∞ editorial | tudo o que o homem é capaz de criar
A Coleção Abraxas foi planejada para ter um catálogo com 21 títulos. Aqui estão os primeiros deles:
1. Las máscaras del aire – (Poema colectivo)
2. La casa de Lenilde
Fablas (romance)
3. Viajes del
Surrealismo (ensayo)
4. Six running desires
(poems and photos)
5. Dos pianos en la
tempestad (antología poética)
6. Letras del fuego (con
Susana Wald) (letra y plástica)
7. O iluminismo é uma baleia (com Zuca
Sardan) (teatro e plástica)
8. Le musée du visionnaire (avec Berta Lucía
Estrada) (teatro e plástica)
9. A volta da baleia Beluxa (com Zuca Sardan)
(teatro e plástica)
10. As árvores profundas (poesia)
11. Un nuevo continente - Poesía y Surrealismo en América (ensayo)
12. 120 noites de Eros - Mulheres surrealistas (ensaio)
A quem se interessar, aqui está o enlace para visitação do catálogo: https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/02/coleccion-abraxas-libros-de-floriano.html.
02 | ELYS REGINA ZILS CONVERSANDO COM
FLORIANO MARTINS
Floriano Martins |
FM | Deleuze é um
tipo curioso, fruto de nosso tempo apressado, coletor de reflexões alheias para
alunos displicentes. Estímulo voraz à paramnésia, seus livros são um primor
imensurável de déjà-vu. O missionário é um pregador, um ordenhador do
inquestionável. Não pode ser confundindo com o criador – aqui me referindo à
criação artística e não à lavratura religiosa –. pois nada em seu caudal de
imagens é imperativo, dogmático. O artista se expande em dúvidas e não em
vômitos de certezas. Mesmo as suas intuições não se resumem a axiomas gastos.
Não há maior ato de resistência em nossa época do que simplesmente respirar.
Viver – atendendo a um mínimo de ração filosófica – exige uma fonte perene de
obstinação, e naturalmente a criação artística é uma dessas fontes. No entanto,
tais nascentes é bom ter em conta que brotam naturalmente. Ninguém se decide a
ser um criador. Não há um empório com mil prateleiras onde se possa encontrar o
destino que mais nos pareça viçoso. As motivações de uma vida são a própria
vida, como uma árvore carregada de frutos os mais variados possíveis.
ERZ
| Gostaria de ouvir mais sobre sua obra literária
desde sua primeira publicação, ela se transformou ao longo desses anos? Como
você definiria sua literatura? Em que medida você considera que sua obra global
contribui para a literatura nacional e internacional, considerando que possui
publicações no exterior.
ERZ | Ao
ler a Arquitectura del escritor: Enrique Gómez-Correa (1999), autor que
sei que você também admira, me intrigou uma pergunta feita por Hernan Ortega
Parada para o poeta chileno e que agora refaço para você: como definiria sua
situação no universo?
FM | Somos todos
párias à sombra do desconhecido. Tão ínfimos que a maior parte sequer
compreende a existência de uma situação frente ao outro, quanto mais ao
universo. No entanto, olhando o excesso de bestialidade que trazemos em nós,
vemos que talvez seja melhor assim. Jamais chegaremos a poluir o sistema solar,
e nossa ação destrutiva sobre o planeta mais dá vazão a um caráter vulgar, do
que propriamente atinge o clímax da extinção. A natureza aprende com o homem e
não o contrário, e certamente se renovará mais rapidamente do que ele. O fim
dos tempos ou Apocalipse é um barbarismo religioso. A hóstia consagrada é o
mais eficaz de todos os placebos. O homem também é um pária em relação à
vastidão de possibilidades de seu cérebro, a máquina mais fabulosa de que temos
notícia.
ERZ | Você
é escritor, poeta,
editor, dramaturgo, ensaísta, artista visual, tradutor, referência como investigador do surrealismo e da poesia
hispano-americana. Já
produziu tanta coisa, que pergunto: o que
falta fazer?
