O ser humano é ao mesmo tempo
um e muitos. É um enquanto indivíduo, com variações de grau em relação a sua autenticidade.
É muitos, enquanto pertencente à humanidade como um todo que possui uma consciência
coletiva, que, como um rebanho, reage em grupo. Quanto maior o grau de autonomia
de um indivíduo, menor sua reação coletiva. Parece não haver um grau absoluto de
autenticidade no qual um indivíduo não se submeta ao coletivo em nenhum nível. Sempre
haverá algum nível de submissão por maior que seja o grau de isolamento, autenticidade
e independência.
E o que determina as ações
tanto do coletivo quanto do individual?
Uma resposta possível é que
o que determina uma ação e/ou um comportamento é um molde preexistente ao qual o
indivíduo ou o coletivo se submete. Para que um ser se submeta a um determinado
molde é preciso que ele tenha uma predisposição a ele. As diferenças entre indivíduos
são as diferenças de predisposições. Algumas predisposições podem ser inatas e outras
adquiridas ao longo da existência. Esta é a perspectiva platônica. O que chamamos
aqui de molde são as formas ou ideias que cinco séculos antes da era cristã Platão
nos apresentou. Os arquétipos platônicos seriam os formadores de mundos. Quando
alguém se encontra tomado de raiva e violência, está identificado e submetido a
esse arquétipo, que podemos chamar de Ares. A pessoa submetida a esse arquétipo
não tem controle sobre si mesma. O mesmo acontece com o arquétipo do amor (Afrodite).
Quando a pessoa se identifica e se submete a esse arquétipo diz-se que está apaixonada.
Existe assim uma forma subjacente a todos os fenômenos, seja lá o que for: coisas,
sentimentos, ações, etc.
A abordagem de mundo, ou
seja, a interpretação que temos do mundo varia no tempo e no espaço. Até por volta
do quinto século anterior a atual era parece que a humanidade se via como a degeneração
de uma era de ouro, de um passado remoto onde mito e realidade se confundiam. Acreditava-se
que nesta era dourada os seres humanos eram perfeitos, ou seja, bons, saudáveis
e imortais, e não lhes faltava nada. Contudo, os gregos contemporâneos de Péricles
mudaram a perspectiva e passaram a se ver como seres que saíram da barbárie e atingiram
uma civilização. E o que chamavam de civilização era o início do materialismo. Aos
poucos os homens foram deixando de lado suas crenças nos relatos míticos e seu temor
aos deuses, e até mesmo sua credibilidade às explicações naturalistas dos primeiros
filósofos. Agora a bola da vez era dos sofistas, com a máxima de Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas.”, somente seu próprio julgamento a respeito
das coisas era confiável, e Crítias dizendo que os deuses eram uma invenção para
instalar o medo.
Tudo indica que antes deste
fatídico século V, o homem como indivíduo, assim como somos hoje, ainda não existia.
Assim, os poemas épicos brotavam de uma psique coletiva, e não de um autor único.
Dessa forma, não teria sido Homero o autor da Ilíada e da Odisseia, mas estas seriam
fruto da criação coletiva. Talvez nós possamos dizer que hoje continua assim, de
modo que um autor literário não seja o criador de seus escritos, mas apenas captou
o coletivo. Dessa forma, os autores não são criadores, mas seres dotados de boas
antenas captadoras do que se passa na mente coletiva e dos desejos inconscientes
das pessoas. Mas, enquanto indivíduos, acreditamos sermos os autores de nossas publicações
e nelas assinamos embaixo.
2. MITO:
VERDADE OU MENTIRA
A civilização humana desenvolve-se por partes. Para
desenvolver o intelecto tivemos que sacrificar o instintivo e o intuitivo. Por essa
razão, nos últimos milênios o mito foi menosprezado e o sentido do termo alterado
para o seu oposto. Mythos em grego quer
dizer palavra, e o verbo mitologizar significa narrar o conteúdo real do fato. O grande
estudioso dos mitos, Junito de Souza Brandão, diz que etimologicamente mitologia
é o estudo dos mitos concebidos como história verdadeira. Para Roland Barthes, o
mito não é um objeto, um conceito ou uma ideia, mas um modo de significação. Os
mitos, portanto, narram a realidade e seu significado. Com o início do desenvolvimento
da razão passamos a usar unicamente o termo logos para significar palavra, da qual
deriva a palavra lógica.
