AGULHA HISPÂNICA FINIS TERRAE
Em janeiro de 2010 publicamos o número inicial da revista Agulha Hispânica. Completamos agora, em novembro de 2012, seu ciclo previsto de 12 edições e um total de 132 matérias, todas elas dedicadas às artes e à cultura de língua espanhola. As cartas de navegação indicam que construíamos aqui uma ponte em duplo sentido. De um lado, a conclusão de uma primeira fase (1999-2009) da Agulha Revista de Cultura; de outro, a sempre necessária recordação de que o Brasil não é um continente em si, mas sim parte de uma terra mais vasta, em sua grande maioria determinada por uma cultura de língua espanhola. Graças a este segundo aspecto, tratamos de definir melhor os nossos projetos editoriais, criando ao lado da já existente Banda Hispânica um equivalente a que intitulamos Banda Lusófona.
A partir de janeiro de 2012 cuidaremos de uma segunda fase da Agulha Revista de Cultura, de acordo com o que já antecipamos em sua edição # 0 (setembro de 2011). O conjunto de matérias publicadas pela Agulha Hispânica poderá ser visitado pelo leitor interessado a qualquer momento em nosso portal: www.revista.agulha.nom.br.
Em dois anos de circulação da Agulha Hispânica, há um balanço mínimo que cabe aqui observar. Houve certa decepção da parte de colaboradores de língua portuguesa quando dissemos que os temas de interesse da revista circunscreviam-se à cultura e às artes de língua espanhola. Um acompanhamento estatístico permitiu verificar que fomos mais visitados por leitores de língua espanhola do que leitores de língua portuguesa. A ideia de despertar a atenção, no leitor brasileiro, acerca de um ambiente cultural de um idioma vizinho, não funcionou. O poeta argentino Aldo Pellegrini, em 1966, ao publicar na Espanha sua Antología de la poesía viva latino-americana, dizia, no prólogo, que “Brasil y la América hispana comparten los mismos problemas y utilizan un idioma accesible para cualquiera de las partes”. O desejo, mais do que constatação, de Pellegrini, é algo que não se verificou até hoje, exceto em um ambiente circunstancial que mais reflete uma justificativa da ausência de diálogo do que propriamente um interesse de aproximação cultural. Mesmo nas mesas de negociação comerciais ou diplomáticas encontramos desinteresse mútuo em maior conhecimento da língua ou da cultura dos países envolvidos.
Brasil e América Hispânica são dois mundos desencontrados. Os pontos em comum são de uma graça magnífica, porém é uma terra de cegos, em que ninguém quer ver; nativos simplesmente se regozijam da cegueira que os impede de compartilhar um mundo tão vasto e rico, tão múltiplo e afinado em uma legitimidade mestiça que dota o próprio continente americano de uma potencialidade invejável. Aventurar-se como o fez Ken Burns (1953) pelas vísceras da formação do jazz nos Estados Unidos e a partir dessa viagem compor um documentário que reflete essencialmente uma riqueza mestiça, é algo que nos falta à América Latina, naquele sentido de estabelecer diferenças, similitudes, singularidades, afinidades, uma viagem musical cujas entranhas podem dar a senha para descobrir outras viagens, no mundo plástico, na literatura etc. Não justifica eleger os Estados Unidos como um inimigo comum, ao mesmo tempo em que não fazemos nada por mergulhar em nossa história e buscar conhecimento ulterior e pontos coincidentes.
A história da colonização do continente americano é a mesma, de uma ponta a outra de nossa vastidão territorial, sob muitos aspectos. Exploração humana e de recursos minerais, escravidão e deformação religiosa. O balanço de meio milênio não nos torna mais ou menos vítimas ao norte ou ao sul. Desastres ecológicos, acidentes “naturais” provocados, racismos disfarçados em truques de inclusão social, não há governos mais ou menos cretinos em toda a extensão territorial. Cada um participa com seu talento para a desagregação. E à sua maneira, ao modo da conveniência de cada um, as castas intelectuais são coniventes, passivas ou ativas, desse processo de desintegração cultural.
