Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
CECÍLIA MEIRELES
Las Otras (Antología mínima del Silencio)
resultou de uma crise passional,
um dos motivos mais trilhados da história da literatura. Só que minha paixão tinha
outro referente: o país natal. Desejava escrever sobre minha condição de cubana
que deve recriar suas identidades nos trânsitos culturais e existenciais. Como em
toda diáspora, a consciência da origem estava muito presente. No entanto, o livro
não se deixava escrever. Perguntava-me que ficção poderia ser mais expressiva dessa
problemática identitária e, sobretudo, que sujeito poético criar?
Como minhas perguntas não
tinham respostas, resolvi remontar o tempo pessoal. Deparei-me com um imperioso
desejo de jogar. Entre minha profissão, a memória cultural, o que nunca aconteceu
empiricamente e os sonhos, perfilou-se uma genealogia espiritual. Na verdade, meu
ofício estava mais na filiação imaginária que na história “real”, e assim tomou
forma uma antologia de mulheres poetas. Quanto mais distantes, mais nitidamente
conformavam-se e, ainda assim, formavam parte de mim. Junto com a escritura dos
poemas, resolvi compor uma vida mínima para cada uma, especificando seu tempo histórico-cultural,
com pretensões de veracidade, mas principalmente feita de projeções, devaneios,
reminiscências.
Empreendi um divertido jogo
de ficção misturando personagens de referente histórico com outras mais livremente
inventadas. Nesse espírito, a antologia reuniu autoras que participaram em movimentos poéticos
de notável repercussão, certamente Safo, a maior figura tutelar, recriada no olhar fascinado
de sua discípula (filha, amante?), figura gemelar:
CLEIS
(LESBOS, VI A.N.E.)
Ah, tú florecida de lotos,
bañada de miel.
Ah, tú que te desvaneces
en el hálito del vino.
Tú que traslúcida levitas
sin besar el suelo de rosas.
Ah, tú que te elevas
y desciendes al justo centro
de mi pecho estremecido.
Ah, tú que me seduces
con tu paso desatado.
Señora de la tierna armonía
y del sueño.
Alada viajera.
Bajo tu vuelo leve
solo mar y cielo.
Sucessivamente,
mas sem ordem temporal, foram se apresentando Angélica Stanza, cortesã ilustrada
que, na tradição renascentista, exibe sua metapoesia. Outras poetas que gravitam
na órbita de poetas áulicos, por exemplo, Johann Wolfgang Goethe, ou malditos, mas
finalmente canonizados, como Charles Baudelaire e Konstatinos Kavafis. Tal é o caso
de Ulrica von Levetzow, Kiria Hafis e Jeanne Duval, vinculadas de modo conflituoso
a grandes artistas. Acrescentaria a nebulosa Ana Tereza Ayres, quem sabe se heterônimo
de Fernando Pessoa.
Em
outras ocasiões, essas mulheres serão interlocutoras com brilho próprio de uma prática
artística masculina secular, como Salmà Yazib, que dialoga com a obra de seu primo
e esposo Al-Walid Ibn Yazib no seio da poesia árabe clássica da época Omeya; também
Artemisia Gentileschi, ave rara feminina na história da pintura barroca italiana.
Dentro da prática milenar do haikai, Aika Kiu desenvolve sua sensibilidade transgressora.
Nesse orbe, Luo Sa, escriba de grande cultura e, portanto, vivendo na beira do abismo,
encontra o fio no labirinto de sua opulenta cultura.
Escuras
e delirantes, Sor Clara de la Gracia e Sóror Filomena da Eucaristia são autoras
de uma poesia monástica, subversiva só pelo fato de ser escrita em um mundo repressivo.
Esta última evoca as cartas portuguesas de amor desesperado de Mariana Alcoforado,
mas sua paixão é tão desaforada que, ante ela, empalidecem os riscos de seu tempo
e condição.
