I – UM
OLHAR NO PASSADO RECENTE | São duas as circunstâncias básicas
que norteiam a criação de uma revista literária: concentram em suas páginas os postulados
estéticos de um determinado movimento ou escola, ou então se realizam na simples
difusão eclética de textos. Os dois casos são perfeitamente corretos desde que o
editorial defina e assuma a tendência escolhida.
Mais recentemente as revistas
se inclinam pela segunda opção, o que nos leva a uma aparente digressão: o que há
por trás da reduzida ocorrência de movimentos literários ao longo das últimas décadas,
hoje praticamente extintos? Entre os muitos valores que perdemos encontram-se o
da palavra dada e o de compartilhar interesses. De todas as formas o homem foi levado
a isolar-se em si mesmo e a não encontrar mais significado em honrar princípios
e compromissos. Isto se deu de maneira tão simples que é um absurdo que tenhamos
caído em artifício tão pouco engenhoso.
E qual foi este astuto mecanismo?
Isolar imagens, conceitos, significados, ecos. Tudo passa a ter sentido isoladamente,
esdrúxula falácia, como se tivéssemos um homem aqui, uma cadeira ali e uma revista
mais à frente. Na medida em que ganha terreno esta falácia, deixamos de nos ver.
Desacreditamos na ideia compartilhada e nos tornamos vassalos de uma autossuficiência
inóspita.
Muitas vezes sem que nos
apercebamos, comemoramos mais o surgimento de uma nova revista do que o marco de
haver chegado alguma a seu número 100. Este número para nós soa como um escândalo.
Como algo pode durar tanto? Esta é a heresia pós-moderna: que algo dure mais que
um instante. Então deveríamos queimar na fogueira do esquecimento um equatoriano
chamado Fredo Arias de la Canal, por haver publicado no mês passado o número 424
da revista Norte, que edita no México
desde 1929. Trata-se verdadeiramente de um escândalo e não pode aqui ser tomado
como base para a nossa conversa.
Contudo, podemos pensar no
esforço do paraguaio Marcos Reyes Dávila que há mais de uma década edita em Porto
Rico a revista Exégesis, mesmo país
em que Manuel de la Puebla dirigiu, por 18 anos, a revista Mairena. E quase duas décadas levou Octavio
Paz envolvido com a direção da revista Vuelta,
por ele fundada. Há mais de dez anos o argentino Eduardo Mosches edita no México
a revista Blanco Móvil e também há mais de um decênio Luis Alberto
Crespo dirige na Venezuela a revista Imagen.
Quando se fala hoje no nome
do venezuelano Juan Liscano fatalmente o vinculamos ao largo período em que esteve
à frente da revista Zona Franca,
uma das mais importantes de seu país. Mais recentemente não se pode deixar de mencionar
os esforços de Juan Riquelme ou Gonzalo Márquez Cristo, que se encontram à frente
da venezuelana Babel e da colombiana Común Presencia. São muitos países e
a referência a todos seria obviamente infrutífera, quando menos cansativa.
Tenho me referido antes ao
diretor do que à revista em si. Isto se dá porque intencionalmente citei revistas
que pertencem àquela segunda instância inicialmente tratada, ou seja, que não se
encontram diretamente vinculadas a um movimento ou a uma escola literária. Não quer
dizer que não tenham um conselho executivo, a compartilhar ideias. Mas sabemos que
é forte e decisiva a presença do diretor, ao mesmo tempo em que ali estão definidas
linhas editoriais desvinculadas desta ou aquela tendência estética.
São revistas que buscam uma
medula a partir da abrangência. E o fazem por uma razão muito simples: entendem
que representam, cada uma para seu país e seu tempo, o importante papel de catalisador
de tudo o que se passa à volta delas, em todo o mundo, em termos de valores literários.
Nenhuma das revistas até aqui mencionadas pôs em confronto aspectos regionais, políticos,
etnográficos ou quaisquer outras formas de eventual reducionismo cultural. Isto
quer dizer que souberam reconhecer igual importância a uma expressão local e outra
oriunda do exterior.
Encontro em algumas revistas
hispano-americanas uma relevância do texto e uma despreocupação com a insustentável
contagem de páginas, linhas ou caracteres exigida em outras instâncias. Não raro
encontramos edições inteiras dedicadas a um único autor, ou mesmo um largo espaço
destinado ao diálogo sobre determinada circunstância literária. Exemplos, temos
na venezuelana Babel, que ocasionalmente
surge com edição inteira destinada à revisão crítica de alguns dos principais movimentos
ou grupos decisivos à história da literatura em seu país; assim como as revistas Auditorium, da República Dominicana,
ou Lotería, do Panamá, costumam
realizar homenagens, que tomam toda uma edição, a seus principais escritores.
Surge aqui outro aspecto
a ser destacado. Estas duas últimas revistas pertencem ao Estado, a exemplo da mexicana Fronteras e tantas outras mais, ou seja, são iniciativas
de uma instância governamental. Mesmo assim, alcançam isenção suficiente para avaliar
a trajetória estética de determinado autor sem prejuízo de ordem alguma. O aspecto
a destacar seria o Estado entender que não pode interferir no substrato da cultura
que orienta a tradição de uma zona por ele administrada apenas circunstancialmente.
Em outras palavras: nenhum governo, qualquer que seja a apetência política do mesmo,
deve interferir no desdobramento estético de uma cultura.
Mas não nos esqueçamos daquela
outra circunstância que norteia a criação de uma revista literária: o vínculo a
movimentos, escolas, tendências. Em nome desta ligadura importantes revistas foram
criadas na América Hispânica. Vou me referir a cinco delas em particular apenas
para não tornar-me mais impertinente ou enjoativo que o devido. A cubana Orígenes, a mexicana Contemporáneos, a argentina Poesía Buenos Aires, a colombiana Mito e a chilena Mandrágora. Exceção feita a esta última,
que trazia manifesta uma defesa do Surrealismo, as demais foram súmulas da efervescência
cultural que lhes demarcava a existência.
Todas estiveram vinculadas
a um grupo. E surgiram como um ideal comum, ou seja, como a fonte possível de um
diálogo, o que se pode fazer brotar a partir da convivência de ideias. Neste sentido,
creio que são as mais importantes revistas surgidas na América Hispânica. É curioso
que nenhum historiador se deteve a estudá-las conjuntamente. Mais grave ainda: a
fortuna crítica de algumas delas foi arregimentada pelos próprios diretores, não
despertando até hoje a merecida atenção por parte de estudiosos do assunto.
