segunda-feira, 8 de maio de 2017

FLORIANO MARTINS | Revistas hispano-americanas


I UM OLHAR NO PASSADO RECENTE | São duas as circunstâncias básicas que norteiam a criação de uma revista literária: concentram em suas páginas os postulados estéticos de um determinado movimento ou escola, ou então se realizam na simples difusão eclética de textos. Os dois casos são perfeitamente corretos desde que o editorial defina e assuma a tendência escolhida.
Mais recentemente as revistas se inclinam pela segunda opção, o que nos leva a uma aparente digressão: o que há por trás da reduzida ocorrência de movimentos literários ao longo das últimas décadas, hoje praticamente extintos? Entre os muitos valores que perdemos encontram-se o da palavra dada e o de compartilhar interesses. De todas as formas o homem foi levado a isolar-se em si mesmo e a não encontrar mais significado em honrar princípios e compromissos. Isto se deu de maneira tão simples que é um absurdo que tenhamos caído em artifício tão pouco engenhoso.
E qual foi este astuto mecanismo? Isolar imagens, conceitos, significados, ecos. Tudo passa a ter sentido isoladamente, esdrúxula falácia, como se tivéssemos um homem aqui, uma cadeira ali e uma revista mais à frente. Na medida em que ganha terreno esta falácia, deixamos de nos ver. Desacreditamos na ideia compartilhada e nos tornamos vassalos de uma autossuficiência inóspita.
Muitas vezes sem que nos apercebamos, comemoramos mais o surgimento de uma nova revista do que o marco de haver chegado alguma a seu número 100. Este número para nós soa como um escândalo. Como algo pode durar tanto? Esta é a heresia pós-moderna: que algo dure mais que um instante. Então deveríamos queimar na fogueira do esquecimento um equatoriano chamado Fredo Arias de la Canal, por haver publicado no mês passado o número 424 da revista Norte, que edita no México desde 1929. Trata-se verdadeiramente de um escândalo e não pode aqui ser tomado como base para a nossa conversa.
Contudo, podemos pensar no esforço do paraguaio Marcos Reyes Dávila que há mais de uma década edita em Porto Rico a revista Exégesis, mesmo país em que Manuel de la Puebla dirigiu, por 18 anos, a revista Mairena. E quase duas décadas levou Octavio Paz envolvido com a direção da revista Vuelta, por ele fundada. Há mais de dez anos o argentino Eduardo Mosches edita no México a revista Blanco Móvil e também há mais de um decênio Luis Alberto Crespo dirige na Venezuela a revista Imagen.
Quando se fala hoje no nome do venezuelano Juan Liscano fatalmente o vinculamos ao largo período em que esteve à frente da revista Zona Franca, uma das mais importantes de seu país. Mais recentemente não se pode deixar de mencionar os esforços de Juan Riquelme ou Gonzalo Márquez Cristo, que se encontram à frente da venezuelana Babel e da colombiana Común Presencia. São muitos países e a referência a todos seria obviamente infrutífera, quando menos cansativa.
Tenho me referido antes ao diretor do que à revista em si. Isto se dá porque intencionalmente citei revistas que pertencem àquela segunda instância inicialmente tratada, ou seja, que não se encontram diretamente vinculadas a um movimento ou a uma escola literária. Não quer dizer que não tenham um conselho executivo, a compartilhar ideias. Mas sabemos que é forte e decisiva a presença do diretor, ao mesmo tempo em que ali estão definidas linhas editoriais desvinculadas desta ou aquela tendência estética.
São revistas que buscam uma medula a partir da abrangência. E o fazem por uma razão muito simples: entendem que representam, cada uma para seu país e seu tempo, o importante papel de catalisador de tudo o que se passa à volta delas, em todo o mundo, em termos de valores literários. Nenhuma das revistas até aqui mencionadas pôs em confronto aspectos regionais, políticos, etnográficos ou quaisquer outras formas de eventual reducionismo cultural. Isto quer dizer que souberam reconhecer igual importância a uma expressão local e outra oriunda do exterior.
Encontro em algumas revistas hispano-americanas uma relevância do texto e uma despreocupação com a insustentável contagem de páginas, linhas ou caracteres exigida em outras instâncias. Não raro encontramos edições inteiras dedicadas a um único autor, ou mesmo um largo espaço destinado ao diálogo sobre determinada circunstância literária. Exemplos, temos na venezuelana Babel, que ocasionalmente surge com edição inteira destinada à revisão crítica de alguns dos principais movimentos ou grupos decisivos à história da literatura em seu país; assim como as revistas Auditorium, da República Dominicana, ou Lotería, do Panamá, costumam realizar homenagens, que tomam toda uma edição, a seus principais escritores.
Surge aqui outro aspecto a ser destacado. Estas duas últimas revistas pertencem ao Estado, a exemplo da mexicana Fronteras e tantas outras mais, ou seja, são iniciativas de uma instância governamental. Mesmo assim, alcançam isenção suficiente para avaliar a trajetória estética de determinado autor sem prejuízo de ordem alguma. O aspecto a destacar seria o Estado entender que não pode interferir no substrato da cultura que orienta a tradição de uma zona por ele administrada apenas circunstancialmente. Em outras palavras: nenhum governo, qualquer que seja a apetência política do mesmo, deve interferir no desdobramento estético de uma cultura.
Mas não nos esqueçamos daquela outra circunstância que norteia a criação de uma revista literária: o vínculo a movimentos, escolas, tendências. Em nome desta ligadura importantes revistas foram criadas na América Hispânica. Vou me referir a cinco delas em particular apenas para não tornar-me mais impertinente ou enjoativo que o devido. A cubana Orígenes, a mexicana Contemporáneos, a argentina Poesía Buenos Aires, a colombiana Mito e a chilena Mandrágora. Exceção feita a esta última, que trazia manifesta uma defesa do Surrealismo, as demais foram súmulas da efervescência cultural que lhes demarcava a existência.
Todas estiveram vinculadas a um grupo. E surgiram como um ideal comum, ou seja, como a fonte possível de um diálogo, o que se pode fazer brotar a partir da convivência de ideias. Neste sentido, creio que são as mais importantes revistas surgidas na América Hispânica. É curioso que nenhum historiador se deteve a estudá-las conjuntamente. Mais grave ainda: a fortuna crítica de algumas delas foi arregimentada pelos próprios diretores, não despertando até hoje a merecida atenção por parte de estudiosos do assunto.
A mexicana Contemporáneos foi fundada em 1929 graças a um frutífero diálogo entre poetas como Jaime Torres Bodet e Xavier Villaurrutia. Jaime havia viajado a Cuba, onde tomara conhecimento de outra publicação, a polêmica Revista de Avance (1927-1930). Entendiam então que o prestígio internacional alcançado por algumas publicações europeias poderiam se repetir a partir do México, desde que a aventura possuísse uma definição estética e fosse bem apresentada. Surgia assim revista e grupo, definindo uma das mais consistentes gerações em toda a América Hispânica.
No Chile, dez anos depois, quando já surgira o grupo Mandrágora, que tinha entre seus articuladores Braulio Arenas e Enrique Gómez-Correa, ao final de 1938 resolveram criar a revista homônima, dando sequência a um projeto editorial proposto pelo grupo. Por sete números editaram então a revista Mandrágora.
Em 1944, o cubano José Lezama Lima funda a revista Orígenes, juntamente com o crítico José Rodríguez Feo. A inquietude de Lezama já o levara a fundar três outras revistas: Verbum, em 1937, da qual saíram três números; Espuela de plata, em 1939, que alcançaria a marca de seis números editados; e Nadie parecía, com Angel Gaztelu, em 1942, que chegaria ao décimo número. Segundo o próprio Lezama, a raiz dessas publicações foi a amizade, o diálogo frequente e o respeito mútuo pelas opiniões peculiares. O nome da revista acabou confundindo-se com o de toda uma geração de escritores e artistas plásticos. Orígenes alcançou a marca de 40 números, durando até 1955.
O grupo de intelectuais arregimentado por Raúl Gustavo Aguirre na Buenos Aires de 1950 insurgia-se contra toda forma de ortodoxia, ao mesmo tempo em que refutava ingerências acadêmicas no mundo da criação literária. Assim surgia Poesía-Buenos Aires, que por dez anos se manteve em franca atividade. A revista possuía textos programáticos, o que lhe dava um caráter de movimento.
Em seu decorrer, ali próximo, em Bogotá, Jorge Gaitán Durán e Hernando Valencia Goelkel propunham um arrojado plano de desdobramento cultural. Pode-se dizer que a formação do grupo Mito, que logo sustentaria a publicação de uma revista homônima que atingiria a circulação de 25 números, foi o acontecimento mais marcante em toda a cultura colombiana, tanto pela dimensão estética quanto pela interferência no plano político. Esta é a geração de Alvaro Mutis e Gabriel García Márquez, os dois mais conhecidos dos brasileiros.
Estas revistas tinham uma raiz comum: o entendimento de que cabe ao poeta zelar pela firmeza da cultura. A partir desta frase tão simples surge uma curiosidade: qual o limite de uma cultura? Até onde a minha orelha supura por má influência da cultura alheia ou me embriago glorioso sobre os restos de uma cultura dizimada por mim? Parece que não entendemos mais a ação da rosa dos ventos sobre o território da cultura. A defesa de uma expressão artística não pode estar vinculada a uma ramificação estética, mas o contrário jamais será dispensável. Não importa o quanto Velázquez era barroco, mas sim o quanto que o barroco espanhol foi expresso a partir da obra de Velázquez. Este deslocamento indevido tem sido a raiz de grande parte do prejuízo que hoje resulta de um inventário da produção artística em nosso tempo.
De volta às revistas, hoje raridades só encontradas em coleções especializadas, como vimos, à frente delas estiveram alguns dos mais destacados poetas hispano-americanos deste século: José Lezama Lima, Xavier Villaurrutia, Raúl Gustavo Aguirre, Jorge Gaitán Durán e Enrique Gómez-Correa.
Mas não as tenhamos aqui como casos isolados. No áureo período das vanguardas surgiu um verdadeiro enxame de revistas, algumas das quais com amplo destaque, a exemplo da peruana Las Moradas, dirigida por César Moro e Emilio Adolfo Westphalen, ou a argentina Ciclo, que trazia Enrique Molina e Aldo Pellegrini à frente.
O que nos cabe aqui, além do informe geral, é compreender que as revistas literárias não se apartam de um leque de plumas sagradas da atividade humana na terra. O que isto quer dizer? Que não fazemos revistas e fazemos cadeiras e fazemos amor, como aspectos isolados de uma mesma natureza humana. Somente a estultice crê em uma gaveta desorganizada combinando com paz de espírito. O que isto quer dizer? Que revistas literárias não são anfetaminas ou jogos de guerra. Como somos dados à fraude, sempre levamos o meio para cama e o tratamos como fim.
O que isto quer dizer? Que o empecilho real na edição de uma revista não é seu aspecto financeiro, mas antes o caráter da iniciativa. Mesmo diante da dificuldade financeira, o que se tem que discutir é como validar meios. Embora seja imenso o abismo procriado pelo equívoco entre os valores da fé e a fé em valores, a verdade é que o homem não é nada senão aquilo em que acredita. As revistas literárias nada são a não ser uma das formas de crença do homem nos valores humanos.