Nessa
invenção, as brasileiras têm marcas peculiares. Carla Teresinha de Souza deixa testemunho
literário em uma quase perdida aldeia marítima; enquanto Gertrudes da Veiga atreve-se
a rimar quartetos, rendendo culto à poesia nativista do Sul. Nas antípodas, Denise
Ieda Alves, baiana, se retrata como eu
e Iansã, integrada à mitologia iorubá na criação de si. Pela sua parte, as cubanas
não podem escapar à obsessão de sua ilha, também mitificada, como autoras de uma
transnação, nação que viaja:
CALIXTA REY (CUBA, 1895-1951)
Quasisoneto
Sueño velado: destierro,
ceiba que cobijas calma.
Halle reposo el viajero
solo a la sombra del ala.
Huérfanos de la tierra amada
sin el signo y la mandala.
De la infinita luz refractada,
apenas la sombra del ala.
No nos engañe el camino
que la errancia es partida,
pero también llegada.
Ítaca fulgura dividida
en cien cristales de fuego.
Y solo la sombra nos salva.
Finalizando o livro, apareceu uma poeta cujo referente
é a autora da antologia e o prólogo. Ela escreve-se na viagem sempre inacabada,
aqui explícita sua identidade nominal:
AIMÉE G. BOLAÑOS (CUBA, 1943)
me hago de retazos
de innumerables trajes
vestida
ya fui hija
de una isla
mediterránea
y del continente
reclusa y anarquista
lujuriosamente mística
todas las letras
me habitan
inmóvil de tanto viento
de un puerto cualquiera
siempre ahora
estoy partiendo
y partida
los trozos que soy
me navegan
no me busco
en la historia
telón de fondo
patético
me busco
en el trasiego
de los menudos olvidos
blanca y negra cruzada
me miro
en un cristal irradiante
donde los rostros vuelan
mi discurso es una ráfaga
que me deshace
en infinitos fuegos
mi lengua viajera
estalla
entre la ausencia
y la espera
Sem poder, a partir da falta,
escrevi um livro sobre a mátria e a errância ou, ainda melhor, imaginei que
o havia escrito. As poetas da antologia estão dotadas do escuro esplendor da uma existência
subterrânea, soterrada pelos poderes da cada época. Mas a poesia dá voz ao silêncio,
é uma secreta memória compartilhada que desde a alteridade celebra as identidades
sem limites.
Isso,
e muito mais que não alcanço dizer, aprendi também com outras autoras reais que
motivam os ensaios de Poesía insular de signo
infinito. Una lectura de poetas cubanas de la diáspora, [4]
onde visito textos de Carlota Caulfield, Juana Rosa Pita e Alina Galliano, ademais
conversamos sobre poética autoral. Com seus matizados movimentos de ausência e presença,
a mulher artista dos poemas dessas autoras singulares, feita a sua semelhança, vai
ao seu encontro, ávida de si e do mundo no seu movimento autocriativo.
Sem
dúvida estava no mundo da autoficção. Então, determinadas leituras alicerçaram e
problematizaram o processo criativo. Evidência inicial: a maioria dos teóricos concede
escassa atenção à poesia e à escritura de autoria feminina, ainda muito ocupados
com classificações e diferenças epistemológicas entre autobiografia e autoficção,
entre “realidade” e ficção. Nessa ordem de pensamento, distinguem-se duas variantes.
De um lado, Philippe Lejeune, Gérard Genette, Vincent Colonna, que consideram a
autoficção um híbrido no compromisso com a veracidade fatual da autobiografia; do
outro, Roland Barthes, Serge Doubrosky, Alain Robbe-Grillet, Régine Robin, Madeleine
Ouellette-Michalska, Simon Harel (geralmente artistas, não só teóricos), defensores
da autoficção como ficção identitária. Quer seja a autoficção gênero autônomo ou
categoria textual em formação, aprofunda-se na fragilidade identitária e nas confusões
produtivas das figuras de autor/protagonista/narrador do pacto autobiográfico canônico.
Assim Régine Robin define a nova figura na metamorfose perpétua dos fragmentos e
o instantâneo. Sem lugar a dúvidas, a autoficção é ficção, ser de linguagem que
torna o sujeito narrado um sujeito fictício, enquanto dito com as palavras. [5]
Na visão de Simon Harel, a autoficção forja uma narração transnarcisista.
Essa dimensão tem na literatura seus agentes nas figuras da ficção (autor/personagens/leitores).