A mexicana Contemporáneos foi fundada em 1929 graças a um frutífero diálogo
entre poetas como Jaime Torres Bodet e Xavier Villaurrutia. Jaime havia viajado
a Cuba, onde tomara conhecimento de outra publicação, a polêmica Revista de Avance (1927-1930). Entendiam então que o prestígio
internacional alcançado por algumas publicações europeias poderiam se repetir a
partir do México, desde que a aventura possuísse uma definição estética e fosse
bem apresentada. Surgia assim revista e grupo, definindo uma das mais consistentes
gerações em toda a América Hispânica.
No Chile, dez anos depois,
quando já surgira o grupo Mandrágora, que tinha entre seus articuladores Braulio
Arenas e Enrique Gómez-Correa, ao final de 1938 resolveram criar a revista homônima,
dando sequência a um projeto editorial proposto pelo grupo. Por sete números editaram
então a revista Mandrágora.
Em 1944, o cubano José Lezama
Lima funda a revista Orígenes, juntamente
com o crítico José Rodríguez Feo. A inquietude de Lezama já o levara a fundar três
outras revistas: Verbum, em 1937,
da qual saíram três números; Espuela
de plata, em 1939, que alcançaria a marca de seis números editados; e Nadie parecía, com Angel Gaztelu, em
1942, que chegaria ao décimo número. Segundo o próprio Lezama, a raiz dessas publicações
foi a amizade, o diálogo frequente e o respeito mútuo pelas opiniões peculiares.
O nome da revista acabou confundindo-se com o de toda uma geração de escritores
e artistas plásticos. Orígenes alcançou a marca de 40 números, durando até
1955.
O grupo de intelectuais arregimentado
por Raúl Gustavo Aguirre na Buenos Aires de 1950 insurgia-se contra toda forma de
ortodoxia, ao mesmo tempo em que refutava ingerências acadêmicas no mundo da criação
literária. Assim surgia Poesía-Buenos
Aires, que por dez anos se manteve em franca atividade. A revista possuía textos
programáticos, o que lhe dava um caráter de movimento.
Em seu decorrer, ali próximo,
em Bogotá, Jorge Gaitán Durán e Hernando Valencia Goelkel propunham um arrojado
plano de desdobramento cultural. Pode-se dizer que a formação do grupo Mito, que
logo sustentaria a publicação de uma revista homônima que atingiria a circulação
de 25 números, foi o acontecimento mais marcante em toda a cultura colombiana, tanto
pela dimensão estética quanto pela interferência no plano político. Esta é a geração
de Alvaro Mutis e Gabriel García Márquez, os dois mais conhecidos dos brasileiros.
Estas revistas tinham uma
raiz comum: o entendimento de que cabe ao poeta zelar pela firmeza da cultura. A
partir desta frase tão simples surge uma curiosidade: qual o limite de uma cultura?
Até onde a minha orelha supura por má influência da cultura alheia ou me embriago
glorioso sobre os restos de uma cultura dizimada por mim? Parece que não entendemos
mais a ação da rosa dos ventos sobre o território da cultura. A defesa de uma expressão
artística não pode estar vinculada a uma ramificação estética, mas o contrário jamais
será dispensável. Não importa o quanto Velázquez era barroco, mas sim o quanto que
o barroco espanhol foi expresso a partir da obra de Velázquez. Este deslocamento
indevido tem sido a raiz de grande parte do prejuízo que hoje resulta de um inventário
da produção artística em nosso tempo.
De volta às revistas, hoje
raridades só encontradas em coleções especializadas, como vimos, à frente delas
estiveram alguns dos mais destacados poetas hispano-americanos deste século: José
Lezama Lima, Xavier Villaurrutia, Raúl Gustavo Aguirre, Jorge Gaitán Durán e Enrique
Gómez-Correa.
Mas não as tenhamos aqui
como casos isolados. No áureo período das vanguardas surgiu um verdadeiro enxame
de revistas, algumas das quais com amplo destaque, a exemplo da peruana Las Moradas, dirigida por César Moro
e Emilio Adolfo Westphalen, ou a argentina Ciclo,
que trazia Enrique Molina e Aldo Pellegrini à frente.
O que nos cabe aqui, além
do informe geral, é compreender que as revistas literárias não se apartam de um
leque de plumas sagradas da atividade humana na terra. O que isto quer dizer? Que
não fazemos revistas e fazemos cadeiras e fazemos amor, como aspectos isolados de
uma mesma natureza humana. Somente a estultice crê em uma gaveta desorganizada combinando
com paz de espírito. O que isto quer dizer? Que revistas literárias não são anfetaminas
ou jogos de guerra. Como somos dados à fraude, sempre levamos o meio para cama e
o tratamos como fim.
O que isto quer dizer? Que
o empecilho real na edição de uma revista não é seu aspecto financeiro, mas antes
o caráter da iniciativa. Mesmo diante da dificuldade financeira, o que se tem que
discutir é como validar meios. Embora seja imenso o abismo procriado pelo equívoco
entre os valores da fé e a fé em valores, a verdade é que o homem não é nada senão
aquilo em que acredita. As revistas literárias nada são a não ser uma das formas
de crença do homem nos valores humanos.
II – UM ENCONTRO DE DUAS LINGUAGENS | Já
por três números seguidos tenho comentado aqui em O Escritor a respeito de importantes revistas literárias
e de cultura existentes na América Hispânica. Reitero que o trabalho que seguem realizando os diretores dessas publicações
assume um peso extraordinário – e talvez único – quando o assunto em pauta é o relacionamento
das inúmeras culturas que constituem o continente americano. Mais curioso ainda
é observar que, em grande parte, esses editores são poetas, ou seja, uma vez
mais a poesia situada como uma ponte erguida acima de todas as eventuais dispersões,
impedindo o homem de realizar-se em sua plenitude.
Já havia comentado aqui nestas
páginas sobre a revista mexicana Alforja,
mas agora devo mencioná-la uma vez mais, apenas para registrar que a edição # 19
desta notável publicação dedicou a totalidade de suas 170 páginas à poesia brasileira,
ali incluindo mais de 40 poetas de distintas gerações e tendências. Também outra
revista já destacada nesta série de artigos, Archipiélago,
prepara-se agora para a circulação de uma edição especial dedicada à cultura brasileira.