II UM ENCONTRO DE DUAS LINGUAGENS | Já por três números seguidos tenho comentado aqui em O Escritor a respeito de importantes revistas literárias e de cultura existentes na América Hispânica. Reitero que o trabalho que seguem realizando os diretores dessas publicações assume um peso extraordinário – e talvez único – quando o assunto em pauta é o relacionamento das inúmeras culturas que constituem o continente americano. Mais curioso ainda é observar que, em grande parte, esses editores são poetas, ou seja, uma vez mais a poesia situada como uma ponte erguida acima de todas as eventuais dispersões, impedindo o homem de realizar-se em sua plenitude.
Já havia comentado aqui nestas páginas sobre a revista mexicana Alforja, mas agora devo mencioná-la uma vez mais, apenas para registrar que a edição # 19 desta notável publicação dedicou a totalidade de suas 170 páginas à poesia brasileira, ali incluindo mais de 40 poetas de distintas gerações e tendências. Também outra revista já destacada nesta série de artigos, Archipiélago, prepara-se agora para a circulação de uma edição especial dedicada à cultura brasileira. Em função do lançamento de Alforja, em maio passado, estive no México, e ali pude conversar com os editores de ambas as publicações, o que naturalmente reforçou nossa cumplicidade no sentido de se buscar uma interação entre nossas culturas.
Nessa ocasião, pude ainda encontrar-me com Eduardo Mosches, editor de uma terceira revista, Blanco Móvil que, por duas vezes (anos 80 e 90) dedicou números especiais à poesia e à prosa no Brasil. Com todos eles conversei e pude sentir o carinho imenso que têm por nossa cultura, um profundo e, por vezes, excessivo respeito. E justifica-se o excessivo justamente pelo que nos falta de perceber a própria importância do que fazemos, sem falar no fato de que o empenho dos mexicanos, por exemplo, em buscar um diálogo com a cultura brasileira não é compensado por nós em momento algum.
A partir da conversa que tive com Eduardo Mosches, de Blanco Móvil, surgiu-me a ideia de sistematizar uma enquete para as páginas de O Escritor, algo que nos permitisse uma leitura mais dinâmica desse jogo mútuo de conquistas e obstáculos que temos que enfrentar os editores de revistas. Parti de quatro indagações básicas, a respeito da origem, concepção editorial, relações com publicações similares e com a imprensa de uma maneira geral. Outra perspectiva a ser acrescentada aqui é o surgimento de revistas virtuais ou de publicações que circulam, utilizando os dois meios, impresso e virtual. O Brasil tem uma dificuldade, bastante coerente com nossa política de alheamento, de perceber a importância crucial de fazer circular bens de cultura pela Web. Esta é uma etapa da contemporaneidade em que apenas a marginalidade cultural lhe há compreendido os mecanismos de ação. Nem mesmo as agências de publicidade ou os godmakers que comandam as campanhas eleitorais perceberam ainda a importância do veículo.
Observemos, por exemplo, em uma Argentina que vive hoje uma situação bastante reveladora dessa ausência de diálogo entre culturas latino-americanas, como funciona o grupo Paginadigital, de circulação apenas virtual, mas com uma penetração extraordinária dentro e fora do país. Ao conversar com seu diretor, Pablo Castro, me disse que "o crescimento de Paginadigital superou nossas expectativas e tem se diversificado bem além do que havíamos planejado no princípio, estando atualmente com um volume de 3.500 visitas diárias e um total superior a um milhão de visitas desde a data de criação do site, ao final de 1999". Paginadigital é um veículo de circulação de textos que lhes são remetidos por outras publicações. Disse-me ainda Pablo que o site foi criado "basicamente como um meio solidário para unir ideias e forças para resistir à desumanização do sistema capitalista e liberal atual".
Esta compreensão de uma atuação política, sem descaracterizar o conteúdo estético veiculado, lhe dá uma solidez extraordinária. Paginadigital tem sido um valioso veículo de informação acerca das atividades culturais dentro e fora da Argentina. Penso nisto quando, na conversa com Eduardo Mosches, da mexicana Blanco Móvil, ele me diz que "as relações com as revistas do continente, lamentavelmente, são poucas, e espero que através de vocês possamos abrir nossa comunicação e participação em outras revistas". Ora, esse isolamento deve ser rompido em suas duas margens. É curioso que Mosches me diga isto, porque justamente a Blanco Móvil tem sido revista a dedicar seguidamente edições especiais à literatura de vários países, incluindo os latino-americanos.
Conheçamos um pouco mais de Blanco Móvil. Segundo Mosches: "A revista nasce em 1985, como publicação de uma livraria foro, que é a Gandhi. Logo no princípio é de um tamanho pequeno, como um folheto teatral, de 24 páginas, com uma seção central dedicada a um escritor. A relação com a livraria durou até 1988, momento em que nos separamos dessa empresa e nos tornamos independentes. Já havíamos modificado o formato, já se encontrava no formato carta. A partir da independência realizamos uma mudança de capa e ampliação do volume, chegando a 56 páginas. A capa passava a ser a cores. Foi difícil esse processo de independência, mas pouco a pouco obtivemos certa estabilidade econômica, que tornou possível, nos melhores momentos, uma circulação de quatro números por ano."
Em seguida lhe indaguei a respeito de um balanço possível entre o buscado e o alcançado, ao que me respondeu: "A concepção editorial era a de apresentar o afazer literário de setores menos conhecidos, seja em âmbito nacional ou internacional. Com isto se quer dizer que a intenção era a de apresentar escritores de qualquer parte, que não necessariamente formem parte do aparato e presença editorial internacional. Não há excessivo interesse em mostrar os que já são conhecidos, mas sim aqueles que vão concretizando suas apostas literárias em cada país, inclusive o México. Por outro lado, buscamos temas que não são tão recorrentes. A partir daí podemos dar exemplo nos números dedicados a Utopia e Literatura, Poetas e Narradores Catalães, Literatura Danesa, Boliviana, Filosofia e Literatura, Literatura Indígena no México e na América Latina. Angola, Israel, enfim, nos aproximamos de múltiplos segmentos e aspectos da literatura, sem nos tornarmos seguidores dos boom literários. Além do que há um marcado interesse em apresentar a produção poéticas das gerações mais jovens."