Nela acontecem os processos característicos da autoficção de artistas. O escritor
é um demiurgo que doa um nascimento à criação. Nesse sentido, é um lugar de contradição
e revelação. Aí reside a originalidade do projeto que se diferencia da sintagmática
da autobiografia, ligando de modo dialógico subjetividades. Essa polaridade de eu/outro
também atinge o destinatário, outra razão principal de seu caráter transnarcisista,
ponto alto da sua interpretação que me descobria a prática autoficcional atrelada
á alteridade.
Ostensivamente o pensamento sobre outridade tem sido fundamental nas minhas buscas autorreflexivas. Pierre
Ouellet é esclarecedor quando retoma o conceito de ipseidade que Paul Ricoeur formula ligado a alteridade. Desde essa perspectiva,
Ouellet estuda o sujeito migrante que
ficcionaliza sua identidade cambiante, acedendo à diversidade de modos do outro.
A autoficção nomeia outras formas de pertença a nós e à sociedade quando a imagem
estética funciona não tanto como espelho mimético de uma identidade unitária, mas
a modo de prisma que dispersa e dissemina. Ao visualizar de modo metafórico a alteridade
como faíscas divergentes ou convergentes, apreciando os efeitos de difração e refração
expressivos das identidades efêmeras e mutantes que se formam, deformam e transformam
no movimento, Ouellet contribui a um conceito pós-metafísico de identidade/alteridade.
Então, trata-se da identidade do sujeito que não só se descobre, mas se faz nos
reflexos tornassóis, ricamente problemáticos da alteridade.
Lembrando Vincent Colonna,
que invoca o espelho como metáfora seminal da autoficção, mas também no apelo à
imagem lacaniana do espelho que não duplica o “real”, quero sublinhar que assumo
a autoficção no seu caráter ficcional e no jogo com as aparências icônicas. Mas
também entendo que leva em si um reclamo de “verdade” essencial, além do fatual
ou empírico. Como indica Julián Fuks, nem narcisista ou umbiguista, pode ser “uma
tentativa legítima de aproximação ao outro e não uma tentativa de invenção do outro
a partir de um falseamento”, fazendo possível “Uma aproximação com a historiografia,
com o ensaio, com o discurso político, com a filosofia”.
Nesse espírito, em Las
Otras ensaiei uma pós-ficção de história da poesia (lúdica, minimalista), reunindo
apócrifos. E vale lembrar que apócrifo significa não apenas falso. Pode-se referir
a uma obra de autenticidade não provada, de origem duvidosa, que gera uma discussão
em torno à autoria; obra fora do cânone, mantida na clandestinidade, na contramão
da instituição literária e social. Não por acaso Las Otras tem por subtítulo Antología
mínina del Silencio.
Como é evidente, no centro do livro estava a problemática da
função autor. Manuel Alberca, estudando a prática contemporânea, chama a atenção
sobre a passagem de uma concepção representativa ou mimética do autor, a outra baseada
na simulação de sua apresentação na obra. Essa ficção do sujeito-autor, que se autocaracteriza
no seu percurso vital e criativo, não mais onto-teleológico ou transcendentalista,
marca um ponto de giro nas escrituras do eu ao favorecer uma renovada paixão pela
Letra. Tanto em sentido existencial como artístico, acolhe o reflexo de si para
si, de si para o outro em convergência, concedendo papel principal a esse autor
imerso na ficção, a seu discurso e palavra, espaço ideal para analisar o próprio
fazer.
Nesse viés, o pensamento recente de Laura Scarano, voltado para
as derivas da metapoesia na autoficção e aprofundando na autopoética, está presente
na minha reflexão atual, quando escrevo este texto em que tento compreender e explicar
motivações de poética na minha escritura. Na sua proposta, a autopoética oferece
valiosas pautas epistemológicas e metodológicas na definição, precisamente, da função
autor. Mais que justificativa, implica uma proclamação de pressupostos estéticos,
espécie de projeto autoral, focalizado em si mesmo e nas suas diversas operações
autorreferenciais.
Com toda intenção deixo Paul Ricoeur para o final deste raconto, pois esteve no princípio e sempre.
Fundamenta meu pensar/fazer sua magistral lição de ler o outro como a si mesmo e
a categoria de identidade narrativa. Nessa interface, mostra o sujeito na emergência
de si, nem homogêneo ou autotélico, mas relacional, pois comporta uma alteridade
externa, em relação aos outros, e interna, sua própria outridade, que também o identifica.