Em função do lançamento de Alforja,
em maio passado, estive no México, e ali pude conversar com os editores de ambas
as publicações, o que naturalmente reforçou nossa cumplicidade no sentido de se
buscar uma interação entre nossas culturas.
Nessa ocasião, pude ainda encontrar-me com Eduardo Mosches,
editor de uma terceira revista, Blanco
Móvil que, por duas vezes (anos 80
e 90) dedicou números especiais à poesia e à prosa no Brasil. Com todos eles conversei
e pude sentir o carinho imenso que têm por nossa cultura, um profundo e, por vezes, excessivo respeito. E justifica-se o excessivo
justamente pelo que nos falta de perceber a própria importância do que fazemos,
sem falar no fato de que o empenho dos mexicanos, por exemplo, em buscar um diálogo
com a cultura brasileira não é compensado por nós em momento algum.
A partir da conversa que
tive com Eduardo Mosches, de Blanco
Móvil, surgiu-me a ideia de sistematizar uma enquete para as páginas de O Escritor, algo que nos permitisse uma
leitura mais dinâmica desse jogo mútuo de conquistas e obstáculos que temos que
enfrentar os editores de revistas. Parti de quatro indagações básicas, a respeito
da origem, concepção editorial, relações com publicações similares e com a imprensa
de uma maneira geral. Outra perspectiva a ser acrescentada aqui é o surgimento de
revistas virtuais ou de publicações que circulam, utilizando os dois meios, impresso e virtual.
O Brasil tem uma dificuldade, bastante coerente com nossa política de alheamento,
de perceber a importância crucial de fazer circular bens de cultura pela Web. Esta
é uma etapa da contemporaneidade em que apenas a marginalidade cultural lhe há compreendido
os mecanismos de ação. Nem mesmo as agências de publicidade ou os godmakers que comandam as campanhas eleitorais perceberam
ainda a importância do veículo.
Observemos, por exemplo,
em uma Argentina que vive hoje uma situação bastante reveladora dessa ausência de
diálogo entre culturas latino-americanas, como funciona o grupo Paginadigital, de circulação apenas virtual,
mas com uma penetração extraordinária dentro e fora do país. Ao conversar com seu
diretor, Pablo Castro, me disse que "o crescimento de Paginadigital superou nossas expectativas e tem se diversificado
bem além do que havíamos planejado no princípio, estando atualmente com um volume
de 3.500 visitas diárias e um total superior a um milhão de visitas desde a data
de criação do site, ao final de 1999". Paginadigital é um veículo de circulação de textos que lhes
são remetidos por outras publicações. Disse-me ainda Pablo que o site foi criado
"basicamente como um meio solidário para unir ideias e forças para resistir
à desumanização do sistema capitalista e liberal atual".
Esta compreensão de uma atuação
política, sem descaracterizar o conteúdo estético veiculado, lhe dá uma solidez
extraordinária. Paginadigital tem sido um valioso veículo de informação acerca
das atividades culturais dentro e fora da Argentina. Penso nisto quando, na conversa
com Eduardo Mosches, da mexicana Blanco
Móvil, ele me diz que "as relações com as revistas do continente, lamentavelmente,
são poucas, e espero que através de vocês possamos abrir nossa comunicação e participação
em outras revistas". Ora, esse isolamento deve ser rompido em suas duas margens.
É curioso que Mosches me diga isto, porque justamente a Blanco Móvil tem sido revista a dedicar seguidamente edições
especiais à literatura de vários países, incluindo os latino-americanos.
Conheçamos um pouco mais
de Blanco Móvil. Segundo Mosches:
"A revista nasce em 1985, como publicação de uma livraria foro, que é a Gandhi.
Logo no princípio é de um tamanho pequeno, como um folheto teatral, de 24 páginas,
com uma seção central dedicada a um escritor. A relação com a livraria durou até
1988, momento em que nos separamos dessa empresa e nos tornamos independentes. Já
havíamos modificado o formato, já se encontrava no formato carta. A partir da independência
realizamos uma mudança de capa e ampliação do volume, chegando a 56 páginas. A capa
passava a ser a cores. Foi difícil esse processo de independência, mas pouco a pouco
obtivemos certa estabilidade econômica, que tornou possível, nos melhores momentos,
uma circulação de quatro números por ano."
Em seguida lhe indaguei a
respeito de um balanço possível entre o buscado e o alcançado, ao que me respondeu:
"A concepção editorial era a de apresentar o afazer literário de setores menos
conhecidos, seja em âmbito nacional ou internacional. Com isto se quer dizer que
a intenção era a de apresentar escritores de qualquer parte, que não necessariamente
formem parte do aparato e presença editorial internacional. Não há excessivo interesse
em mostrar os que já são conhecidos, mas sim aqueles que vão concretizando suas
apostas literárias em cada país, inclusive o México. Por outro lado, buscamos temas
que não são tão recorrentes. A partir daí podemos dar exemplo nos números dedicados
a Utopia e Literatura, Poetas e Narradores Catalães, Literatura Danesa, Boliviana,
Filosofia e Literatura, Literatura Indígena no México e na América Latina. Angola,
Israel, enfim, nos aproximamos de múltiplos segmentos e aspectos da literatura,
sem nos tornarmos seguidores dos boom literários. Além do que há um marcado interesse
em apresentar a produção poéticas das gerações mais jovens."
E logo falamos sobre as recepções
na imprensa do trabalho magnífico que vem realizado: "Ao longo dos 17 anos
de existência de Blanco Móvil, tivemos,
no geral, uma boa acolhida da imprensa e diversos meios de comunicação. A primeira
etapa era de enviar a revista aos jornalistas relacionados com o meio literário
e cultural, mas percebemos que isto não era suficiente. Portanto, se decidiu realizar
uma ou duas apresentações públicas com a aparição de cada novo número. Esses lançamentos
eram realizados com um caráter interdisciplinário, uma vez que deles participavam,
além de alguns autores incluídos na edição, um par de atores que leem os textos
literários, poemas e contos, e a noite se completa com a apresentação de algum músico.
Isto há gerado um apoio maior por parte da imprensa, rádio e televisão, através
de crônicas, entrevistas ou simplesmente notas de informação."
Como disse anteriormente,
esse primeiro diálogo com Eduardo Mosches me levou a sistematizar uma conversa mais
detida com editores de várias revistas. Algumas delas são frutos de um convívio
pessoal, cujo componente mais importante é a realização de projetos comuns. Exemplo
disto foi a maneira com que me recebeu na Costa Rica o editor de Fronteras, Adriano Corrales. Ali podemos
planejar umas tantas ações que começamos a concretizar em termos de aproximação
de nossas culturas. Porém ladeio aqui seu depoimento do que me enviou por meio eletrônico
o chileno Omar Lara, editor da revista Trilce.