FM | Não creio
que deva ser essa preocupação. Vamos criando por impulsos, muitas vezes nem
damos pela conta das repetições e maneirismos. O trabalho de editor não tem
fim, porque sempre haverá algo por ser descoberto ou recuperado. Mesmo no caso
do Surrealismo, sobre o qual escrevi uma alentada trilogia, outro dia mesmo me
peguei pensando sobre aspectos que eu deixara escapar e que poderia valer um
quarto livro. Há particularidades que eu gostaria de ver, como a encenação de
algumas de minhas peças. Outro dia a Berta Lucía Estrada, colombiana com quem
escrevi três peças, me disse que as havia apresentado a um diretor de teatro em
seu país. Eu também gostaria de montar uma exposição fotográfica, para a qual
cheguei a desenvolver uma maquete. Há também outro trabalho infindável que é o
de tradutor. Ou seja, eu poderia passar algumas boas eternidades cuidando desse
rebanho. No entanto, a vida possui um segredo guardado a sete chaves, que é a
duração de seus estímulos.
ERZ | O lançamento da coleção Abraxas reúne seu trabalho imenso –
com poemas, peças de teatro, ensaios – de diferentes épocas e com diversas
colaborações. A que se deve essa união agora em uma coleção? Qual o sentimento
que desperta no seu criador ver essa vasta produção?
FM | Houve muitas mudanças nas
relações entre autores e editores no Brasil, quase todas em face de
desprestígio de uma categoria que a rigor sempre teve um sentido mínimo de
entendimento da realidade editorial. Além disto o surgimento da Internet e a
infinita progressão de suas perspectivas de atuação, deram um cheque em muitas
atividades profissionais. Desde a adolescência eu tenho atuado como editor de
revistas e ao longo dos anos tive alguma experiência como editor de livros.
Vejo então com naturalidade que a Agulha
Revista de Cultura abranja agora mais esta sessão, no caso a coleção
Abraxas. Tem ainda a vantagem de que os livros podem ser apresentados em outros
idiomas, de acordo com o que permite a organicidade da Amazon, que
aparentemente os faz circular no mundo inteiro. Escritores são raramente bons
comerciantes, de modo que a minha tática maior é a de concentração de boa parte
da produção mais recente, dos últimos 15 anos, em um selo que possa alcançar
uma boa difusão. O resto é com D. Diablo e sua trupe. A minha vida sempre teve um
forte acento na abrangência e alteridade, graças à minha volúpia existencial
que me fez um grande curioso querendo provar de tudo. Dá-me imenso prazer
criar, tenho a alma – até onde ela existe – profundamente irrequieta, e a
solidão do ato criador sempre foi pouco atrativa para, lembro que na
adolescência convivi com atores e músicos, de modo que acabei buscando essas
outras conexões ou prismas da criação, o que resultou em poemas coletivos e,
sobretudo, na escritura de várias peças de teatro a quatro mãos com outros tramaturgos, como diz um deles, Zuca
Sardan. É bom encher a casa de gentes, amigos da criação, personagens, temas de
estudo, a casa cheia nos traz vida por todos os ângulos
ERZ | Em conversas informais, você já me
demonstrou que é um apreciador de música no seu dia a dia. Como poesia e música
caminham próximas, nem vou perguntar se existe essa relação na sua produção,
mas gostaria de saber até onde vai essa influência da música na sua
poesia. Existe poesia sem música?
FM | Evidente que não. A criação
artística em seu todo é profundamente pautada pela atenção ao ritmo. Pausas,
silêncios, pontes, tudo isto aprendi com a música, o que foi imensamente
sublinhado graças à leitura dos ensaios de Milan Kundera sobre música e
romance. Nossa respiração é puro ritmo. O modo como olhamos e tocamos, idem. Os
seis sentidos são uma sinfonia perene que nos permite atravessar toda uma
existência. Em casa, na infância, a música e o romance estiveram presentes de
uma forma múltipla, eu diria até desconexa, cabendo a mim ir identificando os
pontos de conexão entre toda aquela avalanche. De igual modo a descoberta do
teatro, as lições de alteridade quando temos que sair de nós mesmo e abrir
caminho para a entrada em cena de vários personagens. Assim como na música, o
poema requer uma boa dose de conhecimento de ritmo para que então se possa
circular pelos abismos da improvisação. De igual modo autoconhecimento e visão
de mundo são as portas que vão permitir entender outras naturezas, outros
seres, esses personagens que parecem paridos por efeito de magia.