Nesse amplo marco teórico, o hermeneuta desvela os nexos constitutivos entre histórias
de vida e escrituras de si:
a compreensão do si é uma interpretação; a interpretação de si,
por sua vez, encontra na narrativa, entre outros símbolos e signos uma mediação
privilegiada; esse último empréstimo à historia tanto quanto à ficção fazendo da
história de uma vida uma história fictícia ou, se preferirmos, uma ficção histórica,
entrecruzando o estilo historiográfico das biografias com o estilo romanesco das
autobiografias imaginárias.
Essas leituras foram complemento e contraponto da práxis criativa,
portanto, referências provisórias, instigantes. Ao me surpreender fazendo autoficção
quando inventava poetas e seus poemas, comecei a entrever outras formas possíveis,
desejáveis. Os vasos comunicantes das vidas – das outras, do eu – motivariam outras
experiências criativas.
Multiplica os teus olhos,
para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
CECÍLIA MEIRELES
Quando
preparava os ensaios Ficções da história:
reescrituras latino-americanas, [6]
na tentativa de ir além da discussão sobre as doses de “verdade” na história e a
ficção, fui imantada pelas vidas imaginárias. Nasceu Escribas, que me permitia examinar por dentro esse tipo de ficção, revisitando
obras anteriores, especialmente Las Otras.
Na nova experiência estava muito patente Marcel Schwob com Vidas imaginarias (1896), livro que transforma a escritura biográfica
tradicional. No seu prefacio de autopoética deliciosamente provocativa, Schwob disse
que o biógrafo não tem que se preocupar por ser veraz, deve criar imerso em um caos
de traços humanos, escolhendo entre os possíveis aquele único para compor uma forma
que não se pareça com nenhuma. [7] Na
contramão da biografia tradicional, aquela que, segundo Pierre Bourdieu, apresenta
uma vida como relato coerente com significado e direção, as ficções de Schwob sinalizam
a transição do reino da ilusão biográfica ao reino da ilusão poética.
Nessa
galeria pessoal de grandes mestres, tem lugar destacado Fernando Pessoa, com seus
heterônimos dotados de biografia, e Jorge Luis Borges, leitor de Schwob, que com
Historia universal de la infamia (1935)
prepara o caminho de Averroes, Menard, Funes, Borges autoficcional, todos memoráveis.
A
partir das vanguardas intensifica-se a fabulação de vidas na literatura latino-americana:
Roberto Bolaños, Manuel Mujica Lainez, Félix Pita Rodríguez, Alejo Carpentier, Reinaldo
Arenas, Juana Rosa Pita, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, Mario Bellantín, Leonardo
Padura, Maria Luisa Lojo, Julia Álvarez, Silviano Santiago, Ana Miranda, Aldyr Garcia
Schlee, entre os mais relevantes, integram um discurso de originais nexos genealógicos
em torno às biografias fictícias.
Leitora desse
corpus fascinante, tinha uma interrogante
capital: como se compõe uma vida imaginária? Marguerite Yourcenar,
compondo Memórias de Adriano, traça um
valioso caminho de poética quando fala do tempo recobrado na tomada de posse do
mundo interior. O biógrafo recobra a leveza do ser imerso no movimento criativo,
vê as diferentes facetas, os estados de ânimo; a realidade convincente porque complexa,
humana porque múltipla.
Pedra
angular das biografias imaginárias, o biografema de Roland Barthes é expressivo
das mudanças que estavam acontecendo na arte de narrar vidas. Diferente da biografia-destino,
tudo ligado fazendo sentido, os biografemas compõem uma biografia aberta à interpretação
na flutuação dos significados. Barthes imagina-se escritor morto que gostaria ver
sua vida reduzida “a alguns pormenores, a alguns gostos, a algumas inflexões, digamos:
‘biografemas’ [...] em suma, uma vida com espaços vazios”.