Julgo importante destacar o trabalho de ambas, a costarriquenha inteiramente patrocinada
por uma universidade, enquanto que a chilena sem apoio institucional de espécie
alguma. Não as situo aqui como ações contrapostas, mas antes como uma referência
a distintas maneiras de se produzir algo consistente.
Vejamos o que nos diz primeiramente
Adriano Corrales: "A revista Fronteras nasceu como um projeto de extensão cultural
de um departamento do Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR), no ano de 1994.
Seu primeiro objetivo foi converter-se em um espaço editorial para dar a conhecer
as distintas investigações que vinham realizando nossos professores no que respeita
ao âmbito das culturas populares. Até o presente foram publicados 9 números semestrais.
Porém, na medida em que se foi desenvolvendo o projeto (a partir do terceiro número),
fomos nos inteirando da existência de um vazio em relação a revistas culturais que
mantivessem um perfil intermediário entre a revista especializada e a revista popular,
formato que perseguíamos desde o princípio. Assim é que, além da ênfase antropológica,
histórica e sociológica, fomos abrindo espaço para outros aspectos, tais como a
literatura e a arte em geral. Por outro lado, começamos a receber colaborações de
distintos países latino-americanos onde, imprevisivelmente, a revista foi chegando
graças à ação de amigos e colaboradores."
Indaguei a Adriano como a
revista sobrevive: "Fronteras hoje
se financia basicamente com a verba do ITCR e com a venda de exemplares, mas estamos
abrindo a venda de publicidade como uma colaboração e apoio a este projeto editorial.
Ela é distribuída em várias livrarias de San José, Heredia, Ciudad Quesada e Cartago.
Mas também pode ser encontrada em Bibliotecas, Centros Culturais e Salas de Teatro.
E as assinaturas estão franqueadas segundo anúncio no próprio expediente da revista."
E agora nos fala o chileno
Omar Lara, editor de Trilce: "A
revista nasceu paralelamente ao grupo de poesia Trilce, em março de 1964, em Valdivia
(Chile). Até 1973, quando praticamente toda a nossa geração desapareceu do mapa
literário chileno, a revista publicou 16 números, com uma regularidade muito irregular.
Ocorre que a revista era um de nossos afãs, não o único. Nos anos 1965 e 1967 organizamos
os primeiros encontros da Jovem Poesia Chilena, em Valdivia. Também foram publicados
alguns livros individuais de membros do grupo e nos sentíamos bem envolvidos com
os movimentos sócio-políticos daquele momento."
E como seguiu a revista,
quais novos rumos ela tomou?
"Depois, no exílio em
Madrid, publicamos três números, entre 1981 e 1983. De volta ao Chile, já em Concepción,
reiniciamos a publicação dentro do que chamamos de uma Terceira Época. E nisto seguimos
empenhados até hoje. Uma vez que não temos auspício institucional nossa frequência
é imprevisível. Quis torná-la quadrimestral, mas a realidade nos impõe uma circulação
semestral. Mesmo ciente de que defenderei até onde possa essa periodicidade, não
tenho nenhuma garantia quanto a isto. Trilce tem sido apresentada diretamente em países como
Peru, Equador, Espanha, Alemanha, Argentina, e através de amigos em vários outros:
Estados Unidos, México, Uruguai, Portugal. A rigor, a revista é uma revista de amigos,
o que não está mal, certamente. Temos muitos leais entusiastas, generosos amigos.
Sempre pensei em Trilce como uma publicação propiciadora de diálogos.
Tenho consciência de que em vários momentos fomos uma janela através da qual muitos
poetas e leitores em geral puderam conferir as ocorrências poéticas de outros lugares,
através de entrevistas, poemas, traduções, correspondência etc."
As duas possibilidades de
condução de um processo editorial permitem aclarar que em nada se justifica a inércia
encontrada no Brasil. Dentro ou fora do que nos habituamos a chamar de "sistema",
apenas reagimos e mesmo assim com um ar paranoico (presunçoso) que pouco ou nada
constrói. A seguir incluímos a montagem em dez blocos de um autorretrato da revista Lote, argentina, desenhado por seu editor,
Fernando Peirone:
1 – Tipo de material que
publica.
– Em traços gerais se poderia
dizer que é uma revista de crítica cultural e política.
2 – O rol das revistas culturais
na Argentina.
– O papel das revistas culturais,
que na Argentina têm uma grande tradição, é o de dar circulação a um saber e um
agir que não se movem no mundo oficial, o papel de introduzir debates e traduções
que habitualmente não são manuseados nos círculos comerciais, o de proporcionar
ferramentas alternativas para a abordagem do público (e do privado), o de dar a
conhecer as expressões artísticas e culturais novas, diferentes.
3 – A qual público se dirige?
– Dirige-se a um público
heterogêneo. A invenção dos convênios – revistas para repartir entre sócios, clientes
etc. – como forma de distribuição, nos possibilitou que a revista não dependa das
vendas e que em menos de dez dias esteja completamente distribuída, em mãos de jovens,
velhos, empresários, professores, intelectuais etc., obrigando àqueles que participam
conosco a rever sua linguagem e suas maneiras de dizer; o mesmo ocorre com os leitores
que, ao recebê-la, se dão conta que é uma revista que – no polo oposto do videoclipe
– demanda tempo daquele que se disponha a lê-la. Este sistema de distribuição ingressa
na revista em uma paisagem que de outra maneira – se dependesse exclusivamente da
venda – não chegaria.
4 – Como se relacionam com
a realidade?
– Não nos relacionamos com
a atual nos tempos de imediatismo que exige um diário, mas sim com a distância e
a implicação necessária para discorrer criticamente sobre a época que nos tocou
viver.
5 – Lote é lida por gente jovem?
– Sim. A revista tem um suplemento
jovem de educação cooperativa que chega gratuitamente (subvencionado por distintas
cooperativas do sul de Santa Fe) aos terceiros e quartos anos das escolas secundárias,
provocando debates e sendo utilizado como material complementar de estudo.
6 – Busca consagrados ou busca descobrir vozes novas?
– Em Lote participam consagrados em meio a um coro de
vozes anônimas – como a daqueles que fazemos a revista – e politonais que lhe dão
um perfil diferente, do interior, não dando ouvidos aos mandatos portenhos de correção
cultural.
