. Eu me perguntava como é possível que
alguém com o seu talento fosse tão pouco lido. O que me atraiu em Dante foi a sua
recusa em frequentar o stablishment literário,
a sua aposta no texto como único responsável pela formação do prestígio.
Já Cirlot, possuo o seu inevitável Dicionário de Símbolos, na bela edição da
Ciruela, e a mesma inquietação mística, espiritual. Nosso parentesco não é direto.
Certas imagens de Renée remetem ao imaginário
surrealista e à riqueza das suas associações.
Minha afinidade com Ponge vem do olhar
distanciado sobre a realidade, essa perspectiva que descobre no cotidiano, nos
objetos, dimensões até então despercebidas. Em Michaux me interessou a sua
exploração da consciência ao ponto de tornar a escritura uma atividade
secundária da experiência. Sua busca no limite do que não é nomeável, do que
não pode ser dito, é a mesma que me levou aos orientais. Michaux é um dos meus
verbetes. Ponge é só uma epígrafe.
ERZ | Na nota de apresentação do seu livro
24 verbetes você afirma: Convém
esclarecer que não me tornei fluente em grego, sueco, russo ou romeno. É uma
heresia, se sabe, mas para dar forma às minhas tentativas não foi necessário
dominar o idioma, bastou dominar o poema. É dizer, esgotar o significado
original de cada composição. Sobre essas traduções provisórias, como você
as chama, poderia comentar mais sobre esse processo tradutório?
TAN | Sim, Elys. Assim
como nunca premeditei o poema nem o poeta que nasceria dele, o tradutor que me tornei
surge de um esforço para ler melhor aqueles poetas que me formaram. No caso da poesia
chinesa e japonesa clássicas, fui levado por uma necessidade de descobrir a poesia
que existe por trás de poemas que eu intuía serem maravilhosos, mas cujas versões
me decepcionavam. E te confesso que com algumas exceções a maioria das traduções
oscila da literalidade à adaptação sem equilíbrio algum.
Não ocorre o mesmo no caso dos poetas do ocidente
que verti ao português. Há traduções excelentes de muitos deles para as línguas
que conheço. Meu processo consiste em cotejar essas versões e através delas
estudar os originais, procurando a melhor síntese para o meu ouvido de leitor. Esgotar
o significado de um poema em uma língua que não domino não é difícil. Difícil é
identificar e transmitir algo do timbre particular daquele poeta na versão realizada.
Daí que as considere provisórias e esboçadas. No fundo, todas as minhas
traduções resultam da tentativa de refazer o processo de criação daquele poema estrangeiro
em português. A diversão é ser aquele poeta, incorporá-lo verso a verso durante
o processo da tradução. Faz lembrar o Versiones
y Diversiones, que melhor título para um livro de poemas traduzidos que
esse do Octavio Paz?
FM | Na mesma nota, encontro uma afirmação tua
com a qual estou de completo acordo: O bom
tradutor é o que some, não o que aparece no poema. Este teu livro é ao mesmo
tempo uma aula da perspectiva crítica e a prova de que no poema traduzido
importa mais a percepção das raízes essenciais da Poesia do que o domínio do idioma
em isolado. Estava agora mesmo pensando em critérios de seleção de autores em uma
mostra, justamente quando recordo que Desmond Morris em seu livro sobre a vida
dos surrealistas optou por deixar Paul Éluard de fora. A tua seleção de autores
para 24 verbetes, atendeu a que motivações?
TAN | Bem, eu poderia
estender a afirmação e dizer que o bom poeta também é aquele que some do poema,
no sentido de permitir que a linguagem se expresse por todos e por ninguém, anônima.
Um exagero para uma cultura como a nossa, tão apegada às circunstâncias
individuais, ao poeta como personae. Não
tive bem um método, Floriano. Me parece que foi uma questão de aproximação, de afinidade
e de admiração.
Procuro na tradução a transmissão que se
dá entre mestre e discípulo nos rituais monásticos de ordenação, sem palavras, de
coração a coração. O entendimento tácito. De tal modo que ao traduzir, não tento
escrever um poema igual ao original em português. Tento escrever um outro poema
com a mesma poesia. Pode parecer um jogo de palavras, mas não é. Sou fiel aos originais
dentro dos limites que me permitam captar a sua poesia e transmiti-la ao português.
Não conheço o livro de Morris. Se há
critérios para excluir Éluard, são arbitrários. A altura poética do Movimento
Surrealista diminui sem Paul Éluard, mas Éluard não é menor fora do
Surrealismo. Grosso modo, André Breton, Paul Éluard e René Char são o Surrealismo
(na poesia), os demais orbitam na energia irradiada por eles. E desconfio – não
se pode provar uma provocação assim – que Breton seria um poeta maior do que
foi sem os dogmas que criou.