Provocante,
a questão da identidade está no cerne das vidas imaginárias. Nessa ordem de pensamento,
o conceito de identidade narrativa de Ricoeur oferece um entendimento não essencialista,
mas referencial, que me resulta da maior importância ao integrar visão e composição
na narração do tempo humano. Para ele, a ficção é um laboratório de formas onde
o sujeito se constitui no ato de se narrar. E essa narração da vida implica o exercício
hermenêutico: a história torna-se mais legível; a existência interpretável ao ser
contada.
Nessa
dinâmica interpretativa, Leonor Arfuch, [8]
como leitora atual de Ricoeur, se pergunta por que contamos vidas, seja biográfica
ou autobiograficamente. Restabelecer a aura da vida que merece ser contada devolvendo-lhe
sua transcendência, ante o silêncio ou o esquecimento, de certa maneira ato compensatório
ante tanto desatino histórico e desencanto político, poderia ser uma primeira resposta
provisória, um caminho em perspectiva.
O escritor de bioficcão aspira
a criar um ser verossímil no sentido aristotélico, mas não necessariamente verídico
ou realista, como acontece no universo da autoficcão em torno à identidade nominal,
não mais a proclamada e estável do pacto autobiográfico. Ao refletir sobre o problema
de como contar uma vida, tem consciência da diversidade de versões e variantes,
das forças subjetivas em tensão, das contradições entre registros e vozes, seguindo
rastros e vestígios, atento aos mínimos detalhes. Com liberdade compositiva, o escritor
trabalha a pluralidade de funções da figura configurada não necessariamente na sequência
temporal dos eventos vitais. As estratégias liberam-se do paradigma narrativo totalizante,
teleológico – transformação também evidente no gênero biográfico atual –, na procura
de uma afinada percepção do heteróclito e contraditório do “real” que até desvela
a referência como construção do imaginário.
Nessa dimensão
estética metaficcional, e consequentemente de poética, meu interesse principal voltou-se
às vidas imaginárias, mas de mulheres heterodoxas no esforço do conhecimento na
escritura. [9] Jorge Luis Borges inspirava-me
ao propor a história da literatura como processo fluido, no qual autores, obras,
leituras podem redeterminar seus significados.
Em Escribas, a vida imaginária redetermina sentidos
e referências, tanto de quem escreve como de quem está sendo escrito, espelhadas
vida e Letra. O próprio livro parece estar nos dizendo: escrevo que escrevo (BARTHES,
1978), o que determina a ficção encapsulada, em abismo. Confunde-se a voz da protagonista
da vida imaginária, com a voz da autora dessa vida que, de forma confessa ou inconfessa,
se projeta na “biografada”. Seus discursos implicam um movimento de interpretação
essencialmente inclusivo. Cada autora é figura-chave, tanto a biografada como a
biógrafa. Ademais a autora, que escreve as histórias de escribas, está fazendo autoficção.
Todas as escribas abrem perguntas sobre si, sobre sua obra e obrar, em abrangente
autorreflexividade, sem que saibamos – na verdade, não mais interessa –, quem é
criadora ou criatura; umas das outras golem, fantasma, sombra. Ressoava em mim Lacan:
“é sempre ao redor da sombra errante do seu próprio eu que se vão estruturando todos
os objetos de seu mundo”. De mim à outra, da outra a mim, a vida evanescente.
Necessariamente o livro tem uma estruturação
dupla: “Histórias de Escribas” e “Escrituras de A”, na mistura de bioficção
e autoficção, narrativa e poesia, reflexão e autorreflexão. Tece-se uma trama metaficcional
na tentativa de reescrever aspectos da história da cultura letrada protagonizada
por mulheres
que nos umbrais da escritura – copistas, calígrafas, poetas, místicas, visionárias
– ou na
eternidade sempre atual do mito conformam uma linhagem, na qual a autora do livro
quer se reconhecer.
Em primeira pessoa, simulando
a voz autobiográfica, as escribas contam suas vidas de modo fragmentário e voluntarioso,
com vazios e alusões, quase sempre desde o supratempo da morte. Sechat e Nisaba
são mitológicas; Nesi Tanebet-Isheru (2211-2175 a.C.), um híbrido de mitologia e
história. Enheduanna (2280-2200? a.C.), Hildergard von Bingen (1098-1179) e Marguerite Porete (1250?-1310), documentadas na historiografia, sua obra,
ou parte significativa, hoje pode ser lida. Construídas a partir de vestígios – referência mínima, citação marginal – são
Wu Chuan (1043-2031),
Nizam (971-1016), Amina da Anunciação (1959) e Aika Kiu (1259-1297), que já estava
em Las Otras e atualmente escreve um livro inspirado no Tao, possivelmente
a mais autoficcional.