7 – E esses jovens buscam
algo distinto do que procuram os de gerações passadas?
– Sim, há um conceito diferente
do que é cultura. Não lhes interessa tanto a práxis social do pensamento quanto
a possibilidade de aplicá-lo a uma qualidade de vida mais digna. Embora menos comprometida
politicamente – no sentido tradicional do termo
–, a juventude edifica seus entornos com modelos políticos explícitos, tolerantes,
abertos, à medida de um mundo que sonham e não conseguem trasladar além de seus
grupos de origem. Este é um pouco o padecimento que lhes obriga a pós-modernidade.
8 – Lote promove polêmicas, debate, intercâmbio de ideias?
– Permanentemente. Em cada
número se questiona o status quo e são liberadas salvas de pensamento crítico.
9 – Em um passado não muito
para trás, os escritores reconhecidos colaboravam neste tipo de publicações. Com
reagem hoje?
– São reticentes, estão em
seu lugar e pouco lhes dá que as revistas culturais dediquem-se à difusão de seus
trabalhos. Menos ainda lhes importam ler manuscritos de novos escritores. Existe,
no entanto, uma tradição que se conserva viva e ativa, participando em cada um desses
empreendimentos. Grande parte dos colaboradores de Lote pertence a essa casta de descastados.
10 – Há uma disputa entre
as versões impressa e virtual?
– Até o momento não. Nossa
revista tem uma página web desde o número inaugural, onde são publicadas as matérias
mais importantes de cada número e, se temos uma acentuada visita diária ela quase
sempre corresponde a leitores estrangeiros – porque lhes resulta mais fácil e menos
custoso visitar a revista na tela do que assinar a versão impressa. Mas são, até
o momento, públicos diferentes.
Esta conversa com Fernando
Peirone, editor de Lote, é bastante
reveladora de uma série de aspectos que seguiremos tocando nos próximos artigos.
O que estamos propondo aqui, nas páginas de O
Escritor, não tem caráter conclusivo, mas antes arregimentador de um diálogo
essencial entre editores de revistas em âmbito continental. Fujamos das relações
de bairro ou quadrilhas, e busquemos a representação mais substanciosa de uma cultura.
A realidade constituída de uma nação não se encontra definida por seus políticos
ou economistas, mas antes por aquela fatia empenhada, sob diversos enfoques, na
formação e identificação de um caráter cultural.
III – DESTACANDO TRÊS REVISTAS
| Investimentos
na produção cultural tendem a crescer ou diminuir de acordo com o influxo de nomes
envolvidos ou com a solidez das propostas apresentadas? Predileção por aquelas produções
com maior potencial de visibilidade definiria o assunto? A questão giraria unicamente
em torno do estratégico lobby? Essas indagações me vêm à tona quando penso nas razões
da rara circulação de revistas de cultura no Brasil. Rigorosamente não temos tradição
alguma nessa área de produção cultural. Se eu penso no aspecto da credibilidade,
logo me pergunto o que leva o Banco Santander Mexicano a investir em uma publicação
naquele país. O próprio estado mexicano, através do IMSS – equivalente de nosso
INSS –, com alguma frequência patrocina revistas de cultura. Igualmente contribuem
as universidades, privadas ou não. Caberia então pensar no impedimento de circulação
de informação e reflexão cultural, no Brasil, através desse veículo de comunicação.
Em 1997 a UNESCO deu respaldo
cultural à revista Archipiélago,
do México, considerando-a importante instrumento de integração cultural latino-americana.
O fato coincidia com o segundo aniversário da publicação, e seu diretor, Carlos
Véjar Pérez-Rubio, sentia orgulho ao dizer que Archipiélago se trata de "uma publicação nascida no
México em 1995 como expressão de um vasto projeto cultural que tem o propósito de
contribuir para a unidade dos povos da América Latina e do Caribe, incluindo as
comunidades de origem hispana residentes em países como Estados Unidos e Canadá".
É bem verdade que a revista surgiu em 1992, quando teve o número zero publicado,
e desde aquele momento buscou articulação entre os vários países estabelecidos como
meta, até finalmente definir uma política de ação e conta hoje com 31 números publicados,
rigorosamente dentro de uma circulação bimestral.
Carlos Véjar nos informa
um pouco mais: "O projeto Archipiélago
e sua revista tem se apresentado até aqui em importantes eventos culturais realizados
em Barbados, Bolívia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, França,
México, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela. Sua proposta de articular
uma rede de centros culturais onde se possa desenvolver o movimento cultural integrador,
intitulada Casas de Nossa América, tem sido recebida com grande interesse e várias
instituições se manifestaram dispostas a apoiá-la." Archipiélago surge não isoladamente como uma revista de cultura,
mas antes como um sólido projeto de integração cultural, que envolve tanto a criação
de um programa editorial como o fluxo de navegação, a circulação pelos vários países,
troca de ideias etc.
A revista em si tem desempenhado
um duplo e importante papel, o de informar acerca de produções culturais em praticamente
toda a América e discutir mais detidamente aspectos essenciais à compreensão dessa
realidade. Tanto encontramos abordagens genéricas – a dimensão cultural da globalização,
a cosmovisão centro-americana – como específicas – estudos sobre a obra de inúmeros
artistas, ao lado de ensaios fotográficos, poemas, entrevistas etc., abrangendo
um universo amplo de criação e crítica.
Some-se a isso a realização
de encontros que propiciam a discussão em torno de perspectivas culturais envolvendo
o continente de fala hispânica e suas relações complexas. Naturalmente que o Brasil
poderia participar desse importante projeto não fosse tão leviana a concepção de
si mesma que define nossa cultura. A complexa leitura que nos cabe acerca de uma
unidade latino-americana é assunto tratado com diversidade e frequência em Archipiélago,
o que permite compreender melhor a trama que envolve matizes culturais que se aproximam
e se distanciam entre si. Haverá aspectos de ordem política ou econômica separando
o Brasil da América Hispânica? Como aplicar a estatística em nossa condição irmanada
de terceiro mundo? O idioma definirá o panorama cultural? Naturalmente não se pode
aqui falar em unidade perdida. Quando menos o assunto seria da ordem de uma falha
estratégica, de uma veleidade cultural.
