O livro de haicai de
António Salvado, Outono, ilustrado
com sumi-e de Kousei Takenaka, tem tradução espanhola de
Alfredo Pérez Alencart e japonesa de Na Oshiro. Em Outono, os haicai do poeta António Salvado acolhem-se à sombra
tutelar e inspiradora de dois grandes poetas japoneses : Matsuo Bashô e Den
Sutejo, a sua discípula. Como nos recorda Alfredo Pérez Alencart, na sua
introdução intitulada Firme Tranquilidade, a ligação afetiva de António Salvado
à poesia oriental, nomeadamente chinesa, é de longa data, ligação que o
aproxima não apenas da poesia do grande Wang Wei (701/761), como aflora, a par
da poesia tradicional japonesa, a personalidade controversa de Okakuro Kakuzo (1862/1913)
de cujo Livro do Chá (Chanoyu ou cha-no-yu),
publicado em 1906, o poeta António Salvado recolheu um fragmento para o seu
livro Flor Álea.
Embora
se lhe não refira expressamente em Outono,
deve-se a Okakuro Kakuso a primeira abordagem sistemática do
sincretismo cultural nipónico, tarefa que nos possibilitou a compreensão dos
conceitos e vivências de que estão impregnados quer os haicai de António
Salvado quer os sumi-e de Kousei
Takenaka. Okakura Kakuzo que teve uma educação ocidental, viveu na época da
Restauração Meiji, altura em que o Japão se abriu de novo ao Ocidente. Estando
a cultura japonesa impregnada de influências ainu, polinésias, coreanas,
paleo-siberianas, chinesas e indianas, como historiador da arte asiática,
Okakura esforçou-se por estudar e preservar este imenso e rico legado histórico
que se foi desenvolvendo ao longo dos sucessivos reinados nipónicos. Tendo
viajado intensamente pela Ásia, Okakuro Kakuso considerou que, em síntese, o
Confucionismo, o Taoismo e o Budismo constituíam as três principais raízes da
cultura japonesa, tendo desenvolvido a ideia de que culturalmente, a Ásia faz parte
de uma única comunidade.
Na Índia, Okakura Kakuso
partilhou muitos dos ideais do círculo da família de Rabindranath Tagore (1861/1941),
figura proeminente do Renascimento Bengali como poeta e líder, círculo de que
faziam também parte o cientista Jadish Chandra Bose (1858/1937) e o pai do
cinema indiano, Satyajit Ray (1921/1992). Contudo, foi sobretudo através de
Elisabeth Margaret Noble (1867/1911), descendente de revolucionários
republicanos irlandeses que vivia em Calcutá, que Okakura estabeleceu laços com
o movimento político e espiritual chamado Advaita Vedanta ( a indivisível
totalidade dos Vedas) de Swami Vivekananda (1863/1902), partilhando com os
membros deste grupo ideais como a oposição ao imperialismo ocidental e a
resistência aos valores ocidentais que estão na base dos seus livros Ideals of the East with Special Reference to the Art of Japan (1903) e Awakening of the East (1904). O prefácio
de Sister Nivedita, nome por que era conhecida na Índia Elisabeth Margaret
Noble, em The Ideals of the East with Special Reference to the Art of Japan,
é um trabalho pioneiro pois para Sister Nivedita, o estudo da história da arte
era concebido na perspectiva da unificação nacional, tese que viria a expor no
seu livro publicado em 1907, The Function
of Art in Shaping Nationality, obra que trouxe para a sua causa o estudioso
Ananda Coosmaraswamy (1877/1947) do Ceilão que viria a integrar o movimento de
unidade nacional singalês. Okakura Kakuso, acusado de ter exacerbado o
nacionalismo que estaria na base do expansionismo militarista nipónico, a
equidade em relação à sua memória exige que se esclareça que, tomando a Ásia
como uma totalidade, e integrando a arte japonesa cujas raízes provinham da
Índia, China e Coreia, no universo da arte asiática, ao considerar o Japão como
parte e não como centro, o seu ponto de vista não era
nacionalista mas asiático. Com os escritos de Okakura Kakuso, o Japão, que
nessa época se abriu de novo ao exterior, tomou consciência de si mesmo.
Okakura Kakuso que escreveu que «A arte é uma realização da vida produzida ao
longo das idades», propunha-se apenas dar as boas vindas ao que de novo se
anunciava no renovamento das artes com a abertura do Japão ao Ocidente sem
perder o que ao longo dos séculos os artistas japoneses haviam produzido. A
entrada em massa de bens e ideias ocidentais e a sua complexa integração na
cultura japonesa foram deste modo aplanadas através de referências a valores
ancestrais. O Japão era então tido como um espelho da consciência asiática e o
guardião das tradições da Ásia, embora segundo alguns críticos, no labirinto do
asiatismo, na invenção da Ásia se ia desenvolvendo o conflito entre pan-asiatismo
e nacionalismo.
