Um dos problemas
filosóficos que vem sendo tratado pelos pensadores é o problema da liberdade.
Diferentes abordagens, subjetivas e objetivas, sobre a existência ou não da
liberdade, vem sendo discutidas. Sem entrar em questões existenciais profundas,
uma grande parte dos filósofos utilitaristas e/ou materialistas tratam o
problema da liberdade na esfera política, uma vez que, deste ponto de vista,
ele remete diretamente à questão da obediência e coerção.
Isaiah Berlin (1909-1997) coloca que na base da
política existe uma ideia de conflito que se traduz entre quem manda e quem
obedece. Esse conflito é o motor da política. Daí as duas noções de liberdade:
a liberdade negativa e a liberdade positiva. Thomas Hobbes (1588-1679) foi o
primeiro filósofo a explicitar o conceito negativo de liberdade. É dita
negativa porque definida como uma ausência. No Leviatã ele define a liberdade
como “a ausência de impedimentos externos, impedimentos que muitas vezes tiram
parte do poder que cada um tem de fazer o que quer”.
[1] O segundo sentido de sua
definição é a liberdade considerada em oposição à lei, que seria uma definição
política. A restrição política é a lei, e a liberdade política seria o silêncio
das leis. Ele então se pergunta: como pode um indivíduo ser livre e
obedecer a leis? Para ele, isso é uma contradição. Ou se é livre e não há leis,
ou não se é livre e há leis. No estado de natureza de Hobbes não havia leis.
Assim, somos livres apenas fora do Estado.
Liberdade positiva, por
sua vez, é estar submetido às leis. Para John Locke (1632-1704), ser livre é
estar submetido às próprias leis. Em Dois Tratados sobre o Governo ele diz: “A
liberdade do homem em sociedade consiste em não estar submetido a nenhum outro
poder legislativo senão aquele estabelecido no corpo político mediante
consentimento, nem sob o domínio de qualquer vontade ou sob a restrição de
qualquer lei afora as que promulgar o legislativo, segundo o encargo a este
confiado”. [2]
Vemos que o conceito de liberdade positiva está ligado à noção de autonomia.
Não podemos estar sujeitos ao arbítrio de uma outra pessoa. Exercer o auto
domínio é não ser dominado por ninguém. Sou livre porque não sou escravo. Essa
noção de liberdade é atraente porque dá uma ideia de dignidade, igualdade e
racionalidade.
A noção de liberdade negativa tem como
formulação sintética a não interferência, e como formulação analítica, uma
liberdade como oportunidade, uma vez que há ocasião de agir. A noção de
liberdade positiva tem como definição sintética o autodomínio – é uma liberdade
como exercício, e tem, como definição analítica, o desejo de ser o próprio
senhor, de exercer o domínio sobre si mesmo – exercício da autonomia e da
racionalidade. A liberdade de agir racionalmente irá se unir com a liberdade de
agir politicamente. A concepção de liberdade positiva tem embutida a noção de
verdade. Essa definição de liberdade positiva de Berlin presume um eu perfeito,
e que todos sejam disciplinados e conheçam o próprio bem. É, portanto, uma
ideia iluminista. No Iluminismo existe o princípio de que o homem
que se guia pela razão, se liberta. O conhecimento liberta e a ignorância
escraviza. O Iluminismo seria libertação e, ao mesmo tempo, estabelece uma
divisão no homem. E todo totalitarismo baseia-se nessa distinção. A liberdade
positiva, segundo ele, só pode existir em um governo totalitário. Já a
liberdade negativa pode existir em qualquer regime.
Berlin fala de uma liberdade econômica e social,
é uma liberdade de igualdade de condições de oportunidade. Assim, antes de
falar em liberdade, há que falar em justiça social. A lei precisa impor uma
restrição à liberdade, normatizando, para uma liberdade não se chocar com a
outra. Aqui falamos de coerção como frustração de desejos, e não de necessidade – liberdade política é a área na qual o indivíduo pode agir sem ser obstruído
por outros. Se esta área é restringida além de certo valor
mínimo, pode-se dizer que o indivíduo está sendo coagido - liberdade aqui é o
oposto de coerção (como para Hobbes).
