O pensamento de Paul Ricoeur, de extraordinária riqueza e complexidade no cruzamento de campos do saber – filosofia, estética, ética, linguagem – que o identificam, revela-se também exemplarmente coeso nessa diversidade, sobretudo, pelos vasos comunicantes. Nunca restrito nem fechado, em continua transformação na busca de sentidos projetados à ação comunicativa no mundo da vida, seu pensar conjetural constitui-se como um peculiar modelo heurístico que, e muito significativamente na ficção, abre possibilidades inesgotáveis ao criar um vasto espaço especulativo na interpretação.
Interesso-me pelas contribuições de Ricoeur em relação a uma teoria da imaginação poética, quando volta seu olhar crítico para os desdobramentos da própria obra, ainda ao calor de seus clássicos A metáfora viva e Tempo e narração. Longe de fechar ou canonizar seu legado, o hermeneuta explica-se no intento autocompreensivo e compreende-se na autoexplicação, evidenciando uma vez mais a dialética de compreensão/explicação, ponto alto da sua teoria interpretativa.
Ricoeur reformula historicamente
o conceito de imagem, deixando do lado, mas não esquecendo, o problema da percepção,
recorrente nas explicações fenomenológicas. Ao refletir sobre o sujeito fragmentado na indagação
ontológica e ética (patente nos conceitos de identidade narrativa e ipsieidade), a imaginação aparece como síntese
constitutiva dessa identidade. A imaginação, não reduzida ao “cogito”
cartesiano, implica sentimento, subjetividade, novos horizontes cognitivos e maneiras
de estar no mundo.
O vínculo entre imaginação e metáfora é fulcral nesta
teoria do discurso poético. Ricoeur considera que a imaginação produz sentido, fundamentalmente,
pelo uso metafórico da linguagem. Distinguem-se estes enunciados metafóricos pela
atribuição predicativa impertinente, transgressora, que integra campos semânticos
heterogêneos e logicamente incompatíveis. As metáforas de criação trazem consigo,
além da inovação semântica e a reestruturação de seus campos, efeitos
de ressonância, reverberação, eco. Mas é a imaginação quem regula a impertinência semântica,
quem oferece novas pertinências. Sua mediação faz emergir os significados.
O pensador relaciona a fecundidade da imaginação à da linguagem,
a imaginação
poética cria visões de mundo. Vê o poeta como um artífice que engendra e configura
imagens, cuja verdade não é literal, mas metafórica, na suspensão da referência
de primeiro grau que remite a imagem a uma segunda referência, não necessariamente
realista nem irreal, se bem expressiva da “nossa pertença profunda ao mundo da vida”,
assim como da “ligação ontológica do nosso ser aos outros seres e ao ser.” (RICOEUR,
1989).
No vínculo constitutivo essencial entre poética e ontologia, e
na reformulação da teoria da metáfora, Ricoeur avança na problemática do símbolo,
que tem continuidade desde seus primeiros estudos sobre a simbologia do mal. O símbolo
dá sentido, dá “que pensar”. Portanto é preciso começar e recomeçar na dimensão
do pensar, nele “tudo está dito em enigma”, (RICOEUR, 1990). Sua hermenêutica defende
o valor filosófico do símbolo para o conhecimento do ser e do mundo, suas potencialidades
de reconfiguração criativa e multiplicidade de significados que se integram como
visão de mundo, em contraposição à ideia do esvaziamento de sentido patente em uma
zona considerável do pensamento pós-moderno.
O símbolo, segundo Ricoeur, convoca à interpretação, embora a hermenêutica não possa ser circunscrita á interpretação simbólica. Sem perder sua literalidade, alça-se a um segundo o múltiplo sentido em um movimento contínuo, interligando os estrados de significado. É reflexão, flexão sobre si mesmo: um sentido do sentido. Por conseguinte, a apropriação estética do símbolo exige um trabalho continuo de articulação entre a infraestrutura simbólica e a superestrutura metafórica.
Nesta proposta teórica, a memória cobra especial
releve em uma abordagem desafiadora ao defender os vínculos profundos entre memória
e imaginação. Ricoeur liga lembrança e imagem, a recordação surge ao espírito sob
a forma de uma imagem, pois “Encontram-se reunidos três traços de forma paradoxal:
a presença, a ausência, a anterioridade. Para o dizer de outra forma, a imagem-recordação
está presente no espírito como alguma coisa que já não está lá, mas esteve.” [1] A memória deixa uma contraditória herança, o passado está presente
na imagem como signo da sua ausência. Esta ausência cria mal-estar, mas também traz
consigo a “graça” do reconhecimento que dá a memória uma espécie de iluminação.