As páginas de Archipiélago estão tomadas de discussão dessa ordem, buscando
elucidações e ambientação prática para o tema. Ao mesmo tempo, em momento algum
se deixa de considerar a criação artística, reproduzindo obras plásticas e versos,
sempre cuidando de não se tornar refém dos nomes recorrentes, buscando uma cumplicidade
de pauta entre o conhecido e o desconhecido, papel fundamental que deve desempenhar
um editor em qualquer circunstância.
Archipiélago
bem poderia
encontrar entre nós uma correlação de interesses com a revista Nossa América, da Fundação Memorial da
América Latina. Não resta dúvida que há um aspecto aproximativo, quase confluente,
na leitura de pauta de ambas as publicações. E logo ressurgem as inquietações: por
que não abraçamos uma causa – qualquer uma – com veemência? Com que gratuita indiferença
ou superioridade nós observamos os hispano-americanos? E o que impede uma produção
consistente que permita a circulação sistemática de Nossa América? Romper isolamentos provocados
pela presunção talvez seja um bom estopim.
*****
Ao contrário do México, onde
se pode contar com uma larga tradição na circulação de revistas culturais, no Panamá
o que encontramos é um território bastante inóspito, onde a atividade intelectual
carece de condições diversas de produção e difusão, não havendo editoras e sendo
bastante reduzido o número de livrarias. Em meio a este quadro, torna-se ainda mais
abnegado o esforço do poeta e prosador Enrique Jaramillo Levi em manter funcionando
a revista Maga, criada por ele há
quase duas décadas.
Em conversa com ele, revela-se
a origem da revista: "Maga nasce
em fevereiro de 1984, o mês em que morre esse grande escritor argentino, Julio Cortázar.
Seu nome tem dois significados: é uma homenagem a ele pelo personagem de La Maga em seu famoso romance Rayuela; mas também esta revista é, e
tem sido desde o princípio, uma verdadeira maga da cultura literária no Panamá,
pela dificuldade que significa fazer cultura neste país, ter estímulos, receber
apoio econômico, inclusive ter leitores fiéis ou permanentes… é como tirar coelhos
de cartola e lenços das mangas, embora seja muito mais difícil, porque vivemos ainda
a fazer malabarismos e aparentes mágicas para seguir adiante sem cair o nível de
qualidade gráfica e de conteúdos, sem deixar-se vencer pelos numerosos obstáculos."
Maga
tem representado
um papel fundamental na cultura panamenha, sobretudo no que diz respeito à literatura
e à reflexão crítica sobre cultura e sociedade. "Espaço aberto à criatividade
literária e à análise crítica", como ressalta Jaramillo Levi, em sua página
receberam acolhida generosa tanto escritores já conhecidos como também tem sido
palco de estreia de muitos deles, mostrando-se igualmente aberta ao dialogar com
a cultura de outros países.
Pergunto-lhe então como tem
funcionado Maga durante tantos anos: "Maga já morreu duas
vezes, e por duas vezes ressuscitou. Sempre por motivos econômicos. Suas três etapas
são: 1984-1987; 1990-1993; 1996 até o presente. Agora é uma coedição entre a Fundação
Cultural Signos, que presido, e a Universidade Tecnológica do Panamá, onde sou coordenador
de difusão cultural. Mas estamos entrando uma vez mais em uma etapa difícil. Há
uma forte contração econômica no país e os empresários estão fechados no apoio à
cultura (nunca fizeram muito por ela), de maneira que no momento estamos circulando
sem anunciantes."
FM
| O que representa esta Fundação no âmbito da cultura panamenha?
JL
| A Fundação Cultural Signos nasce em abril de 1997 como uma alternativa à indiferença
e incapacidade dos governos de turno para implementar uma política editorial coerente
e sólida que contribua para tirar do anonimato um número considerável e crescente
de novos escritores panamenhos que, já a princípio da década de 90, têm material
literário de uma qualidade mais que decorosa e, além do mais, desejos de dá-la a
conhecer como um primeiro passo para seu desenvolvimento intelectual e humano.
FM
| Além da função editorial e da coprodução da revista Maga, o que mais tem realizado?
JL
| Como complemento às iniciativas editoriais desta Fundação, também propusemos,
desde o princípio, duas outras, igualmente importantes para a formação de novos
escritores de talento: a docência – criação de seminários, oficinas literárias,
conferências e mesas-redondas com temas afins à literatura, organização de encontros
de escritores e lançamento de livros – e a criação de incentivos literários específicos.
Nos 45 números até aqui publicados,
a revista Maga é o mais sólido veículo de difusão da literatura
no Panamá. Deveria haver um esforço conjunto de toda a parcela da sociedade panamenha
que lida com cultura, no sentido de não se permitir a extinção desse empenho estoico
de Jaramillo Levi, pelo notável estímulo à criação literária em que se converteu.
Fato é que as duas entidades que a mantêm hoje são responsáveis pela produção majoritária
de livros no país. E Maga é a câmara de eco de toda essa produção. Eventuais
discrepâncias devem ser consideradas em aberto, e levadas a público, o que só reforçará
o panorama cultural no Panamá.
*****
Quaisquer dificuldades apontadas
até aqui em nada justificam a inação e a má aplicação de recursos. Em muitos países
a condição é quase inteiramente nula no que diz respeito à produção de uma revista
de cultura. Em outros simplesmente o obstáculo radica em uma sutil manifestação
da usura, o inconciliável ego daqueles que detêm situações decisivas de poder (qualquer
poder).
Vem da Costa Rica um exemplo
de desprendimento e compreensão da realidade dada. O contista Alfonso Peña, hoje
ao lado do poeta Guillermo Fernández, edita a revista Matérika. Com apenas três números publicados,
a revista já afirma uma ousadia estética, ao somar obra gráfica e literária em um
objeto que se destaca pela contundência plástica e intelectual.
A cada edição é convidado
um artista plástico, que a ilustra completamente. Os dois primeiros números foram
ilustrados pelos artistas costarriquenhos Mario Maffioli e Hernán Arévalo, enquanto
que o terceiro esteve a cargo do brasileiro Eduardo Eloy. Em suas páginas já foram
publicados escritores como Saúl Ibargoyen, Alfonso Chase, Mario Camacho, e inclusive
uma larga apresentação de poetas brasileiros, incluindo Claudio Willer, Dora Ferreira
da Silva e José Santiago Naud, dentre outros.
