A morte de Wega Nery, em
21 de maio de 2007, aos 95, ocorreu discretamente, em ritual de quietude como convém
aos que fazem da reserva seu legado de distinção. Na constância serena do trabalho,
sem concessões ou interesses pelo afã facilitador do mercado, indiferente à pusilânime
crítica brasileira, a artista, finalmente, havia encerrado sua inédita busca estética,
referendada por um caminho único, em prol da revelação de uma anima pessoal
para a arte. Sua dynamis [1] criativa foi operada
sem a necessidade de se cristalizar na relação mestre/neófito. Em entrevista de
1978, cuja primeira pergunta referia-se à opção da artista pela pintura, a resposta
foi imediata: “Eu nasci pintora”, [2] eliminando qualquer especulação
sobre influências ou possíveis indagações sobre seu talento para a poesia, sua atividade
primeira. Tornou-se, colateralmente, leitora de expressivos autores. Arthur Rimbaud
(1854/1891), Fernando Pessoa (1888/1935), Carlos Drummond de Andrade (1902/1987)
embalaram de lirismo sua balada interior. Seus estudos com alguns artistas no País,
hoje clássicos formadores do espírito plástico contemporâneo brasileiro não foram
mais que o cumprimento da boa norma de civilidade. Humilde, para confirmar certezas
íntimas, quis passar pelo aprendizado, durante o qual surpreendeu colegas pela qualidade
de seu desenho, de pronto aceito para exposição no Masp - Museu de Arte de São Paulo,
então espaço oficial de alta credibilidade crítica e administrativa. Esposa, dona-de-casa,
mãe e artista latente, Wega Nery expressou-se na medida exata de sua busca. Viveu
para compreender a essência humana pelo veio da arte, como a entender-se pela autorrevelação,
que lhe chegou evolutiva na expressão da arte e como resultado de sua “solidão”
criativa.
O encontro da artista consigo
deu-se de forma epifânica, ao longo de toda sua existência, pela plasticidade pura
que tocou com suas Paisagens Imaginárias. Nelas, fez repousar a plenitude
de sua busca, porque aquele topos [3] bidimensional, amaldiçoadamente
branco por natureza - a tela - feriu com a grafita, [4] rascunhando lugares, fundando as dimensões
do infinito, interpretando sua abissal espiritualidade, em retratos e em autorretratos.
Muitos deles atestando o olhar grave de pessoas próximas, quando não o viso da própria
artista, todos em olhar distante, francamente contido, abstratamente sereno em sua
segurança profunda. Muitos contidos, de braços cruzados. São seres no exercício
de sua humanidade como que cumprindo o ritual de sua sina, entregando-se, inexoravelmente,
à tinta e ao lápis.
Em 1950 imprimiu no óleo
sobre tela Tãozinho, [5] a exata dimensão figurada
da condição humana, naquele rosto circunspecto e macio de um garoto imbuído de infância
resguardada, tonificada por um sentimento abissal de ausência. Esteticamente, está
encarcerado nas grades escuras de sua camiseta, esboçando um misto de espanto e
convicção. Essa capacidade telúrica de ver e mostrar sentimentos é mérito da artista,
constatação de seu aprimoramento andante, que ocorreu dialeticamente, pela ação
de fazer arte, como ato reflexo da vida e por querer consolidar-se como pessoa-artista,
na medida de seus experimentos estéticos. Wega Nery não delimitou um período da
arte no Brasil, e seria leviano classificá-la temporalmente, ou na condição dos
estilos, tal sua determinação platônica de localizar em si a idealidade para, concomitantemente,
transpô-la à obra. Esse fenômeno é entendido por Friedrich Von Schiller (1759/1804),
em sua Estética Objetiva, como
“O artista é, sem dúvida, filho de seu tempo, mas ai dele que
seja também seu favorito. A arte, como a ciência, estão livres de tudo o que é positivo
[6] (…) Que uma divindade (…) arrebate
o tempo do menino do peito de sua mãe, que o amamente com o leite de uma época melhor
e lhe faça alcançar a maioridade sob o distante céu da Grécia. Que logo, quando
se tenha feito homem, volte, como um estranho, a seu século. Mas não para deleitá-lo
com sua presença, senão para purificá-lo, temível, como o filho de Agamenon.” [7]
Pelo exercício da narração
figurativa, que demanda a dedução da natureza ali representada, evoluiu para a forma
pura, cuja engenhosidade representativa requer a intuição para o aprazimento do
espírito. [8] Isolada, por opção, dos
favores do mercado, pautou-se na prática da criação orientada por vivências individuais,
de consciente teor teológico, ou mesmo religioso, desde que entendamos a religião
como a arte da reinvenção de esferas paradisíacas primordiais. Inaugurou a vida
nas extensões únicas do pantanal mato-grossense, em plena estação de águas, a 10
de março de 1912, quarenta e dois dias após o nascimento do americano Jackson Pollock
(1912/1956), trinta e seis dias antes do naufrágio do Titanic, a 153 Km das
águas geladas dos Grandes Bancos de Newfoundland. A ambiência da infância era feita
de isolamento, nas extensões calcárias de Corumbá, [9] no então Mato Grosso,
região brasileira, que, até 1950, só tinha como meio de comunicação os rios Paraguai,
Paraná e da Prata. É triste a terra extensa, impedida do mar que um dia foi sufocado
em maresia e sal, sujeita às chuvas doces às vezes em desacerto, temerosa do rio
que toda enxurrada aceita, até o derramamento impreciso da enchente sobre o asfalto.
