quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Agulha Revista de Cultura # 224 | fevereiro de 2023

 

∞ editorial | As tendas expostas do Século XXI

 

01 | Em sequência à série que planejamos para todo este 2023, dedicada ao tema “A arte no século XXI”, selecionamos um conjunto de reflexões sobre variados assuntos que vão das migrações ao plano das influências ou diálogos com outras fontes de criação, dos desafios socioculturais às reflexões filosóficas, da presença do humor nas artes ao jogo de aparências da globalização, sem deixar de lado o papel representado pelas religiões e as vanguardas. Os ensaios foram originalmente escritos ou adaptados para a presente edição, ao que agradecemos imensamente a renovada cumplicidade de nossos colaboradores.

 

02Ser artista muitas vezes é percorrer caminhos áridos, no sentido de que a Arte nem sempre tem o reconhecimento que acreditamos merecer. Mas por que mesmo assim poetas escrevem? Por que artistas visuais continuam a desenhar e pintar? ¿E os diferentes artistas a produzirem suas artes?

O socioanalista austríaco Wilhelm Stekel afirma que Los poetas escriben para vencer el tiempo por el logro de la imortalidad, pero además escriben para libertarse de los impulsos criminales. A Arte então pode se tornar um meio para alcançar a imortalidade, pensamos nos que alcançam o êxito, ou uma via de libertação catártica. Escrever um verso ou pintar um quadro podem ser então possibilidades de transfigurar as angustias em metáforas, usando da criatividade. Ainda assim, essas conclusões parecem um tanto ingênuas.

Não se trata de retomar nenhum ideal romântico, investigando o que faz um artista diferente. Inclusive porque o surrealismo, ao recuperar Lautreamont, já bradou aos quatro cantos do globo que a poesia deve ser feita por todos. Complemento com outra citação de Stekel, que com chave de ouro afirma: Ocurre que al soñar, todos los seres humanos son poetas. Ainda, em outro momento, Stekel afirma que Todos os poetas revelan en sus sueños, con mayor o menor claridad, la gran misión histórica (como la secreta manía de grandeza de los neuróticos).

Muitos artistas se promovem a merced de subterfúgios políticos e sociais, erguendo importantes bandeiras. O problema que nem sempre abraçam essas causas de coração e criticar suas artes torna-se um ataque a essas bandeiras. Por outra lado, essa mecânica não é regra e muitos artistas são autênticos trabalhadores da revolução. Mas será que todo artista quer mudar o mundo? É para isso que fazem sua arte? A verdade é que a arte costuma ser vista como ameaça a governos ditatoriais e fascistas. Realidades que ameaçam a dignidade e Direitos Humanos amordaçam o espirito. Arthur Rimbaud  estava certo ao dizer que é preciso mudar a vida? Será o artista então porta-voz do espirito humano?

Acreditamos existir várias óticas distintas que compõe a produção artística fruto de diferentes experiências de vida. Nunca poderemos determinar o que leva um artista a fazer sua arte, existe um universo de circunstâncias interiores e exteriores envolvidos. Contudo, divagações como essas vão encontrando iluminação nos ensaios que compõe a atual etapa dedicada à “Arte en el Siglo XXI”.

  

03 | Julia Margaret Cameron (Índia, 1815-1879). Um dos melhores exemplos de acaso objetivo encontramos na biografia desta fotógrafa, a quem sua filha lhe presenteia uma câmara quando Julia completa 48 anos. Era a sua primeira máquina e até o momento ela não havia despertado o mínimo interesse pela fotografia. Curioso prenúncio de sua filha, o fato é que sua imediata dedicação, ajudada por um amigo, a levou rapidamente ao domínio do processo do colódio úmido – clássico processo fotográfico que se encontra nos primórdios da fotografia –, começando assim a sua carreira fotográfica. De imediato, ela transformou um galinheiro em improvisado laboratório e em estúdios algumas dependências da sua casa. O resultado dessa sua identificação foi a criação de um estilo muito próprio baseado em longos tempos de exposição, na falta de nitidez provocada por um rápido desfoque, assim como na supressão de detalhes, nas manchas provocadas pelo modo irregular de como aplicava o colódio úmido e na utilização do simbolismo da iluminação. Caracterizou-se então pela escolha de trabalhar com retratos – em especial os retratos de mulheres – e as cenas alegóricas, o que a situa como uma precursora da recriação de cenas vivas aplicadas à fotografia. Acerca de seu trabalho ela mesma diria: Eu ansiava por prender toda a beleza que viesse até mim, e por fim o desejo foi satisfeito. Nossa homenagem a essa brilhante fotógrafa, que é nossa artista convidada.

 

Os editores

 

 


 

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ARC224-01-00 ADRIANO CORRALES ARIAS | El arte de Latinoamérica en el Siglo XXI en sus implicaciones socioculturales 

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ARC224-02-00 AIMEÉ G. BOLAÑOS | Solombra na luz de Paul Ricoeur

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BERTA LUCÍA ESTRADA | Migración y cultura

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CÉSAR BISSO | Los desafíos del artista durante el siglo XXI

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JOHN WELSON | Art In The 21st Century

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MARIA LÚCIA DAL FARRA | Matsi, el té de mi guru

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MARIO MENDICUTI ABARCA | La poesía de la revista Mandrágora

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NICOLAU SAIÃO | Deus e os seus áulicos – Uns breves apontamentos sobre “Religião”

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/02/nicolau-saiao-deus-e-os-seus-aulicos.html


PAULA WINKLER | La globalización y la construcción social de la apariencia: una lógica del sujeto (como) objeto

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/02/paula-winkler-la-globalizacion-y-la.html


PAULINA JUSZKO | Literatura, poesía y humor

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/02/agulha-revista-de-cultura-224-fevereiro.html






Agulha Revista de Cultura

Número 224 | fevereiro de 2023

Artista convidado: Julia Margaret Cameron (Índia, 1815-1879)

editor | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com

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