Benjamin Constant
(1767-1830) compara a liberdade dos antigos com a dos modernos. Não havia, para
os antigos, a noção de liberdade individual. A noção de liberdade individual e
de privilégios privados é uma noção moderna. Para os antigos, livre era o homem
que participava politicamente. Essa liberdade implicava uma completa submissão
à autoridade do todo. Cidadãos eram os homens que participavam do funcionamento
da cidade-Estado, e esta participação se fazia de forma direta, sem a mediação
de representantes. Dessa forma, o mundo antigo exigia dos cidadãos uma série de
atividades públicas que o absorviam quase que inteiramente. Mas isso era tido
como um privilégio. Os antigos praticamente não tinham vida privada. Para se
ter uma ideia, a legislação espartana determinava até o penteado das mulheres,
e, em Rodes, a lei impedia os homens de se barbearem. A liberdade dos antigos é
a liberdade positiva de Berlin. Nos Estados modernos, os indivíduos não
participam mais diretamente na vida pública. A liberdade pública fica restrita
apenas ao direito de representação e petição. Em contrapartida, a liberdade
privada passa a ter grande importância na vida do homem moderno. Benjamin
Constant diz que pelo menos a liberdade de religião, opinião, expressão e
propriedade deve ter garantia contra invasões arbitrárias, do contrário,
degradamos ou negamos nossa natureza.
Assim, a liberdade dos
modernos é a liberdade negativa, é a liberdade dos indivíduos em relação ao
Estado. Berlin e Constant defendem a liberdade negativa e o respeito à
liberdade individual. Trazer de novo uma ideia de liberdade antiga, seria
também trazer uma ideia de escravidão. Vemos que a liberdade individual não
depende de uma definição de forma de governo. Parece fazer parte do senso comum
pensar na democracia como regime de liberdade. Se dissermos que o indivíduo só
é livre em uma democracia, tenderemos a considerar que só os estados
democráticos são livres. Na prática, porém, a democracia pode ser a forma mais
tirânica de restringir a liberdade. Para os que defendem a liberdade negativa,
o que importa não é quem tem a autoridade, mas a quantidade de autoridade que
se tem. Diz Berlin que foram poucos os governos que encontraram grandes
dificuldades em levar seus súditos a terem a vontade que o governo quer.
Escravos se declaram livres sem deixarem de ser escravos. Para Rousseau
(1712-1778), o próprio sistema de representação indica uma escravidão: alguém
exercendo o poder em nosso lugar, e, nós, tendo que obedecer. Deixa-se de ser
senhor de si mesmo, para obedecer a leis de um sujeito externo. Muitos são os
povos que foram levados a acreditar que são livres. Entre os modernos, Constant
diz que, por dinheiro, muitos acabam se escravizando. Berlin inclusive faz um
elogio a Hobbes nesse sentido: “Hobbes foi ao menos mais sincero: ele não
fingia que um soberano não escraviza; justificava essa escravidão, mas pelo
menos não tinha a desfaçatez de chamá-la de liberdade”. [3] E
sobre Rousseau, comenta que, apesar de ele defender a liberdade, dizendo,
inclusive, que todos nascem livres, ele foi o precursor do totalitarismo. É uma
interpretação inusitada à seguinte passagem: “A fim de que o pacto social não
represente, pois, um formulário vão, compreende ele tacitamente este
compromisso, o único que poderá dar força aos outros: aquele que recusar
obedecer à vontade geral a tanto será constrangido por todo um corpo, o que não
significa senão que o forçarão a ser livre, pois é essa a condição que,
entregando cada cidadão à pátria, o garante contra qualquer dependência
pessoal”. [4] Quando Rousseau diz
que a pessoa será forçada a ser livre, não o diz no sentido de que será usada a
força. Pela educação o indivíduo pode ser forçado a ser livre. Educação é
coerção – os indivíduos serão educados a estimar a liberdade e a valorizar a
sociedade onde vivem. E não se pode esquecer que Rousseau vê com maus olhos a
razão. Para ele, obedecer a si mesmo não é obedecer à razão, mas não ser
escravo de outro homem. Para Rousseau, liberdade é quando todos os indivíduos
qualificados de uma sociedade participam da vida pública e interferem em
qualquer aspecto da vida de cada cidadão. Ou seja, o significado de liberdade
em Rousseau não é o de liberdade negativa, no qual a individualidade é
preservada na vida privada. Rousseau defende a liberdade antiga, como
participação ativa na política e na legislação, onde o indivíduo aliena seus
direitos à comunidade toda. A raiz da liberdade negativa é justamente não ser impedido
de usufruir de seus direitos.