A terra de Wega Nery é feita de calcário calcinado no verão, expandido na estação
fria das chuvas. É quando se expande a água sublevada sobre a terra, para formar
desenhos abstratos, autônomos ao acaso. Vista a inundação do alto, a topografia
mato-grossense mostra a irregularidade estética de um imenso quadro, cujo fundo
seria a água e o motivo deixado a ver, as ilhas de touceiras, onde se aninham aves
despejadas. [10] Há uma tristeza lírica
nessas extensões, revisitada pela adolescente Wega Nery aos treze anos, quando sobre
elas escreveu a pedido de uma revista de Corumbá:
“Corumbá é uma alegre cidade, muito branca, situada sobre a montanha
pedregulhosa. (… ) Como são lindas as tardes em minha terra! São comparadas, elas,
a tudo que de mais bello há. São dolentes e tristes. Lá, da alta torre da matriz
um sino triste badala saudoso, rolando o seu som até o leito do rio que corre. Os
canoeiros observam com os seus lânguidos cantares o dia que mansamente vai morrendo.
(… ) Como tudo isso é cheio de poesia, para os corações dos que lá habitam.” [11]
Era bisneta do Barão de
Vila Maria, encarregado de, em 1865, levar ao Imperador Pedro II a notícia de que
o caudilho paraguaio Francisco Solano Lopes (1827/1870) havia invadido Mato Grosso,
o que resultou na Guerra do Paraguai. Reminiscências assim são animadas pelos recursos
criativos da memória, constituindo o lastro histórico de cada um, podendo fundar
cultos ao passado que permanece grave, enquanto origem. Daí vem a mitologia da ancestralidade,
para uns com indiferença, para outros como orgulho pela permanência de qualificativos
virtuosos, já mortos com ancestrais. Wega Nery nunca se jactou de sua heráldica.
Sabia dos títulos ancestrais de nobreza civil, com a narrativa interiorana sobre
o Barão de Vila Maria, seu bisavô, casado com a fidalga Maria da Glória Pereira
Leite, de estreitas ligações com a corte no Rio de Janeiro e em Lisboa. Sabia do
avô materno, Joaquim Eugênio, o Nheco, proprietário da primeira fazenda da região,
a Campo Leda, hoje Nhecolândia, uma das oito partes que formam o Complexo do Pantanal.
Wega Nery viveu em Mato Grosso os cinco primeiros anos da infância sendo, depois,
matriculada no Colégio Nossa Senhora do Sion, em Higienópolis, São Paulo, onde era
a aluna mais nova. Ainda hoje, a missão daquela instituição visa à religiosidade.
[12] Aos seis anos, escreveu aos pais:
“Eu queria saber se não veem mais aqui, fiquei triste mesmo quase
chorei (… ) Eu também fiz retiro, gostei muito porque o padre falava muitas coisas
engraçadas de Madame Babá (… ) Ele disse também das meninas que dizem sempre querer
não quero. Não vou dizer mais - tomei as resoluções de comungar todos os dias, de
não ir ao cinema, de não bater nas meninas.” [13]
O compromisso com a correção,
expresso tão cedo e de forma tão contundente, indica concessão pessoal aos rigores
culturais, éticos e religiosos daquela instituição, hoje, arquitetonicamente definida
pela sua congregação:
“A solidez da construção do Colégio revela-se em seus alicerces
de pedra, nas paredes externas com aproximadamente um metro de largura. O prédio
é imponente e, logo na entrada, a vistosa escada do hall central parece sintetizar
toda essa imponência. Chama a atenção também, o pé-direito de cinco metros de altura,
garantindo uma excelente iluminação das salas.” [14]
Em foto da época, quando
recebeu as irmãs Cibele e Mercedes no internato, aparentava uma criança consciente
do valor do traje escolar que vestia, vergando o cordão de honra, indicativo
de identidade e mérito perante a família que a visita. Nas primeiras décadas do
século XX, a Igreja brasileira, além do culto religioso, mantinha influência sobre
a educação, cujos modelos eram de extração europeia. Cumprindo a função de fundamentar
bases para a erudição, ensinava e defendia valores, desde décadas antes quando,
sem universidades, os capazes financeiramente acorriam ao Velho Mundo com a pretensão
da formação acadêmica. Eram os filhos de uma riqueza aurífera, depois rural. Wega
Nery conheceu o fausto, até quando seu pai perdeu as colheitas de café. Viajou pouco,
além das próprias fronteiras, e um pouco mais para além das do Brasil. Quando recebeu
o título que lhe permitiu profissionalizar-se como Normalista, foi inspetora de
escolas da rede oficial de ensino, o que a obrigava às viagens solitárias pelo interior
de São Paulo. Para as inspeções em Cafelândia (SP), viajava 14 horas em trem, e
o mesmo tempo na volta. Morou, ainda, em Bauru, em Campinas, em São Vicente e no
Guarujá, onde ergueu seu espaço, metaforicamente insular, na residência projetada
por Gregori Warchavchik (1896/1972), a que chamou Ilha Verde. Em São Paulo, viveu
em diferentes endereços, na experiência da terra, no pressuposto estético da…
Evaporada ou endurecida
no gelo, despejada em março, o destino da água é a terra. Esse colosso planetário
encarna a transitoriedade, a pureza, os limites visíveis do infinito e o prazer
de embalos. É a chora [15] de todas as origens vegetais
que fizeram a realidade biológica da terra. Simbolicamente, a água é o grande símbolo
nas passagens ritualísticas, desde o batismo até a bênção final. Como Wega Nery,
a água vaga em si, revendo a variedade complexa que abriga. Esta é a verdade da
água que Fernando Pessoa poetiza: “Deus ao mar o abismo deu / Mas nele é que espelhou
o céu.” [16] É um líquido vivo, de cores definidas pela
luz. Revolve-se, balança em todas as direções, e precisa ser vencida nos seres que
habita, como as sereias de Ulisses, [17] para lançar seus tornados,
[18] aprofundar rodamoinhos, levantar as marés
para a face mais próxima da lua e para se arrebatar em ressaca no asfalto. É o elemento
fundante da vida biológica que evolui: da partícula microscópica à dimensão da parte
e, desta, ao corpo que ganha o ar. [19] Forma o líquido amniótico,
correlato do mar na origem das proles, é a base para os nutrientes do sangue. Os
primeiros anos de Wega Nery foram no Pantanal, cuja origem, é dito, resulta da separação
de um grande oceano, há milhões de anos, tanto que alguns animais marinhos ainda
existem ali, onde se convencionou chamar de mar interior. No mesmo artigo escrito
a pedido, [20] revelou o motor e alma
de sua cidade; o rio:
“Corumbá (… ) aos seus pés corre como uma agigantada serpente
de prata, o caudaloso rio Paraguay, que parece sentir a nostalgia de sua origem.