Desde
a chegada à ilha de Tanegashima dos primeiros portugueses então ali chamados os
Nanbanjin, «bárbaros do sul», que portugueses e japoneses partilham uma
história comum. Através do comércio marítimo luso que levou à fundação duma
nova cidade japonesa, Nagasaki, os nipónicos importaram algumas das invenções mais
revolucionárias do ocidente cristão: a imprensa de caracteres móveis e a
espingarda, invenções que influenciaram decisivamente a história nipónica pois em
meados de Quinhentos, vários grandes dáimios digladiavam-se pela hegemonia
nacional numa longa guerra civil. Devido à espingarda, Oda Nobunaga (1534/1582),
tendo obtido um grande triunfo na batalha de Nagashino (1575), pôs fim à guerra
civil, acelerou o processo de centralização, conduzindo o país para uma paz
duradoura. A arte de fundir os caracteres nipónicos introduzida pelos padres,
criou a Imprensa que existiu de 1591 a 1614, sendo as obras então publicadas quase
exclusivamente de interesse religioso. Segundo o filólogo japonês Tsujiro Koga,
chegou a haver 4000 palavras de origem portuguesa na língua nipónica tendo-se
conservado 300.Assinala ainda a influência de temas portugueses na literatura
japonesa em especial na obra do poeta Kitahara Hakushu e nos romancistas Akutagawa
Ryunosuke e Shusaku Endo. Shusaku Endo
que prefaciou um dos livros de Armando Martins Janeira, abordou no seu romance Chinmoku ( Silêncio), o tema da
evangelização do Japão, as perseguições religiosas e a organização clandestina
dos cristãos. Shusaku Endo, no drama Ogon
Kuni, apresenta a história verídica do missionário português Padre
Cristóvão Ferreira. Segundo o Professor Shintaro Ayuzawa, o ano em que o
primeiro barco ocidental aporta ao Japão, abre o período moderno da história
japonesa, «os bárbaros do sul», os portugueses, deixaram no Japão uma herança
única na sua cultura.
O
público, em Portugal, cedo teve conhecimento da cultura oriental, nomeadamente
a japonesa. António Galvão, no seu Tratado, deu-nos conta da descoberta das
ilhas nipónicas por aventureiros portugueses desligados das estruturas do
Estado Português da Índia que aí chegavam nas naus do trato. Em 1514, Tomé
Pires, na sua obra Suma Oriental, utiliza a palavra «Japam» para designar as
ilhas do Sol Nascente. Com a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, o Japão ficou
conhecido como a pestana do mundo. Por sua vez, Luís de Camões foi o primeiro
europeu a incluir o Japão numa obra literária ao citá-lo nos Lusíadas: «he
Iapão, onde nasce a prata fina/ Que ilustrada sera coa ley divina».
Os
japoneses foram confrontados com a religião católica pelos portugueses. Até
1727, a Europa culta teve conhecimento das religiões do Japão apenas através
das Cartas dos Padres da Companhia de Jesus publicadas em 1579 sob mandato do Arcebispo
de Évora, D. Teotónio de Bragança. Em 1595 é publicado o Dictionarium Lusitanicum ac Japonicum, dicionário que foi aproveitado
na elaboração do Dictionnaire
Japonais-Français, segundo o declara o seu autor, Léon Pagés. A este
dicionário seguiu-se outro, o Rauyoxu,
impresso em caracteres chineses em Nagasaki (1598-1599 ). Em 1603 apareceu o Vocabulário da Língua do Japão em português.
Foram pois os padres portugueses que primeiro sistematizaram a gramática do
japonês e entre 1604 e 1608 foi publicada a Arte
da Língua do Japão. O Padre João de Lucena (Trancoso 1549/Lisboa 1600),
escreveu História da Vida do P. Francisco
de Xavier, obra publicada em Lisboa em 1600 e posteriormente traduzida para
italiano, espanhol e latim. Em 1634 o Padre João Rodrigues Tçuzzu escreveu uma
História do Japão.
O
conhecimento do Oriente e o fascínio pela sua cultura foi posteriormente
aprofundado em diversas modalidades, como observou Armando Martins Janeira (1914/1988)
na sua alocução O Oriente e o Futuro de
Portugal. Neste texto, Armando Martins Janeira aponta Eça, Antero, Camilo
Pessanha, Feijó, Wenceslau de Moraes e Fernando Pessoa como os criadores
portugueses que se inspiraram nos valores orientais. No entanto, seria
Wenceslau de Moraes e o próprio Armando Martins Janeira a interpretarem e
compreenderem a riqueza espiritual e a profunda sabedoria do mundo oriental. A Armando Martins Janeira se deve um conhecimento profundo
de Wenceslau de Moraes cuja obra e vida divulgou dedicando-lhe três livros: O Jardim do Encanto Perdido, Peregrino, Um Intérprete Português no Japão. Por sua vez, em 1993, o
historiador Daniel Pires, tendo reunido documentos fotográficos sobre a vida e
a obra de Wenceslau de Moraes, reconstituiu, a partir deste acervo, o percurso
existencial e literário do escritor, numa obra patrocinada pela Fundação
Oriente e intitulada Wenceslau de
Moraes:fotografia.
