∞ editorial | O mistério
das páginas espelhadas
01 | Este número nós comemoramos o retorno de
Floriano Martins à direção de
Agulha Revista
de Cultura. Ao lado de Elys Regina Zils, agora finalmente se configura o melhor
corpo editorial possível. E as notícias se multiplicam como se tivéssemos mil céus
como nosso porta-novas. Comecemos pela criação de um novo selo editorial, Mamma
Quilla Edições, criada por Elys Regina Zils e que estreia com um valioso trabalho
de recuperação da poesia da Leila Ferraz, seguramente a mais expressiva voz poética,
ao lado de Roberto Piva, daqueles autores ligados, direta ou indiretamente, ao Surrealismo
no Brasil. O livro se intitula O dia dos cinco orgasmos e pode ser adquirido diretamente
com a editora, através do e-mail:
elysre@gmail.com. Igualmente queremos destacar três preciosos desdobramentos de nosso trabalho
editorial. O Atlas Lírico da América Hispânica:
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/06/atlas-lirico-da-america-hispanica.html, que semanalmente vem se expandindo de modo vitorioso, contando já com 350
poetas publicados. Outro aspecto diz respeito ao centenário do surgimento do Primeiro Manifesto do Surrealismo, que
se comemora este ano. Em 2019, quando foi a vez do centenário do movimento em
si, a Agulha Revista de Cultura trouxe
para seus leitores uma verdadeira festa que tomou o ano inteiro: https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/04/centenario-do-surrealismo-1919-2019.html. Na sinopse de seu enlace,
lemos: Em um antigo editorial da revista,
escrevemos: a trajetória de vida de Agulha
Revista de Cultura é marcada por esse
sentido singular de conquista e desbravamento. Não cortejamos o túmulo da glória.
Arriscamo-nos sempre a difundir nomes de pouca circulação ou esquecidos, desde que
não faltasse consistência a seu trabalho. Mesmo agora, com uma série de 200 textos
sobre Surrealismo, exploramos relações incomuns, como comics, Beatles, a presença das mulheres no movimento etc. Agora
nos preparamos para os festejos em torno do Primeiro Manifesto, do qual nos
ocuparemos no segundo semestre. Por último, um terceiro aspecto a ser anotado diz
respeito à continuidade de nosso projeto paralelo de um libreto com resenhas de
livros, reflexo de nossa parceria com outras revistas. Este número a cumplicidade
se reafirma na pessoa da poeta Victoria Marín Fallas, que dirige, na Costa Rica,
a revista Quimera (https://revistavirtualquimera.com/). Em uma separata incluiremos
resenhas de 05 livros cedidas pela referida revista. Todo o exposto significa muito
para nós, que desde o princípio zelamos pela constância de uma vida compartilhada.
Na
parte # 2 de nosso editorial, reproduzimos a íntegra de um texto de Maria Alice
Outeiro Fernandes, algo que nos surpreendeu, através de sua postagem há poucas semanas
no Facebook, palavras felizes acerca do início de sua leitura de dois livros de
Floriano Martins.
Na parte # 03, publicamos também um breve texto do artista
e crítico tcheco Jan Dočekal, sobre seu patrício
Jaroslav Šerých, artista convidado da presente
edição de Agulha Revista de Cultura, aproveitando
a ocasião para agradecer o carinho de Dočekal, pois foi ele
quem preparou para nós a paste com a obra de Šerých.