Elencadas
as escribas historiadas, detenho-me na emblemática Enheduanna. Se bem o termo autoficção
é recente, a prática autoficcional constitui uma pulsão arcaica, tanto que Vincent
Colonna remete sua origem a Luciano de Samosata (II d.C.). Mas aqui vale uma pequena
revisão histórica: o primeiro autor, significativamente “autora”, com nome reconhecido
na história da literatura é Enheduanna, a qual escreve no século XIX a.C. Em Escribas, aparece desta maneira:
Yo,
Enheduanna, ahora resplandezco en la historia de la cultura. Mi vida se enmarca
en el imperio acadio de los sargónidas, fundado por mi padre Sargón, que habrá de
durar más de un siglo. Es la época en que la primera lengua culta conocida, el acadio,
a su vez basado en el sumerio, se expande a toda Mesopotamia como punto de partida
de numerosas lenguas. Comienzo a escribir apenas 350 años después de la escritura
estar constituida. Mi tempo es el alba.
Depois de contar os percalços de uma vida muito conturbada
e resenhar sua obra, Enheduanna ainda nos desafia:
Con tan rica fabulación, soy
autora no sólo de himnos y poemas, sino de la propia Inanna, diosa del amor y la
fecundidad, dadora de vida, entidad que tiene, además, el don de sufrir. A la par,
le doy vida como entidad destructiva, de la guerra, arrasadora en la venganza. Diosa
de las alturas celestes y del inframundo. Garras y alas tan recurrentes en el imaginario
mesopotámico. Fascinante dualidad divina, humana.
Sabiéndome parte de Inanna,
me voy separando de ella en una crisis que es personal y represento con la tormenta.
Al hablar de arquetipos, epopeyas y mitologías, alcanzo plena conciencia de mí,
tan vapuleada por la historia, aunque hasta de mi propia ruina, renazca.
Me autorretrato y firmo, transgrediendo
la práctica acadia de la exclusión. Junto a los dioses, figuro mi persona con sus
ambigüedades y plurales. Enriquezco los ritos, invento una liturgia, la de la autosacralización.
Dejo atrás la teogonía doctrinaria abstracta para realizar una mitificación mucho
más fantasiosa que incluye mi ser y existencia. Significo el inicio explícito del
yo en la escritura, que no ha tenido fin y hoy tiene nombres innumerables.
Sin embargo, aunque me muestro
y duplico en espejos de todo tipo, o quizás por eso mismo, mis poemas son un juego
de ocultamiento y exhibición en los que yo, autora y personaje, pudiera ser la representación
más enigmática. Así, cuando digo a Inanna, “¿Quién puede entenderte?”, también me
estoy preguntando.
Junto as escribas, a autora chamada A escreve sobre si e desenvolve algumas
ideias em torno à escritura e as “Histórias de Escribas” que está escrevendo. No
final do fragmento XXI, A pensa a palavra poética. Se a escritura parece não ter
espaço nos tempos sombrios, talvez seja aí onde paradoxalmente revela seu sentido:
Escribo para llegar al fin de mi deseo.
Por ejemplo: crear una isla con palabras. Nada original, en realidad lo hacemos
casi todos los que perdemos islas. Después, y ya estoy en terreno más hipotético,
se puede llegar a la polis para decir
lo que nunca dijimos, dije, en voz alta. Nadie escucha. Al final, y en modo alguno
conclusivo, será posible entrever una forma, hasta entender que las palabras escritas
solo han sido signos de algo que debería excederlas, transcenderlas y no acontece.
Un punto de fuga del deseo sin fin.
La escritura comienza cuando son abandonados
los propósitos y se vislumbra el silencio abismal, que no es un no ser, sino una
plenitud vacía, donde ahora caben todas las palabras.