Como o mito narra algo verdadeiro
e o logos narra algo idealizado, conclui-se que hoje somos autênticos platônicos
– vivemos no mundo das ideias e desconhecemos a realidade dos fatos.
Compreender os mitos, que
foram passados de geração em geração, seria uma forma de resgatarmos o que éramos
antes da vinda de Platão.
3.
CAUSALIDADE – UMA TEORIA FINALMENTE REFUTADA
Para aqueles que ainda estão submissos ao paradigma
newtoniano, e, assim, fervorosamente crentes às suas leis, buscando as causas de
suas misérias no governo ou nas bactérias, saibam que John Bell já provou matematicamente
que partículas de uma determinada fonte, chamadas partículas de fase fechada, estão
ligadas para sempre, sendo que isso acontece de uma maneira não causal, que não
pode ser concebida logicamente. O teorema de Bell prova que isso não é válido somente
para as minúsculas partículas subatômicas, mas trata-se de uma lei geral. Com isso,
o princípio da causalidade foi refutado e rebaixado a um modelo de explicação que
permite somente uma abordagem aproximada da realidade. Se você tem interesse em
conhecer a realidade de qualquer coisa que seja, não adianta buscar causas. O caminho
é outro.
4.
RESIGNIFICANDO
O grande problema humano: buscar significado nas
coisas que estão fora. O significado, se é que há algum, a meu ver, está dentro.
Para viver uma vida plena de significado interior há que convencer o ego de que
sua função não é se exibir e se vangloriar para ser amado. Sua função é apenas estrutural,
equivalente à estrutura óssea do corpo. Sem esta seríamos uma ameba. Uma vida interior
rica de significado não é vista por ninguém. Para o mundo essa pessoa interiormente
rica é pobre, não venceu no mundo, não conquistou uma posição. Não é fácil se desvencilhar
do julgamento do mundo.
5. A INVERSÃO SOCRÁTICA E A EXPULSÃO DO SÍMBOLO
A meu ver, em seu Zaratustra, Nietzsche restitui
o simbolismo das palavras, que teria sido retirado por Eurípides e Sócrates. Com
Ésquilo e Sófocles tínhamos a criação inconsciente do coro trágico, com toda sua
dimensão simbólica. Eurípides teria substituído a linguagem simbólica por uma linguagem
de signos. Em O Nascimento da tragédia, Nietzsche chega a dizer que Eurípides
se gaba de que “o povo aprendeu a observar, a discutir e a tirar consequências”,
por seu intermédio. Ocorre uma transformação na linguagem pública e o cotidiano
passa a ser representado no palco. É o fim da tragédia como arte e seu início como
argumentação, onde começaria também o desenvolvimento de uma supremacia da consciência.
Nesta perspectiva, Eurípides mudou a linguagem da tragédia, mas não conseguiu lutar
contra o dionisíaco da arte antiga. A mais nova contradição, segundo Nietzsche,
fica a cargo de Sócrates: “O maravilhoso acontecera: quando o poeta se retratou,
a sua tendência já tinha triunfado. Dionísio já havia sido afugentado do palco trágico
e o fora através de um poder demoníaco que falava pela boca de Eurípides. Também
Eurípides foi, em certo sentido, apenas máscara: a divindade, que falava por sua
boca, não era Dionísio, tampouco Apolo, porém um demônio de recentíssimo nascimento,
chamado SÓCRATES. Eis a nova contradição: o dionisíaco e o socrático, e por
causa dela a obra de arte da tragédia grega foi abaixo”. (O nascimento da tragédia, seção 12)
Na seção 13 de O nascimento da tragédia, Nietzsche observa que os contemporâneos de Sócrates perceberam que este trazia uma estreita relação com a tendência de Eurípides. Para Sócrates, as celebridades de Atenas exerciam suas profissões “Apenas por intuição”, sem ter um entendimento correto e seguro sobre elas. Assim, tanto Eurípides quanto Sócrates, diferentemente de seus contemporâneos, não mais aceitavam a intuição como fonte criativa e de conhecimento. O que se impõe então é a arte socrática, ou seja, a dialética. Para Sócrates, não bastava saber intuitivamente; devia-se justificar através de argumentos. E mais: o conhecimento que se tinha de algo não era instintivo, mas a lembrança de outro mundo, o mundo das Ideias, o verdadeiro mundo, em contraposição a este, mera cópia daquele. Segundo Nietzsche, o famoso “daimon de Sócrates”, aquela voz divina que ele ouvia nos momentos que seu entendimento lhe faltava, é uma chave para entender Sócrates, uma vez que essa voz sempre vinha para dissuadir: “A sabedoria instintiva só se mostra, nessa natureza inteiramente anormal, para contrapor-se aqui e ali ao conhecer consciente, impedindo-o. Enquanto em todos os homens produtivos o instinto é precisamente a força criadora-afirmativa e a consciência se porta como crítica e dissuasiva, em Sócrates é o instinto que se torna crítico e a consciência, criadora – uma verdadeira monstruosidade per defectum!”