Mas
não só na dimensão retrospectiva, mas na prospectiva de longo alcance cobram especial
relevância os trasfegos da memória que recupera e transfigura, esquece e recorda,
estabelecendo uma continuidade entre presente e passado; ademais, imaginando o que
virá – tempo da espera –, impossível de conceber sem a memória imaginária que tem
orientação de mão dupla: do passado para o futuro, seguindo a flecha da mudança;
e do futuro para o passado, de acordo com o movimento inverso da espera para a lembrança,
por meio do presente vivo (RICOEUR,
2003).
Nesta visão da memória e imaginação atreladas – que certamente
não as identifica, mas explora sua interação –, o rastro é pedra de toque. Evocado
nas impressões, na “marca do sinete na cera”, Ricoeur indaga nas múltiplas significações
da metáfora do rastro, a partir da ambivalência de presença-ausência que o constitui.
Esse rastro, vestígio ou marca, tão rico como frágil, pode se referir à irrealidade
de entidades fictícias, fantasmas, sonhos, utopias, também à ausência do passado,
de algo que não estando mais, existiu e a memória recupera recriando, pois a imaginação
é o lugar onde as marcas se imprimem. Mas se o rastro ostensivamente pertence ao
domínio da lembrança, também faz parte do esquecimento: “O que a noção de rastro
e esquecimento tem em comum é, antes de tudo ou mais, a noção de apagamento, de
destruição.” (RICOEUR, 2003). Nesta ordem de pensamento, Ricoeur destaca como
o esquecimento
tem igualmente um polo ativo ligado ao processo de rememoração, na busca das memórias
perdidas que não estão realmente desaparecidas. Logo, o rastro não deixa
de ser um enigma que compreende a distância temporal, o afastamento, o afundamento
na ausência (RICOEUR, 2003).
Na tentativa de me aproximar ao discurso de Ricoeur, a seguir
toco alguns de seus temas, maiormente referidos a memória e imaginação, mas na leitura
relacional explícita ou implícita de uma artista ímpar, Cecília Meireles, em uma
de suas obras primas, Solombra. [2] Atenta à fina trama da memória imagética, a seu metaforismo proliferante
e simbolismo trans-histórico, entro neste livro de culminação de uma trajetória
criativa impar que a poeta publica um ano antes da morte. Mas isso, então, ninguém
o sabe, se bem a autora, com a lógica imprevisível da poesia, prevê.
Variações interpretativas
Compreender não é projetar-se no texto,
mas se expor
ao texto.
PAUL RICOEUR
Como ponto de partida, elenco
sumariamente algumas reflexões sobre Solombra.
Se certamente esta obra tem sido menos lida pela crítica, estas aproximações
evidenciam o interesse permanente por um texto inesgotável que oferece, a cada leitura,
novas variantes de interpretação.
Para Alfredo Bosi domina
a temática da ausência metaforizada pela sombra, enquanto afirmação de uma presença
perdida (BOSI, 1965). Nesse viés, o poema poderia ser lido como uma elegia de austero
e sereno lirismo; abstraída e universalizada a dor existencial. Prelúdio e noturno
de inspiração musical.
Desde o próprio exercício
da poesia, Carlos Drummond de Andrade indica que o poema traz consigo um conjunto
de perguntas que seu título abre em sentido metafórico e simbólico: “Sombra só?
Sol e sombra? Sol em sombra?”. Na lógica poética de Drummond, os signos a decifrar
“são símbolos de interrogações, de especulações transcendentes” (APUD MENDES, 1968).
No marco da história da literatura brasileira,
João Adolfo Hansen propõe uma leitura do livro incluindo-o na grande tradição da
lírica moderna, sem alardes nem estardalhaços, na dissolução das unificações ideológicas
da pessoa, a memória e a comunicação, evidenciando inconformismo e não apenas regressão
(HANSEN, 2007).
No viés do imaginário, Ana
Maria de Lisboa Mello afirma: “é possível fazer diferentes ilações; todas elas,
contudo, tem em comum a ideia de que algo oculto se projeta ou, eventualmente, dá
indícios de existência” (2002). No repertório simbólico tradicional sombra/solombra
remite à projeção de imagem e trevas, associa-se á alma, poderia ser vista como
um aspecto da personalidade que o indivíduo se recusa a viver, mas que surge nos
sonhos: “Representação do mal, do duplo, da morte quando desligada do corpo, é um
símbolo oblíquo na cultura humana desde os tempos mais remotos.” (2002).