Todas escrevem de modo transnarcista, pelo menos no desejo da autora. Habitadas
pela obra por vir, saem de si na pulsão criativa. A questão das identidades é recorrente:
quem sou, por que escrevo, como habito a realidade. Nas “Escrituras de A” a viagem
é onipresente, possivelmente porque, sendo marca de qualquer tempo e especialmente
do nosso, tem bastante a ver com a experiência vital de quem assina o livro. Curiosamente
por essa época fazia o verbete “Diáspora” para o Dicionário das mobilidades culturais:
percursos americanos, [10] de maneira que o fragmento a seguir,
mostra as porosas fronteiras entre reflexão e ficção.
XV
Los que nacemos en una isla amamos los viajes. Somos de isla, isleños, no solitarios
ni aislados. Porque isla es habladora, abierta al mundo, en continuo movimiento,
sin dejar de ser ella. Los isleños siempre vuelven a sus islas, también las llevan
consigo en cada uno de sus viajes. Y cuando están lejos, y aun más tristes, las
buscan dentro de sí para escribirlas reverdecidas y risueñas.
Viajar es una ocupación fatal isleña. Con fatal quiero decir inexorable, no
necesariamente trágica, aunque para muchos de mi isla lo haya sido. A veces viajar
puede ser una odisea feliz, de metamorfosis, su lado más atrayente.
Y cuando escribo viajar, no me refiero a turistas accidentales, sino a los obstinados
viajeros del mundo contemporáneo, tan iguales a los antiguos. Todos extraordinarios
ejecutantes del tema mayor del éxodo. Ni dudo que Chagall, entre sus mejores intérpretes.
Hay quien escribe exilio y muestra su herida política, en ocasiones, no solo
expulsión, sino soberana voluntad de no estar más, cuando la historia se hace insoportable.
El famoso portazo de Rimbaud. Pero exilio puede ser también metafísico, de la existencia,
una ausencia esencial. Aquel albatros de Baudelaire. Exilio es una palabra tan fuerte
que, cuando la usamos, nos arrasa y deja deshabitados. Otros prefieren destierro,
que siendo también política, parece ir al encuentro de un telos cultural perdido
y es más romántica. Y ni hablo del repertorio posmoderno que encontró una mina en
los viajes.
Me gusta la palabra diáspora, que es síntesis de viajes emblemáticos, una palabra
que no cesa de transformarse y transformarnos cuando vivimos en ella. Sin diáspora,
seríamos apenas sin tierra, sin hogar, sin techo. Me reconozco diaspórica, aunque
la palabra, así derivada, no sea tan bonita, más parecida a una enfermedad, lo que
no deja de ser cierto.
Diáspora me permite nombrar ciertas habilidades de diseminación y siembra que
he aprendido a la fuerza. Soy casi especialista en crear hogares fuera del hogar
e imposibles regresos. Y aunque me traduzca y travista, quiero conservar mi centro,
que está siempre en movimiento. Como viajera hábil, dejo marcas por donde ando.
Por su parte, el viaje interminable me ha tatuado figuras coloridas de azarosa trama.
Cuento desatinos.
En fin, me quedo con diáspora. Es excitante, dramática, confusa. Nombra lo que
quedó atrás, también caminos abiertos. En ella cabe toda la ficción de la memoria:
familia, casa, infancia. La isla entera.
Así, La isla que viaja pudiera ser el título de un próximo libro. Con originales
citas en chino que hablen del que regresa, que nunca es igual al que partió, y de
cómo el viaje más largo empieza con el primer paso.
As figuras relacionam-se entre
si executando o tema dominante da escritura que tem numerosos desdobramentos: amor,
morte, memória, errância, viagem, com o baixo-contínuo de estar escrevendo: cada
escriba, sua obra; A, o livro Escribas. As formas conjeturais convidam às
muito pessoais desleituras.
Não é autobiográfico,
vocês não sabem nada de mim.
Nunca te disse e nunca te direi quem sou. Eu sou
vós mesmos.
CLARICE
LISPECTOR, Um sopro de vida
Vista de conjunto, esta experiência de escrever
sem fim – de forma inacabada,
gratuita – poderia dizer que tudo gira em torno à desafiante identidade, seja
o sujeito bio ou autoficcional, em uma composição inconclusiva e inconclusa, talvez
alusiva ao viver.