As suas águas murmurando queixumes, deixam pensar que levam consigo o sofrimento
dos infelizes. A brisa é leve e os seus murmúrios confundem-se com o sussurrar doce
e calmo das águas do Paraguay.”
Uma veia poética já se
expressava na adolescência, como que indiciando o que se consumaria depois, na senhora
de letras, reinventora da escrita visual a partir da maturidade, quando a possibilidade
do erro diminui a cada pulsação do coração que envelhece. Pedia ao filho que lhe
lesse enquanto pintava, como que forjando uma ausência para criar um diálogo surdo
naquelas falas de alguém, ouvidas ao som dos pincéis e das cores nos pincéis. O
momento infinito de Wega Nery não ocorreu ao acaso e, embora não projetado, foi
sendo intuído sem confissões nem palavras, apenas se expandindo em essencialidade
silenciosa. Em papel e na tela, na dinâmica da clara imagem que foi se distanciar
do motivo, até integrar-se, artista e obra, em registro de unção possível. Nenhuma
obra prima é resultado da inépcia, embora raramente possam resultar do acaso. Muitas
provêm da angústia. Não como dor, mas como a resultante do esforço auto-opressivo
do artista em direção à descoberta, tão necessária, e tão causa de frustração quando
não chega. Quando cessa o fluxo entre a ideia e a intuição, sobrevém a angústia,
que prescreve a solidão, essa cor borgonha, servida ao artista como poções. Por
natureza, Wega Nery quis transformar sua potência criativa retesada e clamante em
imagens, como se assim encontrasse a ação exata que lhe correspondesse na arquitetura
da arte. Pelo sentimento de dignidade com o outro, frequentou escola antes de assegurar-se
como artista plena. E, pelo comportamento indômito e pelo rigor com a identidade
que sempre prezou, levou sua labuta interior como princípio de revelação. Ensinou
quando assim sentiu necessário. Procurou mestres, encontrou estudantes, professores
e mestres, cada qual à sua maneira. Esses caminhos são necessários para fundamentar
certezas, equalizar conhecimentos e atualizar o criador. A artista vivia em constante
perquirição, pondo-se, diante do fazer artístico, com humildade que nem sempre comparecia
em suas relações sociais. Fermentando dúvidas, indagando em pesquisas e indagando-se,
Wega Nery lentamente foi levada ao que se poderia dizer, com cuidado, de certeza
premonitória, tanto para o belo que incita amor, quanto para o sublime que demanda
respeito. [21] A beleza de suas cores
é, por vezes, angustiante com negros ascendentes em ogivas góticas plantando catedrais
profundas, silenciosas e em clima tenso, como se as santidades que ali moram houvessem
abandonado a casa em fuga desvairada, para que o espaço fosse preenchido por confissões,
das quais nunca saberemos os pecados. Na profusão de cores vê-se a vontade da artista
de tornar aquilo que é perceptível aos olhos algo material e resistente, para que,
objetivamente, a beleza se mostrasse. As Paisagens Imaginárias objetivam a beleza,
tornando-a autônoma, independente da subjetividade do fruidor para torná-la bela.
Podem ser meigas à luz e, quando nomeadas, por poemas que a artista lia e admirava,
como “Bateau Ivre”. [22] Podem ser assombrosas,
podem ser abismais. Em geral, seus títulos para obras são misteriosos, quando não
líricos, e sempre lindos. Indicam os elementos: Muralha de Sonho (1963),
Imaginário em Ouro (1970), Hora da Tarde (1972), Ritmo Cósmico
(1973), Fantásticos Caminhos (1977), Glória Solar (1977), Dia do
Mar no Mar (1978), Revelação Onírica (1979), Sonho das Águas (1981),
Sempre o Mar (1984), Último Verão (1985) e Manhã em Azul (1993),
para citar alguns.