E logo falamos sobre as recepções na imprensa do trabalho magnífico que vem realizado: "Ao longo dos 17 anos de existência de Blanco Móvil, tivemos, no geral, uma boa acolhida da imprensa e diversos meios de comunicação. A primeira etapa era de enviar a revista aos jornalistas relacionados com o meio literário e cultural, mas percebemos que isto não era suficiente. Portanto, se decidiu realizar uma ou duas apresentações públicas com a aparição de cada novo número. Esses lançamentos eram realizados com um caráter interdisciplinário, uma vez que deles participavam, além de alguns autores incluídos na edição, um par de atores que leem os textos literários, poemas e contos, e a noite se completa com a apresentação de algum músico. Isto há gerado um apoio maior por parte da imprensa, rádio e televisão, através de crônicas, entrevistas ou simplesmente notas de informação."
Como disse anteriormente, esse primeiro diálogo com Eduardo Mosches me levou a sistematizar uma conversa mais detida com editores de várias revistas. Algumas delas são frutos de um convívio pessoal, cujo componente mais importante é a realização de projetos comuns. Exemplo disto foi a maneira com que me recebeu na Costa Rica o editor de Fronteras, Adriano Corrales. Ali podemos planejar umas tantas ações que começamos a concretizar em termos de aproximação de nossas culturas. Porém ladeio aqui seu depoimento do que me enviou por meio eletrônico o chileno Omar Lara, editor da revista Trilce. Julgo importante destacar o trabalho de ambas, a costarriquenha inteiramente patrocinada por uma universidade, enquanto que a chilena sem apoio institucional de espécie alguma. Não as situo aqui como ações contrapostas, mas antes como uma referência a distintas maneiras de se produzir algo consistente.
Vejamos o que nos diz primeiramente Adriano Corrales: "A revista Fronteras nasceu como um projeto de extensão cultural de um departamento do Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR), no ano de 1994. Seu primeiro objetivo foi converter-se em um espaço editorial para dar a conhecer as distintas investigações que vinham realizando nossos professores no que respeita ao âmbito das culturas populares. Até o presente foram publicados 9 números semestrais. Porém, na medida em que se foi desenvolvendo o projeto (a partir do terceiro número), fomos nos inteirando da existência de um vazio em relação a revistas culturais que mantivessem um perfil intermediário entre a revista especializada e a revista popular, formato que perseguíamos desde o princípio. Assim é que, além da ênfase antropológica, histórica e sociológica, fomos abrindo espaço para outros aspectos, tais como a literatura e a arte em geral. Por outro lado, começamos a receber colaborações de distintos países latino-americanos onde, imprevisivelmente, a revista foi chegando graças à ação de amigos e colaboradores."
Indaguei a Adriano como a revista sobrevive: "Fronteras hoje se financia basicamente com a verba do ITCR e com a venda de exemplares, mas estamos abrindo a venda de publicidade como uma colaboração e apoio a este projeto editorial. Ela é distribuída em várias livrarias de San José, Heredia, Ciudad Quesada e Cartago. Mas também pode ser encontrada em Bibliotecas, Centros Culturais e Salas de Teatro. E as assinaturas estão franqueadas segundo anúncio no próprio expediente da revista."
E agora nos fala o chileno Omar Lara, editor de Trilce: "A revista nasceu paralelamente ao grupo de poesia Trilce, em março de 1964, em Valdivia (Chile). Até 1973, quando praticamente toda a nossa geração desapareceu do mapa literário chileno, a revista publicou 16 números, com uma regularidade muito irregular. Ocorre que a revista era um de nossos afãs, não o único. Nos anos 1965 e 1967 organizamos os primeiros encontros da Jovem Poesia Chilena, em Valdivia. Também foram publicados alguns livros individuais de membros do grupo e nos sentíamos bem envolvidos com os movimentos sócio-políticos daquele momento."
E como seguiu a revista, quais novos rumos ela tomou?
"Depois, no exílio em Madrid, publicamos três números, entre 1981 e 1983. De volta ao Chile, já em Concepción, reiniciamos a publicação dentro do que chamamos de uma Terceira Época. E nisto seguimos empenhados até hoje. Uma vez que não temos auspício institucional nossa frequência é imprevisível. Quis torná-la quadrimestral, mas a realidade nos impõe uma circulação semestral. Mesmo ciente de que defenderei até onde possa essa periodicidade, não tenho nenhuma garantia quanto a isto. Trilce tem sido apresentada diretamente em países como Peru, Equador, Espanha, Alemanha, Argentina, e através de amigos em vários outros: Estados Unidos, México, Uruguai, Portugal. A rigor, a revista é uma revista de amigos, o que não está mal, certamente. Temos muitos leais entusiastas, generosos amigos. Sempre pensei em Trilce como uma publicação propiciadora de diálogos. Tenho consciência de que em vários momentos fomos uma janela através da qual muitos poetas e leitores em geral puderam conferir as ocorrências poéticas de outros lugares, através de entrevistas, poemas, traduções, correspondência etc."
As duas possibilidades de condução de um processo editorial permitem aclarar que em nada se justifica a inércia encontrada no Brasil. Dentro ou fora do que nos habituamos a chamar de "sistema", apenas reagimos e mesmo assim com um ar paranoico (presunçoso) que pouco ou nada constrói. A seguir incluímos a montagem em dez blocos de um autorretrato da revista Lote, argentina, desenhado por seu editor, Fernando Peirone:

1 – Tipo de material que publica.
– Em traços gerais se poderia dizer que é uma revista de crítica cultural e política.
2 – O rol das revistas culturais na Argentina.
– O papel das revistas culturais, que na Argentina têm uma grande tradição, é o de dar circulação a um saber e um agir que não se movem no mundo oficial, o papel de introduzir debates e traduções que habitualmente não são manuseados nos círculos comerciais, o de proporcionar ferramentas alternativas para a abordagem do público (e do privado), o de dar a conhecer as expressões artísticas e culturais novas, diferentes.
3 – A qual público se dirige?
– Dirige-se a um público heterogêneo. A invenção dos convênios – revistas para repartir entre sócios, clientes etc. – como forma de distribuição, nos possibilitou que a revista não dependa das vendas e que em menos de dez dias esteja completamente distribuída, em mãos de jovens, velhos, empresários, professores, intelectuais etc., obrigando àqueles que participam conosco a rever sua linguagem e suas maneiras de dizer; o mesmo ocorre com os leitores que, ao recebê-la, se dão conta que é uma revista que – no polo oposto do videoclipe – demanda tempo daquele que se disponha a lê-la. Este sistema de distribuição ingressa na revista em uma paisagem que de outra maneira – se dependesse exclusivamente da venda – não chegaria.
4 – Como se relacionam com a realidade?
– Não nos relacionamos com a atual nos tempos de imediatismo que exige um diário, mas sim com a distância e a implicação necessária para discorrer criticamente sobre a época que nos tocou viver.
5 – Lote é lida por gente jovem?
– Sim. A revista tem um suplemento jovem de educação cooperativa que chega gratuitamente (subvencionado por distintas cooperativas do sul de Santa Fe) aos terceiros e quartos anos das escolas secundárias, provocando debates e sendo utilizado como material complementar de estudo.
6 – Busca consagrados ou busca descobrir vozes novas?
– Em Lote participam consagrados em meio a um coro de vozes anônimas – como a daqueles que fazemos a revista – e politonais que lhe dão um perfil diferente, do interior, não dando ouvidos aos mandatos portenhos de correção cultural.
7 – E esses jovens buscam algo distinto do que procuram os de gerações passadas?
– Sim, há um conceito diferente do que é cultura. Não lhes interessa tanto a práxis social do pensamento quanto a possibilidade de aplicá-lo a uma qualidade de vida mais digna. Embora menos comprometida politicamente – no sentido tradicional do termo  –, a juventude edifica seus entornos com modelos políticos explícitos, tolerantes, abertos, à medida de um mundo que sonham e não conseguem trasladar além de seus grupos de origem. Este é um pouco o padecimento que lhes obriga a pós-modernidade.
8 – Lote promove polêmicas, debate, intercâmbio de ideias?
– Permanentemente. Em cada número se questiona o status quo e são liberadas salvas de pensamento crítico.
9 – Em um passado não muito para trás, os escritores reconhecidos colaboravam neste tipo de publicações. Com reagem hoje?
– São reticentes, estão em seu lugar e pouco lhes dá que as revistas culturais dediquem-se à difusão de seus trabalhos. Menos ainda lhes importam ler manuscritos de novos escritores. Existe, no entanto, uma tradição que se conserva viva e ativa, participando em cada um desses empreendimentos. Grande parte dos colaboradores de Lote pertence a essa casta de descastados.
10 – Há uma disputa entre as versões impressa e virtual?
– Até o momento não. Nossa revista tem uma página web desde o número inaugural, onde são publicadas as matérias mais importantes de cada número e, se temos uma acentuada visita diária ela quase sempre corresponde a leitores estrangeiros – porque lhes resulta mais fácil e menos custoso visitar a revista na tela do que assinar a versão impressa. Mas são, até o momento, públicos diferentes.