Eu sempre encontrei muita dificuldade no meio intelectual de meu país ao dizer: “temos uma responsabilidade direta nisto…”, em grande parte por esse alheamento que tanto caracteriza o intelectual no Brasil, essa ideia distorcida de que errados são os outros. Um país sem diálogo, que avança (não evolui) por negociações sob a mesa, subterfúgios, arranjos irreveláveis, subornos etc. Uma mesma casta se julga no direito de dissociar-se em defesa ou acusação de Cuba, Estados Unidos, Venezuela, Honduras, sob inúmeros aspectos alheia à essência, alimentada futilmente pelos efeitos de mídia. O Brasil abandonou à própria sorte sua região central e se fez cego em relação à fronteira com os demais países sul-americanos. A única ponte possível, nos dois casos, é a da prevaricação política, do tráfico em suas múltiplas formas corrosivas, a prostituição etc. Nem os poetas da região escrevem sobre o tema. Ninguém se compromete com nada neste país. Terra de Pilatos, aqui ninguém suja as mãos. O país olha para um mar fictício, talvez sonhando com D. Sebastião que venha nos trazer a glória excelsa na terra.
Contudo, a maravilha da existência humana é que os desafios não se esgotam. Concluímos este breve ciclo de dois anos da revista Agulha Hispânica, que assume nova forma de circulação dentro do Projeto Editorial Banda Hispânica, ao mesmo tempo em que inauguramos, já em janeiro de 2012, a nova fase da Agulha Revista de Cultura. Sempre contando com a cumplicidade irmã do Jornal de Poesia, avançamos em mais uma etapa, plenamente conscientes de nossa contribuição à cultura.
Abraxas
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AGULHA HISPÂNICA FINIS TERRAE
En enero de 2010 publicamos el número inicial de la revista Agulha Hispánica. Completamos ahora, en noviembre de 2011, su ciclo previsto de 12 ediciones y un total de 132 temas, todos ellos dedicados a las artes y a la cultura de la lengua española. Las cartas de navegación indican que construíamos aquí un puente en doble sentido. De un lado, la conclusión de una primera fase (1999-2009) de Agulha Revista de Cultura; de otro, el recuerdo siempre necesario de que Brasil no es un continente en sí, más bien es parte de una tierra mayor, casi en su totalidad determinada por una cultura de lengua española. Gracias a este segundo aspecto, tratamos de definir mejor nuestros proyectos editoriales, creando al lado de la ya existente Banda Hispánica un equivalente que titulamos Banda Lusófona.
A partir de enero de 2012 realizaremos una segunda fase de Agulha Revista de Cultura, de acuerdo con lo que ya anticipamos en su edición # 0 (septiembre de 2011). El conjunto de temas publicados porAgulha Hispánica podrá ser visitado por el lector interesado en cualquier momento en nuestro portal:www.revista.agulha.nom.br.
En dos años de circulación de Agulha Hispánica, hay un balance mínimo que cabe observar aquí. Hubo cierta decepción por parte de algunos colaboradores de lengua portuguesa cuando dijimos que los temas de interés de la revista se circunscribían a la cultura y a las artes de la lengua española. Un seguimiento estadístico permitió verificar que fuimos más visitados por lectores de la lengua española, que de lectores de lengua portuguesa. La idea de despertar atención, en el lector brasilero, sobre un ambiente cultural de un idioma vecino, no funcionó. El poeta argentino Aldo Pellegrini, en 1966, al publicar en España su Antología de la poesía viva latino-americana, decía en el prólogo que “Brasil y la América hispánica comparten los mismos problemas y utilizan un idioma accesible para cualquiera de las partes”. El deseo, más que una constatación de Pellegrini, es algo que no se verificó hasta hoy, excepto en un ambiente circunstancial que más refleja una justificación de la ausencia de diálogo de lo que propiamente sea un interés de aproximación cultural. Incluso en las mesas de negociaciones comerciales o diplomáticas encontramos desinterés mutuo en mayor conocimiento de la lengua o de la cultura de los países involucrados.