Contudo, o que importa aqui
destacar é a antecedência deste projeto, cujo primeiro momento encontramos ainda
nos anos 1980, quando o mesmo Alfonso Peña cria a revista Andrómeda, aventura originária que circulou
em duas dezenas de números e propiciou um diálogo entranhável entre escritores e
artistas na Costa Rica e diversos outros países. Diante de impedimentos corriqueiros,
a revista acabou deixando de existir. Nos anos 90 surgiria um segundo momento, desta
vez em forma de jornal, cujo nome era International
Graphiti, também com circulação de mais de 10 números.
Em todos estes momentos esteve
sempre presente a determinação de Alfonso Peña pelo estímulo ao diálogo como maneira
decisiva de se fazer uma determinada cultura compreender-se a si mesma, vindo então
a afirmar-se como tal. O registro de marca Andrómeda hoje foi convertido em uma galeria de arte que
igualmente desempenha funções editoriais, por onde se publica a revista Matérika.
O que melhor caracteriza
uma defesa estética de Matérika é a abertura para um diálogo internacional,
talvez medida de um cosmopolitismo que encontramos em San José, mas, sobretudo,
uma compreensão de que os governos em nossos países, na América Latina, já são suficientemente
responsáveis por toda forma de isolamento. Sendo uma afirmação de pluralidade, Matérika é igualmente uma afirmação da cultura costarriquenha.
Ao lado da revista, confirmando
o projeto inaugural de Alfonso Peña, que reúne nomes de peso na cultura daquele
país, consolida-se galeria de arte, produtora de vídeos e editora, permitindo um
raio de ação mais amplo e consequentemente um diálogo mais consistente.
IV – VASO COMUNICANTE, DE MÉXICO |
Vaso comunicante foi outra publicação notável, surgida
em Oaxaca nos últimos anos do século passado, sob a direção de Ludwig Zeller e Susana
Wald, com quem tive a oportunidade de conversar:
FM | Quando surgiu
Vaso Comunicante e em quais circunstâncias editoriais?
LUDWIG ZELLER | Hace cinco años conocí a César Mayoral Figueroa que había tratado de hacer
una revista similar y no le había resultado. Nos entendemos bien y al momento tenemos
ocho números publicados.
SUSANA WALD | César Mayoral Figueroa es un médico cirujano, psicoanalista, filósofo,
escritor, y mecenas. Ha participado en el taller literario de Ludwig Zeller de donde
surge la revista Vaso Comunicante en primer término. La revista ha existido con
anterioridad, hace unos 18 años, cuando la dirigía un escritor de la Ciudad de México.
En esa época César Mayoral era Rector de la Universidad de Oaxaca.
FM | Qual a razão de seu nome?
LZ | Muchas de las personas que han colaborado han estudiado medicina y es una
frase común para ellos. Vasos Comunicantes ya fue empleado por Breton hace ochenta
años.
SW | Vasos comunicantes, de donde Breton toma también el título para su texto,
son el punto de contacto entre las arterias y las venas, en el sistema capilar dentro
del sistema circulatorio de nuestros cuerpos. A mí me llama la atención que se habla
de sólo uno de esos elementos, de un vaso y no de la conjunción de dos, que es el
caso cuando la terminología se usa en el plural. Así queda como el vaso que va hacia
la conexión, o viene de ella.
FM | Como a revista convive com outros projetos similares
em todo o país?
LZ | Tenemos poca relación y el interés principal de la revista es que tenga textos
de primera calidad o material inédito en español.
SW | La relación formal entre las revistas en México es poca, porque no hay una
tradición de corresponsalía o de intercambio de cartas. Las personas que ven la
revista, siendo editores de otras, la admiran, por su calidad. Hay muchas revistas
en México. En Oaxaca hay por lo menos media docena.
FM | Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas,
dificuldades, novos planos etc?
LZ | Estamos muy interesados en hacer varios números y tenemos un espléndido material.
Al momento Susana Wald y yo mismo somos los que llevamos todo el peso del trabajo,
y el tiempo es escaso.
SW | Creo que la revista tiene relevancia, y que se ha podido establecer como
cosa que ya se conoce. La dificultad está en que la hacemos sólo dos personas. Ludwig
selecciona el material y yo hago el diseño, la lectura de pruebas la hacemos los
dos, y yo hago también traducciones, donde es necesario y veo la producción en preprensa
y en la imprenta.
FM | Vaso Comunicante circula apenas em versão impressa
ou há também um módulo virtual?
LZ | Sólo en versión impresa.
SW | No hay versión virtual.
FM | Como funciona sua difusão?
LZ | La mayor parte de la revista la regalamos. También se puede encontrar en
librerías de Oaxaca y hacemos envíos a otras ciudades.
SW | Se vende en librerías de Oaxaca y se regala muchos ejemplares.
FM | Como veem as possibilidades da Internet como ferramenta
aplicada à cultura?
LZ | Me parece una herramienta extraordinaria, pero frágil.
SW | El Internet me parece un magnífico instrumento para las personas que tienen
tres cosas: una computadora, una buena conexión telefónica y tiempo. Para las primeras
dos cosas en especial se necesita tener dinero. Luego el resultado de lo encontrado,
cuando se tiene tiempo, se debe almacenar o imprimir. Todo ello requiere fondos.
Es poco eficaz como herramienta en lugares pobres como Oaxaca, donde la infraestructura
es muy deficiente. No contamos ni siquiera con un suministro seguro de luz y conseguir
teléfonos eficaces es trabajo de titanes. Yo diría que en Oaxaca si quieres hacer
algo virtual, alcanzas quizás un dos por ciento de la población. ¡Eso, porque
soy optimista!
V – COMÚN PRESENCIA, DE COLOMBIA | Para finalizar este nosso passeio sobre algumas das principais revistas da
América Hispânica, eu quero recordar uma das mais brilhantes, Común Presencia, criada e dirigida por um
valioso casal de poetas: Gonzalo Márquez Cristo e Amparo Osorio. Gonzalo morreu
há pouco, porém antes de sua morte pude conversar com o casal, quando a revista
ainda estava em ampla atividade:
FM | Quando surgiu Común Presencia e em quais circunstâncias editoriais?
GONZALO MÁRQUEZ CRISTO | En 1989, como una opción sensible,
necesaria en un país asediado por la guerra y por los manejos excluyentes de la
cultura oficial. Así, sin ningún apoyo institucional ni oficial hemos llegado al
número 16 y en sus páginas han aparecido entrevistas a grandes escritores y pintores
universales, realizadas todas personalmente, y a su lado traducciones de poetas
poco conocidos en nuestro medio.
