"Sem que o escritor tenha consciência
os anos da infância são seu verdadeiro capital… o que vem depois e que até pode
ser considerado muito mais interessante, em nada acrescenta, estranhamente,
apenas que, anos mais tarde é que se começa a entender o que se viu com o
primeiro olhar", citação encontrada no diário de Ingeborg Bachmann,
escrito em 23 de março de 1971, uma das escritoras mais representativas da
literatura de língua alemã, na época do pós-guerra. Contemporânea de Paul
Celan, Max Frisch, Bertold Brecht, Heidegger e Wittgenstein, entre outros,
Bachmann nasceu em 25 de junho de 1926, numa pequena cidade austríaca chamada
Klagenfurt, localizada na fronteira da Itália e Iugoslávia, oito anos após a
primeira Guerra Mundial. Porém, quando a autora menciona sua infância, não é
esta cidade que surge em sua reminiscência, mas a região de Obervellach, onde a
família de seu pai vivia. Até os treze anos de idade, Bachmann passou uma
infância tranquila em meio à natureza de um campo, um rio e um lago. A tríade
campo, rio e lago acompanhou toda a obra da escritora, a bucólica saudade
daquele pedaço de terra, intacto pela atrocidade, de onde foi expulsa pela
história e desde então entregou-se à demanda destes três caminhos em sua vida,
como a terra santa na Bíblia. Alguns personagens femininos em suas obras, como
por exemplo, em Malina (Malina, 1971), Tipos de
Morte (Todesarten) e O Caso Franza (Der
Fall Franza) têm sua origem em Obervellach. Malina foi seu
primeiro e único romance, os outros dois fazem parte de um ciclo que,
entretanto, não chegou a ser concluído pela autora. Malina é
dividido em três capítulos e narra uma história de amor não convencional entre
três pessoas, isto é, duas pessoas, pois uma delas é, na realidade,
representada duplamente. Malina integra a complexa trajetória
de um personagem feminino transformado em um instrumento de análise dos seus
próprios pensamentos e sentimentos, onde a hipérbole de sua sensibilidade e dor
é descrita através de uma linguagem poética.
Não apenas a fronteira
territorial existia naquela região, mas também a fronteira da língua. A
necessidade de ultrapassar as fronteiras fizeram com que se tornassem
imprescindíveis, mas nós queremos falar das fronteiras/ e as fronteiras ainda
traspassam cada palavra:/ nós iremos ultrapassá-las movidos pela saudade da
pátria/ e então entraremos em harmonia com todos os lugares. Desde a
juventude a autora se opôs aos pensamentos nacionalistas da época, mais tarde
tornou-se uma intelectual engajada politicamente, foi contra o armamento nuclear
e a guerra no Vietnã. O pai, no entanto, foi integrante de grupos
nacional-socialistas e serviu na primeira e na segunda Guerras Mundiais, era
uma presença rara junto da família.
No final da segunda
Guerra Mundial, em 1945, Bachmann era uma mulher jovem e desconhecida, que foi
à Viena para estudar filosofia e filologia germânicas. Chegou numa cidade
destruída pela guerra, circundada por escombros de edifícios bombardeados,
pessoas passando frio e fome. Felizmente, a universidade e as mais importantes bibliotecas
não tinham sido devastadas, o que contribuiu para que muitos intelectuais
regressassem à Viena. Muitos deles se encontravam no famoso bar Raimund, de
Hans Weigel, onde passavam a noite discutindo fervorosamente sobre política e
literatura. Weigel foi escritor e cabaretista que muito colaborou para a
literatura pós-guerra. Os intelectuais nesta época lutavam contra o conflito
exógeno nascido do sentimento de culpa por pertencer a um país que contribuiu
para a maior catástrofe na história da humanidade e a negação desta culpa, a
angústia perante um sentimento cada vez mais arraigado, a debilidade diante do
passado assombroso. Este passado assombroso é, nas obras de Bachmann,
representado pela figura do pai. Como na obra expressionista de Kafka, onde
em Carta ao Pai o conflito entre pai e filho foi acentuado,
aqui o conflito é entre pai e filha, retratado, por exemplo, num trecho do
romance Malina, no capítulo em que a autora descreve um sonho, onde
pai e filha estão presos na maior câmara de gás (Gaskammertraum). O início
deste capítulo é a cena precursora da literatura após 1945: uma criança da
geração dos culpados, Tätergeneration, procura a fuga do mundo do holocausto e
é abandonada pelo pai.