A passagem da figuração
para a fase de seu abstracionismo figural ou figurativismo metafísico [23] conduziu-a a adotar os princípios estéticos,
como Giorgio De Chirico
(1888/1978) com suas transposições metafóricas do movimento pela sombra rasante, em redor de suas figuras indiscerníveis. O que De Chirico tem de teatral, Wega Nery tem de essencial. Se a obra do primeiro fosse um texto teatral, a de Wega Nery seria o texto e o subtexto. Artistas dessa ordem criam novas perspectivas estéticas que podem se tornar doutrinas, tal o refinamento plástico eivado de inteligência para o ineditismo de seus formalismos. Wega Nery tornou a pintura sua própria qualidade, elevando-se da natureza, como modelo expressivo. Embora amante das paisagens em topografia natural - desde o tempo de estudos em São Paulo, encontrou-se na íntegra em suas paisagens feitas de transcendência. São as Paisagens Imaginárias, abstratas no todo e figurativas em parte.
(1888/1978) com suas transposições metafóricas do movimento pela sombra rasante, em redor de suas figuras indiscerníveis. O que De Chirico tem de teatral, Wega Nery tem de essencial. Se a obra do primeiro fosse um texto teatral, a de Wega Nery seria o texto e o subtexto. Artistas dessa ordem criam novas perspectivas estéticas que podem se tornar doutrinas, tal o refinamento plástico eivado de inteligência para o ineditismo de seus formalismos. Wega Nery tornou a pintura sua própria qualidade, elevando-se da natureza, como modelo expressivo. Embora amante das paisagens em topografia natural - desde o tempo de estudos em São Paulo, encontrou-se na íntegra em suas paisagens feitas de transcendência. São as Paisagens Imaginárias, abstratas no todo e figurativas em parte.
Na natureza, a paisagem
é uma dimensão infinita que requer o recorte artificial do artista, cujo olhar se
educa para ser seletivo com a própria realidade. Se a paisagem está inserida no
infinito, então ela pode ser a própria expressão dessa dimensão inexprimível; o
infinito, na pequenez da obra. As suas, por serem imaginárias e críticas, são puras.
[24] Linguisticamente, a matéria primeira desse
esteticismo é a pureza de qualidades na forma de ícone [25] que, em Wega Nery, se faz arte como correlato
da própria existência pensante.
Significa dizer que o homem
se busca no mundo como uma obra de arte, organizando seus feitos estética, ética
e logicamente. Plena de vitalismo, a expressão de Wega Nery amplia o conceito de
arte que transfigura em essência vital, que justifica o artista como prestidigitador
de indicativos e formas para a fruição do olhar. Veja-se o esforço do americano
de Cody, Wyoming, [26] a partir da técnica do
dripping, criada por Max Ernst, feita de gotejamento de cores sobre uma tela
estendida no chão que, se movimentada em posição normal, cria um entrelaçamento
de cores. São descobertas. Wega Nery e Jackson Pollock operaram o exercício criativo
para explicar a estética na pintura como razão pura. Não pode existir objeto de
arte sem uma técnica que lhe seja natural. A de Pollock resultou, ao acaso, dos
movimentos físicos observados como possibilidade expressiva, mais uma genialidade
em criar a explosão, tão premonitória de um mundo em sobressalto, tanto na obra
quanto visto na atualidade. O americano recebeu influências dos muralistas mexicanos,
confessadamente da arte construída em pedaços por Pablo Picasso, do geometrismo
plástico dos navajos [27] em atitude criativa baseada
no automatismo surrealista. Seu autoencontro deu-se tecnicamente nessa forma. Wega
Nery, a sua vez, não elaborou artifícios técnicos, além da adoção do princípio da
tekné [28] como princípio evolutivo
e controlado. Sua técnica é, em princípio, clássica na pintura, salvo os espatulados
que reforçam física e espacialmente a materialidade da tela. Para isso precisou
apenas de tintas, telas e terebintina, mais o propósito pessoal de superação da
alteridade vazia na base. De sua terra primordial, a terra pantaneira, onde se arrastam
animais que necessitam da peçonha para a defesa, Wega Nery reteve a transparência
da água dos rios e, em movimento aéreo de subida, como preconiza a dialética ascendente
de Platão, foi reduzindo a materialidade da arte, pondo-a na combustão lenta em…
É o elemento da natureza
que a tudo torna comum na verdade das cinzas, onde nada se pode identificar das
matérias que o alimentaram. Mas ilumina, antes de ser essa matéria comum, as cinzas.
Na mitologia grega, Hélios está associado ao sol na forma de um jovem coroado com
uma auréola de raios dourados. Porta um cortante chicote e conduz um carro de fogo,
desde a Etiópia, puxado pelos cavalos Pirois, Eoo, Éton e Flégon,
pelo céu. Todos esses nomes são relacionados ao fogo e à luz. É o arauto regente
dos grandes encontros humanos de Wega Nery. Foram pessoas que com ela privaram,
na intimidade da família ou na particularidade da arte. [29] A artista confessa, em constância, uma solidão,
que mais se assemelha a uma deliberação do que a uma circunstância de sujeição.