Na seção 13 de O nascimento da tragédia, Nietzsche observa que os contemporâneos de Sócrates perceberam que este trazia uma estreita relação com a tendência de Eurípides. Para Sócrates, as celebridades de Atenas exerciam suas profissões “Apenas por intuição”, sem ter um entendimento correto e seguro sobre elas. Assim, tanto Eurípides quanto Sócrates, diferentemente de seus contemporâneos, não mais aceitavam a intuição como fonte criativa e de conhecimento. O que se impõe então é a arte socrática, ou seja, a dialética. Para Sócrates, não bastava saber intuitivamente; devia-se justificar através de argumentos. E mais: o conhecimento que se tinha de algo não era instintivo, mas a lembrança de outro mundo, o mundo das Ideias, o verdadeiro mundo, em contraposição a este, mera cópia daquele. Segundo Nietzsche, o famoso “daimon de Sócrates”, aquela voz divina que ele ouvia nos momentos que seu entendimento lhe faltava, é uma chave para entender Sócrates, uma vez que essa voz sempre vinha para dissuadir: “A sabedoria instintiva só se mostra, nessa natureza inteiramente anormal, para contrapor-se aqui e ali ao conhecer consciente, impedindo-o. Enquanto em todos os homens produtivos o instinto é precisamente a força criadora-afirmativa e a consciência se porta como crítica e dissuasiva, em Sócrates é o instinto que se torna crítico e a consciência, criadora – uma verdadeira monstruosidade per defectum!”
Ao detectar essa inversão feita por Sócrates, Nietzsche
nos relata o que talvez tenha sido o acontecimento mais importante de toda a história
ocidental. Ele nos fornece a chave para a compreensão de uma cultura que se desenvolveu
a partir do que ele chama de “uma verdadeira monstruosidade per defectum”.
Em Nietzsche, assim como nos gregos anteriores ao socratismo, e em todos os homens
produtivos, o instinto é criativo e a consciência é crítica. Em Sócrates, assim
como em todos os socráticos, a consciência passa a ser criativa e o instinto crítico.
Essa é a absurda racionalidade da qual nos falará Nietzsche em um de seus últimos
livros, o Crepúsculo dos ídolos, de 1888. Para ele, a própria razão é uma
questão moral, que veio como remédio para frear os instintos que estavam em anarquia.