No apartamento do pintor
surrealista Edgar Jené, em 1948, Ingeborg Bachmann conhece o poeta Paul Celan,
com quem mais tarde manteve uma extensa e valiosa correspondência. 86 cartas da
escritora dedicadas a Celan estão trancadas no arquivo literário alemão de
Marbach, as de Celan estão lacradas no arquivo da biblioteca de Viena. Paul
Celan teve seus pais assassinados no campo de concentração, ele próprio
sobreviveu aos tratamentos desumanos num campo de trabalho. Muitas das poesias
de Paul Celan foram direcionadas a Ingeborg Bachmann. Ela o segue até Paris, para
tentarem uma vida juntos, amava-o mais do que minha vida, mas por
razões diabólicas (…), foram as suas palavras numa carta ao amigo Hans
Weigel. Eles se separam. Contudo, o encontro com Celan serviu para transformar
profundamente os pensamentos e a linguagem da poeta, onde o acontecimento
histórico relacionado ao extermínio dos judeus adquire a efusiva em suas
obras. Der dunkle Schatten,/ dem ich schon seit Anfang folge,/ führte
mich in tiefe Wintereinsamkeiten (A escura sombra/ que persigo
desde o início/ me conduz a uma profunda solidão de inverno), a escura
sombra que antes representava a solidão do eu-lírico condenado a viver
subjugado pela arte, como na poesia Medo (Ängste), onde a iníqua lei da arte,
igualada à lei dos homens no que diz respeito à criação literária, exaure o
sangue da vida. Neste período artístico a exigência de escrever era encarada
como uma tortura e obsessão. A escura sombra passou a ser a sombra da guerra,
da destruição. Sob a influência de Celan, der dunkle Schatten transformou-se na
escura sombra em cima dos escombros da guerra, o tema tradicional do poeta
exilado pela arte é agora a imagem do exílio do poeta após o holocausto.
Bachmann defendeu sua
tese sobre a filosofia existencial de Martin Heidegger, mas recusou-se a
escrever uma poesia dedicatória aos setenta anos do filósofo, assim como seu
amigo Paul Celan, como nolição ao pensamento irracional alemão: Heidegger era
simpatizante com idéias nacionalistas. No início dos anos cinquenta a escritora
voltou-se para os pensamentos de Wittgenstein, nesta época a poeta, ensaísta e
filósofa era conhecida no meio literário, possuía seus textos publicados nas
revistas mais significativas da Áustria. Escreveu um ensaio sobre a filosofia
de Wittgenstein que foi publicado no Caderno de Frankfurt 1953, um
ensaio sobre o romance de Robert Musil, O Homem sem Virtude (Der
Mann ohne Eigenschaft) na revista Akzente (1954) e outros. Foi
um dos primeiros intelectuais a reconhecer o valor da filosofia de
Wittgenstein. Mas o verdadeiro sucesso obteve com o Grupo 47, de onde eram
integrantes a também poeta austríaca Ilse Aichinger e Paul Celan. Em 1953 foi
publicado seu primeiro livro de poesias, O Tempo Prorrogado (Die
gestundete Zeit), que tornou-a famosa de um dia para o outro. A maestria de
fundir fatos históricos com experiências empíricas resultou na tônica de suas
poesias, unir a condição social e histórica atual à tradição literária. Os
motivos e a linguagem adotados pela poeta lembra Bertold Brecht no que se
refere ao ir embora, a não se fixar em nenhum lugar, a não se prender a nada.