02 | Floriano Martins, um Baudelaire com alma de Rimbaud
Assim ouso classificar o poeta Floriano
Martins. Há anos eu planejava ler/conhecer sua obra poética. Dele só conhecia alguns
textos da Agulha Revista de Cultura, criada
e dirigida por ele desde 1999. Excelente revista, a qual consultei muitas vezes,
buscando informações de qualidade acerca de muitos outros escritores. Ler poesia,
para mim, não se desliga nunca do estudo, que leva ao conhecimento. As duas atividades
ficaram solidamente coladas entre si, ao longo dos anos. Ler poesia se tornou sinônimo
de mergulhar na obra de um escritor, observando as nuances de sua linguagem, adivinhando
os procedimentos, a densidade das imagens, a organização equilibrada (ou não) das
partes, a originalidade das construções, a consistência do ritmo, seguindo os movimentos
de cada texto ou o desdobramento deles, perseguindo as continuidades, descobrindo
descontinuidades e rupturas, adivinhando as filiações, localizando sua família,
analisando os entrelaçamentos de signos sons, a geração dos sentidos, me encantando
com os mistérios e sentindo as belezas que emergem dos poemas. Desde que prestei
concurso na área de Portuguesa, por dever de ofício, não destituído jamais de paixão,
tive que me conter, na maior parte do tempo, nas obras de poetas lusitanos. Não
tive tempo nem disponibilidade suficientes para acompanhar o surgimento e o desenvolvimento
da obra de muitos excelentes poetas brasileiros. A narrativa, por conta de uma disciplina
da Pós centrada em romances e contos contemporâneos, eu acompanhei bem mais. A poesia,
contudo, só agora estou podendo me deter um pouco sobre ela. E, como acontece sempre,
ler/conhecer um poeta novo é para mim algo que precisa ser arrebatador. Do contrário
não rola. Eu estou tranquila, com a mente desocupada, naquele ócio necessário à
vida inteligente, leio distraidamente alguma referência, algum fragmento de texto
poético ou até mesmo um poema inteiro e, num átimo, não sei que botão é acionado
lá dentro, que vai do cérebro ao coração e volta ao cérebro, e penso: preciso ler
este poeta. Foi isso que aconteceu com Floriano Marins. Curiosamente, porém, não
aconteceu com um livro de poesia, mas com uma publicação sobre poesia. Há mais de
15 anos tive o prazer de ter entre os alunos de uma disciplina da Pós, um doutorando,
R. Leontino Filho, nascido no Ceará, mas radicado no Rio Grande do Norte, que também
é poeta e que passou todo o semestre me dizendo, não sem alguma recriminação implícita,
que eu precisava conhecer a poesia de Floriano Martins (imagina uma professora da
Unesp não conhecer Floriano Martins!). Infelizmente demorei tanto tempo para ouvir
o Leontino! De repente, durante um desses passeios cotidianos pelas páginas do Face,
me deparei com uma publicação maravilhosa, dessas que ligam o tal botão do cérebro:
Um novo continente – Poesia e surrealismo
na América. Nossa! Eu sempre sonhei em fazer um projeto para estudar os ecos
do surrealismo na poesia contemporânea de língua portuguesa. Ensaiei alguns estudos,
escrevi uns poucos textos, mas nunca consegui viabilizar isso. Então, o livro de
Floriano Martins é uma espécie de parente do que eu teria amado fazer. Além disso,
no anúncio dizia que havia no livro um posfácio assinado por Leontino Filho (sim,
o mesmo Leontino que foi meu aluno!). A imagem do Leontino, com suas palavras, me
veio imediatamente à memória. Pois então, sem demora, escrevi um comentário dizendo
que queria o livro e que conhecia Leontino Filho. Mencionei até que ele sempre havia
me recomendado muito os trabalhos de Floriano Martins! Qual não foi minha alegria
quando o poeta, gentilmente, me enviou também, junto com a minha encomenda, o livro
Sombras no Jardim, publicado em 2023,
pela ARC Edições/Sol Negro Edições, respectivamente de Fortaleza e Natal. O livro
não poderia ter chegado às minhas mãos em momento mais oportuno. Estamos, eu e o
Paulo, no meio da nossa disciplina da Pós, sobre Poesia Moderna, terminando de ler
com os alunos alguns dos principais fundadores da lírica moderna, entre os quais
Baudelaire e Rimbaud. Em breve entraremos nos poetas contemporâneos de língua portuguesa.