Esta conversa com Fernando Peirone, editor de Lote, é bastante reveladora de uma série de aspectos que seguiremos tocando nos próximos artigos. O que estamos propondo aqui, nas páginas de O Escritor, não tem caráter conclusivo, mas antes arregimentador de um diálogo essencial entre editores de revistas em âmbito continental. Fujamos das relações de bairro ou quadrilhas, e busquemos a representação mais substanciosa de uma cultura. A realidade constituída de uma nação não se encontra definida por seus políticos ou economistas, mas antes por aquela fatia empenhada, sob diversos enfoques, na formação e identificação de um caráter cultural.

III DESTACANDO TRÊS REVISTAS | Investimentos na produção cultural tendem a crescer ou diminuir de acordo com o influxo de nomes envolvidos ou com a solidez das propostas apresentadas? Predileção por aquelas produções com maior potencial de visibilidade definiria o assunto? A questão giraria unicamente em torno do estratégico lobby? Essas indagações me vêm à tona quando penso nas razões da rara circulação de revistas de cultura no Brasil. Rigorosamente não temos tradição alguma nessa área de produção cultural. Se eu penso no aspecto da credibilidade, logo me pergunto o que leva o Banco Santander Mexicano a investir em uma publicação naquele país. O próprio estado mexicano, através do IMSS – equivalente de nosso INSS –, com alguma frequência patrocina revistas de cultura. Igualmente contribuem as universidades, privadas ou não. Caberia então pensar no impedimento de circulação de informação e reflexão cultural, no Brasil, através desse veículo de comunicação.
Em 1997 a UNESCO deu respaldo cultural à revista Archipiélago, do México, considerando-a importante instrumento de integração cultural latino-americana. O fato coincidia com o segundo aniversário da publicação, e seu diretor, Carlos Véjar Pérez-Rubio, sentia orgulho ao dizer que Archipiélago se trata de "uma publicação nascida no México em 1995 como expressão de um vasto projeto cultural que tem o propósito de contribuir para a unidade dos povos da América Latina e do Caribe, incluindo as comunidades de origem hispana residentes em países como Estados Unidos e Canadá". É bem verdade que a revista surgiu em 1992, quando teve o número zero publicado, e desde aquele momento buscou articulação entre os vários países estabelecidos como meta, até finalmente definir uma política de ação e conta hoje com 31 números publicados, rigorosamente dentro de uma circulação bimestral.
Carlos Véjar nos informa um pouco mais: "O projeto Archipiélago e sua revista tem se apresentado até aqui em importantes eventos culturais realizados em Barbados, Bolívia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, França, México, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela. Sua proposta de articular uma rede de centros culturais onde se possa desenvolver o movimento cultural integrador, intitulada Casas de Nossa América, tem sido recebida com grande interesse e várias instituições se manifestaram dispostas a apoiá-la." Archipiélago surge não isoladamente como uma revista de cultura, mas antes como um sólido projeto de integração cultural, que envolve tanto a criação de um programa editorial como o fluxo de navegação, a circulação pelos vários países, troca de ideias etc.
A revista em si tem desempenhado um duplo e importante papel, o de informar acerca de produções culturais em praticamente toda a América e discutir mais detidamente aspectos essenciais à compreensão dessa realidade. Tanto encontramos abordagens genéricas – a dimensão cultural da globalização, a cosmovisão centro-americana – como específicas – estudos sobre a obra de inúmeros artistas, ao lado de ensaios fotográficos, poemas, entrevistas etc., abrangendo um universo amplo de criação e crítica.
Some-se a isso a realização de encontros que propiciam a discussão em torno de perspectivas culturais envolvendo o continente de fala hispânica e suas relações complexas. Naturalmente que o Brasil poderia participar desse importante projeto não fosse tão leviana a concepção de si mesma que define nossa cultura. A complexa leitura que nos cabe acerca de uma unidade latino-americana é assunto tratado com diversidade e frequência em Archipiélago, o que permite compreender melhor a trama que envolve matizes culturais que se aproximam e se distanciam entre si. Haverá aspectos de ordem política ou econômica separando o Brasil da América Hispânica? Como aplicar a estatística em nossa condição irmanada de terceiro mundo? O idioma definirá o panorama cultural? Naturalmente não se pode aqui falar em unidade perdida. Quando menos o assunto seria da ordem de uma falha estratégica, de uma veleidade cultural.
As páginas de Archipiélago estão tomadas de discussão dessa ordem, buscando elucidações e ambientação prática para o tema. Ao mesmo tempo, em momento algum se deixa de considerar a criação artística, reproduzindo obras plásticas e versos, sempre cuidando de não se tornar refém dos nomes recorrentes, buscando uma cumplicidade de pauta entre o conhecido e o desconhecido, papel fundamental que deve desempenhar um editor em qualquer circunstância.
Archipiélago bem poderia encontrar entre nós uma correlação de interesses com a revista Nossa América, da Fundação Memorial da América Latina. Não resta dúvida que há um aspecto aproximativo, quase confluente, na leitura de pauta de ambas as publicações. E logo ressurgem as inquietações: por que não abraçamos uma causa – qualquer uma – com veemência? Com que gratuita indiferença ou superioridade nós observamos os hispano-americanos? E o que impede uma produção consistente que permita a circulação sistemática de Nossa América? Romper isolamentos provocados pela presunção talvez seja um bom estopim.