Para
um conhecimento da cultura do Japão em Portugal, Armando Martins Janeira criou
na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o
Instituto de Estudos Orientais, único no país e oferecendo uma biblioteca
especializada sobre o Oriente. Armando Martins Janeira possui uma extensa obra
literária em que figuram : Japanese and
Western Literature e ainda Figuras de
Silêncio, O Impacte Português sobre a
Civilização Japonesa, The epic and
tragic sense of life in Japanese Literature e Caminhos da Terra Florida. Para uma recolha de informações sobre a
sua vida e trabalhos literários ver o catálogo da exposição organizada pela
Câmara de Cascais: Nova Peregrinação -
Armando Martins Janeira. O catálogo contempla uma bibliografia de Wenceslau
de Moraes, nela assinalando as seguintes obras : Wenceslau de Moraes - Cartas do Extremo-Oriente, Lisboa,
Fundação Oriente, com introdução e notas de Daniel Pires; O Culto do Chá, obra editada pela Vega ; referências aos filmes que
Paulo Rocha realizou sobre Wenceslau de Moraes: A Ilha de Moraes e ainda A
Ilha dos Amores. No que aos estudos orientais se refere, o Centro de
História Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa, publica o Bulletin of Portuguese / Japanese Studies
cujo editor é o historiador João Paulo Oliveira e Costa.
O
interesse pelas religiões orientais despontou com a divulgação dos seus
ensinamentos através da Sociedade Teosófica fundada em Nova Iorque em 1875 por
Helena Petrovna Blavastsky (1831/1891) e pelo Coronel Henry Steel Olcott (1832/1907), escritor,
advogado e jornalista. Muitas foram as escritoras que se notabilizaram pelas
suas obras teosóficas como Annie Besant (1847/1933) e Alexandra Davis-Neél
(1868/1969), peregrina, feminista e anarquista, autora de uma vasta obra, tendo
sido a primeira mulher de origem europeia a residir em Lhassa no Tibete. Em
1893 realizou-se nos Estados Unidos o primeiro Parlamento Mundial das
Religiões. Entre os delegados oriundos dos países asiáticos contava-se o
japonês Soyen Saku. Contudo, foi o seu discípulo D. T. Suzuki quem se viria a
tornar o mais importante divulgador do Zen no mundo ocidental.
A
palavra Zen é a tradução japonesa de Ch'an que, por sua vez, deriva da
palavra indiana dhyâna, todas
significando um estado de meditação profunda em que o momento presente é vivido
com total atenção e consciência límpida. Quando o budismo chegou à China vinha
impregnado da cultura indiana pois Buda era um príncipe indiano do século IV
A.C e a religião indiana caracterizava-se pela busca da realidade absoluta do
Universo que se encontra por detrás de todas as aparências e de todos os
contrários. Nos Upanishads, as
escrituras hindus, esta Realidade é designada pelo nome de Brahman. Ao
espalhar-se na China, o budismo foi profundamente influenciado pelo taoismo que
tinha por base os ensinamentos de Lao Tse, ensinamento que aí florescia havia
mais de mil anos.Com a fundação na China, no século IV, da Escola da Luz Interior
ou Ch´an, oficializou-se esta fusão
do entendimento hindu-budista com a filosofia taoista.
Grandes
poetas como Ezra Pound, T.S. Eliot e William B. Yeats, e prosadores como Lovecraft,
Aldous Huxley, Lawrence Durrel, Herman Hesse e André Malraux receberam do
Oriente inspiração. Igualmente nas artes, com Van Gogh, Gauguin, Monet, Toulouse
Lautrec e Manet, entre outros. Na ciência, muitíssimos foram os cientistas que
se interessaram pelas filosofias orientais, alguns tinham mesmo conhecimento do
sânscrito como era o caso de Werner Heisenberg, Einstein, Openheimer, o pai da
bomba atómica, e de antropólogos como Margaret Mead e Gregory Bateson, este
último considerado um dos grandes visionários do século XX. A herança
profissional de Gregory Bateson acha-se no Instituto de Estudos Interculturais
da Biblioteca da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.