Incluirei algumas das composições primorosas de Sombras no Jardim e comentaremos em sala de aula a forte herança de
Baudelaire e Rimbaud nas criações de Floriano Martins. Comentaremos também, é claro,
acerca das diferenças buscando compreender tudo o que for específico de Floriano
Martins pois, um poeta, a despeito de suas filiações e parentescos, nunca é igual
a outro. Estou amando ler o livro. Recomendo muito. Quanto ao denso estudo sobre
poesia e surrealismo na América, vou precisar de um tempo bem maior, pois é um livro
de 552 duas páginas.
03 | A Arte de Jaroslav
Šerých
JAROSLAV ŠERÝCH (27 de fevereiro de 1928,
Havlíčkův Brod – 23 de março de 2014, Praga) foi um artista visual tcheco. Estudou
na Escola Superior da Indústria da Arte em Jablonec nad Nisou, na Escola de Artes
Aplicadas de Turnov e na Academia de Belas Artes de Praga. Dedicou-se à gráfica
livre, pintura, mosaicos, criação de livros, ilustrações, bibliofilia e também criou
placas de cobre em relevo. Na década de 1960, ele aderiu à abstração expressiva.
Logo que a deixou, voltou a acreditar na nitidez da forma e do enredo da obra. Trabalha
atualmente com uma metáfora artística cujo ponto de partida reside em uma ampla
gama de imagens firmemente apoiadas na liberdade criativa. Em seus desenhos, pinturas
e obra gráfica, compõe imagens simbólicas baseadas nos princípios da ética cristã,
cuja ideia é a superfície combinada da humildade humana, da empatia e da crença
na persistência da esperança. Do ponto de vista do método criativo, é a soma da
linha sensível do desenho, da morfologia dinâmica e da cor enfatizada. As obras
apresentam uma estilização figurativa descontraída, de forma alongada, e possuem
uma estrutura visual distinta.
Os Editores
∞ índice
ARISTIDES OLIVEIRA, DEMETRIOS GALVÃO E JOÃO PAULO
PEIXOTO | Elio Ferreira, a palavra como martelo de Ogum
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/aristides-oliveira-demetrios-galvao-e.html
BERTA LUCÍA ESTRADA | Floriano Martins,
el escritor de las mil y una caras
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/berta-lucia-estrada-floriano-martins-el.html
CÉSAR BISSO & FLORIANO MARTINS | Escribir lo vivido o
vivir lo escrito
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/cesar-bisso-floriano-martins-escribir.html
CLAUDIO WILLER | Por onde passamos é
Brasil o que se mostra, II
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/claudio-willer-por-onde-passamos-e.html
FLORIANO MARTINS | El abismo y sus incansables inventos: hablando con Hugo Francisco Rivella
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/floriano-martins-el-abismo-y-sus.html
JESÚS J. BARQUET | El feminismo en acción (poética) Escribas,
de Aimée G. Bolaños (Cuba, 1943)
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/jesus-j-barquet-el-feminismo-en-accion.html
LUIS CARLOS MUÑOZ SARMIENTO | Ikiru o Vivir (1952), de Akira
Kurosawa
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/luis-carlos-munoz-sarmiento-la-fabrica.html
SANTIAGO MONTOBBIO
| Al hilo de las cartas entre María Zambrano y Ramón Gaya
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/santiago-montobbio-al-hilo-de-las.html
VIVIANA MARCELA IRIART
| Beatriz Iriart: Poeta del ostracismo
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/viviana-marcela-iriart-beatriz-iriart.html
WOLFGANG PANNEK | Variações sobre língua e linguagem
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/wolfgang-pannek-variacoes-sobre-lingua.html
Libreto # 2 | Revista
Virtual QUIMERA (Costa Rica)
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2024/05/libreto-2-revista-virtual-quimera.html
|
| Jaroslav Šerých |
|
Agulha Revista de Cultura
Número 251 | maio de 2024
Artista convidado: Jaroslav Šerých (República Tcheca, 1928-2014)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2024
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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