Contribuiu para o grande sucesso de O Tempo Prorrogado o fato
de ser uma lírica que podia ser interpretada não apenas através de um prisma
político, mas também do ponto de vista filosófico. Há uma alusão à passagem de
Heidegger, O Tempo Contado (Die gezählte Zeit) e ao
texto de Aristóteles, Ser e Tempo (Sein und Zeit). Só
mais tarde é que a crítica iria se deparar com o elemento você (Du): pela
primeira vez na história da lírica um poeta se dirige diretamente a um você
para desafiar a posição masculina desprovida de respeito contra a mulher em
desvantagem. Não é sem fundamento que Bachmann, consciente ou
inconscientemente, preferia se expressar através de personagens masculinos.
Segundo Christa Wolf escreveu sobre Ingeborg Bachmann: toda mulher deste século
que ousou circular no nosso meio cultural dominado pelos homens - a literatura,
a estética - conheceu o desejo de autodestruição.
O desejo de
autodestruição recrudesceu com a separação de Max Frisch. No outono de 1958
Ingeborg Bachmann conhece o escritor austríaco Max Frisch, com quem viveu
durante cinco anos e que a levou ao abismo sentimental. Após a separação do
conterrâneo e depois da publicação de seu livro Meu Nome é Gantenbein (Mein
Name ist Gantenbein, 1964), onde Max Frisch descarrega livremente todas as
frustrações do casal, Bachmann se sente aniquilada, a aleivosidade do
ex-companheiro a atinge profundamente. Segue estadias em hospitais e
manicômios, a entrega ao alcoolismo e à dependência de calmantes. Nesta fase
obscura de sua vida, em sua expressão artística a doença deixa de ser subjetiva
e passa a adquirir um âmbito social - a metáfora para o insalubre da sociedade
na época. No discurso por ocasião do Prêmio Büchner, com o qual foi agraciada
em 1964, o enfermo não surge como metáfora, mas as condições externas que levam
um indivíduo a adoecer: a usurpação da violência, a pura brutalidade, a perda
da honra e a ameaça de ver sua existência destruída. A loucura, os nervos, são
a visível derrota num mundo aparentemente saudável. O discurso para o Prêmio
Büchner, Um Lugar de Coincidências (Ein Orte für Zufälle,
1965), refere-se a uma crise durante sua estadia em Berlim, de 1963 a 1965;
aqui ela descreve um doente anônimo internado num hospital à mercê das experiências
destrutivas da cidade, a fronteira deixa de existir entre o Eu, o hospital e a
cidade e a violência toma posse dos acontecimentos. No livro Tipos de Morte,
talvez uma alusão à menção de Brecht sobre os diferentes métodos de se matar
alguém (existem várias formas de assassinato, pode-se enfiar uma faca na
barriga de alguém, roubar-lhe o pão, não curá-lo de uma doença, colocá-lo para
viver em moradia precária, fazê-lo trabalhar até a morte, induzi-lo ao
suicídio, enviá-lo à guerra etc. Somente poucos destes meios são ilícitos na
sociedade), Bachmann descobre que muitos destes métodos são considerados
naturais na sociedade e é exatamente esta indiferença à desgraça humana que
leva um indivíduo à doença física e psíquica. Paradoxalmente surge nesta época
de crise os seus mais belos poemas, A Boêmia fica perto do Mar (Böhm
liegt am Meer) e Praga Jänner 64 (Prag Jänner 64),
revelam a saudade onírica daquele pedaço de terra da infância, representando a
harmonia com o mundo, a tranquilidade e a anuência com a natureza, onde entre
o Morava e o Danúbio/ e meu rio da infância/ tudo possui uma noção de mim.
Outros gêneros
literários fazem parte da gama artística de Ingeborg Bachmann, além de poemas,
contos, ensaios e romances, produziu novelas para programas de rádio e também
um livreto para a ópera de Hans Werner Henzel, O Príncipe de Homburg (Der
Prinz von Homburg, 1960). As mais conhecidas novelas para rádio são Uma
Loja de Sonhos (Eine Geschäfte mit Träume, 1952) e As
Cigarras (Die Zikaden, 1955): pois as cigarras foram um
dia pessoas, que pararam de comer, de beber e de amar, para continuarem
cantando sempre. Na fuga à música foram se tornando magras e pequenas e agora
elas cantam perdidas de saudades, encantadas, mas também amaldiçoadas, porque
sua voz não é mais humana.