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Ao contrário do México, onde se pode contar com uma larga tradição na circulação de revistas culturais, no Panamá o que encontramos é um território bastante inóspito, onde a atividade intelectual carece de condições diversas de produção e difusão, não havendo editoras e sendo bastante reduzido o número de livrarias. Em meio a este quadro, torna-se ainda mais abnegado o esforço do poeta e prosador Enrique Jaramillo Levi em manter funcionando a revista Maga, criada por ele há quase duas décadas.
Em conversa com ele, revela-se a origem da revista: "Maga nasce em fevereiro de 1984, o mês em que morre esse grande escritor argentino, Julio Cortázar. Seu nome tem dois significados: é uma homenagem a ele pelo personagem de La Maga em seu famoso romance Rayuela; mas também esta revista é, e tem sido desde o princípio, uma verdadeira maga da cultura literária no Panamá, pela dificuldade que significa fazer cultura neste país, ter estímulos, receber apoio econômico, inclusive ter leitores fiéis ou permanentes… é como tirar coelhos de cartola e lenços das mangas, embora seja muito mais difícil, porque vivemos ainda a fazer malabarismos e aparentes mágicas para seguir adiante sem cair o nível de qualidade gráfica e de conteúdos, sem deixar-se vencer pelos numerosos obstáculos."
Maga tem representado um papel fundamental na cultura panamenha, sobretudo no que diz respeito à literatura e à reflexão crítica sobre cultura e sociedade. "Espaço aberto à criatividade literária e à análise crítica", como ressalta Jaramillo Levi, em sua página receberam acolhida generosa tanto escritores já conhecidos como também tem sido palco de estreia de muitos deles, mostrando-se igualmente aberta ao dialogar com a cultura de outros países.
Pergunto-lhe então como tem funcionado Maga durante tantos anos: "Maga já morreu duas vezes, e por duas vezes ressuscitou. Sempre por motivos econômicos. Suas três etapas são: 1984-1987; 1990-1993; 1996 até o presente. Agora é uma coedição entre a Fundação Cultural Signos, que presido, e a Universidade Tecnológica do Panamá, onde sou coordenador de difusão cultural. Mas estamos entrando uma vez mais em uma etapa difícil. Há uma forte contração econômica no país e os empresários estão fechados no apoio à cultura (nunca fizeram muito por ela), de maneira que no momento estamos circulando sem anunciantes."

FM | O que representa esta Fundação no âmbito da cultura panamenha?

JL | A Fundação Cultural Signos nasce em abril de 1997 como uma alternativa à indiferença e incapacidade dos governos de turno para implementar uma política editorial coerente e sólida que contribua para tirar do anonimato um número considerável e crescente de novos escritores panamenhos que, já a princípio da década de 90, têm material literário de uma qualidade mais que decorosa e, além do mais, desejos de dá-la a conhecer como um primeiro passo para seu desenvolvimento intelectual e humano.

FM | Além da função editorial e da coprodução da revista Maga, o que mais tem realizado?

JL | Como complemento às iniciativas editoriais desta Fundação, também propusemos, desde o princípio, duas outras, igualmente importantes para a formação de novos escritores de talento: a docência – criação de seminários, oficinas literárias, conferências e mesas-redondas com temas afins à literatura, organização de encontros de escritores e lançamento de livros – e a criação de incentivos literários específicos.

Nos 45 números até aqui publicados, a revista Maga é o mais sólido veículo de difusão da literatura no Panamá. Deveria haver um esforço conjunto de toda a parcela da sociedade panamenha que lida com cultura, no sentido de não se permitir a extinção desse empenho estoico de Jaramillo Levi, pelo notável estímulo à criação literária em que se converteu. Fato é que as duas entidades que a mantêm hoje são responsáveis pela produção majoritária de livros no país. E Maga é a câmara de eco de toda essa produção. Eventuais discrepâncias devem ser consideradas em aberto, e levadas a público, o que só reforçará o panorama cultural no Panamá.