Segundo
Berlin, os liberais da primeira metade do século XIX previram os resultados
desse tipo de liberdade positiva: o fim de muitas liberdades negativas. Quando
a soberania é dada ao povo, o indivíduo não tem nenhum poder. John Stuart Mill
(1806-1873) e seus discípulos não viam muita diferença entre a tirania do povo
e qualquer outro tipo de tirania que interfere nas atividades privadas dos
homens. De acordo com Berlin, Constant considerava Rousseau o inimigo mais perigoso
da liberdade individual. Em “Da Liberdade dos Antigos Comparada a dos
Modernos”, Constant afirma que o abade de Mably, um dos sucessores de Rousseau,
“quer que os cidadãos sejam completamente dominados para que a nação seja
soberana, e que o indivíduo seja escravo para que o povo seja livre. O abade,
como Rousseau e como muitos outros, tinha, conforme os antigos, tomado a
autoridade do corpo social pela liberdade e todos os meios pareciam-lhe bons
para estender a ação dessa autoridade sobre a parte recalcitrante da existência
humana, da qual ele deplorava a independência”. [5]
Muito
provavelmente um simpatizante de Rousseau refutaria Berlin dizendo: Caro
Berlin, sinto lhe dizer que o senhor está completamente equivocado. Privacidade
e liberdade individual só são possíveis em um estado de natureza, no qual o
homem vive só e isolado. A partir do momento em que os homens se reúnem e
passam a viver em sociedade, se querem viver em harmonia, não podem mais
prescrever suas próprias regras para serem livres. Uma sociedade civil é uma
unidade orgânica com uma única vontade: a vontade geral. O individualismo supõe
uma antítese entre cada um e a coletividade. Isso valoriza o indivíduo, mas não
o homem enquanto homem. A liberdade, que é inerente ao homem, não é apenas uma
negação de impedimentos, mas afirmação de um dever. O homem deve ser livre, nem
que seja à força. Obedecer a vontade geral é obedecer a si mesmo, e obedecer a
si mesmo é ser livre. O homem que, por ventura, em vez de obedecer a vontade
geral, quiser atender a algum impulso seu, como se vivesse isolado, estará se
colocando à margem da sociedade. Se converterá em um marginal.
O
conceito de liberdade negativa explorado por Isaiah Berlin e Benjamin Constant,
também defendido por Jeremy Bentham (1748-1832), tem como definição a ausência
de obstáculos ou interferências. Seja lá qual for o princípio que estabeleça a
área de não-interferência, seja o da lei natural, o dos direitos naturais, da
utilidade, do imperativo categórico, do contrato social, a liberdade nesse
sentido significa livrar-se de, significa não-interferência além de determinada
fronteira. Berlin estabelece a dependência do termo em relação à teoria social
e econômica. Liberdade política é a área na qual o indivíduo pode agir sem ser
obstruído por outros. Se esta área é restringida além de certo
valor mínimo, pode se dizer que o individuo está sendo coagido. Não temos
liberdade política se outros indivíduos nos impedem de alcançar uma meta.
