Erik
Johan Lindegren (Luleå, 1910-Estocolmo, 1968) filho de um engenheiro mecânico e
de uma dona de casa, passou a infância em Malmö. Em 1919, dificuldades financeiras
levam a família a Kiruna, onde não havia escola secundária. Erik mora com uma tia
em Östersund para continuar seus estudos. É lá que se interessa pelos pré-modernistas
suecos Bo Bergman, Dan Andersson, Harriet Löwenhjelm e Pär Lagerkvist. Mais tarde,
as reuniões de poesia francesa, alemã e inglesa o aproximam de Baudelaire, Rilke
e Keats. Estuda filosofia e história literária na Universidade de Estocolmo onde
lê a antologia Fem Unga (Cinco Jovens) que inaugurou o modernismo sueco em 1929
e a tradução de The Waste Land feita por Karin Boye e Erik Mesterton para a revista
Spectrum, em 1931. As traduções dos surrealistas feitas por Ekelöf também foram
fundamentais para sua escrita. Nesse período convive com o cosmopolita poeta finlandês Rabbe Enckell que foi uma espécie
de mentor para ele.
Em 1935 estreia
com Póstum Ungdom (Póstuma Juventude). A coleção traz poemas em forma fixa e rimada
que não são incluídos nas suas antologias futuras apesar de possuírem já o lírico
pessimismo que o caracterizaria. Lindegren tardou cinco anos para romper com o estilo
convencional de Póstum Ungdom e encontrar uma voz que repercutisse a ameaça apocalíptica
da Segunda Guerra. Nesse sentido, a poesia do seu segundo livro responde antes à
sua época que às inquietações existenciais do autor. Lindegren afirmou que sempre
almejou emular Eliot em sua crítica à cultura ocidental.
Diante do pacto
de Hitler e Stálin que permite a declaração de guerra da urss contra a Finlândia,
Lindegren alistou-se no exército finlandês e em uma catarse provocada pela iminência
de ir ao front escreve no final do outono de 1939 os últimos 35 sonetos em versos
brancos e quebrados que integram Mannen Utan Väg (O Homem sem Caminho). A trégua
assinada entre soviéticos e finlandeses não exclui o contexto que confere especial
autenticidade à mais radical e incompreendida aventura estética do período. Mannen
Utan Väg foi recusado pela Bonniers em 1940. Artur Lundkvist lhe dirá mais tarde
que o livro era ridicularizado nos corredores da editora como a obra de um lunático.
Em
42 publica alguns poemas na revista Horisont e ganha impulso sendo contratado pelo
jornal Aftontidningen onde encontra espaço e alguma renda. Até então depende do
apoio financeiro do pai para manter-se. Com o tempo, constrói a reputação de crítico
alerta, confiável e bem relacionado com o meio literário europeu. Seu longo ensaio
sobre Auden publicado em 1943 na revista Ord och Bild (Palavras e imagens) revela
o seu próprio interesse na relação entre o poema e a forma, a poesia e a ética,
o poeta e a sua identidade.
Em sua carreira
literária, Erik Lindegren traduz para a editora Bonniers, Hamlet, de William Shakespeare,
Assassinato na Catedral, de T. S. Eliot, a poesia de Paul Claudel, Saint-John Perse,
Paul Valéry, Rainer Maria Rilke, Paul Éluard e Dylan Thomas, a narrativa de William
Faulkner e de Grahan Greene. Também verte libretos, colabora escrevendo com assiduidade
para o compositor clássico Karl Birger Blomdahl e edita revistas de arte como Prisma,
uma das mais sofisticadas do seu tempo na Suécia. É patente que seu conhecimento
de música e belas-artes foi determinante para a construção rítmica e a iconografia
dos seus versos.
Porém, em 1942,
diante da rejeição das editoras, é forçado a acudir ao pai para custear 200 volumes
de Mannen Utan Väg. Um desses exemplares muito manuseado, com as folhas descoladas
e versões em alemão nas margens dos poemas, está hoje na Biblioteca Nacional, em
Estocolmo. Pertenceu a Nelly Sacks e comprova o imediato fascínio despertado por
um Lindegren praticamente desconhecido na grande poeta judia recém-chegada à Suécia
fugindo da Alemanha.
Graças à potência
das imagens e a revoltada angústia que transmite, esta obra inovadora ocupa um lugar
de destaque no movimento modernista escandinavo. Em 1945, Mannen Utan Väg foi reeditada
pela Bonniers e provocou debates sobre linguagem e hermetismo. O título é eliotiano,
mas a riqueza associativa é surrealista e remete ao Sol Primeiro, de Elytis, com
a ressalva de que Lindegren traz ao surrealismo uma complexidade própria e uma insurgência
direta contra o espírito do seu tempo e a indiferença pela vida humana.