A complexidade na obra
de Bachmann concentra-se na tríade eu-lírico, arte e história. A arte é um
istmo que promove a união à exigência da criação literária e à interpretação da
história - para a nolição a qualquer método incruento de morte, a qualquer
pensamento bélico diante da raça humana. Como resposta a uma pergunta, numa
entrevista para um programa de rádio polonês, Bachmann define como principal
compromisso do escritor descrever suas experiências o melhor possível e aliciar
o leitor a sentir, pensar e sofrer exatamente como o escritor o fez. Esta
escritora, pertencente à literatura após 1945, como Paul Celan, Ilse Aichinger
e a poeta russa Ana Achmatowa, a quem conheceu pessoalmente em Roma, entre
outros, não nega o passado assombroso, mas é de uma forma singular que ela o
interpreta em suas obras, acentuando a concatenação de sua dor, sua doença com
o enfermo de toda uma geração. Não é o passado que Ingeborg Bachmann combate,
mas um futuro ágrafo, um futuro que sirva apenas para encobrir os crimes do
passado, um futuro mudo que permita que estes crimes incomparáveis caiam para
sempre no esquecimento. E além disso, seu esforço literário consistiu também na
expressão estética infensa aos diferentes métodos de morte que não são considerados
ilícitos na sociedade.
Na madrugada de 26 de
setembro de 1973 Ingeborg Bachmann sofre um acidente, cujas queimaduras graves
levam-na ao falecimento semanas depois no hospital, no dia 17 de outubro. Seus
amigos surpreenderam-se com a gravidade das queimaduras, uma vez que a
escritora tinha apenas desmaiado no banheiro com o cigarro aceso e, mesmo
inconsciente, teria voltado a si em pouco tempo movida pelas dores da chama
ardendo na pele. No entanto, Bachmann não despertou a tempo, estava alcoolizada
e sob efeito de calmantes. Foi enterrada em Klagenfurt, perto de Obervellach,
onde um campo, um rio e um lago compõem a paisagem.
HERBSTMANÖVER
Ich sage nicht: das war gestern. Mit wertlosem
Sommergeld
in den Taschen liegen wir wieder
Auf
der Spreu des Hohns, im Herbstmanöver der Zeit.
Und
der Fluchtweg nach Süden kommt uns nicht,
wie
den Vögeln, zustatten. Vorüber, am Abend,
ziehen
Fischkutter und Gondeln, und manchmal
trifft
mich ein Splitter traumsatten Marmors,
wo ich
verwundbar bin, durch Schönheit, im Aug.
In den Zeitungen lese ich viel von der Kälte
und
ihren Folgen, von Törichten und Toten,
von
Vertriebenen, Mördern und Myriaden
von
Eisschollen, aber wenig was mir behagt.
Warum
auch? Vor dem Bettler, der mittags kommt,
schlag
ich die Tür zu, denn es ist Frieden
und
man kann sich den Anblick ersparen, aber nicht
im
Regen das freudlose Sterben der Blätter.
Laßt uns eine Reise machen! Laßt uns unter Zypressen
oder auch unter Palmen oder in
den Orangenhainen
zu verbilligten Preisen Sonnenuntergänge
sehen,
die nicht ihresgleichen haben!
Laßt uns die
unbeantworteten Briefe an das
Gestern vergessen!
Die Zeit tut Wunder. Kommt sie
uns aber unrecht,
mit dem Pochen der Schuld: wir
sind nicht zu Hause.
Im
Keller des Herzens, schlaflos, find ich mich wieder
Auf
der Spreu des Hohns, im Herbstmanöver der Zeit.
MANOBRA OUTONAL
Eu não digo: foi ontem. Com dinheiro de verão
desvalorizado
no bolso estamos novamente
no
debulho do escárnio, na manobra outonal do tempo.