O
Zen é um sistema de princípios e práticas de origem budista e taoista destinado
a dar a cada um a experiência da eternidade e, numa fração de segundo, a
revelação da divindade que se encontra presente em todos os seres. No princípio
dos anos cinquenta, o Zen tornou-se uma corrente em voga entre os meios
intelectuais e artísticos tendo sido adotado pela beat generation de que faziam parte William Burroughs, Allen
Ginsberg, Jack Kerouac, Gary Snyder, Alan Watts e Gregory Corso. Em plena
ditadura militar, no Brasil, entre as décadas de 60 e 80, São Paulo abrigou o
grupo dos beats paulistanos de que faziam parte, entre outros, Roberto Piva,
Claudio Willer, Roberto Bicelli e Antonio Fernando de Francheschi. Segundo o
poeta e ensaísta Claudio Willer, Roberto Piva teria na sua obra absorvido a
estilística fragmentada que caracteriza o estilo dos vagabundos iluminados
americanos e uma temática que aproximando o contemporâneo do arcaico, mergulha
as suas raízes místicas em Platão e Plotino, corrente já patente na obra de William
Blake e Walt Whitman. Segundo o escritor João
Silvério Trevisan, a maior coerência de Piva foi ter sido fiel à não separação
entre poesia e vida, o que o levou adotar um modo de vida de um anarquismo
místico que sedimentou a orientação basicamente transgressiva dos costumes do
seu tempo.No dizer de Cláudio Willer, Roberto Piva seria o expoente de
uma corrente literária em que a valorização da pobreza e o extremo
individualismo se afirmaria em oposição ao capitalismo e à massificação da cultura.
Em
Portugal, graças ao fecundo trabalho de Armando Martins Janeira e ao de Ingrid
Bloser Martins florescem no país escolas de Ikebana e como Armando Martins
Janeira o praticou, também poetas como Ana Hatherly, Casimiro de Brito, Albano
Martins, Joaquim Feio, António Graça de Abreu, Ingrid Bloser Martins, Joana
Ruas e Pires Laranjeira se têm exprimido na forma da poesia haiku. Contudo,
apenas duas obras se inspiraram de forma sistemática na estética do haiku: o
livro de Leonilda Cavaco Alfarrobinha intitulado, O Respirar das Flores, livro ilustrado pela artista plástica Takae
Nitahara com belas pinturas colhidas das paisagens dos campos e do mar do
Algarve e executadas segundo a técnica e o estilo ocidentais, publicado em
2007, e Outono de António Salvado,
publicado em 2009. A grande maioria dos poetas portugueses que se exprimiram
pelo haiku, usando embora a sua forma de poema de 5/7/5 sílabas, nele verteram
aforismos ao gosto ocidental. Leonilda Alfarrobinha inspira-se no modelo japonês
do haiku sem contudo se subordinar à disciplina rigorosa da estética zen. Outra
foi a abordagem de António Salvado à estética zen implícita no haiku
tradicional que floresceu a par da pintura no período Edo.
António
Salvado oferece-nos, ao longo da sua vasta obra, uma poesia rica de
ressonâncias gregas e orientais. Nascido e criado em Castelo Branco, a
severidade da paisagem da Beira Interior, espelhando-se no rigor do seu estilo
poético, envolve-o numa atmosfera onde a solidez do frio granito ombreia com
vinhedos e olivais impregnando a sua poesia de uma doçura mediterrânica.
Ousando franquear, qual navegante, os amplos horizontes da cultura oriental, a
poesia de António Salvado torna-se num acontecimento simbólico que se traduz na
coexistência pacífica entre o legado da cultura grega e o da cultura oriental. Muitos
estudiosos deste fenómeno encontram o traço evidente desse encontro de culturas
no sorriso helénico de Buda patente na estatuária de Gândara e na serenidade
budista dos rostos e na flexibilidade graciosa das posturas corporais na estatuária
grega do período arcaico.
No
Japão, como o nota Paul Claudel em L'Oiseau
noir dans le soleil levant, desde o desenho de uma montanha a um gancho do
cabelo ou a uma taça de saké, tudo obedece a um estilo. Vejamos, pois, como o
poeta António Salvado e o japonês Kousei Takenaka enfrentaram este desafio pois
a meditação zen disciplina o espírito para o que se poderia considerar a
ausência, na expressão poética, do Eu enquanto sujeito da sua história, para
realizar o que na tradição poética oriental se exprime na eternidade do
momento. Em António Salvado, a aliança entre as duas culturas passa pela
comunhão da totalidade da existência num caminho de ascese. Como os místicos
cristãos, os budistas esforçam-se em afastar por completo as imagens do
espírito de molde a alcançarem a imagem Zen: dois espelhos um em frente do
outro de modo a que nunca reflitam senão o vazio. Wenceslau de Moraes que se
converteu no Japão ao Budismo, dá-nos nos seus escritos um retrato impressionista
do Japão através do culto da beleza, sobretudo da beleza feminina, da musumé que designa como «a obra prima do
japonês», transformando o culto da beleza em objeto de paixão amorosa. Na sua
abordagem à poética japonesa, António Salvado liga-se sobretudo às expressões
estéticas que tomam uma projeção religiosa, numa aproximação a uma literatura
compatível com a espiritualidade mas num território aberto a outros domínios.
