∞ editorial | A enigmática luz de cada texto
01 | Lê texto, escreve texto, revisa texto, compartilha texto, mas quem já parou para pensar o que é um texto? Com certeza é muito mais do que um aglomerado de palavras ou sequência aleatória de frases, sob o ponto de vista linguístico, cognitivo ou discursivo. Mas o que caracteriza um texto? Gosto da visão do texto como um tecido, inclusive a palavra “texto” tem origem no latim como ‘algo que foi tecido’ ou ‘entrelaçamento’. Soma-se a visão de Barthes, em O Prazer do Texto, para quem: Texto quer dizer Tecido; [acentua] a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura – o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia. Se gostássemos dos neologismos, poderíamos definir a teoria do texto como uma hifologia (hyphos é o tecido e a teia da aranha). Assim o texto pode ser entendido como um tecido, uma entidade significativa composta por uma rede de relações, uma entidade significativa e um artefato sócio-histórico.
Sim, o texto é uma reconstrução do mundo. Nesse aspecto, recordo novamente a Barthes, agora em A morte do autor: a verdade da escrita, o escritor não pode deixar de imitar um gesto sempre anterior, nunca original; o seu único poder é o de misturar as escritas, de as contrariar umas às outras, de modo a nunca se apoiar numa delas; se quisesse exprimir-se, pelo menos deveria saber que a coisa interior que tem a pretensão de traduzir não passa de um dicionário totalmente composto, cujas palavras só podem explicar-se através de outras palavra. Ou seja, um texto é composto por escritas múltiplas, uma diversidade que se transforma em unidade no seu destino, o leitor. De modo que podemos entender o texto como uma unidade de sentido que foi produzida por um autor, e é interpretada por um leitor. Uma dança onde o autor leva o leitor para dançar com ele.
Por falar em dança, cabe lembrar que o texto aqui é compreendido em sua acepção mais ampla, que engloba toda capacidade textual do seu humano, como poema, música, pintura, escultura, etc., assim que pode ser verbal ou não verbal. Entre os tantos teóricos que se debruçaram sobre o tema do texto, encontramos também outros critérios de divisão, como o artístico. Temos os textos tradicionalmente literários, como romances, poemas, crônicas e outros não literários, como artigos científicos, anúncios. Alguns poemas são dotados de um lirismo que nos contagia como uma música que brota dos versos e penetra no nosso íntimo. Porém como definir a beleza de um texto? O que torna um texto belo? Estou certa de que um texto poético é muito mais do que uma soma de versos, estrofes e figuras de estilo, mas deixo essa reflexão com vocês.
Depois de divagar sobre o texto, encerro esse texto com o convite para a leitura dos textos que compõe esta edição da Agulha dedicada à “Arte no século XXI”. Temos muita poesia, música e reflexões diversas nas autorias de Carlos M. Luis, Carolina Zamudio, César Bisso, Gloria Lenardón, Jorge Vicente, Liliana Quinto Laguna, María Elena Pérez, Marosa di Giorgio, Susana Wlad, Thomas Albornoz Neves.
Boa leitura!
De
1973 a 1981 trabalhei na indústria fotográfica enquanto fazia o meu trabalho pessoal.
Iniciando os portfólios, The
Dreaming, 1977-1989. Histórias pessoais
1990-1997.
Silêncio e solidão 1989-2006.
Em
1994, enquanto participava de um workshop fotográfico no Photographers Place em
Derbyshire, tive a sensação de que estava no lugar errado, indo na direção
errada. Saí sabendo que minha vida e trabalho iriam para um lugar diferente.
Em
abril de 1995 descobri o trabalho de Conroy Maddox. Ao conhecê-lo algumas
semanas depois, ficamos amigos e ele me ensinou muito, a pintura e o trabalho
de colagem se tornaram as forças dominantes. Fotografia usada apenas para fazer
trabalhos de colagem de fotos. Os romances Collage, Aviary
2002-2005 e mais tarde Pictures from
a Jade Palace, 2010-2015 surgiram nessa
época.
Depois
de deixar a profissão de fotógrafo em 1981, trabalhei na indústria de cerâmica
de 1983 a 2007. Logo fui despedido. Perder meu emprego resultou na série Arcadia, Post Industrial Landscapes.
Os
anos seguintes viram o surgimento das séries Tales from Laputa e A
Walk in the Forest.
Então
a fotografia voltou a ser forte. Um meio mais poderoso com sua capacidade de
capturar o instante em que um pensamento entra em sua mente. Passing shots,
surgiu depois de fotografar um Cavalo em um campo. O que ele estava pensando?
Como foi o dia dele? Todos os animais e pássaros da série parecem perdidos e
imersos em pensamentos. A sua fotografia dá-lhes uma voz, uma presença. Postcards from an Island
é a minha viagem fotográfica pessoal através do meu tempo, da minha presença
aqui. Menagerie, uma série de trabalhos de colagem de
fotos. Não me lembro de onde eles vieram. Acho as imagens perturbadoras, pois
os animais presentes têm medo e tristeza por eles. E os pássaros parecem
majestosos e possuem poderes secretos. Todas as criaturas da obra são colocadas
em um ambiente decrépito feito pelo homem. Uma vez o paraíso, agora um lugar
infernal.
Spontaneous Combustion.
Um corpo de trabalho recente usando filme instantâneo. Eu ainda tenho que
descobrir onde isso está indo.
A
criação de obras, sejam elas pinturas, colagens ou fotografias são todas
manifestações e reações ao questionamento constante da realidade e a busca pela
compreensão do cotidiano. O Mundo Natural é um tema chave em praticamente todos
os meus trabalhos. Sempre, desde criança, questionei e lutei contra a aceitação
das noções cotidianas da realidade. O mundo para mim nunca esteve em um
verdadeiro estado de realidade. As maravilhas da natureza dilaceradas,
remodeladas, para satisfazer as demandas de setores da raça humana. A constante
busca por mais e mais de tudo. Uma falsidade completa. Dentro da esfera
surrealista, o verdadeiro meio é questionar, contra-atacar e expor os absurdos
daqueles que procuram dominar o uso.
Hoje e até ao fim o trabalho continua.
Elys Regina Zils
∞ índice
CARLOS
M. LUIS | Los surrealistas en la América
CAROLINA
ZAMUDIO | Tango, la poesía de la nostalgia
CÉSAR
BISSO | Acerca del nuevo libro del poeta Alejandro Cesario
GLORIA
LENARDÓN | Leer
JORGE
VICENTE | Gladys Mendía, uma flor de barranco
LILIANA QUINTO LAGUNA | Arte,
una embarcación en medio de turbulencias
MARÍA ELENA PÉREZ | Hilda Riveros: un recuerdo imborrable tras una década
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/05/maria-elena-perez-hilda-riveros-un.html
MAROSA DI GIORGIO | Armonía Sommers, la que vivía en
sus libros
SUSANA WALD | Manifiesto obligado
THOMAZ
ALBORNOZ NEVES | Robert L. Haas, a frase no verso
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/05/thomaz-albornoz-neves-robert-l-haas.html
|
|
Agulha Revista de Cultura
Número 230 | maio de 2023
Artista convidado: Wedgwood Steventon (Inglaterra, 1955)
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2023
∞ contatos
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