AMPARO OSORIO | No ha sido fácil sacar adelante una Revista que no se parece a ninguna
de las publicadas en nuestro medio. Las circunstancias editoriales han sido difíciles
y casi siempre se termina publicando con recursos propios. Pero sin duda desde su
primera aparición ha creado una secta de seguidores.
FM | Qual a razão de seu nome?
GMC | Rendir un homenaje al gran poeta francés René Char, cuya poesía filosófica
siempre nos ha deslumbrado. Y proponer una común presencia, urgente para enfrentar
la destrucción, la desolación y la desesperanza.
AO | Como afirma Gonzalo Márquez, es concitar una obra cumbre de un poeta que
como René Char siempre estará entre nosotros
FM | Como a revista convive com outros projetos similares em todo o país?
GMC | Cada publicación tiene su espacio definido. La nuestra de periodicidad “esporádica”,
propone llevar al lector el pensamiento de creadores a través de las más de 30 entrevistas
que han aparecido en sus páginas y la poesía reflexiva de autores de otras lenguas
(portuguesa, francesa, italiana, inglesa…) que no han tenido difusión en Hispanoamérica.
AO | Común Presencia es una revista que ofrece otros matices diferentes a las
tradicionales publicaciones de Colombia. Quizá eso la hace diferente, pues su médula
principal es la poesía y aunque abarca todos los géneros literarios, nunca se ha
propuesto dar cabida a las nuevas tendencias light que tanto afectan al arte actual
y por consiguiente a muchas publicaciones que no teniendo nada que decir, acuden
al facilismo y a la frivolidad.
FM | Qual a situação atual da revista, em termos de conquistas, dificuldades,
novos planos etc.?
GMC | La situación de la revista siempre es crítica. Creemos que cada número es
el último y eso que pareciera ser un hecho desdichado es también propicio, pues
esa suerte agónica nos condena a ser muy exigentes en la selección del material
y a que todo lo publicado esté provisto de esencialidad.
AO | Ya es bien sabido para nosotros que es una publicación difícil de sostener
en un lapso determinado. Nunca podríamos decir que su aparición es trimestral, semestral
o anual. Esto es del orden del milagro. Y aunque siempre contamos con valioso material,
la consecución de la pauta cada día es más ardua. Lo importante finalmente es que
cuando se logra un nuevo número, hay muchas presencias comunes que lo festejan
y eso es lo maravilloso, la magia que discurre en un escenario imprevisto.
FM | Común Presencia circula apenas em versão impressa ou há também
um módulo virtual?
GMC | Por ahora circula sólo en versión impresa.
AO | No sé qué tan perdurable podría ser una versión virtual que de hecho creo
que ocupa sólo una inmediatez. Preferimos siempre de todos modos nuestra revista
impresa, porque representa esa especie de tótem que puedes abrazar, oler y contemplar.
FM | Como funciona sua difusão?
GMC | En forma secreta y casi obsesiva, y si las palabras secreto y sagrado
tienen el mismo origen como se ha dicho, creemos que es el camino necesario. Sin
embargo a causa de la Colección Los Conjurados, que se edita a la sombra de la revista,
la cual tiene más de 20 títulos, y ahora circula en cinco países, pero reitero,
de manera secreta y sagrada.
AO | De una forma muy marginal. Es preciso que así siga siendo. Pero siempre llega
a sus destinatarios. A su destino. Es como esa botella de náufrago lanzada al mar
que encuentra al fin la playa predestinada.
FM | Como vês as possibilidades da Internet como ferramenta aplicada à cultura?
GMC | Me parece fundamental, creo que es un magnífico medio de información, de
aproximarse a nuevas voces, de estar enterado de nuevas publicaciones, del estreno
de nuevas obras cinematográficas y escénicas, en fin, de conocer nuevas búsquedas,
aunque creo que la comunicación tal vez se halle más en la lectura íntima de un
libro impreso, que en la rápida lectura de un texto en un computador.
AO | Es interesante. Pero creo que funciona más para noticias y textos breves.
Para un hallazgo quizá. Pero en la extensión de un libro y en la profundidad que
él requiere no creo que se den las condiciones necesarias.
FM | Pediria ainda informações a respeito da criação da Fundación Común Presencia
e da coleção de livros – Los Conjurados – que vocês vêm publicando.
GMC | La Colección Internacional de Literatura Los Conjurados fue creada hace dos
años. En el género de poesía hemos publicado más de veinte títulos entre los cuales
resaltaría los libros de: Trakl, Adonis, Juarroz, Ungaretti, Rimbaud, António Ramos
Rosa…, en excelentes versiones al español; además de otros poetas latinoamericanos
como Rodolfo Alonso, Alfredo Chacón, Mauricio Contreras, Germán Villamizar… En el
género de Testimonio hemos publicado tres tomos con los Discursos de los Premios
Nobel de Literatura, autorizados por primera vez al español por la Academia Sueca,
que son un verdadero legado espiritual de nuestro tiempo; allí aparecen las palabras
pronunciadas en Estocolmo por: Perse, Camus, Neruda, Eliot, Faulkner, Steinbeck,
Brodsky, Kertész, García Márquez, Paz… La Colección Los Conjurados es una trinchera
interior para aquellos que necesitan afrontar una realidad individualista y aciaga,
es un espacio imprescindible para aquellos que aún creen en la urgencia de soñar.
AO | A lo que acaba de responder Gonzalo Márquez Cristo, sólo añadiría que también
es una pretensión de que la poesía encuentre en su renacer, una puerta abierta,
contra tantas otras que universalmente se le han cerrado. Quizá los Conjurados sólo
pretenda eso, ser el paso posibilitador para enterarnos de los múltiples y complejos
universos del ser en todas las latitudes del planeta. Es un proyecto complejo porque
la poesía así lo es. Pero maravilloso porque la poesía también es maravillosa. En
esto seguiremos trabajando con toda la mística del corazón.
*****
Organização a
cargo de Floriano Martins © 2017 ARC Edições
Artista convidado
| Pierre Fudaryli (México, 1984)
Imagens © Acervo
Resto do Mundo
Esta edição
integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim
estruturado:
1 PRIMEIRA ANTOLOGIA
ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO
SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA,
I
4 VANGUARDAS
NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL
BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO
SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA,
II
9 SEGUNDA ANTOLOGIA
ARC FASE I (1999-2009)
A Agulha Revista
de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins
e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo
de língua espanhola, sob o título de Agulha
Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012
retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins
e Márcio Simões.
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