Roland Barthes, na sua obra Sade,
Fourier, Loyola, estabelece a diferença entre a meditação inaciana e a
búdica. Na meditação preconizada por Santo Inácio de Loyola, a concentração
para o despojamento do eu inaciano é no sentido da obediência enquanto a
concentração para o despojamento do eu budista é para a liberdade. Segundo Roland Barthes, a ascese inaciana cega pela força do hábito enquanto a do
Zen todo o esforço é feito no sentido de libertar a mente. No budismo, a concentração nominal ou meditação do nome de
Buda, deve produzir um vazio. O budismo conhece as doutrinas ditas toran (em chinês), em que a abertura do
espírito é um acontecimento separado, súbito, abrupto, descontínuo tal como o
Zen e doutrinas ditas kian em que
essa iluminação é o resultado de um método gradual mas não contínuo. A abertura
da mente permite a valorização de cada momento da nossa existência para que
colhamos, de alma tranquila, a clara manifestação da substância de cada
instante fugaz, seja o instante do orvalho de uma límpida emoção ou o de um
gesto banal do cotidiano. O propósito é o de dar densidade ao presente, ao Real
de cada instante, ao agora de cada momento. Dar densidade não ao ontem nem ao
amanhã, mas ao aqui, ao agora.
O binómio poesia/pintura (shihua em chinês e shiga
em japonês) designa o laço indissolúvel que no período Edo une estes dois modos
de representação: a palavra e a imagem. O haiku exige, em plena fugacidade do
pensamento, um registo rigoroso da imagem no seu encontro com a palavra.
Daisetz T. Suzuki dá-nos um quadro do despojamento do poeta na arte dessa
vertiginosa captura poética segundo a estética Zen: «Quando o homem alcança a
arte do auto-esquecimento, o homem pensa e no entanto não pensa. Ele pensa como
os aguaceiros que caem do céu; ele pensa como as ondas que rolam no oceano; ele
pensa como as estrelas que iluminam os céus noturnos ; ele pensa como a
folhagem verde que cresce na relaxante brisa da primavera. Na verdade, ele é os
aguaceiros, o oceano, as estrelas e a folhagem. Quando um homem atinge esta
fase de desenvolvimento espiritual, ele é um artista zen da vida». Para estes
poetas-ascetas, não é o artista, o escritor ou o poeta que exprimem a vida, é a
vida que se exprime através deles.
No que se refere à imagem, segundo os peritos, os
pintores deste género de pintura inspiraram-se na decoração das porcelanas
chinesas. Kousei Takenaka ilustra Outono
de António Salvado com imagens que na tradição japonesa da gravura para livros
dão pelo nome de sumi-e,que quer
dizer aguarela, estabelecendo uma relação entre a palavra e a imagem segundo o
consagrado lema:«a pintura é um poema sem palavras e o poema é uma pintura sem
imagens.»
Wenceslau
de Morais, no seu livro Dai-Nippon,
afirma que no Japão, o livro ilustrado, destinando-se a ser manuseado, era
produzido em massa como um bem de consumo, uma indústria feita pelo povo e para
o povo. A escola Ukiyo-e
desenvolveu-se na Era Edo (1603-1867) quando o Japão estava praticamente
fechado ao exterior sob o governo militar do Shogunato Tokugawa sediado em Edo
(atual Tóquio), governo feudal que proibiu o cristianismo e decretou o
isolamento do país, tendo a cultura crescido, a partir de então, num ambiente
fechado. O comércio externo e o transporte internacional limitavam-se à Coreia,
China e Holanda. Estas obras de arte japonesas eram conhecidas como UKIYO-YE,
expressão japonesa que significa «imagens do mundo flutuante». A palavra surgiu
pela primeira vez no livro Um Homem
Enamorado do famoso escritor Ihara –Saikaku e espalhou-se rapidamente por
todo o Japão. Decompondo a palavra nos vocábulos que a compõem, temos UKI que é
tudo o que flutua ; Yo que é o mundo e Yé, a pintura. Segundo alguns estudiosos, Ukiyo-e, exprime uma visão budista da
vida com a sua impermanência e efemeridade. A imagem e a poesia apropriam-se de
fenómenos colhidos num instante do tempo, de imagens da vida corrente, tudo o
que constitui a representação do espetáculo da vida do homem comum. A arte da
ilustração de antologias de poemas e de livros de literatura popular foi
praticada neste período pelos mestres Kitagawa Utamaro, Hokusai e Hiroshige. Utamaro
tornou-se conhecido do público japonês através da ilustração de romances
populares de pequeno formato, baratos e com grande sucesso de vendas. São
célebres os livros de poemas com gravuras de Hokusai e o Livro das Conchas de
Utamaro. Utamaro e Hokusai eram, na verdade, pseudónimos. Era costume os
artistas abandonarem o nome de família e escolherem um pseudónimo. O pseudónimo
Utamaro de Kitagawa, nasceu em 1754 em Kawagoué logo que o pintor teve um
atelier e começou a trabalhar segundo a sua inspiração. Hokusai começou a sua
carreira de artista como escritor de romances e novelas para as mulheres e
crianças que ele própria ilustrava. Nessa era Kwanseï (1789-1800), Hokusai,como
escritor, assinava com o pseudónimo de Tokitaro-Kakô e, como pintor,Gwakiójin-Hokusai.
