UM POUCO DE SPAM, OUTRO POUCO DE ESPANTO
O jornalista Luiz Leitão é um novo colaborador nosso. Sua cumplicidade inicial tem sido na forma de tradução, sendo ele excelente tradutor do português para o inglês, vindo assim a ampliar – o futuro acabará por dizer – o universo de circulação de muitos projetos nossos. Luiz Leitão escreveu precioso artigo sobre o spam, esse espelho da natureza humana, que reflete muito mais do que apenas um ocasional importuno na vida utilitária da Internet. É curioso observar que se isolamos um determinado aspecto criminoso, que se destaca em nossa sociedade, logo é possível substituí-lo praticamente por qualquer outro, assim como ampliá-lo de tal forma a nos levar à conclusão de que criminosa é a sociedade em sua totalidade. No entanto, como não há sociedade senão como reflexo do indivíduo, o dilema chega a um ponto… ainda mais curioso. Situemos o spam no universo único dos envios de anúncios comerciais, manifestações excêntricas de toda forma de egolatria e a estratégia incansável de golpistas de toda ordem (incluindo os invasores com fins de implantação de vírus ou usurpação de dados pessoais). Nos três casos se destacam e-mails oriundos de IP brasileiros, disseminados por toda parte no mundo. Isto reflete, em última instância, uma sociedade insatisfeita, ansiosa, inculta e irresponsável. Evidente que não somos a única sociedade problemática no mundo. Tampouco seremos a última.
Outro dia recebi e-mail de alguém que propunha uma imensa campanha pela paz, em todo o mundo, promovida por poetas de toda espécie (sim, porque são várias as espécies). O e-mail vinha de um país europeu e se baseava naquele torpe pressuposto de que os poetas são entidades à parte. Respondi que, na condição de seres humanos, os poetas, assim como todos os artistas e todos os intelectuais, não são senão parte do problema. É o que somos, reitero: parte do problema. No entanto, excluindo o equívoco do entendimento de a qual mundo pertence a classe artística, em especial os poetas, não se verifica incidência digna de nota nos dois outros quesitos quando apontamos no mapa-múndi as origens de IP com excessos de spam. Dois países se destacam: Brasil e Estados Unidos. Porém o Brasil tem uma participação maior, incluindo aí a presença de brasileiros em outros países. Há encostos oriundos do mundo árabe, algo da Argentina, México, pouco mais e sempre inexpressivo em relação ao volume do que nos chega do próprio Brasil. Como a nossa preocupação aqui não é estatística, voltamos ao artigo do Luiz Leitão, completando seu conteúdo recordando que os brasileiros se sentem em casa quando do estabelecimento de novas leis, em especial as proibitivas, porque nos especializamos em burlá-las. Esta é a nossa grande prática terrorista: eliminar por dentro qualquer lei (lições aprimoradas de cartéis que acabaram se especializando em explosivos & sequestros). E o Estado tem sido conivente dessa esperteza nacional. Não quero dizer com isto que precisamos eliminar o Estado, mas antes, bem antes, que precisamos do Estado para educar a sociedade. Não torná-la cúmplice de seus interesses, mas sim criar e promover um amplo sistema educacional que recupere toda uma sociedade desse tipo metafórico de cassino de sobrevida.
O spam é apenas um reflexo dessa deplorável condição humana que nos permitimos. Perdemos a noção de como ligar os pontos. Tudo nos parece incomunicável – o que é um engano tremendo. Cada mínimo gesto nosso atua e reflete um cenário comum a todos nós. Além dessa conexão que faz com que indivíduos constituam uma sociedade, não existe, simplesmente não existe, sociedade alguma. O artigo do Luiz Leitão elucida muitos aspectos no que diz respeito à prática do spam.
Ao final, acrescento ao editorial um breve diálogo que me propôs outro jornalista, o venezuelano Miguel Antonio Guevara, para publicação em uma página web que ele coordena em Caracas. É uma boa e rápida conversa que ilumina alguns pontos curiosos acerca da presença cultural do Brasil na América do Sul. Ao menos do ângulo de um jornalista venezuelano. Contatos com Luiz Leitão:luizmleitao@gmail.com. Contatos com Miguel Antonio Guevara: miguel.contacto@gmail.com.
A revista Agulha Hispânica, desde janeiro de 2010, vem se dedicando a uma difusão específica da criação artística de língua espanhola. Embora a Agulha – Revista de Cultura existe desde 1999, esta opção editorial vislumbrava uma necessidade de maior entrosamento, junto ao leitor brasileiro, em especial, com a cultura hispano-americana. Volto a destacar o absurdo que é o raro convívio do Brasil com uma vizinhança formada por 19 países que falam um único idioma e distinto do nosso. De qualquer maneira, a partir de janeiro de 2012 retomamos o projeto matriz da Agulha – Revista de Cultura, com nova equipe editorial, novo design e uma circulação ainda mais ampla.
