O livro é carne. É parte tão intensa do que somos que é tudo menos intangível.
Em essência uma resposta anímica à apatia que eventualmente prolifere dentro e fora
de cada um de nós. Márcio Simões é um notável cultor dessa visão de mundo. Seja
pelo que escreve quanto pelo que edita. Poeta e editor, graças ao imperativo existencial
que o move tem cultivado um relevante catálogo junto ao selo de livros artesanais
que criou há poucos anos, a Sol Negro Edições. Nele, as duas atividades estão de
tal modo unidas que em grande parte os livros que vem editando bem poderiam ser
considerados parte de si mesmo, parte vibrante de um projeto estético que tem levado
adiante de forma altiva.
E agora publica
sua própria poesia. Uma edição que requer uma atenção em sua leitura que vai muito
além da empatia entranhável que cabe a todo encontro amoroso com a criação artística.
Márcio dá pistas que reúne, em Fúrias de Orfeu, sua poesia passada a limpo.
Quando o relemos – a releitura é o melhor ninho das afinidades – é que percebemos
que a referida reunião conforma uma unidade fascinante e que fatalmente nos põe
a pensar sobre os desdobramentos acanhados do que se tem publicado no Brasil, já
de algumas décadas para cá. Onde estava o vendaval dessa lírica tão cortante, onde
a medida austera dessa esfera mágica? Certamente que se preparando para o golpe
de alumbramentos em que se constitui a publicação deste livro.
Márcio Simões
é uma espécie de filho torto da Beat Generation. Deslocado de seu ambiente insurrecto,
em termo e espaço, adubou sua alma com algumas vertigens anotadas no dorso do último
meio século e deu intensidade estética às relações entre vida e obra. Eu diria que
Márcio é um beat que ultrapassa a linha de flutuação das naus de sua geração.
Mais do que influência deste ou daquele poeta, sua poética mergulha em uma visceralidade
tocada pela beat. O radical de somatório de vida e obra, que os brasileiros, salvo
raras exceções, jamais conseguiram assimilar, é o que situa Márcio Simões anos-luz
à frente de seus pares e eventuais mestres.
Para isto servem
as referências: para despertar a nossa alma. Mas esta – reitero – é leitura que
faço de um livro que está alguns acordes acima da toada de nossa lírica. Abraxas
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Agulha Revista de Cultura
Número 111 | Abril de 2018
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO
| FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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o pensamento da revista
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todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
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