Na
capa de Outono, somos convidados,
através do sumi-e de Kousei Takenaka, a repousar os olhos numa paisagem onde,
ao estilo das pinturas antigas chinesas, o homem quase desaparece e em que as
casas se aninham à proteção das montanhas envoltas em neblina. O nosso olhar
sobe para esses cumes, como num lento despertar, pois para os monges budistas e
para os taoistas chineses, a prática da poesia era como um exercício de
despertar. Para Wei K’ing-Tche ( século XII): «o cume da poesia é único e
chama-se acesso ao espírito». O sumi-e de Kousei Takenaka anuncia o poeta, a sua
longa escalada para os altos cumes, para os céus do despertar onde o sol se
reflete em cada gota de orvalho.
«O poema é como uma
figura no tempo», escreveu Paul Valéry. O haiku é um poema breve e resultou da
lenta depuração que a poesia japonesa sofreu ao longo de séculos. Este género
literário teve grandes mestres, mas foi com Bashô que adquiriu a sua textura
mais cristalina. Nas antologias clássicas japonesas segue-se quase
obrigatoriamente o curso das 4 estações. O esquema quadripartido, se não é mantido,
as 4 estações do ano são substituídas pelas 4 fases de um dia: aurora, luz do
dia, crepúsculo, luar. Esta redução da perspetiva temporal a um momento preciso
ou a um lapso de tempo muito curto, convém às visões instantâneas que são as
impressões fugazes captadas em poucas palavras, captura da acuidade destes
momentos privilegiados onde a luz muda, nasce ou declina até que o poema atinge
o ponto culminante de uma perfeita claridade. António Salvado, dentro deste
quadro, opera uma inversão. Ao contrário de Bashô que em O Gosto Solitário do Orvalho segue rigorosamente o esquema
quadripartido, o poeta António Salvado começa a sua obra outonal com uma
saudação à primavera que germina nas verdes ilusões do entardecer humano: «Outono. Como restam/ainda nesta árvore/as
verdes ilusões?» Este poema tão breve contém uma sabedoria milenar e uma
das mais arreigadas tradições orientais expressa nas palavras dos mantras que
segundo o Khandogya-Upanishad teriam
sido ditas a um pau velho que se teria coberto de flores e de folhas e que
voltou a ter raízes. Este é um tema recorrente na poesia de António Salvado. No
seu último livro publicado em 2014, Sinais
do Fluir, aflora em «ver um broto»,
a árvore não morta, quase murcha, alçando-se feliz na cor da esp´rança. Todas
as coisas possuem algo da solenidade do divino: no amplo templo da natureza,
uma pedra, um tronco, são seres vivos que na sua solenidade silenciosa merecem
o nosso respeito e a nossa gratidão. Kousei Takenaka ilustra este poema com a
imagem de um velho cedro ostentando as suas folhas, imagem feliz da perenidade da
vida que se manifesta no pensamento do poeta e do pintor, indestrutível na sua
essência passageira.
Selecionei entre os
cerca de 42 haicai de Outono, aqueles mais representativos da viagem interior
do poeta que partindo do conceito de um Eu ínfimo :«eu sou o lugar de passagem
de algo que me transcende mas que no entanto sou eu», assume a condição da
continuidade do ser na impermanência.
«A paz no pensamento./ A paz no coração./O chilreio das aves».
A paz no pensamento e no
coração, essa paz cria o mundo e o chilreio das aves. Este haiku com imagens de
flores e pássaros integra um género pictórico chamado ka-cho-ga.
«É
no ruído às vezes/ Que mais se tornam claros/arpejos do silêncio.»
Neste haiku, o ruído está para o silêncio como as
contradições e amargos da vida estão para o vazio inicial, o nada existencial.