Lisboa Melo inscreve Solombra na trajetória autoral enumerando
motivos da sua poesia: a brevidade da existência, o sofrimento advindo das condições
de vida do plano terrestre, a impossibilidade de comunicação com as pessoas, o sentimento
da incapacidade de mudar as circunstancias existenciais, a necessidade de aceitação
dessas condições, por serem etapas a percorrer no processo evolutivo espiritual.
Mas “Solombra é, no universo poético da
autora, a obra em que o eu lírico parece atingir o ápice de uma caminhada mística”
(2002). Em uma viagem aos confins da noite, seu eu lírico, cindido entre o plano
terreno e o plano divino, é “movido pelo desejo de acesso a uma outra morada, onde
acredita existir a harmonia” (2002).
Devanil Lopes, em recorrido
pela crítica de Solombra, aponta como
Cecília Meireles aliando o contraditório, nos leva a pensar. A autora revive o termo
solombra (sol-ombra), uma palavra perfeita porque “expressa o binômio da ausência/
presença, carrega em si a ambiguidade e nos lança em uma série de conjecturas, além
do que se alia ao jogo paradoxal de Solombra:
sombra e claridade” (LOPES, 2010). Conclusivamente, afirma: “É dessa maneira que
entendemos o título da obra, caminho da luz à sombra ou vice-versa” (LOPES, 2010).
Como sabemos, mas não seria demais recordar, desde o simbolismo francês, que marca a mais profunda revolução poética finissecular abrindo as portas da alta modernidade, o símbolo longe de instaurar uma significação única, já codificada pela história da cultura, se abre a numerosas – para alguns, infinitas – conotações não excludentes. O modo simbólico moderno, já diferenciado de alegoria, implica uma estratégia textual de estratos de significados, ambígua, autorreflexiva, em correspondência (Baudelaire não é fortuito) com a natureza da poesia.
Nas espirituosas palavras
de Umberto Eco: “Alguma coisa aparece, e sabemos já que é uma aparição ou não seria
tão incongruente, mas não sabemos que coisa nos revela. O símbolo é uma epifania
com Magos, que não sabemos de onde vêm, para onde vão, e o que vieram adorar [...]
E, no entanto, fulgura” (2003). Sem dúvida, Solombra
fulgura.
A sombra fulgurante
Antes de ser uma percepção evanescente,
a imagem é uma significação emergente.
PAUL RICOEUR
A identidade estética elusiva
e irradiante de Solombra promove interpretações,
sobretudo as relativas à fugidia sombra que leva em si uma significação emergente
da maior abrangência no tramado do livro-poema. A partir desta imagem seminal –
já patente no título –, e sempre a ela voltando, Solombra interroga com sua enunciação metafórica de “diáfano mistério”,
o que de modo natural me leva à “posta em enigma” do símbolo na poética de Ricoeur
e a especular sobre essa sombra irradiante.
Cecília Meireles pensa o
mundo e a poesia, além de si mesma, fazendo ficção da experiência vital e criativa
em uma obra de amorosa melancolia, morte e transfiguração; também das despedidas
e do trânsito místico. Convocado pela memória cria-se um diálogo transcendente entre
ser e tempo. Diálogo de palavras, mas que apela ao silêncio como suprema eloquência;
concebido no claro-escuro, mas sob o domínio da sombra do perdido, sonhado, almejado,
desconhecido que virá com a morte e, neste sentido, caminho ascensional. Essa sensibilidade,
tanto lírica, de reino interior, como filosófica, desdobra-se no poema intensamente
imagético e espiritualizado, cético e místico, [3] da perda e a espera:
Sobre um passo de luz outro
de sombra.
Era belo não vir; ter chegado
era belo.
E ainda é belo sentir a formação
da ausência.
Nada foi projetado e tudo
acontecido.
Movo-me em solidão, presente
sendo e alheia,
com portas por abrir e a
memória acordada.
O ex-ergo inicial,
manuscrito no umbral, apresenta o livro no viés visionário, marcando o teor das
imagens:
Levantei os olhos para ver quem
falava. Mais apenas ouvi as vozes
combaterem. E vi que era no Céu
e na Terra. E disseram-me Solombra.