Brasil y América Hispánica son dos mundos desencontrados. Los puntos en común son de una gracia magnífica, sin embargo es una tierra de ciegos, en la que nadie quiere ver; los nativos simplemente se regocijan de la ceguera que impide compartir un mundo tan vasto y rico, tan múltiple y afinado en una legitimidad mestiza que dota al propio continente americano de una potencialidad envidiable. Aventurarse como lo hizo Ken Burns (1953) por las vísceras de la formación del jazz en los Estados Unidos y a partir de ese viaje hacer un documental que refleja esencialmente una riqueza mestiza, es algo que nos falta en América Latina, en el sentido de establecer diferencias, similitudes, singularidades, afinidades, un viaje musical cuyas entrañas puedan dar luces para descubrir otros viajes, en el mundo plástico, en la literatura, etc. No se justifica elegir a los Estados Unidos como un enemigo común, al mismo tiempo en que no hacemos nada por profundizar en nuestra historia y buscar conocimiento ulterior y puntos convergentes.
La historia de la colonización del continente americano es la misma, de una punta a otra en nuestra vastedad territorial, en muchos aspectos. Explotación humana y de recursos minerales, esclavitud y deformación religiosa. El balance de medio milenio no nos hace más o menos víctimas al norte o al sur. Desastres ecológicos, accidentes “naturales” provocados, racismos disfrazados en tretas de inclusión social, no hay gobiernos más o menos cretinos en toda la extensión territorial. Cada uno participa con su talento para la disgregación. Y a su manera, al modo de la conveniencia de cada uno, las castas intelectuales son conniventes, pasivas o activas de ese proceso de desintegración cultural.
Yo siempre encontré mucha dificultad en el medio intelectual de mi país al decir: “tenemos una responsabilidad directa en esto…”, en gran parte por esa alienación que tanto caracteriza al intelectual en Brasil, esa idea distorsionada de que los equivocados son los otros. Un país sin diálogo, que avanza (no evoluciona) por negociaciones bajo la mesa, subterfugios, arreglos secretos, sobornos, etc. Una misma casta se cree con el derecho de levantarse en defensa o acusación de Cuba, Estados Unidos, Venezuela, Honduras, bajo innumerables aspectos ajenos a la esencia, alimentada fútilmente por los efectos de los medios de comunicación. Brasil abandonó a la suerte su región central y encegueció en relación a la frontera con los demás países sudamericanos. El único puente posible, en los dos casos, es el de la prevaricación política, del tráfico en sus múltiples formas corrosivas, la prostitución, etc. Ni los poetas de la región escriben sobre el tema. Nadie se compromete con nada en este país. Tierra de Pilatos, aquí nadie se ensucia las manos. El país mira hacia un mar ficticio, tal vez soñando que D. Sebastián nos venga a traer la gloria excelsa en la tierra.
Sin embargo, la maravilla de la existencia humana es que los desafíos no se agotan. Concluimos este breve ciclo de dos años de la revista Agulha Hispánica, que asume una nueva forma de circulación dentro del Proyecto Editorial Banda Hispánica, al mismo tiempo en que inauguramos, ya en enero de 2012, la nueva fase de Agulha Revista de Cultura. Siempre contando con la complicidad hermana del Jornal de Poesía, avanzamos en una etapa más, plenamente conscientes de nuestra contribución a la cultura.
Abraxas
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ÍNDICE
01. La esfinge insurrecta: poesía en hispanoamérica | Floriano Martins
02. Armando Romero: magias en Cajambre | José Prats Sariol
03. De trovadores y juglares | Américo Ochoa
04. Eduardo Molina Ventura, en los días de nuestros años | Hernán Ortega Parada
05. Gaitán: la sociedad de control en los días del odio... El día del odio, de José Antonio Osorio Lizarazu | Luis Carlos Muñoz Sarmiento
06. Los autobiografemas de Cícera | Pedro Granados
07. Pablo Neruda, El habitante y su esperanza, más allá del surrealismo | Maria Aparecida da Silva
08. Premoniciones políticas y religiosas en Freddy Gatón Arce | Manuel Mora Serrano
09. ¿Qué es una Noche de celofán? Alfonso Peña y El límite del patio | Guillermo Fernández
10. Tábanos 13 poetas chilenos | Christian González Díaz
Artista convidadoEligio Pichardo | República Dominicana
La imagem popular en la pintura de Eligio Pichardo | Jeannette Miller
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quarta-feira, 18 de março de 2015
Agulha Hispânica # 12 | Editorial
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