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Quaisquer dificuldades apontadas até aqui em nada justificam a inação e a má aplicação de recursos. Em muitos países a condição é quase inteiramente nula no que diz respeito à produção de uma revista de cultura. Em outros simplesmente o obstáculo radica em uma sutil manifestação da usura, o inconciliável ego daqueles que detêm situações decisivas de poder (qualquer poder).
Vem da Costa Rica um exemplo de desprendimento e compreensão da realidade dada. O contista Alfonso Peña, hoje ao lado do poeta Guillermo Fernández, edita a revista Matérika. Com apenas três números publicados, a revista já afirma uma ousadia estética, ao somar obra gráfica e literária em um objeto que se destaca pela contundência plástica e intelectual.
A cada edição é convidado um artista plástico, que a ilustra completamente. Os dois primeiros números foram ilustrados pelos artistas costarriquenhos Mario Maffioli e Hernán Arévalo, enquanto que o terceiro esteve a cargo do brasileiro Eduardo Eloy. Em suas páginas já foram publicados escritores como Saúl Ibargoyen, Alfonso Chase, Mario Camacho, e inclusive uma larga apresentação de poetas brasileiros, incluindo Claudio Willer, Dora Ferreira da Silva e José Santiago Naud, dentre outros.
Contudo, o que importa aqui destacar é a antecedência deste projeto, cujo primeiro momento encontramos ainda nos anos 1980, quando o mesmo Alfonso Peña cria a revista Andrómeda, aventura originária que circulou em duas dezenas de números e propiciou um diálogo entranhável entre escritores e artistas na Costa Rica e diversos outros países. Diante de impedimentos corriqueiros, a revista acabou deixando de existir. Nos anos 90 surgiria um segundo momento, desta vez em forma de jornal, cujo nome era International Graphiti, também com circulação de mais de 10 números.
Em todos estes momentos esteve sempre presente a determinação de Alfonso Peña pelo estímulo ao diálogo como maneira decisiva de se fazer uma determinada cultura compreender-se a si mesma, vindo então a afirmar-se como tal. O registro de marca Andrómeda hoje foi convertido em uma galeria de arte que igualmente desempenha funções editoriais, por onde se publica a revista Matérika.
O que melhor caracteriza uma defesa estética de Matérika é a abertura para um diálogo internacional, talvez medida de um cosmopolitismo que encontramos em San José, mas, sobretudo, uma compreensão de que os governos em nossos países, na América Latina, já são suficientemente responsáveis por toda forma de isolamento. Sendo uma afirmação de pluralidade, Matérika é igualmente uma afirmação da cultura costarriquenha.
Ao lado da revista, confirmando o projeto inaugural de Alfonso Peña, que reúne nomes de peso na cultura daquele país, consolida-se galeria de arte, produtora de vídeos e editora, permitindo um raio de ação mais amplo e consequentemente um diálogo mais consistente.

IV VASO COMUNICANTE, DE MÉXICO | Vaso comunicante foi outra publicação notável, surgida em Oaxaca nos últimos anos do século passado, sob a direção de Ludwig Zeller e Susana Wald, com quem tive a oportunidade de conversar:

FM | Quando surgiu Vaso Comunicante e em quais circunstâncias editoriais?

LUDWIG ZELLER | Hace cinco años conocí a César Mayoral Figueroa que había tratado de hacer una revista similar y no le había resultado. Nos entendemos bien y al momento tenemos ocho números publicados.

SUSANA WALD | César Mayoral Figueroa es un médico cirujano, psicoanalista, filósofo, escritor, y mecenas. Ha participado en el taller literario de Ludwig Zeller de donde surge la revista Vaso Comunicante en primer término. La revista ha existido con anterioridad, hace unos 18 años, cuando la dirigía un escritor de la Ciudad de México. En esa época César Mayoral era Rector de la Universidad de Oaxaca.

FM | Qual a razão de seu nome?

LZ | Muchas de las personas que han colaborado han estudiado medicina y es una frase común para ellos. Vasos Comunicantes ya fue empleado por Breton hace ochenta años.

SW | Vasos comunicantes, de donde Breton toma también el título para su texto, son el punto de contacto entre las arterias y las venas, en el sistema capilar dentro del sistema circulatorio de nuestros cuerpos. A mí me llama la atención que se habla de sólo uno de esos elementos, de un vaso y no de la conjunción de dos, que es el caso cuando la terminología se usa en el plural. Así queda como el vaso que va hacia la conexión, o viene de ella.

FM | Como a revista convive com outros projetos similares em todo o país?

LZ | Tenemos poca relación y el interés principal de la revista es que tenga textos de primera calidad o material inédito en español.

SW | La relación formal entre las revistas en México es poca, porque no hay una tradición de corresponsalía o de intercambio de cartas. Las personas que ven la revista, siendo editores de otras, la admiran, por su calidad. Hay muchas revistas en México. En Oaxaca hay por lo menos media docena.

FM | Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc?

LZ | Estamos muy interesados en hacer varios números y tenemos un espléndido material. Al momento Susana Wald y yo mismo somos los que llevamos todo el peso del trabajo, y el tiempo es escaso.

SW | Creo que la revista tiene relevancia, y que se ha podido establecer como cosa que ya se conoce. La dificultad está en que la hacemos sólo dos personas. Ludwig selecciona el material y yo hago el diseño, la lectura de pruebas la hacemos los dos, y yo hago también traducciones, donde es necesario y veo la producción en preprensa y en la imprenta.

FM | Vaso Comunicante circula apenas em versão impressa ou há também um módulo virtual?

LZ | Sólo en versión impresa.

SW | No hay versión virtual.

FM | Como funciona sua difusão?

LZ | La mayor parte de la revista la regalamos. También se puede encontrar en librerías de Oaxaca y hacemos envíos a otras ciudades.

SW | Se vende en librerías de Oaxaca y se regala muchos ejemplares. 

FM | Como veem as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura?

LZ | Me parece una herramienta extraordinaria, pero frágil.

SW | El Internet me parece un magnífico instrumento para las personas que tienen tres cosas: una computadora, una buena conexión telefónica y tiempo. Para las primeras dos cosas en especial se necesita tener dinero. Luego el resultado de lo encontrado, cuando se tiene tiempo, se debe almacenar o imprimir. Todo ello requiere fondos. Es poco eficaz como herramienta en lugares pobres como Oaxaca, donde la infraestructura es muy deficiente. No contamos ni siquiera con un suministro seguro de luz y conseguir teléfonos eficaces es trabajo de titanes. Yo diría que en Oaxaca si quieres hacer algo virtual, alcanzas quizás un dos por ciento de la población. ¡Eso, porque soy optimista!

V COMÚN PRESENCIA, DE COLOMBIA | Para finalizar este nosso passeio sobre algumas das principais revistas da América Hispânica, eu quero recordar uma das mais brilhantes, Común Presencia, criada e dirigida por um valioso casal de poetas: Gonzalo Márquez Cristo e Amparo Osorio. Gonzalo morreu há pouco, porém antes de sua morte pude conversar com o casal, quando a revista ainda estava em ampla atividade:

FM | Quando surgiu Común Presencia e em quais circunstâncias editoriais?