Esta declaração
faz pensar em filiações plausíveis. O sujeito lírico é médium e mediador, está explicitamente
situado entre Céu e Terra. Solombra remite
a uma secular tradição de visiones da alma que culminam Dante e Camões e em que
se destaca a escritura de mulheres, embora menos reconhecidas. É Hildegard von Bingen,
na mística do século XII, precursora com uma obra monumental. É a transgressiva
Marguerite Porete, no século XIII, autora do Espelho das almas simples e aniquiladas, na que mostra a plenitude do
esvaziamento na união mística; ambas figuras de grande influência no desenvolvimento
da mística ulterior, tanto dos mestres do barroco ibérico – Santa Teresa, entre
as figuras cimeiras –, como na contemporaneidade. Nessa linhagem visionária, Solombra participa com seu discurso original.
Composto por
28 rapsódias ou variações de três estrofes de três versos brancos, geralmente alexandrinos,
e um último verso-estrofe lapidar, [4]
o poema vincula-se á tradição poética da terza
rima, canonizada na Divina comedia,
assim como, em sentido mais geral, aos ritmos ternários simbólicos característicos
da cultura ocidental moderna. Cada poema constitui uma peça relativamente independente
que tributa, com suas variantes temáticas e compositivas, ao poema maior na sua
unidade compósita.
O andamento de
Solombra evoca o adágio, tempo lento da mirada interior, dos movimentos da alma, mas
também alude à fuga musical pela dinâmica proliferativa, de variações. [5] O poema desenvolve-se por reiteração
e um tipo de mudança significacional que, alterando, acrescenta; mas mantém a identidade
temática, muito patente nos significados do símbolo da sombra e seus desdobramentos
metafóricos.
A composição
é progressiva, encapsulada e encadeada, sem final previsível, inclusiva de diversas
visões, interlocutores, tons. Nela, um sujeito ficcional indefinido, mas na busca
existencial, incorpora seus diversos eus
na polifonia das vozes que tecem uma intrincada trama, na que falam o eu lírico
consigo, com o amado figural, com o Amado místico, “alada forma”, com outras almas
semelhantes. Do mesmo modo, dialogam os fragmentos poemáticos entre si e com o todo
para constituir uma obra de grande abrangência simbólica, multívoca, de sentidos
múltiplos e diferidos.
A memória no
caminho do esquecimento
Desde Platão e Aristóteles,
falamos da memória
não só em termos de presença/ausência,
mas também em termos de lembrança,
de rememoração,
aquilo que chamavam anamnese.
E quando essa busca termina,
falamos de reconhecimento.
PAUL
RICOEUR
De modo ostensivo,
Solombra mergulha na temporalidade e nos
processos de constituição/destruição da identidade que acontecem, precisamente,
no tempo humano da memória. A “memória indefinida e inconsolável”, feita de sombras,
apresenta-se na entrada de Solombra, atuando
como princípio criador do imaginário, entre reminiscências e presságios. De tal
maneira, o poema constitui-se na referência aos vestígios da memória, mas na dimensão
das afecções: persistir, permanecer, durar, no meio da destruição, do aniquilamento,
seguindo os rastros da ausência e a distância.
Como sustenta Ricoeur, a noção de rastro não se reduz
ao rastro documentário, nem ao rastro cortical, marcas “exteriores”, embora em sentidos
diferentes. “Resta o terceiro tipo de inscrição, o mais problemático e mais significativo:
a persistência das impressões primeiras: um acontecimento nos marcou, nos afetou
e a marca afetiva permanece em nosso espírito” (2007). O rastro é inscrição espiritual,
ausência de uma presença ou presença da ausência, signo sempre em deslocamento que
evidencia, no jogo de ocultamento/exibição, de distancia/cercania, o trânsito do
ser. E, sendo assim, diria que a metáfora do rastro da teoria do imaginário de Ricoeur
encontra na sombra-solombra de Cecília
Meireles uma das suas expressões poéticas mais belas, ou vice-versa, que a práxis
criativa antecede sempre à formulação teórica, embora Ricoeur e Meireles não tenham
sido respectivos leitores.
Na fluida enunciação imagética de memorialismo visionário, as lembranças e
vislumbres deambulam fantasmagóricos pelo corpo textual evanescente para criar essa
trama sinuosa, labiríntica, tão própria da identidade estética de Solombra. As imagens migram de um poema para
outro e nada parece ter consistência real, salvo a todo-poderosa efêmera sombra
que amalgamada com o rico imaginário da perda, abre-se a outros significados como
via de libertação no reconhecimento, quebrando limites. Só assim, o sujeito lírico
poderá “Ser tua sombra, tua sombra apenas,/ e estar vendo e sonhando tua sombra/
a existência do amor ressuscitada”.