Minha seleção obedeceu ao vínculo
emocional com os poemas traduzidos. Ao profundo amor que tenho por eles. Não
quer dizer que admire os poetas com a mesma intensidade. As traduções pagam uma
dívida de leitura com os poemas, os verbetes tentam acertar contas com o processo
criativo dos autores e a forma como cada um enfrentou os dilemas da sua época. A
relação entre arte e ética, basicamente. Se eu fosse citar um exemplo de coerência
entre obra e vida, diria Montale. Se, por outro lado, me pedissem exemplos de incoerência,
diria que em matizes diversas Blaga, Ungaretti e mesmo Éluard são indefensáveis.
FM | Completando a tua fundamental
trilogia, o livro Oriente, no tocante ao Japão, em especial, me recorda a observação
de Roland Barthes de que no haicai desaparecem as duas colunas centrais da escrita
clássica ocidental, a descrição e a definição. Se a isenção do sentido, por um lado,
particulariza o haicai, por outro lado não se pode dizer precisamente que no Ocidente
nos percamos em um excesso de sujeito. Qual o teu entendimento comparativo, dessas
duas operações criativas, se cabe, afinal, compará-las?
TAN | Barthes tem
razão, embora o haicai, em especial o haicai de campo, onde Basho pontifica,
para ser bem-sucedido deva, na captura do que acontece aqui e agora desdobrar-se. A descrição dos sentimentos diante da fugacidade
da existência, o tom austero que transmite a modesta impessoalidade do poeta através
da simplicidade do poema, a misteriosa integração entre a forma e o conteúdo, de
tal maneira que o verso nasça da experiência e
a expresse com o mínimo filtro possível de processo conceitual, são características
dessa poesia que refletem valores japoneses. Por outro lado, concordo que entre
nós a impessoalidade seja menos frequente e que haja uma valorização do
indivíduo. Não que ela seja necessariamente negativa. A personalidade do poeta muitas
vezes é um elemento a mais na atmosfera da sua poesia e contribui para a forma
como ela é lida. Nós cultivamos o personagem, nos projetamos nele. Talvez seja
uma faceta da nossa imaturidade.
Alguns diriam as quadras, mas, a rigor,
não há no ocidente um gênero paralelo ao haicai. E isto se torna evidente se
entrarmos nas regras de composição e no acervo simbólico de conteúdo. São tão complexos
e minuciosos que uma tradução que os considere não pode abrir mão de notas para
cada verso do poema. Não é o meu caso. Minhas versões são livres e não possuem
valor filológico algum.
ERZ | Você é poeta, tradutor e ilustrador.
Dito isso, como essas três áreas convivem no seu dia a dia? Elas se
retroalimentam? Por exemplo, é possível ver semelhanças com a potente
simplicidade da arte chinesa na estética quase minimalista das suas ilustrações,
em 33 esboços.
TAN | E agora, graças
à pandemia, estou encerrando quase três anos de atividade como tipógrafo digital,
já que as facilidades de programas como o in
design desestimulam o artesão manual. Eu queria mesmo era ter montado um
ambiente como o do Cléber Teixeira, da Noa
Noa, em Florianópolis.
Não há retroalimentação propriamente
dita. As áreas, se esgotam. Quando uma seca, surge a outra. Desenhei entre 1981
e 1999. Tenho pouco mais de 90 esboços nascidos do gesto, do estado de espírito
e do contexto da minha vida então. A maioria dos esboços foi feita nas primeiras
páginas de livros, na mesa de papel de um bar, em guardanapos. São coisas simples,
meio naïf mesmo. Olhando para eles hoje posso resgatar onde eu vivia, com quem
eventualmente estava, o que lia e como me sentia ao traçar aquele desenho. Como
em um diário de imagens.
É claro que há uma relação entre a
despretensão do traço com a espontaneidade de alguns estilos da caligrafia
oriental. Uma relação que eu só fui identificar mais tarde. Vejamos o desenho
que está na capa de Renée. Eu não
tinha a menor ideia da arte do movimento
único ou do abandono controlado e
mesmo assim desenhava com o estado de espírito e com a respiração.
Cada uma dessas linhas são expirações. Então
sim, há uma afinidade de sensibilidades – como a de um homem das cavernas teria
com um calígrafo refinado (e aqui eu deveria inserir: risos) – embora não haja nada de oriental no meu punho.
ERZ | No Brasil ainda conhecemos muito pouco
da cultura e arte oriental. Porém não precisamos ir tão longe, conhecemos pouco
incluso da literatura dos nossos países vizinhos. Na sua opinião, porque no Brasil
se conhece tão pouco sobre a literatura que não seja europeia ou estadunidense?
Nesse sentido, recordo a tan ed. Esse seu projeto almeja reunir títulos de autores
cisplatinos, em espanhol, português e portunhol. Qual a importância de iniciativas
como estas?