Depois
da epígrafe
skugglös slingrar sig misstagens väg
på jorden det främmande djupet
betraktad av solens asketiska öga
och horisonters medfödda blindhet
sem sombra
o caminho dos erros serpenteia
na terra a
estranha profundeza
vista pelo
ascético olho do sol
e a inata cegueira dos
horizontes
a
cena de abertura do primeiro soneto traz Narciso em uma sala de espelhos. O poema
traz reflexos fragmentados, desespero sem objeto e sentimentos sem sujeito. A sala
de espelhos, símbolo surrealista por excelência, remete obviamente ao inconsciente,
elemento fascinante naqueles anos.
I
(i speglarnas sal där ej endast Narkissos
tronar på sin förtvivlans
pelare utan svindel
diade evigheten
med en grimas
de obegränsade möjligheternas
land
i speglarnas sal
där en enda besmittad snyftning
undkom likgiltighetens
korsade värjor
och förvandlade
luften till löfte och mull
som rann utefter stadens alla fönster
i speglarnas sal där fulländningen stansas i plåt
och bärs som en fånge i standardbröstet
där ordet begår harakiri i krevadernas sken
och trumpeten smakar krossat porslin och döende blod
i speglarnas sal där en blir de mycket för många
och dock ville falla som dagg i tidens grav)
I
(na sala de
espelhos onde não só Narciso
senta sem vertigem
no trono do desespero
com esgares
a eternidade amamentava
a terra das
infinitas oportunidades
na sala de
espelhos onde um só soluço contaminado
escapa das
espadas cruzadas da indiferença
e transforma
em promessa e húmus
o ar que atravessa
as janelas da cidade
na sala de
espelhos onde a perfeição é prensada na chapa
e levada como
um prisioneiro no peito exemplar
onde a palavra
comete harakiri iluminada por explosões
e o trompete
tem sabor de porcelana esmagada e sangue de moribundo
na sala de
espelhos onde um se torna muitos
e ainda queria
cair como orvalho no túmulo do tempo)
O
soneto XVIII é outra amostra da intensidade de resistência e ativismo alcançado
pela poesia de Lindegren.
XVIII
att skjuta en fiende
och rulla en cigarett
att flamma till och släckas som en fyr i storm
att sitta som en fluga i intressenters nät
att tro sig född med otur fast man bara är född
att vara en funktion av allt som inte fungerar
att vara något annat eller inte vara alls
att som den gråa stenen passas in i hatets mur
och ändå känna stenars samförstånd som ljungens glädje
att känna allt försummat i det rykande regnet
att njuta av spänningen vid det pyrande bålet
att tvivla på att
detta måste vara sista gången
att bejaka allt
bara det inte upprepas
att slå sig igenom
och nå fram till en utsikt
där blixtar jagar
för att hämnas mänskligheten
XVIII
atirar no inimigo
e enrolar um cigarro
e dragar sua
luz como a de um farol na tempestade
como uma mosca
presa na teia dos calculistas
um recém-nascido
aterrorizado por ter nascido
ser uma função
em tudo que não funciona
querer ser
outro ou não ser nada
pedra gris
que encaixa no muro do ódio
sentindo o
consenso do encaixe, o viço do musgo
sentir a omissão
sob a chuva vaporosa
aquecido pelo
calor dos crematórios
duvidar se
agora é a última vez
zelando para
que não ocorra novamente
para irromper
no alto até o vislumbre
do raio que
se vinga da humanidade
Lindegren
identifica no isolamento a causa do atraso cultural sueco dos anos 30 ao pós-guerra.
Muitas das suas atividades nesse momento devem ser vistas à luz desse sentimento.
Com o poeta e crítico estoniano Ilmar Laaban, traduz uma antologia de poesia francesa
contemporânea para o sueco. O livro, publicado em 1948, reúne 19 poetas, e contribui
para a internacionalização da lírica sueca.
A
ansiedade diante de um mundo paralisado, a insegurança do presente e a descrença
em relação ao futuro repercute no estilo de Lindegren em um nítido movimento pendular
que o faz passar do pessimismo e da crítica social aos poemas líricos de Sviter
(Suítes), escritos durante o conflito. Nessa coleção, o poderoso choque de imagens
dá lugar à docura da melodia, como se lê nos versos célebres de Arioso e da Pastoral.