No espírito das declarações estéticas do simbolismo
da alta modernidade, o artista acredita no que sente, embora não o toque ou veja,
como o sujeito poético de Solombra diz:
“Só vejo o que não vejo e que não sei se existe”. O simbólico domina na tentativa
de dizer o indizível, de expressar a falta. Nessa dimensão, o espaço desprende-se
dos lugares, o tempo separa-se dos ponteiros e “tudo se vai, tudo se perde”, transgredidos
os limites do corpo, do tempo da vida, das palavras gastas. Então será possível
falar com as palavras de sono, que são também as prístinas da infância e da morte.
A memória é capaz de reviver o passado, mas esse passado
traz a consciência de que não existe mais, enclausurado pela temporalidade. Mas
a memória pode ser mágica na invenção do que nunca existiu; memória reparadora em
oposição à ruína, solidão e ausência no presente; memória que, embora mitifique
o passado, se sabe em crise, erodida pelo avanço inevitável do esquecimento. Na
enunciação dramática do poema, a “memória acordada” tenta reviver e conservar o
perdido, que pode ter o rosto dos seres amados, em fuga, inalcançáveis, também a
forma da utopia ou quimera. Mas essa mulher da ficção, que no poema se faz/desfaz,
está se despedindo “solitária de mim, repentina exilada”. A língua do mundo torna-se
estranha, estrangeira e sua alma “tão desconhecida/ vai ficando sem mim, livre em
delícia”, em uma jubilosa tristeza. E, embora se saiba ilha “onde eu mesma nada
sei fazer por mim”, quer a clarividência do instante que habita para interrogar
ao mundo, na busca de si,“os enigmas ardendo”. Na busca de últimos sentidos, aparecem
interrogantes ontológicas capitais sobre o ser – a poeta, o sujeito discursivo,
os leitores, o gênero humano – e o ser da poesia. O sujeito poético pergunta-se:
“Qual será meu destino verdadeiro”; “De onde vem a morte?”; “E que vida oferece
a voz que canta?, “quem fomos? quem seríamos? quem somos?”.
Nesta dimensão questionadora, apenas se poderia afirmar
uma “fervorosa vontade de resgate através de perguntas e não através da aceitação
servil da resposta” (ECO, 2003), postura estética distintiva da modernidade que,
segundo Eco, reinventa o conceito de poesia, não apenas enciclopédia ou ilustração,
relato ou moralidade: o leitor moderno já aguardando as fulgurações simbólicas.
Peregrina, a memória viaja em si, imaginando essências e dando vida a um “Pálido
mundo, só de memória”. É um demiurgo, portanto, mágica, mítica, imaginária.
Nesse universo inconsútil, feito de e pela
memória, tudo se espiritualiza imageticamente. Quanto existe, cobra alma em imagens
nas que surrealismo e simbolismo coexistem além de poéticas programáticas. Essa
memória mágica, consubstanciada com a sombra, o sonho, a morte, faz possíveis metamorfoses
fantásticas, como acontece com a noite, “jardim de puro tempo/ com ramos de silêncio
unindo os mundos”, refugio mítico, espaço sagrado dos encontros, de sonhos de ressurreição
do amor na forma místico-erótica.
Atrelada à imaginação, a memória vê, revela sua condição
de imagem das profundezas do ser interior. O sujeito poético caminha pelo acaso
de seus muros, buscando a explicação de seus secretos. Vê mãos de brando aceno,
olhos com jaspes frágeis de distância, lábios em que a palavra se interrompe. A
enunciação metafórica culmina com a imagem das “medusas da alta noite e espumas
breves, deslumbrante categorização da realidade, criando-se um universo autônomo.
Na ficção poética, essa memória da imaginação, essa
imaginação da memória, tem inspiração rizomática. [6] Distingue-se pelos diferentes pontos de eclosão, sem chegada nem
partida, é multiforme nas suas ramificações espaciais e temporais, a modo de “planta
crescente/ com mil imagens pela seiva resvalantes,/ na noite vegetal que é a mesma
noite humana”. Em Solombra tudo está em
movimento efêmero, volátil. Sua estruturação acolhe e espalha significados instáveis,
inacabados, de variações que transbordam sentidos.