A separação entre instinto e pensamento consciente, que se efetivou em Sócrates,
teria dado início à decadência. Ele constata ainda que a equiparação socrática entre
“Razão, Virtude, Felicidade diz meramente o seguinte: é preciso imitar Sócrates
e estabelecer permanentemente uma luz diurna contra os apetites obscuros
– a luz diurna da razão. É preciso ser prudente, claro, luminoso a qualquer preço:
toda e qualquer concessão aos instintos, ao inconsciente conduz para baixo...” Enquanto para Sócrates “Razão = Virtude = Felicidade”,
para Nietzsche felicidade é igual a instinto. A razão socrática surge assim tiranizando
os instintos em um momento propício para que isso acontecesse, uma vez que estavam
“por toda parte os instintos em anarquia”, uns se voltando contra os outros. Antes
que estes se fizessem tiranos, Sócrates adivinhou que o remédio era inventar um
contratirano que fosse mais forte. Ser “absurdamente racional” foi a salvação,
que, para poder salvar de uma situação desesperadora, tornou-se fanatismo: “O fanatismo,
com o qual toda a reflexão grega se lança para a racionalidade, trai uma situação
desesperadora. Estava-se em risco, só se tinha uma escolha: ou perecer, ou ser absurdamente
racional...” O erro dessa crença foi os filósofos
e moralistas pensarem que saíram da décadence só por fazerem guerra
contra ela. Para Nietzsche, “mesmo aquilo que escolhem como remédio, como salvação,
é apenas, outra vez, uma expressão de décadence – eles alteram sua
expressão, não a eliminam”. A racionalidade, a vida clara, consciente, que resiste
aos instintos, é, para Nietzsche, apenas outra doença. Sendo felicidade igual a
instinto, combater os instintos é décadence.
Assim, poderíamos dizer que antes de Platão expulsar
os poetas da cidade (República, 595 a,b), Sócrates já havia expulso sua linguagem,
pela boca de Eurípedes. Como sabemos, a palavra poeta vem do grego poietes, que significa criador. A linguagem
simbólica, a linguagem dos criadores, dos poetas, teria sido expulsa antes destes.
Sócrates não só separa o consciente do inconsciente, como trava uma guerra contra
este. Não podemos dizer que ele e seus sucessores tenham ganho esta guerra. Os poetas
foram expulsos, mas não morreram. Em todos esses séculos, Nietzsche foi um dos raros
pensadores que voltou a pôr em cena o inconsciente com toda sua riqueza e importância.
Freud fez uma tentativa, mas recuou, preferindo ficar na dialética socrática. Com
isso ganhou um lugar na filosofia tradicional. No dia em que Nietzsche for devidamente
reconhecido, se isso um dia acontecer, não será mais o nome de Freud que virá a
seu lado, mas o de Jung. Nietzsche e Jung, e todos aqueles que continuam em suas
esteiras, talvez consigam estirar a flecha de tal modo que “o pior, mais persistente
e perigoso dos erros (...): a invenção de Platão do puro espírito e do bem em si”,
seja superado.
6. OS ARTISTAS SÃO
CONSTANTES E VERDADEIROS. JÁ OS CIENTISTAS...
Verdade:
palavra carregada de tradição, cujo significado vem sendo investigado por mais de
dois mil anos, de Platão à contemporaneidade. No entanto, revela-se através de múltiplas
interpretações, a despeito, e para o desgosto, daqueles que buscam uma única verdade
para todos, uma verdade universal e atemporal. Fazemos parte de uma tradição que
remonta a Sócrates, que associa a verdade à razão. Idolatra-se o Logos, que se infiltra
na linguagem com a roupagem e a forma da lógica, com o consentimento de nossas entranhas.
Enquanto, na Idade Média, a cartilha dos intelectuais da Igreja era os escritos
de Aristóteles, na Idade Moderna uma nova cartilha é elaborada: o método científico.
A linguagem científica pretende ser unívoca, agindo através de signos, e só comporta
uma forma de interpretação Já a linguagem ordinária é multívoca – age através de
símbolos, e cada símbolo tem muitos significados. É esta última a linguagem da arte.
Por isso a arte é passível de uma multiplicidade de interpretações. As ciências
da natureza iam, e ainda vão, de “vento em popa”. Então, quando surgiram as ciências
humanas, quase que por inércia, quiseram aplicar o método das ciências naturais
ao estudo do homem. Mas não deu certo. Em meio a este cenário, Dilthey irá formular
uma espécie de separação entre ciências da natureza e ciências humanas. As primeiras
buscam explicações, enquanto que as ciências do espírito não têm como objetivo a
explicação, mas a compreensão. E essa compreensão diz respeito ao significado. Nessa
esteira entra Gadamer, que avança um passo a frente ao se perguntar como é possível
a compreensão. O que significa dizer que compreendemos algo? Ele percebe que há
um grande âmbito da experiência humana que escapa à metodologia científica, que
por trás do que ele chama de “racionalização crescente” da sociedade, há certa concepção
de verdade que se dissemina. A noção de experiência se associou à experiência científica.