A música do silêncio abre nos muros do ruído a clareza de um espaço inaugural.
A imagem de uma cascata que desce a colina em claros arpejos da luz, ilustra
este poema. Género autónomo chamado meisho-e,
a cascata teve no Ukiyo-e dois grandes mestres: Katsushita Hokusai (1760-1849)
e Utagawa Hiroshige (1797-1858).
«O crepúsculo soa/no lento latejar/de um coração exausto.»
No crepúsculo da sua existência,
o poeta sente o fim dos seus dias no lento latejar de um coração exausto. Poema
mistério que nos lembra o voo rimbaldiano do mar e do sol em «Elle est
retrouvée/Quoi?L´Eternité/ C´est la mer allée avec le soleil».Neste poema de
Rimbaud como no haiku de António Salvado, a ampla respiração da maré vai fundir-se,
como um abraço, na eternidade do crepúsculo em que o sol se afunda no mar para
renascer. O coração exausto pressente no seu cansaço uma tardia liberdade,uma
liberdade que se anuncia no horizonte inacessível dos dias futuros. Partir é
começar de novo para amar mais e amar melhor.
«Entrego-te o segredo: /Nunca o teu coração/
trema perante a dor.»
Este
é o haiku do estoicismo, da dor que se sofre com coragem. Quando alguém aceita
a sua vida, aceita tudo dela porque o sofrimento é um tesouro. O sumi-e que
acompanha este poema dá-nos a figura de um peregrino rústico, um desses poetas
excecionais, peregrino de muitos caminhos da tradição taoista. Ermita e asceta, o chamado homem-montanha desta tradição,
sem ser antissocial, vivia afastado da sociedade na solidão do anonimato e
produzindo uma poesia rude mas luminosa.
«Há papoilas nos teus olhos:/o reflexo da
breve pequenez/do silêncio da terra quando gera.»
Há
na mulher uma primavera oculta gerando flores e alimento, assim os olhos da
mãe. O conceito da tradição védica do Grande Espírito da Terra, foi assimilado
no Japão amalgamando de forma sincrética o Budismo e o Xintoísmo. Os orientais não podem dançar em bicos de pés porque a sua
força e a sua verdade vêm do chão. Porque é do chão que lhes vem o alimento, os
orientais, especialmente os japoneses, mantêm uma relação fundamental entre o
corpo e o chão, entre os pés e a terra, entre o homem e o cosmos, ligação que
Heraclito de Éfeso (535ª.C/475ª.C) tão bem exprimiu no verso: « o sol, belo como um pé de homem».
O
haiku é uma arte que capta o ser no seu movimento fugitivo, na sua
particularidade e também no instante subjetivo em que o passado não é apenas a
memória de um só, em que a memória do poeta é a ressonância da memória
colectiva. Ouçamos o poeta: «Companheiros
já idos:/deles me chega sempre/p'la manhã uma carta.» Este poema é
ilustrado sobriamente por caracteres caligráficos. A mão do pintor desenha o
que o poeta pensa e recorda. Por vezes, uma realidade alheia aos cânones do
haiku leva a que o pintor se aventure nos códigos da pintura surrealista como
sucede no haiku: «Despertam p'la manhã/os
sonhos perseguidos/p'la turbação da noite.»É o abraço entre as culturas,
não apenas na forma como no conceito e no sentimento. Nestas pinturas torna-se patente
o processo irreversível de modernização e ocidentalização que se verificou na
pintura japonesa entre 1909 e a década de 30, diversidade e dinamismo que
deveram muita da sua inspiração a movimentos europeus, particularmente o
pós-impressionismo, o futurismo italiano e o futurismo russo, o dadaísmo
berlinense e o surrealismo.
Acompanhado
de um sumi-e de uma paisagem onde um homem solitário navega junto à margem, o
poeta usa esta metáfora para as miragens que viveu e, ao recordá-las tal como
foram na espessa paisagem do passado, o seu coração acalma-se: «Singrando a longa via/das miragens vividas/
meu coração acalma».
Ao
contrário da natureza efémera de todas as coisas, o sentimento da tristeza
fixa-se na alma como um véu, enlutando-a: «A
poeira cobriu os meus anseios,/ No ar doente as aves são já raras./Que aceno
ganha forma aqui ao lado?». No ar doente dos anseios perdidos e onde a ave
de um novo anseio é rara, que aceno vindo de fora poderá ganhar alento e, com
ele, alcançar o esplendor de uma forma? Há neste haiku subtil e profundo o eco do sutra do
coração pois assim se chama na tradição budista o sutra que está no centro dos
seus ensinamentos: «O vazio é forma e a
forma é vazio». Digamos que o vazio é saudade do que se não realizou, mas
que ao não realizar-se ganhou forma e com a forma a claridade que ilumina a
obscuridade de um caminho.