Nessa sensibilidade movediça, de contatos imprevisíveis e associações insólitas, a natureza, ecoando os pilares do templo de Baudelaire em “Correspondências”, deixa sair suas vozes misteriosas, confundidas as sensações em um tipo de sinestesia de intensas ressonâncias espirituais. O mundo poético de Cecília Meireles em Solombra, semelhante à “medusa de alta noite” que o sujeito poético já viu, pertence à linhagem das sombras, ecos, reverberações, secretas correspondências. “As palavras gastas de Morte e Amor” olham-se no espelho da Beleza sonhada, maior que a vivente. O poema volta-se sobre si como obra poética, feita de palavras, espaço da imaginação onde sonho e memória dialogam para criar estranhas cenas tão nebulosas como brilhantes.
Em Solombra
a “memória acordada” está indissoluvelmente ligada ao canto em intenso conflito
com a vida. Ante o reclamo, “as palavras são conchas secas, bradando/ a vida, a
vida, a vida! E sendo apenas cinza./ E sendo apenas longe”. Desde as imagens iniciais
anuncia-se sua poética metaficcional e autorreflexiva: “Entre as mãos tristes, vê-se
a harpa imóvel”. A trama descobre e desenvolve essa vocação autorreflexiva que,
de maneira explícita ou, às vezes, por alusão, funciona como o baixo contínuo de
Solombra.
Nessa estética metaficcional resulta recorrente a
reflexão sobre perceber e recordar, por conseguinte, sobre os modos de compor. O
poema debruça-se sobre a palavra poética no paradoxo de sua precariedade e poder
expressivo. No viés metapoético, o ser do poema, duplo-sombra do eu discursivo,
padece sua frágil estrutura, perto da ruína. Com total consciência artística, escolhe
as palavras do sonho, da infância e da morte para “Dizer com claridade o que existe
no segredo”.
Interpretando o tema da metapoesia, a autora da ficção
assume-se poeta, [7] mostra sua condição
de mulher-artista e pensa sua poética no exercício do canto: “Uma vida cantada me
rodeia./ Mas pergunto-me até onde me alcança/ o canto que me envolve e protege.”
No poema, as variações imaginativas sobre si vão construindo uma identidade complexa,
feita de jogos de sombra, desdobramentos, projeções, de modo tal a mulher-sombra
pode falar de si mesma como outra. [8]
Aprofunda-se na dimensão autoficcional especular. Dessa maneira aparece dúbia, ambígua,
paradoxal: “Não se sabe se é morta e parada em beleza/ ou viva e acostumada às condições
da morte”. Sua identidade depende das relações de alteridade, tem diferentes instancias
ônticas, transita entre diversas temporalidades de vida e morte, mudando continuamente,
mas na constância de seu ser que busca de sentidos vitais na poesia. O sujeito de
Solombra compõe fragmentos de vida e faz
seu autorretrato se enxergando no olho da poesia que está criando e da qual é criatura.
Reiteradamente olha para si no espelho do poema: “vejo-me longe e perto, em meus
nítidos moldes/ em tantas viagens, tantos rumos prisioneira”.
A figura fantasmal depara-se com o ser profundo ao
vislumbrar outras formas de saber, não racionais excludentes, imagináveis no pensamento
místico que anula as diferenças e não reconhece fronteiras no caminho ascensional.
Com uma iluminada compreensão da memória, além da oposição de recordação e olvido,
[9] poeta diz: “Assisto – amarga: recordando-me
e esquecendo-me”. No reconhecimento de outra dor, de outra esperança, quem sabe
se de renascimento ou ressurreição na poesia, acolhe-se no êxtase do silêncio.
A poeta no umbral
Resta agora
por descobrir,
na liberdade
da imaginação,
a imaginação
da liberdade.
PAUL RICOEUR
Na conjunção das dimensões metafísicas e estéticas, Cecília Meireles
deixa entrever uma via de reunificação com a realidade suprema. A morte não seria
fim, só passagem. Os últimos vestígios da dor existencial no mundo da vida serão
apagados em um mundo de ar, sem tempo nem ecos. Nesse mundo esvaído na distância,
o ser transforma-se em abraços que perderam sua forma: “tão de adeuses /que já nem
temos mais despedidas”. Cessam as frágeis perguntas existenciais; os diálogos impossíveis
ficam suspensos. Culmina o rito do esquecimento, até do nome próprio que jaz entre
as antigas mortes: “Só nessas mortes pode estar meu nome escrito”. Completa-se também
o reconhecimento na poiesis. Ao escrever,
a memória desvela a alma que alcança sentido liberador: “Eu sou essa pessoa a quem
o vento ensina:/ Agora és livre, se ainda recordas.” Figura das sombras translúcidas
que, embora entrando no olvido dos outros e de si, não esquecerá o amor nem as figuras
amadas, vivas na memória do poema.