No entanto, existem formas de experiência que escapam à experiência científica:
a experiência da arte, da filosofia, da história e da linguagem. Além do que, na
experiência científica não há uma continuidade, como irá mostrar o filósofo da ciência
Thomas Kuhn. A história da ciência não é um acúmulo progressivo de teorias bem sucedidas,
mas o resultado de rupturas e de passos em falso. Em contrapartida, as formas de
experiência que escapam à ciência são dotadas de continuidade, e pertencem a uma
tradição. Tradição esta que parece sobreviver até mesmo a uma mudança de paradigma.
Considerado o pai da medicina, Hipócrates (400 a.C.)
pertencia à família dos Asclepíades. Asclépio foi educado pelo Centauro Quíron e
desenvolveu uma escola de medicina. Estudiosos presumem que tenha vivido antes do
séc. XIII a.C. Como herói deificado, participava da natureza humana e divina simbolizando
a unidade entre ambas. À entrada de seu recinto sagrado de cura lia-se:
“PURO DEVE SER AQUELE QUE
ENTRA NO TEMPLO PERFUMADO.”
Ser puro é ter pensamento
sadio, para que estes habitem nosso corpo – o templo perfumado. O ser humano, nestes
antigos tempos, era visto como corpo, mente, alma e espírito conectados harmoniosamente,
e a cura como algo que purifica e reforma o homem inteiro. Ser saudável era ser
você mesmo e estar em harmonia com a sociedade em que você vive, com a natureza
e com tudo a sua volta. Para Asclépio, aliado à ajuda dos deuses, só havia cura
quando havia metanoia, transformação de sentimentos e purificação da mente. Quando
nossa consciência se mantém em estado de pureza e harmonia, o físico torna-se sadio.
Assim também falou o médico filósofo Erixímaco no Banquete de Platão: “... a arte
da medicina pode ser sinteticamente descrita como um conhecimento das coisas eróticas
do corpo (…) e o médico consumado é aquele capaz de distinguir no corpo entre o
amor nobre e o vil, além de ter competência de empreender a transformação em que
um desejo é substituído pelo outro, (…) deve estar capacitado a instaurar a amizade
e o amor recíproco entre os adversários mais violentos do corpo. (…) De fato, foi
por conhecer como fomentar amor e concórdia entre esses contrários que nosso ancestral
Asclépio, como atestam esses nossos dois poetas (Agaton e Aristófanes) constituiu
essa nossa arte.” (Banquete, 186 d).
O santuário de cura de Asclépio
situava-se em Epidauro, um centro cultural e de lazer com um Odéon para ouvir os
poetas e os músicos, um teatro, uma biblioteca, numerosas obras de arte, um Ginásio
para exercícios físicos e um Estádio para as competições esportivas que se realizavam
de quatro em quatro anos. A harmonia entre música, poesia e dança era utilizada
por seu alto valor tranquilizante e terapêutico sobre corpo e alma.
Hipócrates, no entanto, apesar
de enfatizar sua descendência dos Asclepíades, rompeu com a tradição da medicina
sacerdotal. Passou a considerar a enfermidade de forma isolada do contexto geral,
social, religioso, etc, e a desenvolver as curas levando em conta apenas o percurso
da doença. A medicina de hoje é herança dessa decadência. Nietzsche fala que a decadência
da civilização ocidental começa com Sócrates e Eurípedes. Eu acrescentaria um terceiro
decadente: Hipócrates.
Já é hora de resgatarmos
a sabedoria dos antigos e (re)conhecermos a importância da arte na vida. Arte não
é mero entretenimento; arte é a própria vida – a vida plena.
ESTER FRIDMAN (Brasil, 1963). Filósofa e escritora, pesquisadora
da linguagem simbólica, seu tema de mestrado foi A Linguagem Simbólica no Zaratustra
de Nietzsche. Estudiosa também das filosofias da Índia, escreveu Kriya-Yoga e a
Filosofia dos Kleshas no Yoga Sutra de Patanjali. Contato: ester8fri@gmail.com. Página
ilustrada com obras de Armando Reverón (Venezuela), artista convidado desta edição
de ARC.
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