Os solitários, por determinação íntima, são os que primeiro precisam se suportar
para, depois, realizar-se no silêncio. Friedrich Von Schiller trata o assunto como
libertação, quando esse estar estético no mundo congrega no sujeito a razão e a
sensibilidade. As Paisagens Imaginárias, já tão citadas, surgiram ao acaso,
conforme atesta a própria artista em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo,
de 3 de fevereiro de1983: “Certo dia pintei São Paulo de longe e a paisagem saiu
intimista e irreal - imaginária. Não precisei mais do modelo. A criação vem do espírito
que sonha.” Porque o sonho tem o recurso de promover a sensação inefável da simultaneidade,
presente evolutivamente na obra por duas razões formais. A primeira é a possibilidade
da experiência sensorial do fruidor, pela rítmica feita pelas repetições em alguns
traços. Em Solidão da Esperança, um trabalho de 1969, faz irromper
de patamares em perspectiva ascendente, pequenas protoformas assombreadas de cores,
que bem poderiam ilustrar a visão primeira de Dante Alighieri [30] (1265/1321), aos sete céus móveis da sua Divina
Comédia. O legado da artista é a conquista, pelo esforço, de sua unidade estética,
aquele rosto único manifesto em forma pura possível, a que os gregos chamaram tekné,
para significar ofício, habilidade e arte. Os romanos a traduziram por ars,
no sentido de invenção, imaginação, acomodação a um estado de perfeição, ao qual
tudo se adapta. O temperamento criativo brasileiro reflete bem essas definições,
tão presentes nas Paisagens Imaginárias, em relação sensorial pura do receptor
com a tela. A ordem técnica inaugural da artista comparece aos olhos, pela composição
em volumes inteiros em diálogo com particulares formas inaugurais e, salvo melhor
juízo, em todos os trabalhos conhecidos pelo autor [31] deste ensaio, há uma
clara prevalência do amarelo. É a cor que tonaliza os primeiros trabalhos de campo,
vasos de flores, cenas. Mesmo como correlação do vermelho, do verde ou do azul,
ele comparece. Quando, minimamente, torna-se o ponto áureo do espaço. O amarelo
é a cor de Hélios, a mais próxima da realidade transitória da luz. J. W. Goethe
(1749/1832) faz considerações, algumas questionáveis, mas seu entendimento do amarelo,
na composição do clima colorístico, é recebido como fenômeno visual que potencializa
estados de alma.
“Nos experimentos prismáticos somente se expande numa ampla extensão
de espaço iluminado; o amarelo pode ser visto aí na sua máxima pureza, quando ambos
os pólos permanecem separados um do outro, antes de se misturar como azul para formar
o verde. No seu mais alto grau de pureza tem sempre consigo a natureza do claro,
possuindo um aspecto sereno, animado, levemente estimulante. Mais leve. (… ) Condiz
com a experiência que o amarelo produza uma impressão calorosa e agradável. Por
isso também na pintura pertence à parte iluminada e ativa. Embora essa cor, em estado
puro e nítido, seja agradável e reconfortante e tenha nobreza e serenidade em sua
máxima intensidade, é, ao contrário, extremamente sensível e produz um efeito bastante
desagradável ao se sujar ou inclinar para o lado negativo. Por esse motivo, a cor
do enxofre, que tende ao verde, tem algo de desagradável.” [32]
Amarelo também revela o
simbolismo da elevação, pelo fogo que a tudo rege, anima e destrói, e é visto em
sua plenitude, somente quando sobre o branco. Vincent Van Gogh (1853/1890) o usava
para revelar a noite, tanto quanto para apoiar os girassóis em sua vontade plástica
de, apenas, ser luz.
A observação de Wega Nery,
ainda que incidental, daquele vitalismo vegetal, presente na movimentação de cores
irrepetíveis, sons canoros de pura abstração, sem registro anterior, impróprios
para a música prefigurada em letras e versos, poderia impressionar-lhe a memória
em edificação. Ao sol, o Pantanal mostra a sua luz potente para a fotografia, e
isso é um dado mensurável pela ótica física, bem como pela sensibilidade humana.
A multiplicidade plástica de cores optada pela artista também ocorre nos sons.
O som fala na forma de
sensações e, sendo energia transmitida pelo ar, é capturado pelos ouvidos, sensores
cerebrais da sonoridade, movimentando o ânimo do ouvinte, ao sabor do acaso, para
o homem em estado de natureza. Civilizado pela música, o som, realidade energética
transitiva, surge aos ouvidos, domado pela vontade do músico. O olhar juvenil de
Wega Nery, como que se, nas águas visse os matizes do fogo “Lá, muito longe,
o horizonte é um mar de sangue, as águas prateadas do Paraguay reflectem esse róseo
purpúreo do céo em braza.” [33]
O segmento das Pinturas
Imaginárias tornou-se para ela, uma ordem de purificação para que sua percepção
da realidade fosse a mesma que, tão perfeitamente, imprimia na tela. Sua interpretação
da realidade paisagística começou a mudar com a aplicação de efeitos enevoados quando
retratava a cidade de São Paulo. Tão distante das paradisíacas possibilidades dadas
generosamente pelo Pantanal, ou pelo Atlântico, finalmente apontava na tela sua
descoberta íntima. Só lhe era necessário concentrar-se na linha antes no novelo,
solta com o gatinho das pretéritas imagens infantis de calendários passados, depois
esticada em direção à infinitude. Bastava seguir o itinerário plenamente orientado.
Se o tempo e o espaço determinam o conhecimento lógico, a descoberta, em casos assemelhados
ao de Wega Nery, indica o triunfo do herói, apesar de sua falha trágica, como a
de Édipo, o orgulho viril emergido no encontro com o pai, Laio, num banal estrangulamento
de passagem. Mas a imperfeição é o fiel na balança da perfeição, como se uma alimentasse
a outra em processo de alimentação e retroalimentação. O ruído lança dúvidas e estas
lançam indagações, e estas, por sua vez, podem pressupor a verdade. Tudo é evolução,
meio ao relativismo. A evolução é o movimento inexorável do cosmos, movido pela
ordem e com a surpresa do clinamen. [34]
Em idade avançada, Wega
Nery comentava com amigos a desnecessidade de se estar aqui, no espaço da imperfeição.