Na
solidão e no silêncio, destruída e intacta, a mulher-poeta no umbral cumpre o trabalho
de restauração da memória ferida ao ficcionalizar uma experiência de perda entre
a vida e a morte. Assim, no clímax do reconhecimento ou anagnórise, “pequeno milagre”
(RICOEUR, 2003), se refaz de modo deslumbrante: “Abro esta porta além do mundo,
mas não passo./ Basta-me o umbral, de
onde se avista o ponto certo/, o grande
vértice a que sobe o olhar do mundo.
A
mulher-sombra da ficção da fé de um secular ofício como escriba do memorável. No
seu livro tudo fica escrito e inscrito no tempo humano e no tempo sem fim da poesia.
Os motivos (vida-morte, amor, passagem do tempo, identidade, transitoriedade-permanência)
são interpretados de maneira heterodoxa, seus significados abertos, reversíveis,
o que resulta especialmente expressivo na configuração da sombra, símbolo maior
que contém as diversas representações da mulher-poeta. Culminante, mas sem final,
sua viagem espiritual a leva à matriz de si mesma na alteridade da sombra, onde
busca, diante da morte, o elo perdido e se abre ao desconhecido por vir, traspassando
o umbral.
Solombra integra uma poética paradoxal
da memória devastada e incólume que arroja luz sobre a sociabilidade estética, de
implicações ontológicas e éticas, na alta modernidade, problemática exaustivamente
interpretada por Paul Ricoeur na unidade da sua obra. No poema, o sujeito poético,
ao mergulhar na memória, desdobra suas múltiplas formas: ser de tempo e intemporal,
pessoa, poeta, eu flagrado no transcendente
ato de recordar e esquecer. O poema visionário, longe de se fechar, expande-se na
ascensão espiritual, oficiando a palavra poética.
Poeta
e pensadora da existência, Cecília Meireles pensa por imagens o ser e o tempo, mas
no centro das contradições e de modo paradoxal, ultrapassando oposições binárias
e certezas. A poesia mostra a memória na sua natureza dinâmica, intimamente associada
não só à mirada do passado, mas às fulgurações do futuro, aquele oximoro que o surrealismo
acunhara com as “memórias do porvir”. A imaginação visionária em Solombra abre as portas. Lembrar faz possíveis
as previsões biográficas, não importa se com a forma da intuição, a premonição ou
o vaticínio, que vem da apurada percepção do movimento temporal, seja da magna história
como da íntima e pessoal, impossíveis de separar na práxis humana.
Os
eus reminiscentes dos poemas, voltados
para o passado, também são visionários: olham à sua frente longe porque, e nas palavras
de Lévinas, todo movimento humanizador é excêntrico (LEVINAS, 1975). Daí a dimensão
projetiva da memória em Solombra, seus
significados emergentes, ideais, na dimensão reparadora, de vôo libertador, seja
no sentido da ficção ontológica ou da mística transcendente, em modo algum excludentes.
Em
Cecília Meireles a memória é anima mundi, mundo da alma e alma do mundo, de modo que
seu simbolismo dá testemunho da complexidade, não poucas vezes inexpressável, do
universo subjetivo, do íntimo e secreto, mas também do suprapessoal do gênero humano.
Sua sensibilidade, e consequentemente sua estética, parece dialogar com Fernando
Pessoa, para quem, no viés neoplatónico, a
imaginação poética é “como de alguém que conhecesse a alma das coisas, e lutasse
para recordar esse conhecimento, lembrando-se de que não era assim que as conhecia,
não sob aquelas formas e aquelas condições, mas de nada mais se recordando” (PESSOA,
1986).
As
visões espirituais simbólicas de Cecília Meireles são estremecidas, de “espanto, admiração, como de um ser tombado dos
céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito diante das coisas” (PESSOA,
1986). A poeta da vida a sua travessia da alma desde o encantamento e o espanto,
evidenciando sua pertença a uma genealogia artística que vai da literatura medieval
visionaria à eclosão da modernidade – Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Pessoa, figuras
icônicas –, recriando símbolos de antiga linhagem na história da poesia com suas
metáforas de invenção, portanto, vivas.