As figuras
de Las Otras e Escribas movem-se no produtivo intervalo entre o pessoal e supra-pessoal
de modo autorreflexivo, voltadas para si na vivência da identidade-alteridade que
as constitui. Espelhadas nos textos – poemas, prólogos, histórias, narrativas –,
instauradas por eles, essas autoras abrem brechas para a reescritura de tópicos
de história da literatura, privilegiada a autoria feminina, possibilidade que Carlos
Baumgarten, ao ler Las Otras, aponta:
“a própria história da literatura, passa a ser pensada não mais como um discurso
de pretensão totalizadora e de caráter excludente, mas como um discurso que, a despeito
de seu caráter fragmentado, mantém-se aberto ao outro”.
Imaginadas
sob o signo do exílio espiritual e a errância, em correspondência com seu oficio,
as mulheres de ficção estão em processo não só criativo, mas autocriativo; suas
histórias de vida – mínimas, apócrifas, conjeturais – projetadas à série interminável
da escritura-leitura. Indagando nos deslocamentos ontológicos e histórico-culturais,
na transumância simbólica e experiência radical da alteridade, as poetas de Las Otras, as escritoras de Escribas, exploram as identidades alternativas
que as distinguem. Suas vidas e obras, assim como a vida e os escritos da autora
que se autoficcionaliza nos dois livros, tentam criar um efeito de verdade que em
modo algum se contrapõe à ficção. Inclusive, a autora deste texto atrevidamente
está ensaiando uma autopoética.
Nos livros cobram vida mulheres
de palavras, escribas, quer dizer, mulheres que escrevem com o corpo, surpreendidas
no momento epifánico em que dão forma à Letra. Desde seus espaços, temporalidades e condição,
habitando fronteiras imprecisas que cruzam e refazem, descobrem-se artistas por
vocação e atos e vão deixando seus rastros de palavras, autoras de seus mundos imaginários
e de si mesmas. Porque disso se trata, da ilusão poética que nos doa outras vidas
e permite ressurgir com diversas e inesperadas formas. E se assim for, que estas
palavras desalinhavadas também sejam lidas como parte, nem importa se irrelevante,
da ficção sem fim...
NOTAS
1. MEIRELES, Cecília. Cânticos (1981). [As citações das duas primeiras
epígrafes pertencem ao “Cântico XIII”].
2. Las Otras (Antología mínima del Silencio)(2004).
[As citações
pertencem a esta edição]. O livro pode ser lido online. Ver: http://profaaimeebolanos.webnode.com/
3. Escribas (2013). [As citações pertencem a esta edição].
4. Poesía insular de signo infinito. Una
lectura de poetas cubanas de la diáspora (2008). O livro é o resultado do
pós-doutorado realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, orientado
por Zilá Bernd; também integra a pesquisa realizada na Université du Québec à Montréal,
sob a orientação de Simon Harel.
5. Tradução minha em todas
as referências parafraseadas.
6. Ver: BOLAÑOS, Aimée G.; GUERRERO,
Jorge Carlos (orgs.). Ficções da história:
reescrituras latino-americanas, (2013).
7. Ver prefácio de Marcel
Schwob. Vidas imaginarias (1980, p. 8-12).
8. Ver: ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade
contemporânea (2010).
9. Sobre o tema, ver: MARTÍNEZ SÁNCHEZ, Yuly Paola. Ficción biográfica de escritor en la narrativa latinoamericana (2018). O leitor pode encontrar valiosas referências teóricas e a leitura
crítica de dois romances representativos: La
novela de mi vida, de Leonardo Padura, e En nombre de Salomé, de Julia Álvarez.
10. Ver BERND, Zilá (org.). Dicionário
das mobilidades culturais: percursos americanos (2010); BERND, Z.; DEI-CAS,
Norah G. (dir.) Glossaire des mobilités culturelles
(2014).
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HERMOSILLA ÁLVAREZ, María Ángeles; FERNÁNDEZ PRIETO, Celia (eds.). Autobiografía en España: un balance. Madrid: Visor Libros, 2004, p. 235-255.
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YOURCENAR, Marguerite. Memorias de Adriano.
Trad. de Julio Cortázar. Barcelona: Salvat, 1994.
Agulha Revista de Cultura
Número 226 | março de 2023
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