ARIOSO
Någonstans inom oss är vi alltid tillsammans,
någonstans inom oss kan vår kärlek aldrig
fly
Någonstans
o någonstans
har alla tågen gått och alla klockor
stannat:
någonstans inom oss är vi alltid här
och nu,
är vi alltid du intill förväxling och
förblandning,
är vi plötsligt undrans under och förvandling,
brytande havsvåg, roseneld och snö
Någonstans inom oss där benen har vitnat
efter forskares och tvivlares nedsegnade törst
till förnekat glidande
till förseglat vikande
O moln av tröst!
någonstans inom oss
där dessas ben har vitnat och hägringarna
mötts
häver fjärran trygghet som dyningarnas
dyning
speglar du vårt fjärran som stjärnans
i en dyning
speglar jag vårt nära som stjärnans i
en dyning
fäller drömmen alltid masken och blir
du
som i smärta glider
från mig
för att åter komma
åter
för att åter komma
till mig
mer och mer inom oss, mer och mera du.
ARIOSO
Em algum lugar
dentro de nós estamos sempre juntos
Em algum lugar
onde o amor não foge
Em algum lugar
em algum lugar
todos os trens
partiram e os relógios pararam
Em algum lugar
dentro de nós é sempre aqui e agora
e nós somos
sempre todos até nos misturarmos
de repente
na maravilha e na transformação da maravilha
quebrando a
onda do mar, rosa de fogo e neve
Em algum lugar
dentro de nós onde os ossos branquearam
depois da sede
da busca e da sede da dúvida
até a fugidia
negação
até a recôndita rendição
Ah, nuvens de consolo!
Em algum lugar
dentro de nós
onde estes
ossos branqueiam e as miragens se reconhecem
surge a certeza
na distância como a onda nas ondas
eu reflito
nossa distância como a estrela na onda
e o sonho deixa
sempre a máscara em que tu te tornas
e em que escapas
para tornar a voltar
para voltar a mim outra vez
cada vez mais dentro de nós
cada vez mais tu
A
Pastoral está composta de quatro peças e encerra Sviter. Estas quatro peças ou fragmentos
estão relacionados com a estrutura quadripartida dos movimentos de uma suíte musical.
A composição está relacionada também com os Four Quartets de T. S. Eliot, especialmente
na relação entre os quatro poemas e os quatro elementos. Lindegren os explora paralelamente
considerando o ar em Burnt Norton; a terra em East Coker; a água em The Dry Salvages;
e o fogo Little Gidding. O poema que segue é o aéreo primeiro fragmento. Nele, ressoa
o inconfundível, redundante e desnecessário eco de Paul Éluard.
PASTORAL
I
Även denna morgon
i flykt över molnens
trappor
i floder av viskande grå kristall
sjungande morgonljusets hjortar
sjunkande landskapets glittrande håv
din vila din sömn
efter gryningens ljudlöst travande spann
din vila min känslas naknaste skugga
(svart mot din naknaste
jord)
din vila min sömn min oros som vindens
i vågornas vagga
även denna morgon
solens sävgröna matta
blåa fåglar samlade i din kropp för att dricka
där ögonblicken föder sin nyhet i timglasets midja
även denna morgon begärets flöjter
strålande upp ur svalkan som varma källor
i ljudlöst böljande spel mot zenit
även denna stund som ett minne av en häftig lycka
stänkande upp på min handlov
djupt ur havets salt.
PASTORAL
I
Também esta
manhã
voando nos
degraus das nuvens
em rios de
gris cristal sussurrante
cantando ao
cervo da aurora
afundando a
rede brilhante da paisagem
teu repouso
teu sonho no mudo abraço da aurora
teu repouso
minha sombra desnudada
(obscura contra
a tua terra desnudada)
teu repouso
meu sonho sem repouso no berço das ondas
também esta
manhã ao verde-pálido tapete do sol
pássaros azuis
descem para beber em teu corpo
onde o instante
nasce da cintura da ampulheta
também esta manhã as flautas do desejo
irradiando ao zênite em silenciosas ondas
o frescor brilhante de fontes termais
também agora
na lembrança amarga de uma alegria
do meu punho
esparzindo
o profundo sal do mar
São
versos que pagam antigas dívidas, em especial com Shelley, Hölderlin e Keats. Lundkvist
comenta que
Lindegren se despede
com Vinteroffer (Sacrifício de Inverno) em 1954. O título remete ao Sacrifício da
Primavera de Stravinsky. Do espírito caótico de Mannen Utan Väg ao romantismo de
Sviter, Vinteroffer traz um tom ainda mais reflexivo ao tema recorrente da sua poesia:
a busca pela abstração onde o sentido mesmo da realidade cessa. Tal abstração é
levada à máxima potência por Ikaros, poema de abertura do livro.