Abraxas
1. Armadilhas do spam, por Luiz Leitão
O nome SPAM, das antipáticas mensagens comerciais que recebemos às mancheias, cada dia com maior freqüência, informalmente, na etimologia popular americana significa Stupid, Pointless Annoying Message (Mensagem Estúpida, Inútil e Irritante), hoje mais usada comercial e politicamente.
As empresas que mandam essas mensagens publicitárias a gente que nunca lhes solicitou o envio têm o desplante de dizer que respeitam a privacidade do infeliz destinatário, e que para se descadastrar “basta” responder ao e-mail com os dizeres “remover” no campo “assunto” ou – e aí mora o perigo que muitos não perceberam – clicar num link que acompanha a mensagem.
Ocorreu-me estes dias, após representar ao Ministério Público Paulista e apresentar queixa ao PROCON, que o tal link onde os incautos, entre os quais este escriba se incluía, pode ser de uma página falsa que irá inocular um vírus no computador ou telefone celular do internauta, ou tele internauta, neologismo recém-inventado para os que acessam a rede pelo celular.
Achando que o assunto iria cair no vazio, recebi, em 15 de abril, uma ligação de Fernando Ramos, analista de Ouvidoria do PROCON, que informou ter o órgão considerado da maior relevância a reclamação apresentada; inédita, por incrível que pareça.
O caso está nas mãos da ouvidora Ilma Araújo dos Santos e em avaliação pela Comissão de Assuntos Tecnológicos da Diretoria de Programas Especiais, tendo tida sua relevância reconhecida pelo órgão.
Segundo Ramos, havia um projeto de Lei contra a prática, de 2004, do Ex-deputado federal Nelson Proença (PPS-RS), que, pelo jeito, não vingou.
É possível provar, por analogia a outra antiga prática comercial abusiva, que o spam é invasivo e trabalhoso, entope as caixas postais e podem provocar a devolução de um e-mail relevante.
Há poucos anos, o PROCON-SP implantou uma lista onde os assinantes de linhas telefônicas que não desejassem receber incômodos telefonemas de telemarketing se inscreviam, e as empresas que os importunassem seriam multadas. A iniciativa prosperou, e a prática acabou, mas foi substituída por mais spams, cujos custos são menores, sobrecarregando ainda mais a rede. Além disso, para se livrar de um propagandista por telefone, bastava bater-lhe o telefone na cara, mas safar-se do spam dá muito mais trabalho.
A questão do spam é muito pior do que querem fazer parecer as observações revestidas candura, eufemismos defendendo a malfadada prática.
Ao pé de um spam recebido se lê: “Somos contra o spam na rede, nós respeitamos a sua privacidade. Seu e-mail faz parte do nosso sistema de relacionamento. Esperamos que você tenha apreciado esta mensagem. Contudo, não querendo receber mais mensagens nossas, responda este e-mail com o assunto REMOVER.”
Então, o e-mail do destinatário faz parte do “sistema de relacionamento” deles, seja lá o que isso queira dizer… Quem porventura não tenha “apreciado” a mensagem não solicitada basta se dar o trabalho de enviar um e-mail com o assunto “remover”.
Outros sugerem que se clique “aqui”, e “seu e-mail será excluído em até dois dias úteis”. Tudo isso para a mera exclusão, que se faz com um singelo clicar num teclado?
O spammer, termo em inglês para os adeptos à prática prejudica a comunidade muito além do que talvez imaginem eles e suas vítimas, por várias razões.
Primeiro, as mensagens disparadas em massa geram tráfego na rede com custo para os hospedeiros, repassado aos sites, que acabam cobrando do cliente final; segundo, ao pedir a remoção, o cliente dobra o tráfego, enviando mais uma mensagem inútil.
O diretor de um provedor comenta que recebeu reclamações de uma cliente porque sua caixa postal estava repleta de spams, e que ele deveria ter meios de evitar isso. Mas a indignada ex-cliente ignorava que não há anti-spam infalível, e nem o Yahoo ou o Google conseguem filtrar uma parcela razoável dessas pragas virtuais.
Sistemas como o anti-spam do UOL, por exemplo, mais que duplicam o custo e o tráfego de dados quando enviam ao remetente um e-mail de confirmação com letras a ser copiadas e reenviadas para a liberação da mensagem originalmente enviada, inclusive das desejáveis.
Por conta disso, os provedores limitaram a quantidade de destinatários por mensagem e o intervalo de envio, prejudicando quem manda noticiários ou alertas a clientes ou leitores inscritos por vontade própria numa lista.