FM | Haver criado a Agulha Revista de Cultura foi uma espécie de configuração plena de um desejo que vinha já de muito se realizando de modo incompleto. Ser pioneiro em qualquer área é como abraçar uma quimera ou dançar no vazio. A revista não tinha referências no mundo em que surgia, a plataforma virtual. E desde o princípio ela queria muito, era movida por uma dose imensa de ousadia. Aprender a utilizar os mecanismos de design e difusão que a Internet facilitava foi a primeira decisão. Os primeiros números naturalmente ainda buscavam se adequar a esse novo fraseado técnico. O passo seguinte era ampliar, ampliar sempre, os contatos, a variedade de temas tratados, as táticas de difusão, busca de parceiros. E desde o princípio a revista definira que não se institucionalizaria sob quaisquer pretextos, inclusive jamais aceitaria aportes financeiros de ordem alguma. Era preciso fazer vibrar a tecla de uma obstinada independência. Já estamos com 22 anos de ininterrupta atividade editorial, criamos parcerias com revistas em outros países, ampliamos nossas opções de conteúdo com a produção de projetos paralelos, como o “Atlas Lírico da América Hispânica” – pensado especialmente para a revista Acrobata –, e a coleção Abraxas, à qual já nos referimos. Ao longo desses anos todos contei com a participação muito especial de três pessoas: Soares Feitosa – diretor do Jornal de Poesia, em cujo provedor a nossa revista foi ancorada em seus primeiros anos –, Claudio Willer e Márcio Simões – ambos foram coeditores, cada um por em período beirando uma década. A parceria com Márcio Simões foi ainda mais extensiva, pelo que permitiu a publicação de alguns livros pela Sol Negro Edições, que ele fundou e dirige até hoje. E agora conto com a tua presença, em grau mais elevado, pois passarás a dirigir a revista sozinha. As alegrias são transbordantes: viagens, parcerias, projetos paralelos, prestígio internacional, tudo isto propiciado pela revista. Talvez devesse dizer que sinto falta do Brasil, que tivemos pouco reconhecimento no país etc., mas não, conheço a realidade nossa e sei que temos do Brasil a sua essência. Os melhores estão conosco. Sempre estarão.
Christine Boumeester |
Os
editores
∞ índice
AIMEE G. BOLAÑOS | Escrever desde a diáspora: notas para uma
autopoética das vidas imaginárias
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/aimee-g-bolanos-escrever-desde-diaspora.html
BERTA LUCÍA ESTRADA
Virginia Woolf emergiendo de las aguas
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/berta-lucia-estrada-virginia-woolf.html
JOSÉ DE LA
FUENTE | El arte y la ciencia tienen una relación
compleja pero significativa en colaboración e influencia mutua
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/jose-de-la-fuente-el-arte-y-la-ciencia.html
LUCIANA IRENE SASTRE
| Hilda Mundy: cronista de vanguardias
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/luciana-irene-sastre-hilda-mundy.html
MARCELO NOVOA | El
nudo que perturba el hilo de la memoria – Entrevista a Enrique Gómez-Correa
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/marcelo-novoa-el-nudo-que-perturba-el.html
NUNO GONÇALVES PEREIRA | Cultura e política nas narrativas de Alejo Carpentier: poética da história e debate latino-americano
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/nuno-goncalves-pereira-cultura-e.html
ROBERTO ACUÑA | La
modernidad y sus fracturas, el origen del arte posmoderno
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/roberto-acuna-la-modernidad-y-sus.html
RUBÉN BALSEIRO |
Reflexiones sobre arte y cultura en su entorno político, económico y social
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/ruben-balseiro-reflexiones-sobre-arte-y.html
RUTH
FÉLIX | Conversando con Plinio Chahín sobre la crítica de arte en República
Dominicana
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/ruth-felix-conversando-con-plinio.html
ZEBBA DAL FARRA | Mudez
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/zebba-dal-farra-mudez.html
Agulha Revista de Cultura
Número 226 | março de 2023
Artista convidada: Christiane Boumeester (Indonésia, 1904-1971)
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2023
∞ contatos
Rua Reinhold Schroeder,
3545 Indaial SC 89086-370 BRASIL
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ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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