Nele,
não é o personagem mítico, mas a própria realidade que mergulha, enquanto Ícaro
se eleva cada vez mais alto, na direção de um renascimento. Impossível fugir da
comparação com Muséee des Beaux Arts, de Auden. Em Lindegren, a abstração nasce
da ascensão em fuga, ou seja, é a recriação do interior da queda de Ícaro pintada
por Brueghel que serve de modelo a Auden. Mas enquanto este descreve a cena a olho
de pássaro, como era seu costume, Eric é Ícaro.
IKAROS
Bort domnar nu hans minnen från labyrinten.
det enda minnet: hur ropen och förvirringen steg
tills de äntligen svingade sig upp från jorden.
Och hur alla klyftor som alltid klagat
efter sina broar i hans bröst
långsamt slöt sig, som ögonlock,
hur fåglar strök förbi, som skyttlar eller pilskott,
och till slut den sista lärkan, snuddande hans hand,
störtande som sång.
Sedan vidtog vindarnas labyrint, med
dess blinda tjurar,
ljusrop och branter,
med dess hisnande andedräkt, som han länge
och mödosamt lärde sig parera,
tills den återigen steg, hans blick och hans flykt.
Nu stiger han ensam, i en himmel utan moln,
i en fågelfri rymd bland reaktionsplanens larm…
stiger mot en allt klarare sol,
som blir allt svalare, allt kallare,
Uppåt mot sitt eget frusande blod och själarnas flyende vattenfall,
en innestängd i en vinande hiss,
en luftbubblas färd i havet mot den magnetiskt hägrande ytan:
fosterhinnans sprängning, genomskinligt nära,
virveln av tecken, springflodsburna, rasande azur,
störtande murar, och redlöst ropet från andra sidan:
Verklighet störtad
utan verklighet född!
ÍCARO
Já se apaga
na memória o labirinto
As lembranças:
tumulto, gritos
ao elevar-se
e abandonar a terra
E como desabou
lentamente
o coração como
pálpebras que fecham
o abismo de
cada ponte
e os pássaros,
pedras de funda ou flechas
e a última
cotovia que ao roçar sua mão
caiu como uma
canção
E outra vez
os ventos e seus touros cegos
seus gritos
de luz, seus precipícios
e ao golpe
de vento que com tanto custo
aprendeu a
esquivar – e outra vez
subir ainda:
ver e fugir
Voa a sós pelo
céu sem nuvens
em um espaço
sem aves nem jatos de aeroplanos
sobe rumo a
um sol cada vez mais claro
mais brilhante
e mais frio
rumo ao seu
próprio sangue, à cascata de almas em fuga
encerrado em
um elevador sibilante
uma bolha de
ar que reflete o mar em miragens magnéticas
ruptura amniótica,
proximidade transparente
vertigem de
signos em um azul raivoso
as paredes
ruindo e o grito do outro lado:
Realidade desabada
e um nascer sem realidade
Em
Vinteroffer, Lindegren vai ao extremo da dissolução do conteúdo poético. Seu radicalismo
não é formal, é ontológico. O resultado da busca pelos limites da linguagem na profundidade
ou na altura (a queda para o zênite) do ser, não o leva a um renascimento, mas ao
esgotamento da própria voz. Ao silêncio de origem que é o mesmo silêncio de destino.
Ikaros é, evidentemente, uma alegoria da sua própria aventura expressiva.
Desde essa perspectiva,
o poema resta quase como um espólio da experiência poética esgotada pelo poeta.
Ao fim e ao cabo, a poesia não é o que um dia Erik Lindegren especulou que fosse:
“um cálculo superior”, mas uma energia vital que também se exaure.
No seguinte poema
crepuscular de Vinteroffer se ouve o eco distante dos oceânicos versos de Harry
Martinson:
Skymningens spenvarma mjölk
sköljande ljundens fromma stenar
halvsänkt råmar en kos vita negermask
ringlande sjunker solgatan i väster
horisontes liboj en krans av ljus
av drunknade tända livet till minne
O leite morno
do poente se confunde
ao rumor piedoso
nos rochedos
meio submersa,
muge a vaca preto e branca
ao oeste, o
reflexo do sol serpenteia
a boia com
sino do horizonte, um halo de luz
acende a vida
na memória do afogado
Erik
Lindegren tinha 44 anos quando abandona a poesia. Nos 14 anos de silêncio que se
seguiram dedicou-se à tradução e a escrever e adaptar libretos como A Jornada nesta
Noite, da sua própria autoria, e Aniara, de Harry Martinson, para o compositor Karl-Birger
Blomdahl na Ópera Real Sueca. Publicou apenas dez poemas até sua morte, aos 57 anos.