Um alerta aos incautos: quando se faz um dos incontáveis cadastros para compras na internet ou simplesmente para participar de um fórum, comentar uma notícia há, geralmente, um ou dois quadradinhos pré-assinalados, autorizando o envio de “newsletters” ou promoções.
É bom desmarcá-los, pois do contrário o envio, por vezes abusivo, foi “solicitado”…
2. Breve diálogo entre Floriano Martins y Miguel Antonio Guevara
MAG Con todo respeto poeta. Usted es una de esas personas que con bastante esfuerzo y dedicación ha mostrado a gran parte de los ávidos investigadores y lectores de la poesía latinoamericana que el Brasil es mucho más que fútbol, samba y carnaval. Me refiero precisamente a ese esclarecimiento en torno al desconocimiento que existe entre nosotros mismos, habitantes de este gran territorio. ¿Cree usted que actualmente podemos hablar de un mayor reconocimiento de la palabra, y me refiero especialmente al acervo literario de habla portuguesa, que desde hace tanto lo tenemos al lado y por distintas brechas, entre ellas la del idioma, nos han impedido acceder a ella? Por otro lado, ¿cree usted que a través del Internet se ha llevado la voz poética brasileña a nuevos lugares, a nuevos lectores? Basta con colocar “poetas brasileños” en un buscador para recibir decenas de nombres.
FM Yo no tengo participación, por ejemplo, en el conocimiento que los venezolanos tienen de literatura brasileña. Creo que el catálogo de la Biblioteca Ayacucho habla por si solo. Yo he publicado muestras de la poesía brasileña en España, México, República Dominicana, pero no en Venezuela. Una lástima que todavía no tenga sido posible la edición de la obra poética de Carlos Drummond de Andrade, preparada por mí para Ayacucho. Drummond fue poeta mucho leído en español hace décadas, pero actualmente ya no se encuentran sus libros en este idioma. Hay otros brasileños importantes, como Jorge de Lima, Murilo Mendes, Raul Bopp, Augusto Meyer, Gerardo Mello Mourão, que aún no se conoce en tu país. El problema más grande tiene que ver con los herederos. Por otro lado, no hay problema con el fútbol, la samba y el carnaval. Son aspectos fuertes, característicos de toda una cultura. Lo que pasa es que esas fuerzas fueron como que destrozadas por exceso de intromisión del mercado en la magia de sus acentos. Pero lejos de sembrar nostalgia, lo que tenemos que hacer es buscar nuevos mecanismos de explorar la creación y sus trucos de difusión. Por supuesto que la Internet es parte de eso, pero no es todo, tampoco es Dios que va a arreglar todos los dilemas de la cosa. En cuanto a eso de buscar a los poetas brasileños en la Internet, bueno, puedes encontrar varios en el Proyecto Editorial Banda Lusófona (que incluye también poetas de lengua portuguesa en los demás países que hablan ese idioma), así como en páginas particulares (blogs) y una que otra publicación periódica. El principal espacio en este sentido es el Jornal de Poesía, que dirige Soares Feitosa, que es nuestro asociado. Ahora mismo estamos buscando una manera de actualizar las páginas, su contenido y también su diseño. Sin embargo, sigue faltando la creación – que en mi entender es una responsabilidad de naturaleza institucional – de un sitio amplio donde se pueda encontrar reunida la obra de nuestros más importantes poetas. En verdad, hay que buscar un equilibrio en la participación del Estado en su actuación en el ambiente cultural. No puede el Estado ser resbaladizo, como en Brasil, así como no lo puede ser demasiado pegajoso, como en Venezuela. Las dos situaciones hacen daño a la cultura. Como todo en la vida, hay que buscar equilibrio.
MAG La palabra, la poesía misma es encuentro. Encuentro con el pasado, con el presente. Ahora mismo vivimos ese encuentro del poema, de la escritura a pulso a la del presente y las nuevas formas. Todo se acelera y continúa acelerándose vertiginosamente, mucha gente ha abandonado los diarios escritos a mano. La máquina de escribir. También la infructuosa vía hacia las editoriales para dar a conocer su voz. En la red se encuentran cientos de portales digitales, diferentes espacios que a través de sencillos editores de texto nos ofrecen la difusión de la palabra para seguir asumiendo el oficio, dando rienda suelta a la exclusa abierta de la palabra. Usted mismo es partícipe del Proyecto Editorial Banda Hispánica que tiene proyección mundial gracias a estas nuevas vías. ¿Qué tan válido sería argumentar, o mejor dicho, redimensionar la teoría, el análisis literario de siempre en una visión basada en esa disposición a recibir directamente la crítica del lector, de cualquier persona que sea capaz de acceder a nuestros espacios en donde ponemos a disposición la obra ejecutada?