TAN | Somadas idas
e vidas vivi uns 12 anos no Rio de Janeiro e outros oito campos afora, talvez
eu tenha me tornado o que se convencionou chamar de desterrado, um homem de mundo.
Porto Alegre olha ao Rio e São Paulo abanando o rabo. E, para o Rio e para São
Paulo, o Brasil que importa só existe lá. Generalizo, eu sei, mas a
centralização é ainda resquício colonial. É natural que procurem modelos na
Europa e em Manhattan. Os franceses replicando Blanchard e Jaccottet e os
americanos Hass e Glück (estou meio defasado, talvez os nomes sejam outros, mas
o estilo é o mesmo, te asseguro).
O fato é que entre o Brasil e o restante da
América Latina existe uma indiferença mútua. Salvo um trabalho persistente, hercúleo,
como o teu, Floriano, quem mais faz ponte com os autores do continente? Por outro
lado, é interessante observar como os poetas hispano-americanos estão
conectados entre si e com o circuito literário espanhol através de editoras, prêmios
e festivais. A distância entre os poetas brasileiros e Portugal é maior.
Ignoro a importância de iniciativas como
esta, Elys, com toda a sinceridade. Se eu fosse pensar na repercussão do que
realizo não teria feito nada. Apesar de não ser um projeto comercial, pretendo
vender o número suficiente de exemplares para cobrir o custo do catálogo. Para
isto conto apenas com o boca-a-boca on
line. O percentual de distribuição e venda em livrarias físicas inviabiliza
o projeto. É quixotesco.
ERZ | Após suas extensas pesquisas, que
resultaram nas obras Oriente e 24 verbetes (Ocidente), quais são os seus
próximos projetos?
TAN | Minha primeira obrigação é viabilizar a
coleção este ano, isto é, fazer com que circule, alcance leitores e exista para
as pessoas que se interessam por poesia no Brasil e no Uruguai. Os quatro
livros que publiquei pela tan – a trilogia e Pós-escrito a Dante Milano (biografia que saiu do prelo semana
passada) – me deixam vazio, hibernando. Depois de escrever um único poema em cinco
anos, não sei qual Thomaz me aguarda. Só sei que o poeta desses livros não
existe mais em mim. Espero que quem quer que surja de um improvável livro
futuro seja alguém em quem eu ouça a minha própria voz. Alguém diante de quem eu
possa me dizer: então Estranho, finalmente nos encontramos.
03 | Concluímos nossas notas editoriais apresentando o artista convidado desta edição, o peruano Lennin Vásquez (1978). Estudou na Escola Superior Autônoma de Belas Artes do Peru entre 1996 e 2002, onde obteve medalha de ouro em desenho. Suas exposições pessoais incluem Metaphysical Landscapes (2023), Collected Work (2019) Spain, I Have All Nights in My Veins (2018); Delírios Crepusculares (2017); Quadrante dos Sonhos – jardins e labirintos (2015); Vento SURreal (2010); Aos Olhos do Apu (2009); Ritual Beings (2007), entre outras. Desde 1997 expôs coletivamente em dezenas de oportunidades no Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Colômbia e Espanha. Em 2010 realizou mural no encontro internacional Art x Parte em Berazategui, Buenos Aires, Argentina. Seu trabalho está no Museu Belas Artes, Santiago do Chile; Aliança Francesa Lima, Peru; Município de Suba, Bogotá, Colômbia; e Coleção Faber Castell, Lima, Peru. Coleção Mapfre Lima Peru. Lennin possui um traço refinado repleto de referências mitopoéticas, que expressam não apenas sua afinidade com o Surrealismo, como também um universo acentuado por suas origens indígenas.
Os editores
∞ Índice
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | André Breton, o surrealismo em dois poemas
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomas-albornoz-neves-andre-breton-o.html
THOMAZ
ALBORNOZ NEVES | Antonio Porchia, aforismo e poesia
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-antonio-porchia.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Cuatro poemas de Henri Michaux
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-cuatro-poemas-de.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Erik Lindegren, poesia e abstração
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-erik-lindegren.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Georges Schéhadé, poesia e fábula
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-alboornoz-neves-georges-schehade.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Giórgos Seféris, estória mítica
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-giorgos-seferis.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Harry Martinson e a noite de criação
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-harry-martinson-e.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | John Ashbery, um autorretrato
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-john-ashbery-um.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | René Char, alquimia e poesia
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-rene-char.html
THOMAZ ALBORNOZ
NEVES | Seis poemas de Sandro Penna
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/01/thomaz-albornoz-neves-seis-poemas-de.html
|
|
Agulha Revista de Cultura
Número 222 | janeiro de 2023
Artista convidado: Lennin Vásquez (Peru, 1978)
editor | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2023
∞ contatos
Rua Poeta Sidney Neto 143 Fortaleza CE 60811-480 BRASIL
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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