Isso é platônico, quando relacionado ao Mundo das Ideias, instância metafísica de
plenitude, perfeição e gozo na idealidade. De lá vêm os modelos em errância pelo
mundo contingente, imperfeitos, de segunda ordem, catalogados pelo trabalho do demiurgo.
[35] Para o espectador das Paisagens Imaginárias,
a sensibilidade é golpeada e exaltada à vez. Essa capacidade de mobilizar a sensibilidade,
como se o fruidor perspicaz fosse surpreendido, e se rendesse a qualquer laivo de
emoção, não é um fim em si. Porque o espírito é convocado a postar-se para garantir
o registro daquela emoção, na forma da memória em curso, para que um dia seja rememoração
distanciada do arroubo que arrebata; seria o Supremo Bem. [36]
O encontro com a forma
última de Wega Nery se dá pela elevação do seu espectador à vivência de algo admirável.
Isso revela, finalmente, o sentimento puro de amorosidade, como tão essencialmente
definiu Olavo Bilac:
“… amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas.” [37]
Essas estrelas noturnas
são encantamentos tardios da luz solar, lindos reflexos redondos, que nos dão um
sol virtual, para afugentar a totalidade das trevas. Essas solitárias indicações
amarelas, interrompidas surpreendentemente pela luz descensional de meteoros em
chamas quando atingem a estratosfera. Tremeluzem intermediadas pelo nosso…
Quando pressentia o silêncio,
Wega Nery deixava de falar. Calava os pincéis para entrar no âmago de respostas,
jejuando cores, indiferente ao movimento das galerias que perderam sua função para
as grandes corporações, em especial os bancos, que transformam a arte em puro espetáculo.
Sua fisionomia de predicações, serena, esperava bebendo os ares [38] em paixão reclusa pela arte, especialmente
a sua. Os quadros, já tornados segmentos de pura predicação, entravam em tempo de
esperas. Seu manancial tornou-se aragem para o respiro solitário e essencial. Já
estava embalada pelo seu predicado essencial, um energizante sentido estético em
que havia se tornado era sua própria definição. Vivenciando o vazio deliberado,
continha sua conquista enquanto, com os olhos baixos, olhava serena para seu primeiro
elemento, a terra. Como a pedra bruta se sabe gema, a artista reconheceu o que poucos
haviam notado, como Luiz Modesto, talvez, seu melhor crítico:
“Wega, ao lançar mão de uma terceira dimensão, realiza um espaço
valorativo que difere em espécie e finalidade da perspectiva positivista. Todo conjunto
da sua obra é uma rebeldia contra a mensurabilidade, elevando a cena ao sentido
em que Fernando Pessoa define ao dizer que ‘todo estado de alma é uma paisagem’.”
[39]
Trata-se de comentário
simples e essencial, quando da retrospectiva que lhe obsequiaram pelos seus oitenta
anos, e pelos cinquenta de criação. Comemoravam-lhe a boda do metal mais precioso,
quando seus amarelos já haviam se tornado ouro em esplendor de elevado quilate e
os cabelos, a soma de todas as cores. Já podia falar de si, como ninguém havia falado
antes. No mesmo catálogo impresso sem qualquer recurso de sofisticação, Wega Nery
também deu entrevista, afirmando:
“Deus é o pintor do Universo. Ele se lembra de cada pontinho.
Ele criou. Eu, por minha vez, me lembro de todos os detalhes dos meus quadros, até
os erros, dos menores fragmentos. Imaginem Deus!” [40]
Havia entronizado sua qualidade
indiscernível na matéria física da arte, com certeza do que é a plena criação. Algo
iniciava uma história inaugural, sem tempo de começo, se vista como um de seus quadros.
Sua afirmação a instituía, com palavras próprias. De fato, todo o desnecessário
havia se extinguido. Envolta em nuvens, era seu próprio recurso, quando o mercado,
indiferente à arte em si, entorpecia-se em seu único dilema: o lucro improdutivo,
equívoco de uma sociedade patológica por expandir o valor de troca de mercadorias.
Ninguém se ilude, hoje, pela recuperação de uma arte idealista demais em seu desinteresse,
além do aprazimento dos sentidos. A Grécia é uma saudade normativa. Essa arte existia
quando se inventou a democracia direta, praticada na ágora. [41] Mas o artista é esse ser surpreendente,
o único capaz da regeneração íntima das feridas atávicas de cada um, mais as que
chegam de graça na cadência dos dias. A obra de Wega Nery tinha relação genealógica
com a de Paul Cézanne (1839/1906), por razões que ela mesma esclarece:
“Cézanne foi para os artistas da minha geração um elemento de
muita importância, porque ele era muito rigoroso consigo mesmo, exigia de si toda
disciplina e um encontro com a verdade, com o real. Cézanne não era um paisagista
como os outros impressionistas, ele penetrava a paisagem, colhendo amostras do local,
examinando a cor física da terra que compunha na paleta e assim transportava para
o suporte um conceito matérico da paisagem. Eu acreditei nisso.” [42]
Sua composição é única
na proposição do gozo da forma pela cor que lhe fez atingir a liberdade suprema
de todos os interditos para a pintura, inclusive a natureza como elemento que anima
sua paisagem, porque ela se tornou imaginária. Além da imaginação, da história,
da educação, da fé, da crença e de si. Em sua humanidade, havia colocado a pedra
fundamental da arte. Completados cinquenta anos de desenho e pintura, era em que
o silêncio enleva, o recurso do silêncio é o melhor discurso. Talvez Wega Nery não
soubesse do colosso de seu solilóquio, quando suas mãos se fechavam em telas por
horas, dias, meses, anos. Por isso, a dor poderia ser-lhe leitmotiv, [43] pelas questões de saúde que suportou
e que a levaram a se iniciar como desenhista e pintora.