Quanto maior a área de não-interferência, mais ampla a nossa liberdade. Antes
de mais nada, é preciso que se defina uma fronteira entre a área da vida
privada e a da autoridade pública; embora não seja possível agir de forma
completamente privada, sem um mínimo de interferência na vida alheia. Como diz
Berlin, “A liberdade de alguns deve depender da repressão de outros”. [6] E a liberdade individual não é a
necessidade primária de todos. A liberdade só tem valor quando se tem as
condições adequadas para usufruí-la. Para Berlin a liberdade não é o único
objetivo dos homens. Antes de mais nada há que haver igualdade de
liberdade e justiça. Ele não advoga a inexistência de leis; o problema é a
quantidade aceitável de coerção para o homem viver.
O conceito de liberdade
negativa, explorado por Bentham, Constant e Berlin, equivale ao conceito de
liberdade dos modernos. A noção de liberdade individual e de privilégios
privados é uma noção moderna. Com o surgimento dos Estados nacionais modernos,
firma-se uma dicotomia entre as esferas pública e privada, no que tange às liberdades.
A liberdade pública se limitará apenas ao direito de representação e petição,
enquanto que a liberdade privada terá um campo muito maior de direitos capazes
de preservar a esfera individual frente ao Estado. Preservar a esfera
individual é não aceitar interferências. Vimos que a ausência de interferências
é a definição de liberdade negativa. No mundo moderno, não pode haver uma lei
arbitrária. Não se pode depender do capricho de outra pessoa. A lei deve ser
visível e baseada no consentimento, e o poder precisa prestar contas ao
cidadão. Assim, a cada um é assegurado o direito de se submeter apenas às leis,
sendo-lhe lícito fazer tudo o que esta não proíbe. Desse modo, o indivíduo não
poderá ser preso, condenado ou maltratado “pelo efeito da vontade arbitrária de
um ou de vários indivíduos”, como diz Constant. [7] Também a essa esfera de direitos corresponde a liberdade de ir e
vir, de opinar, de escolher o seu trabalho e dispor de sua propriedade.
É certo que desde
Sócrates entramos em um crescente processo de racionalização de entendimento do
mundo, acompanhado de uma também crescente visão materialista. Ao estudar o
silogismo, a lógica aristotélica, e demais lógicas que foram sendo
desenvolvidas, na tentativa de criar argumentos irrefutáveis, ficamos tentados
a obedecer essa cartilha, pois ela é muito fácil. É a cartilha da inteligência
intelectual. Basta aplicar fórmulas decoradas, treinar um pouco e pronto, já
temos a solução para tudo, com belíssimas construções lógico conceituais,
dignas dos melhores oradores. Ao ler os tratados filosóficos, verdadeiros
sistemas, impecavelmente escritos dentro das normas da lógica, ficamos
impressionados com a clareza, eficácia e destreza no fazer sentido. Elas, no
entanto, apresentam um problema: só fazem sentido dentro do campo no qual atuam
– o campo intelectual. Como esse campo é apenas uma parte da complexidade que é
o ser humano, ele, por si só, é incapaz de apresentar soluções para muitos dos
problemas que fogem ao controle da razão. Exceto problemas de ordem utilitária,
como construção de moradias, cadeiras, ferramentas, roupas, logística, e afins,
todos os demais problemas que envolvem o complexo funcionamento da psique
humana fogem ao controle da razão. Para problemas como os de organização e
convivência social, política e econômica, a inteligência emocional e
espiritual, e o auto conhecimento são de longe muito mais importantes. Será que
essa questão de liberdade x escravidão se restringe tão somente a fatos e
fatores
externos? Seremos pobres coitados que, não fazendo parte da minoria política que manda, estamos fadados a ser escravos por toda a vida? Vemos que países que passaram por grandes revoluções continuam com essa divisão entre os que mandam e os que obedecem. Já não será tempo de questionarmos os recursos que temos utilizado por séculos, uma vez que não tem surtido efeito? A questão da liberdade é apenas uma entre tantas questões sem solução. No Iluminismo existe o princípio de que o homem que se guia pela razão, se liberta, que o conhecimento liberta e a ignorância escraviza. Como? Como, se quanto mais conhecemos, mais temos a consciência de que somos escravos? Não seria justamente o contrário? Que a razão escraviza pois o pensamento racional está preso dentro de moldes? Enquanto formos escravos de