Y
vale voltar ao entendimento de Ricoeur do símbolo como mediação, de duplo ou múltiplo
sentido, referido aos elementos do cosmos, a suas dimensões e aspectos – luz e trevas
–, símbolos universais que se unem aos criados por uma cultura, por um pensador
particular, por uma obra singular, sendo que “neste último caso, o símbolo confunde-se
com a metáfora viva” (RICOEUR, 1986). Assim acontece em Solombra com sua reinterpretação de símbolos cósmicos, cujos sentidos
ontológicos e metafísicos insondáveis são impossíveis de atribuir a um único referente,
seja empírico, biográfico ou do repertório de símbolos alegóricos, em qualquer caso
restringindo a abrangência da ficção que cria mundos.
O
simbolismo transcendental de Solombra, que
reinterpreta práticas espiritualistas e estéticas seculares, não é críptico, sem
bem supõe incessantes provas interpretativas. O poema constitui-se na exteriorização
das meditações contemplativas e autocontemplativas da autora no espelho ficcional,
de tão variadas e ricas figurações no seu encontro com o outro, leitor ideal, também
figura do imaginário.
Lido
hoje Solombra, no hermetismo e transparência
de seus símbolos e tramado metafórico, continua irradiando sentidos, não poucas
vezes desconcertantes, para incitarmos a outras visões de imprevisíveis ressonâncias,
na consciência de que “o modo simbólico estará lá onde finalmente tivermos perdido
a vontade de decifrar a qualquer custo” (ECO, 2003). Ou como diz José Lezama Lima,
de modo aparentemente mais conciliatório, a poesia é a anotação de uma resposta,
só que “a distância entre essa resposta, o homem e a palavra, é quase ilegível e
inaudível” (LEZAMA, 1988). Ou, no desafiante paradoxo de Ricoeur: “só me encontro
como leitor, perdendo-me” (RICOEUR 1983).
Se para Dante, citado por Ítalo Calvino, a alta
fantasia é um lugar dentro do qual chove (2000), para a Cecília Meireles de Solombra poderia ser, entre outros possíveis,
o lugar da sombra fulgurante. Sombra de variações metafóricas intermináveis, sombra
simbólica da plenitude de vida-morte, sombra metaficcional da escritura, sombra
ontológica que habita a memória do ser, sombra-Solombra da criação poética na sua significação sem fim.
Perdida
em minha experiência de leitura, evoco
as palavras de Paul Ricoeur, singularmente iluminadoras de Solombra: “A poesia é mais do que a arte de fazer poemas, ela é poiesis, criação, no sentido mais vasto da
palavra. É neste sentido que a poesia iguala o habitar primordial; o homem apenas
habita quando os poetas são.” (RICOEUR, 2000)
NOTAS
1. A versão
original desta conferência foi escrita e proferida em inglês por Paul Ricoeur sob
o título “Memory, history, oblivion” no âmbito de uma conferência internacional
intitulada “Haunting Memories? History in Europe after Authoritarianism” (8 de março,
2003, Budapeste).
2. Publicado
em 1963, Solombra tem numerosas reedições.
As citações correspondem à edição de 2005, da Editora Nova Fronteira, com prólogo
de Regina Zilberman, e que inclui Sonhos (1950-1963)
e Poemas de viagens (1940-1964).
3. Para Leila
Gouvêa (2008), Cecília Meireles é essencialmente lírica, ao mesmo tempo cética e
mística, nem católica nem materialista. Não encontraria respostas na utopia marxista,
nem chegaria a abraçar algum partido político, mas assumiu o avatar das lutas pela
educação “no empenho da rememoração ‘salvadora’ pela palavra de um passado esquecido,
recalcado, rememoração que recupera e dá voz aos esquecidos e vencidos da história”.
4. Ver as sugestivas
anotações de Ana Maria Lisboa de Mello sobre ritmo e significação nos poemas do
livro (2002).
5. Esclarecedor
resulta o verbete de Zilá Bernd sobre o tema, especialmente a parte “Entendendo
a variação” (BERND, 2010).
6. Evidentemente utilizo o conceito de Deleuze e
Guattari (1995).
7. Uma
leitura de gênero aporta Maria Lúcia Dal Farra. Significativamente discute a escolha
lexical de poeta ou poetisa para as autoras mulheres. Seu artigo,
sobretudo, oferece um válido percurso pela “fortuna crítica” de Meireles. Ver: DAL
FARRA, 2006.
8. Tema exemplarmente desenvolvido
por Ricoeur em O se mesmo como outro.
9. Nas palavras de Todorov, “A memória não se opõe
absolutamente ao esquecimento. Os dois termos contrastantes são o apagamento (o
esquecimento) e a conservação; a memória é, sempre e necessariamente, uma interação
entre os dois” (TODOROV, 2000).
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Agulha Revista de Cultura
Número 224 | fevereiro de 2023
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