GONZALO MÁRQUEZ CRISTO |  En 1989, como una opción sensible, necesaria en un país asediado por la guerra y por los manejos excluyentes de la cultura oficial. Así, sin ningún apoyo institucional ni oficial hemos llegado al número 16 y en sus páginas han aparecido entrevistas a grandes escritores y pintores universales, realizadas todas personalmente, y a su lado traducciones de poetas poco conocidos en nuestro medio.

AMPARO OSORIO | No ha sido fácil sacar adelante una Revista que no se parece a ninguna de las publicadas en nuestro medio. Las circunstancias editoriales han sido difíciles y casi siempre se termina publicando con recursos propios. Pero sin duda desde su primera aparición ha creado una secta de seguidores.

FM | Qual a razão de seu nome?

GMC | Rendir un homenaje al gran poeta francés René Char, cuya poesía filosófica siempre nos ha deslumbrado. Y proponer una común presencia, urgente para enfrentar la destrucción, la desolación y la desesperanza.

AO | Como afirma Gonzalo Márquez, es concitar una obra cumbre de un poeta que como René Char siempre estará entre nosotros

FM | Como a revista convive com outros projetos similares em todo o país?

GMC | Cada publicación tiene su espacio definido. La nuestra de periodicidad “esporádica”, propone llevar al lector el pensamiento de creadores a través de las más de 30 entrevistas que han aparecido en sus páginas y la poesía reflexiva de autores de otras lenguas (portuguesa, francesa, italiana, inglesa…) que no han tenido difusión en Hispanoamérica.

AO | Común Presencia es una revista que ofrece otros matices diferentes a las tradicionales publicaciones de Colombia. Quizá eso la hace diferente, pues su médula principal es la poesía y aunque abarca todos los géneros literarios, nunca se ha propuesto dar cabida a las nuevas tendencias light que tanto afectan al arte actual y por consiguiente a muchas publicaciones que no teniendo nada que decir, acuden al facilismo y a la frivolidad.

FM | Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades, novos planos etc.?

GMC | La situación de la revista siempre es crítica. Creemos que cada número es el último y eso que pareciera ser un hecho desdichado es también propicio, pues esa suerte agónica nos condena a ser muy exigentes en la selección del material y a que todo lo publicado esté provisto de esencialidad.

AO | Ya es bien sabido para nosotros que es una publicación difícil de sostener en un lapso determinado. Nunca podríamos decir que su aparición es trimestral, semestral o anual. Esto es del orden del milagro. Y aunque siempre contamos con valioso material, la consecución de la pauta cada día es más ardua. Lo importante finalmente es que cuando se logra un nuevo número, hay muchas presencias comunes que lo festejan y eso es lo maravilloso, la magia que discurre en un escenario imprevisto.

FM | Común Presencia circula apenas em versão impressa ou há também um módulo virtual?

GMC | Por ahora circula sólo en versión impresa.

AO | No sé qué tan perdurable podría ser una versión virtual que de hecho creo que ocupa sólo una inmediatez. Preferimos siempre de todos modos nuestra revista impresa, porque representa esa especie de tótem que puedes abrazar, oler y contemplar. 

FM | Como funciona sua difusão?

GMC | En forma secreta y casi obsesiva, y si las palabras secreto y sagrado tienen el mismo origen como se ha dicho, creemos que es el camino necesario. Sin embargo a causa de la Colección Los Conjurados, que se edita a la sombra de la revista, la cual tiene más de 20 títulos, y ahora circula en cinco países, pero reitero, de manera secreta y sagrada.

AO | De una forma muy marginal. Es preciso que así siga siendo. Pero siempre llega a sus destinatarios. A su destino. Es como esa botella de náufrago lanzada al mar que encuentra al fin la playa predestinada.

FM | Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura?

GMC | Me parece fundamental, creo que es un magnífico medio de información, de aproximarse a nuevas voces, de estar enterado de nuevas publicaciones, del estreno de nuevas obras cinematográficas y escénicas, en fin, de conocer nuevas búsquedas, aunque creo que la comunicación tal vez se halle más en la lectura íntima de un libro impreso, que en la rápida lectura de un texto en un computador. 

AO | Es interesante. Pero creo que funciona más para noticias y textos breves. Para un hallazgo quizá. Pero en la extensión de un libro y en la profundidad que él requiere no creo que se den las condiciones necesarias.

FM | Pediria ainda informações a respeito da criação da Fundación Común Presencia e da coleção de livros – Los Conjurados – que vocês vêm publicando.

GMC | La Colección Internacional de Literatura Los Conjurados fue creada hace dos años. En el género de poesía hemos publicado más de veinte títulos entre los cuales resaltaría los libros de: Trakl, Adonis, Juarroz, Ungaretti, Rimbaud, António Ramos Rosa…, en excelentes versiones al español; además de otros poetas latinoamericanos como Rodolfo Alonso, Alfredo Chacón, Mauricio Contreras, Germán Villamizar… En el género de Testimonio hemos publicado tres tomos con los Discursos de los Premios Nobel de Literatura, autorizados por primera vez al español por la Academia Sueca, que son un verdadero legado espiritual de nuestro tiempo; allí aparecen las palabras pronunciadas en Estocolmo por: Perse, Camus, Neruda, Eliot, Faulkner, Steinbeck, Brodsky, Kertész, García Márquez, Paz… La Colección Los Conjurados es una trinchera interior para aquellos que necesitan afrontar una realidad individualista y aciaga, es un espacio imprescindible para aquellos que aún creen en la urgencia de soñar.

AO | A lo que acaba de responder Gonzalo Márquez Cristo, sólo añadiría que también es una pretensión de que la poesía encuentre en su renacer, una puerta abierta, contra tantas otras que universalmente se le han cerrado. Quizá los Conjurados sólo pretenda eso, ser el paso posibilitador para enterarnos de los múltiples y complejos universos del ser en todas las latitudes del planeta. Es un proyecto complejo porque la poesía así lo es. Pero maravilloso porque la poesía también es maravillosa. En esto seguiremos trabajando con toda la mística del corazón.


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Organização a cargo de Floriano Martins © 2017 ARC Edições
Artista convidado | Pierre Fudaryli (México, 1984)
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 SEGUNDA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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