padrões artificialmente criados, transmitidos de geração em geração, escravos ainda de nossos desejos e nossos medos, não viveremos a verdadeira liberdade, que é a liberdade de sermos quem somos. A liberdade dos antigos estava mais próxima disso. Inscrita na entrada do templo de Delfos estava a frase: Conhece-te a ti mesmo. Benjamin Constant, ao comparar a liberdade dos antigos a dos modernos, restringiu-se aos antigos posteriores a Sócrates, ou seja, que já se distanciavam da antiga sabedoria, pré-socrática, que ensinava, aos que buscavam, como tornar-se o que é. Eis por que Nietzsche anuncia Sócrates como o primeiro decadente. A partir dele ninguém mais sabe quem é. Como uma sociedade composta por indivíduos que não sabem quem são pode almejar uma vida sócio político econômica saudável, harmoniosa e produtiva? É nesse sentido, de redenção, que Nietzsche queria resgatar os antigos. Ele não conseguiu, mas hoje a física moderna está perto disso. Hoje o ocidente começa a descobrir o que o oriente já sabia há sete mil anos. Desde a década de vinte do século passado a física quântica tem se aproximado cada vez mais da sabedoria antiga em suas “novas” descobertas. Em um livro recente, escrito por uma física, lemos: “A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual.” [8] A autora fala em um terceiro tipo de inteligência, que ela chama de inteligência espiritual. O primeiro tipo de inteligência seria a intelectual, o segundo tipo, a emocional. De acordo com suas pesquisas, a inteligência espiritual seria aquela que nos permite perguntar se queremos estar numa determinada situação e o que ela significa para nós, nos permite ter uma vida rica, uma vida que faça sentido. Uma pessoa que não encontra sentido na vida é porque ela não desenvolveu sua inteligência espiritual.
externos? Seremos pobres coitados que, não fazendo parte da minoria política que manda, estamos fadados a ser escravos por toda a vida? Vemos que países que passaram por grandes revoluções continuam com essa divisão entre os que mandam e os que obedecem. Já não será tempo de questionarmos os recursos que temos utilizado por séculos, uma vez que não tem surtido efeito? A questão da liberdade é apenas uma entre tantas questões sem solução. No Iluminismo existe o princípio de que o homem que se guia pela razão, se liberta, que o conhecimento liberta e a ignorância escraviza. Como? Como, se quanto mais conhecemos, mais temos a consciência de que somos escravos? Não seria justamente o contrário? Que a razão escraviza pois o pensamento racional está preso dentro de moldes? Enquanto formos escravos de padrões artificialmente criados, transmitidos de geração em geração, escravos ainda de nossos desejos e nossos medos, não viveremos a verdadeira liberdade, que é a liberdade de sermos quem somos. A liberdade dos antigos estava mais próxima disso. Inscrita na entrada do templo de Delfos estava a frase: Conhece-te a ti mesmo. Benjamin Constant, ao comparar a liberdade dos antigos a dos modernos, restringiu-se aos antigos posteriores a Sócrates, ou seja, que já se distanciavam da antiga sabedoria, pré-socrática, que ensinava, aos que buscavam, como tornar-se o que é. Eis por que Nietzsche anuncia Sócrates como o primeiro decadente. A partir dele ninguém mais sabe quem é. Como uma sociedade composta por indivíduos que não sabem quem são pode almejar uma vida sócio político econômica saudável, harmoniosa e produtiva? É nesse sentido, de redenção, que Nietzsche queria resgatar os antigos. Ele não conseguiu, mas hoje a física moderna está perto disso. Hoje o ocidente começa a descobrir o que o oriente já sabia há sete mil anos. Desde a década de vinte do século passado a física quântica tem se aproximado cada vez mais da sabedoria antiga em suas “novas” descobertas. Em um livro recente, escrito por uma física, lemos: “A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual.” [8] A autora fala em um terceiro tipo de inteligência, que ela chama de inteligência espiritual. O primeiro tipo de inteligência seria a intelectual, o segundo tipo, a emocional. De acordo com suas pesquisas, a inteligência espiritual seria aquela que nos permite perguntar se queremos estar numa determinada situação e o que ela significa para nós, nos permite ter uma vida rica, uma vida que faça sentido. Uma pessoa que não encontra sentido na vida é porque ela não desenvolveu sua inteligência espiritual.