E a
saída de emergência para o sul não nos é,
como
aos pássaros, favorável. Á noite,
passam
barcos pesqueiros e gôndolas, e às vezes
me
atinge um estilhaço de mármore cheio de sonho,
onde
sou vulnerável, através da beleza, no olho.
No jornal leio muito sobre o frio
e suas
consequências, de mórbidos e mortos,
de
desalojados, matança e miríades
de
pedaços de gelo, mas pouco sobre o que me agrada.
E por
que deveria? Para o mendigo, que vem ao meio dia,
fecho
a porta na cara, pois é tempo de paz
e
pode-se poupar tal visão, mas não
na
chuva a morte infeliz das folhas.
Vamos fazer uma viagem! Vamos ver debaixo dos
ciprestes
ou
também das palmeiras ou das plantações de laranjas
a
preços reduzidos o crepúsculo inigualável!
Vamos
esquecer as cartas não respondidas ao ontem!
O
tempo faz milagres. Mas quando nos alcança em momento
errado,
com o
pulsar da culpa: nós não estamos em casa.
No
porão do sentimento, sem dormir, me encontro
no
debulho do escárnio, na manobra outonal do tempo.
SALZ UND BROT
Nun schickt der Wind die Schienen voraus,
wir
werden folgen in langsamen Zügen
und
diese Inseln bewohnen,
Vertrauen
gegen Vertrauen.
In die Hand meines ältesten Freunds leg ich
mein
Amt zurück; es verwaltet der Regenmann
jetzt
mein finsteres Haus und ergänzt
im
Schuldbuch die Linien, die ich zog,
seit
ich seltener blieb.
Du, im fieberweißen Ornat,
holst
die Verbannten ein und reißt
aus
dem Fleisch der Kakteen einen Stachel
das
Zeichen der Ohnmacht,
dem
wir uns willenlos beugen.
Wir wissen,
daß wir des Kontinentes Gefangene
bleiben
und seinen Kränkungen wieder
verfallen,
und die Gezeiten der Wahrheit
werden nicht seltener sein.
Schläft doch im Felsen
der wenig erleuchtete Schädel,
die Kralle hängt in der Kralle
im dunklen Gestein, und
verheilt
sind die Stigmen am Violett
des Vulkans.
Von den großen Gewittern des
Lichts
hat keines die Leben erreicht.
So nehm ich vom Salz,
wenn uns das Meer übersteigt,
und kehre zurück
und lege auf die Schwelle
und trete ins Haus.
Wir teilen ein Brot mit dem
Regen,
ein Brot, eine Schuld und ein
Haus.
SAL E PÃO
Então o vento manda os trilhos na frente,
seguiremos
em vagarosos trens
e
povoaremos estas ilhas
Confiança
por confiança.
Na mão do meu amigo mais antigo coloco
meu
ofício de volta; o homem da chuva governa
agora
minha casa sinistra e completa
as
linhas no livro da culpa, que eu tracei
desde
que me tornei cada vez mais estranho.
Você, com a batina branco-febril,
recupera
os desterrados e retira
da
polpa dos cactos um espinho
o
símbolo da impotência,
para o
qual nos curvamos sem querer.
Sabemos,
que
permaneceremos prisioneiros do continente
e à
mercê de novo de suas injúrias,
e a
maré da verdade
não se
tornará ainda mais rara.
Dorme então nos rochedos
do
crânio pouco iluminado,
a
garra segura na garra
na
escura pedra, e curados
estão
os estigmas no violeta do vulcão.
Da grande tempestade de luzes
nenhuma
alcançou a vida.
Assim pego do sal,
quando
a maré nos sobe,
e
regresso
e o
coloco no umbral
e
entro em casa.
Dividimos um pão com a chuva,
um
pão, uma culpa e uma casa.
***
Agulha Revista de Cultura # 11. Abril de 2001.
Página ilustrada com obras de Otto Apuy (Costa Rica), artista convidado desta
edição.
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