Somente no centenário de nascimento a reunião da obra proporciona uma visão ampla
de um poeta considerado injustamente menor, mesmo na Suécia.
No tomo impresso
pela editora Themis sob o cuidado de Daniel Pedersen, Póstuma Juventude, O Homem
sem Caminho, Suítes e Sacríficio de Inverno ocupam apenas a metade do volume. O
restante traz a sua até então vasta e praticamente inédita poesia esparsa.
POET
Bländad av solen
belyst av bränder
virvlad ur aska
aldrig densamma –
ytans lek med djupet
(med sprittande nya stjärnestim)
djupets hot mot ytan
(med vimlande döda solsystem)
orden alltför fjärran
(som smält guld)
liv mycket nära
(som stelnat bly)
mer förklädd än intet
naknare än allt
på en jord där allt
är för tidigt eller
för sent.
POETA
Ofuscado pelo
sol
iluminado pelas
chamas
rodopiado pelas
cinzas
nunca as mesmas
o jogo da tona
com o fundo
(com efervescentes
cardumes de estrelas)
a ameaça que
o fundo faz à tona
(com inúmeras
galáxias mortas)
as palavras
distantes demais
(como ouro
derretido)
a vida perto
demais
(como chumbo
congelado)
mais disfarçado
que o nada
mais nu do
que tudo
em uma terra
onde tudo
é muito tarde
ou cedo demais
Há
contadas razões para um poeta desse potencial renunciar à poesia: o desânimo diante
da perda do poder transformador da obra de arte na sociedade, esgotar-se ou repetir-se;
e, claro, pode renunciar à poesia por desdém à vocação.
ENSAMHET
i dubbel ensamhet
den orörlig växer
till det förflutna
som än en gång föder
kargt det som inte hade någon framtid.
SOLIDÃO
na dupla solidão
o imóvel cresce ao passado
que uma vez mais dá à luz estéril aquilo que não tinha futuro
Erik
Lindegren viveu em uma intensidade espiritual e intelectual de alta combustão. A
personalidade carismática, histriônica e dinâmica carregava consigo uma ternura
e uma delicadeza difíceis de harmonizar. O professor Ingvar Holm, seu contemporâneo,
define uma “riqueza de inveja” ao seu redor como sarrafo do seu reconhecimento.
Lindegren foi um autor mais reconhecido por seus pares que pelo público. Diante
das suas escolhas, não é difícil concluir que lhe importava mais ser explorado a
fundo por alguns leitores do que na superfície por muitos.
THOMAZ ALBORNOZ NEVES (Brasil, 1963). É advogado, cineasta, tradutor, ensaísta e poeta. Ao longo de quase quarenta anos, tornou-se um dos mais ativos tradutores de poesia contemporânea para o português. Viveu na Itália, França e Espanha durante seus anos de formação. Fixou-se então no Rio de Janeiro, no norte do Uruguai e finalmente em Livramento. Publicou vários livros, entre eles Renée (1987), Poemas (1990), Golfe (2012), À espera de um igual (2020), Oriente (2021) e 24 verbetes (2022).
LENNIN VÁSQUEZ (Peru, 1978). Artista convidado desta edição de Agulha Revista de Cultura. Estudou na Escola Superior Autônoma de Belas Artes do Peru entre 1996 e 2002, onde obteve medalha de ouro em desenho. Suas exposições pessoais incluem Metaphysical Landscapes (2023), Collected Work (2019) Spain, I Have All Nights in My Veins (2018); Delírios Crepusculares (2017); Quadrante dos Sonhos – jardins e labirintos (2015); Vento SURreal (2010); Aos Olhos do Apu (2009); Ritual Beings (2007), entre outras. Desde 1997 expôs coletivamente em dezenas de oportunidades no Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Colômbia e Espanha. Em 2010 realizou mural no encontro internacional Art x Parte em Berazategui, Buenos Aires, Argentina. Seu trabalho está no Museu Belas Artes, Santiago do Chile; Aliança Francesa Lima, Peru; Município de Suba, Bogotá, Colômbia; e Coleção Faber Castell, Lima, Peru. Coleção Mapfre Lima Peru. Lennin possui um traço refinado repleto de referências mitopoéticas, que expressam não apenas sua afinidade com o Surrealismo, como também um universo acentuado por suas origens indígenas.
Agulha Revista de Cultura
Número 222 | janeiro de 2023
Artista convidado: Lennin Vásquez (Peru, 1978)
editor | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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