Agora que a
espiritualidade entrou pela porta da frente no mundo acadêmico, já foi dado o
primeiro passo para que entre no currículo escolar. Ensinar as crianças a
desenvolver a inteligência espiritual é o caminho para a verdadeira liberdade
de ser. Na verdade, as crianças já nascem com essa inteligência, basta não
impedi-las de desenvolver.
NOTAS
1. Thomas HOBBES,
Leviatã, cap. XIV, § 2.
2. John LOCKE, Dois
Tratados Sobre o Governo, segundo tratado, livro II, Cap. IV, § 22.
3. Isaiah BERLIN,
Estudos Sobre a Humanidade, “Dois conceitos de liberdade”.
4. Jean-Jacques
ROUSSEAU, Do Contrato Social, livro I, Cap. VII.
5. Benjamin CONSTANT, Filosofia
Política, “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos”.
6. Isaiah BERLIN,
Estudos Sobre a Humanidade, “Dois conceitos de liberdade”.
7. Benjamin CONSTANT,
Filosofia Política, “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos”.
8. Dana ZOHAR, QS
Inteligência Espiritual.
ESTER FRIDMAN (Brasil, 1963). Filósofa
e escritora, pesquisadora da linguagem simbólica, seu tema de mestrado foi A
Linguagem Simbólica no Zaratustra de Nietzsche. Estudiosa também das filosofias
da Índia, escreveu Kriya-Yoga e a Filosofia dos Kleshas no Yoga Sutra de
Patanjali. Contato: ester8fri@gmail.com. Página ilustrada com obras de Francisco
Maringelli (Brasil), artista convidado desta edição de ARC.
***
ÍNDICE # 101
EDITORIAL | A persistência do mistério
AARÓN ALMEIDA HOLMQUIST | Paisaje y exilio en David Cortés Cabán
ALFONSO PEÑA | Bob Danco y la historia del mono azul
ESTER FRIDMAN | Liberdades, prisões, ilusões
HAROLD ALVARADO TENORIO 1882-1915 El Modernismo en Colombia
HILDEBRANDO PÉREZ GRANDE | Cien años de soledad y moi
JOSÉ ÁNGEL LEYVA | Jordi Virallonga, el alma de los cinco sentidos
LEDA RITA CINTRA | Brasil ilustrado
MARIA LÚCIA DAL FARRA | Cartas para quem? Leitura de Cartas a Sandra, de Vergílio Ferreira
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/2017/08/maria-lucia-dal-farra-cartas-para-quem.html
OMAR CASTILLO | Mallarmeanas al timbal
SUSANA WALD | Reencuentro con Edouard Jaguer, impulsor del movimiento Phases
ARTISTA CONVIDADO | FRANCISCO MARINGELLI | Por ele mesmo
***
Agulha Revista de Cultura
Número 101 | Agosto de 2017
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão |
FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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