A pneuma [44] unifica o cosmos, fazendo-o admiravelmente
diverso em seus fluxos sem a cadência de relógios. Animando-lhe a alma, está abaixo,
a terra, parte inferior de sustento para nossa evolução, que, como o pelicano, se
entrecorta para dar guarida aos rios em seu afã pelo sal, e para imobilizá-los em
gelo, água desfeita de infinito. O sol é o princípio de renovos nesse espaço de
uma só trajetória. Seu sopro íntimo de energia modela o que contém. Cada obra acabada
de Wega Nery continha a inscrição de leis únicas em pedras, compreensíveis a iniciados,
na forma de neoalquimia, [45] barroca,
original e ousada. Ao ver seus próprios feitos, com olhos verde-cigano, deveria
experimentar momentos contínuos de satisfação, glória repentina e quieta, pronta
a ser superada pelo enthousiasmós [46]
com a próxima tela. Talvez…
Paisagens Imaginárias…
Induzem mas não dizem… Propõem micro realidades generativas que se ampliam minimalmente
em outras… imaginação em brasas, festeja identidades fortuitas… Profundas inscrições
rupestres em rochas estratificadas indicando crepúsculos na dolência viva de um
sonho relembrado… langores visuais aos quais o olhar se entrega irresistível… sucessão
de linhas que não formam retas porque entre um espaço da tela e outro, há mais quadros
de diversidade que bem poderiam ser, autonomamente, outros… Wega Nery… caminhos
de embriaguez por espaços físicos obliterados… paredes sem portas defendendo o jardim,
onde, uma só rosa azul sobe, abrindo caminho aos espinhos… Centro onde não se chega
quem dali não é… aboios plangentes em tardes rurais indicando a morada da noite
pantaneira… século estelar de luz derramada em branco e amarelo… zumbido de enxame…
sementes aéreas sem tempo para o messidor… [47] itinerário de nereidas mensageiras… cavernas de luz, múltiplo teatro
de eras, extensões de chumbo, sombras dilaceradas, pergaminhos de incredulidade…
palimpsestos vencidos, deixando emergir a tinta antiga com sombras ancestrais alterando
paisagens… explosões de minas estufadas de metais… brutos… brilhantes… possibilidades
para as nuvens… timidez de visitante, contida em vulcânica explosão… brumas escorridas
no vidro… terra cindida… murmúrios de natimortos. Wega Nery… oceano ferido de mel,
embriaguez de aceno ferido… narcóticas imagens… retenção de claridades… embriaguez
da razão febril… êxtase de Santa Tereza, rosas profusas de Santa Rita… sublimação
e arrebatamento íntimo… paisagens da Pasárgada… [48] tensão forasteira… caminhos de ida sem indicações. Triunfo… Mais
ar.
NOTAS
1.
Capacidade ativa e passiva, potência para a realização de algo.
2.
MESQUITA, I., Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São
Paulo, 1987, p. 163.
3.
Lugar das formas.
4. Mineral, também chamada de chumbo negro ou
plumbalina. Forma trigonal do carbono puro empregado na fabricação de lápis.
5.
Diminutivo para o nome do filho, Sebastião (Gomes Pinto).
6.
Positivo: princípios sociais, políticos, jurídicos etc., que servem a uma época,
um Estado, em contraposição aos princípios absolutos. SCHILLER, F. Von, Kallias,
Antropos, Barcelona, 1990. T. do A.
7.
SCHILLER, F. Von, A Educação Estética do Homem, Antropos, Barcelona, 1990,
T. do A., p. 173.
8.
Ou razão pura.
9.
Do tupi corupah, para significar lugar distante.
10.
Desocupação compelida por alguém ou algo.
11.
Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições
K/MWM, São Paulo, 1987.
12.
Incentivar a descoberta e vivência dos valores permanentes da pessoa em relação
consigo mesma, com os outros e com o absoluto de Deus. www.colegiosion.com.br/historico.
25/04/2009
13.
MESQUITA, I., Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições K/MWM, São
Paulo, 1987, p. 18.
14.
www.colegiosion.com.br/historico. 24/04/2009
15.
Em grego, área, espaço, como qualidade contínua e permanente.
16.
Do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa.
17.
Odisseu, em Grego. Em sua viagem de volta, passando pela Ilha das Sereias, amarrou-se
ao mastro, de ouvidos tapados, para não ouvir-lhes as vozes sedutoras para o afundamento
no mar.
18.
Furacão que sopra no Golfo do México e no Mar das Antilhas, atingindo o continente,
sobretudo entre julho e outubro.
19.
Em grego, pneuma, ar ou respiração. O verbo grego cognato é usado em ambos
os sentidos em Homero. PETERS, F. E., Termos Filosóficos Gregos. Um Léxico Histórico,
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1983.
20.
Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições
K/MWM, São Paulo, 1987.
21.
Parafraseando a definição de Immanuel Kant em: Crítica da Faculdade de Julgar.
22.
“O Barco Sonâmbulo”, poema de Arthur Rimbaud (1854/1891).
23.
Os termos foram criados pelo autor.
24.
Trata-se do tipo de razão de que se valeu Kant justamente para examinar (criticamente)
a razão (pura). A razão crítica é a razão que se examina e, portanto, que critica
a si mesma, isto é, critica os seus pressupostos. MORA, J. F. Dicionário de Filosofia,
Martins Fontes, São Paulo, 1994.
25.
Representação ou signo que guarda semelhança qualitativa com seu referente. Ex.
a obra de arte.
26.
Jackson Pollock.
27.
Tribo nativa do sudoeste americano. N. do A.
28.
Em grego, ofício, habilidade, ciência aplicada. Trata-se da habilidade perfeita
para a realização de uma tarefa.
29.
A família, alguns amigos, a poesia, a prosa, as artes em geral. Citava sempre Sérgio
Milliet, Lourival Gomes Machado, José Geraldo Vieira, Geraldo Ferraz, Mario Pedrosa,
Léo Gilson Ribeiro, Quirino da Silva, Jacob Klintowitz, Olívio Tavares de Araújo,
Osório Cesar, Jaime Maurício, Quirino Campofiorito e, em especial, o seminarista
Severino Martins.
30.
Poema épico e filosófico que revela a estrutura do pensamento simbólico-religioso
do período Medieval. N. do A.
31.
Isto é uma simples opinião, de quem ainda pretende conhecer a obra de Wega Nery;
portanto, pode constituir-se em erro de interpretação, situação em que a afirmação
não deve ser considerada.
32.
Goethe, J. W., Doutrina das Cores, tradução de Marco Giannotti, Nova Alexandria,
São Paulo, 1993.
33.
Carta reproduzida no livro Wega Nery - Reflexos do Real Invisível, Edições
K/MWM, São Paulo, 1987.
34.
Desvio. Demanda o rearranjo da ordem em movimento pressuposto de perfeição.
35.
No Timeu (29d-30c), construtor, artífice. Criador dos deuses inferiores,
da alma do universo, uma das causas inteligentes e eficientes do universo.
36.
Em Ética a Nicômaco, sua principal obra sobre Ética, Aristóteles (384 a.C./322
a.C.) discute a razão como principal finalidade humana. Dela se estabelece a virtude,
a partir do hábito e da prudência. A Ética, portanto, tem como finalidade o Summum
Bonum, o Supremo Bem. Isto seria o ideal da felicidade humana, eudaimonia.
37.
“Via Láctea”, poema do autor parnasiano, cognominado Príncipe dos Poetas Brasileiros.
38.
Beber ares, expressão que significa dedicar-se muito, esmerar-se.
39.
Catálogo da exposição A Ilha Verde de Wega, Museu de Arte de Brasília, Brasília,
1993.
40.
Catálogo da exposição A Ilha Verde de Wega, Museu de Arte de Brasília, Brasília,
1993.
41.
Espaço público, por excelência, em contraposição a espaço particular.
42.
Catálogo da exposição Wega, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 1994.
43.
Em música, motivo condutor. Algo sobre o que se insiste com frequência.
44.
Ar ou respiração , unificador do cosmos, o vazio exalado pelo universo. O primeiro
ponto de vista sobre o universo vivo, fato gerador (… ) espírito não material.
45.
A Alquimia é uma tradição antiga que combina elementos de química, física, astrologia,
arte, metalurgia e religião. Existem três objetivos principais na sua prática. Um
deles é a transmutação dos metais inferiores e o outro, a obtenção do elixir da
longa vida, uma panaceia universal, um remédio que curaria todas as doenças e daria
vida eterna àqueles que o ingerissem. Ambos estes objetivos poderiam ser atingidos
ao obter a pedra filosofal, uma substância mística que amplifica os poderes de um
alquimista. Finalmente, o terceiro objetivo era criar vida
humana artificial, os homunculus.
46.
Divina habitação interior. Possessão e sentido de unidade que indica o ser cósmico.
N.A.
47.
Décimo mês do ano e primeiro mês do verão no calendário da Revolução Francesa. Entende-se
como o período em que as espigas já estão douradas para a colheita.
48.
Poema de Manuel Bandeira, no qual a cidade de Pasárgada, a nordeste de Persépolis,
ambas na antiga Pérsia, é o ideal e esperança de realização sensorial plena. Há
nessa imagem uma conexão poética com os feitos de Wega Nery, em especial se vistos
em sua fase última.
Jorge Anthonio e Silva. Doutor em Estética pela Pontifícia Universidade
Católica de
São Paulo. Membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e Autor dos livros Ivonaldo
(2002), O Fragmento e a Síntese - A Educação Estética do Homem (2003), Arthur Bispo do Rosário - Arte e Loucura (2003) e A Torre de Babel de Valdir Rocha (2007). Página ilustrada com obras de Wega Nery (Brasil), artista convidada desta edição de ARC.
São Paulo. Membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e Autor dos livros Ivonaldo
(2002), O Fragmento e a Síntese - A Educação Estética do Homem (2003), Arthur Bispo do Rosário - Arte e Loucura (2003) e A Torre de Babel de Valdir Rocha (2007). Página ilustrada com obras de Wega Nery (Brasil), artista convidada desta edição de ARC.
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