FM La aceptación del arte no es fruto de una imposición, sino de una descubierta. Por supuesto que un programa de gobierno, en su concepción más sinistra, puede llevar toda una población a desfrutar mala poesía. Es posible, pero seguro un día, por ventanas olvidadas de ese sistema perverso, pasará un trozo de sensibilidad que posará su mirada en buena poesía. La Internet es un mecanismo sólo de circulación, más amplia que el libro, por ejemplo, de la poesía. Pero lo que acaba por imponer su lectura, imponer la descubierta de un poema, de un poeta, es la calidad de la obra. Lo mismo pasa con los creadores, con los poetas. Si es un tipo cerrado, harto de vanidad, que se toma demasiado en serio, no importa que su crítico llegue a través del periódico impreso o de la pantalla de la computadora. Simplemente no tendrá ojos para el.
MAG En entrevista realizada en Venezuela por el poeta Hermes Vargas usted afirma que en éste, nuestro continente suramericano, poseemos una de las tradiciones líricas más fuertes del mundo. En pleno siglo XXI, ¿cómo asumimos una posición inclinada en el sentido de originalidad, si se ha escrito tanto es posible seguir participando en un contexto de autenticidad, después de tanta información y tanto que se ha dicho y hecho?
FM Es un riesgo poner demasiada importancia en la información cuando el tema es originalidad. El hecho de que se agranden los desafíos es motivo para que uno se quede todavía más atento a las resultantes de esa relación. Nuestro tiempo es el tiempo del arte machacado por el mercado y la política. El mismo Octavio Paz ya llamaba la atención de eso hace décadas. Cambiamos, en nombre de esas dos fuerzas, los conceptos de avaluación del arte. Y el inmediatismo, que es el palco de lectura de lo que se produce en nuestro tiempo, es un verdadero enemigo de la creación artística. En gran parte, por esa razón es que la fuerte tradición lírica de que hablo, en nuestro continente, ya no sea tan expresiva y reveladora.
MAG Un detalle excelente de la plataforma de publicación o muestrarios online, es que precisamente en esos espacios nos exponemos a una inmediata confrontación con el público, un contacto directo. Ejemplo preciso es una nota que transcribió un poeta venezolano amigo mío en una red social. Se trata precisamente de su entrevista en Escritura conquistada a Luis Alberto Crespo, en donde usted mismo comenta: “Al contrario de países como Puerto Rico y Uruguay, casi no se verifica, en Venezuela, la presencia de mujeres que escriban poemas. Casos aislados son Ana Enriqueta Terán y Hanni Ossott”. Usted no se imagina la cantidad de respuestas que recibió sobre todo con eso de “Casi no se verifica”. ¿Cómo nos justifican Floriano Martins y Luis Alberto Crespo tantos nombres pasados por alto, dejando de lado tantísimas voces femeninas de nuestro territorio? Sobre todo tomando en cuenta la importancia del documento que usted realiza, que ciertamente, tiene una repercusión continental.
FM Hablas de cantidad, algo que no sirve sin calidad. En Venezuela no hay una mujer poeta de fuerza expresiva como las argentinas Olga Orozco u Alejandra Pizarnik. Lo mismo en relación a las uruguayas Marosa di Giorgio u Amanda Berenguer. Igual que la peruana Blanca Varela. Pero eso no llega a ser un problema, no estamos proponiendo una pelea de géneros, diciendo que la poesía hecha por hombres es mejor, o que la poesía en Argentina o Perú sea mejor que la venezolana, nada de eso. Es simplemente una verificación. Cambiemos Venezuela por México o Chile, da igual. Peor que en Chile la presencia de un Premio Nobel (Gabriela Mistral) no fue suficiente para generar una presencia femenina más expresiva en su lírica. Yo particularmente no veo dilema en eso. La referencia al tema, en la entrevista, fue simplemente para saber la opinión de Luís Alberto Crespo. Yo hablé en dos nombres, pero en las antologías internacionales de la poesía hispano-americana, por ejemplo, simplemente no hay poetas venezolanas. Pero también no hay bolivianas o paraguayas. Lo primero que uno piensa sería en el fuerte influjo agrario en la historia de cada país, o sea, que todo eso no tiene que ver propiamente con la poesía, pero con la situación que enfrenta (sufre) la mujer en su ambiente cultural. Era el tema que yo esperaba fuera desarrollado por el entrevistado.
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ÍNDICE
Artista convidado
Roberto Cabrera (Guatemala) Puente entre culturas, saberes y quehaceres. Adriano Corrales Arias
Maio de 2011
Fortaleza, Ceará | Brasil
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segunda-feira, 23 de março de 2015
Agulha Hispânica # 09 | Editorial
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