No
haiku em que o poeta joga com a palavra «casais» na aceção de casas e,
igualmente, na de marido e mulher formando um casal, a delicadeza e o pudor envolvem
os sentimentos mais profundos:«Contemplo
comovido/o apagar das luzes/de noite nos casais». Nesse breve instante em
que a noite nasce quando as luzes se apagam, chega para o poeta comovido o
instante em que se lhe desabrocha a flor da contemplação. Kousei Takenaka
ilustra-o com uma paisagem de neve, a prata da natureza como é chamada a neve
no Japão. Utamaro ilustrou, segundo o modo de fazer chinês de Sekiyen, com 6 estampas, uma colectânea de poemas
intitulada A Neve. «A arte deve perder-se na neve de março como o espírito da borboleta e o
sonho de um rouxinol» havia escrito Okakura Kakuzo na revista Kokka (Flores
da Nação) que ele mesmo criou, numa alusão a Tzuantzu tornando-se borboleta e à
canção do rouxinol no famoso haiku de Bashô.
O
objetivo da religião é colocar o espírito numa atitude de humildade e silêncio
perante as coisas permanentes. A prece hesicasta, do grego hesuchastés, é a prece
do contemplativo. Neste haiku-prece, há uma continuidade no fluxo do efémero: «Tivesse aqui ao lado um calmo rio/eu faria
fluir nas suas águas/as pétalas da flor que despeguei…» Que o rio da mente,
rio de lentas águas leve as pétalas da flor, a essas pétalas que foram
arrancadas antes do outono, que as águas as levem e com elas o remorso.
«Mais uma vez as aves companheiras/ do meu
silêncio quando cerro os olhos/me dizem que, brilhante, o dia começou».
Há
uma linha de tensão entre o processo mental que levou à criação do poema e
aquele que presidiu ao desenho que o ilustra. O desenho de linhas subtis que
acompanha o lento despertar de uma intensa concentração do espírito do poeta,esses
seres de tinta, foram captados e armazenados na mente do pintor no paciente
trabalho da sua contemplação. O olhar do pintor é um olhar que recorda. Nesse
sentido é a celebração do que passou enquanto no poeta, as aves que habitam o
seu silêncio, erguem o seu voo para a claridade de um dia que começa.
«Saber que o barco chega/após a tempestade/a
bom porto seguro/». Acompanha este poema o sumi-e de um barco cortando a
forte ondulação das ondas. Ocorre-me a expressão de Hoyen de Gosozen (1140): «Eis aqui um homem que, transformou o vazio do espaço numa
folha de papel, as ondas do oceano num tinteiro, e o Monte Sumaru num pincel.»
Termino
a minha comunicação sobre esta obra de um perfume outonal do poeta António
Salvado saudando nele a virtude de uma força tranquila e firme mas terna,
patente neste derradeiro haiku:«Enquanto
houver luar/Dormirei sossegado/Na íris dos teus olhos.»
Tendo
assimilado o espírito da estética do haiku, a abordagem de António Salvado em Outono, contribuiu para alargar a nossa
experiência da cultura oriental, acrescentando-lhe algo que não nos havia sido
dado antes. Outono, de António
Salvado é uma obra notável na medida em que o poeta transpõe pela sua arte a fronteira que separa
duas culturas diferentes, culturas que tocando-se mutuamente se enriquecem de
valores espirituais e artísticos.
A
fechar o livro, na contra-capa, Kousei Takenaka oferece-nos uma pintura de
flâmulas em forma de carpa. Estes galhardetes tremulando ao vento são os
ornamentos das casas e, representando a felicidade familiar, são especialmente
usadas para celebrar o Dia da Criança a 5 de maio, o Tango no Sekku.
JOANA RUAS (Portugal). Ensaísta,
narradora e jornalista. Estreou-se no romance com Corpo Colonial (1981), seguindo-se-lhe O Claro Vento do Mar (1996), A
Pele dos Séculos (2001) e A Batalha
das Lágrimas (2006). O seu livro de ficção Das Estações entre Portas foi publicado no Brasil pela Escrituras
Editora. Participou na 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará onde proferiu
palestra intitulada "Aproximar o Distante, Do Estranho ao Familiar - duas
experiências: Timor-Leste e Guiné-Bissau". Contacto: joanaruas@sapo.pt.
Página ilustrada com obras de J. Karl Bogartte (Estados Unidos), artista
convidado desta edição de ARC.
Agulha Revista de Cultura
Fase II | Número 11 | Junho de 2015
editor geral | FLORIANO MARTINS | arcflorianomartins@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FLORIANO MARTINS
GLADYS MENDÍA | LUIZ LEITÃO | MÁRCIO SIMÕES
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todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
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