1. Manoel de Barros busca o sentido da vida
Manoel de Barros ficou perto de cinco meses com um longo questionário que lhe enviei pouco antes do carnaval deste ano. "Vou responder devagar e do meu jeito", ele me advertiu na época. Aceitei suas condições. Não imaginei, porém, que necessitasse de tanto tempo. Barros seguiu, em parte, as instruções de seus novos editores, da Record, que preferiam ver uma grande entrevista publicada no Estado apenas na época do lançamento do Livro sobre Nada. Mas não foi só essa preferência que o fez deixar o questionário de lado por um período tão longo. O poeta é um homem de hábitos lentos, que gosta de meditar muito antes de agir e não está acostumado a trair seu temperamento interiorano. Finalmente, no dia 12, ele despachou de Campo Grande, pelo correio, suas respostas a algumas perguntas que formulei. Assim começa um breve bilhete anexo: "Aí está o que pude; peço desculpas pela demora." Manoel de Barros respondeu por escrito, em organizadas folhas brancas do tipo ofício, datilografadas com esmero. Corrigiu os erros com a esferográfica, numerou metodicamente as questões e grampeou as páginas.
É um homem, sempre, cheio de cuidados. Antes de
aceitar o convite da editora Record para se transferir - "proposta
irrecusável por todos os motivos, até mesmo os financeiros", limita-se a
dizer -, o poeta consultou José Elias Salomão, o proprietário da Civilização
Brasileira. "Falei com ele e tudo bem; ficamos em paz todos", relata.
A morte recente do editor Ênio Silveira, por certo, influenciou nessa decisão.
Manoel de Barros se sentia tão ligado a Ênio que, enquanto ele estava vivo e
mesmo com as condições precárias que a editora Civilização Brasileira
atravessou na última década, não ousou mudar de casa. Os laços de amizade e a
fidelidade pesaram mais que os interesses pessoais. Cada um de seus últimos
livros editados por Ênio Silveira, mal ou bem (e, considerando que são livros
de poemas, esses números são ótimos) vendeu, de todo modo, perto de 10 mil
exemplares. "Acho que, na Record, esse número deve crescer por causa da
estrutura de marketing da editora", diz. Apesar desse otimismo, Manoel de
Barros continua a ser um homem basicamente melancólico e pessimista. "Acho
que no futuro o homem vai pedir pelo amor de Deus para conhecer uma árvore, um
passarinho, um cavalo", diz. "Tenho medo que a ciência acabe com os
cavalos, com a luz natural, com as fontes do ser." A seguir, as questões
que ele decidiu responder.
JC | Em que medida Mato Grosso do Sul está presente em sua poesia? Qual é sua
relação com o regionalismo?
MB | Há sempre um lastro de ancestralidades que nos situa no espaço. Mas não
importa muito onde o artista tenha nascido. O que marca um estilo literário é a
maneira de mexer com as palavras. Poesia é um fenômeno de linguagem. De minha
parte, confesso que fujo do regionalismo que não dê em arte, que só quer fazer
registro. Não gosto de descrever lugares, bichos, coisas da natureza. Gosto de
inventar. Quem descreve não é dono do assunto; quem inventa é. Não tenho
compromisso com as verdades consagradas. O que desejo é me constar por meio de
um trabalho estético. Se de tudo resultar um cheiro de coisa do chão, é bom.
Pode até ser que seja regionalismo. Porém, há de ser mais transfigurismo pela
palavra.
JC | Você se sente isolado em Campo Grande?
MB | Isolado não me sinto, juro. Às vezes me isolo, me tranco na minha toca
para escrever, para ler, para imaginar. Parece que, no fechado, o imaginário se
solta melhor. O que sinto mesmo é incompletude: essa falta de explicação para o
sentido da vida. O que tenho é solidão. Mas solidão é opulência da alma. Tudo
isso parece que destila amargor e sol na minha poesia.
JC | As viagens marcaram sua poesia? Penso em um poeta como Vinícius de
Moraes que, em cada cidade que viveu, parece ter sido um homem diferente.
MB | Alguns anos da minha vida ambulei por lugares decadentes. Havia um certo
fascínio em mim por cidades mortas, casas abandonadas, vestígios de
civilizações. Um fascínio por ruínas habitadas por sapos e borboletas. Eu
gostava de ver alguma germinação da inércia sobre ervinhas doentes, paredes
leprentas, coisas desprezadas. As fontes de minha poesia, estou certo, vêm de
errâncias desurbanas. Agora, o caso do Vinícius é outro. Ele é um poeta
inumerável. Ele vem das grandes paixões, das grandes complexidades, das
perplexidades humanas. Ele era 300, ele era 350, como diria o nosso Mário de
Andrade. Manoel de Barros só é um bugre perturbado.
JC | Existe essa entidade chamada poesia brasileira ou existem apenas poetas
nascidos no Brasil?
MB | Penso que existe sim uma poesia brasileira. Uma poesia que expressa a
nossa alma e o nosso quintal. Porém, a linguagem, o tratamento que o poeta
imprima à sua matéria pode fazer dele um poeta universal. Assim, as nossas
particularidades podem ser universais por meio das palavras. Temos poetas do
mundo nascidos no Brasil.
JC | Como foi sua relação com o editor Ênio Silveira, recém- falecido?
MB | Do Ênio fui amigo e companheiro desde o primeiro dia que conversamos.
Uma das criaturas mais puras, mais honestas, mais idealistas que conheci. Um
ser de escol - como se diz. Trocamos cartas por muitos anos. Trocamos amizades.
Mandava a ele os meus originais e ficava quieto, esperando. De repente, me
mandava as provas. Fazia questão de escrever as orelhas. Tenho cinco livros
lançados por ele.
JC | Como é hoje sua rotina de poeta?
MB | Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo
"lugar de ser inútil". Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro
memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio
ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos,
frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro século
para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler Vozes da Origem. Gosto de coisas que
começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro
homem." Está no livro Vozes da
Origem, da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar
os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre
acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento.
JC | Seu último livro publicado se chama O
livro das Ignorãças (Civilização Brasileira, 1983). A citação de abertura é
eloquente: "As coisas que não existem são mais bonitas." Qual é o
papel da ignorância na atividade poética?
MB | Gosto de ver o que não aparece. Um que não era o adivinha de Tebas, o
Tirésias, um que era apenas o Pote-Cru, andejo de beira de rios, criado em
grotas de preá, me disse um dia: "Eu tenho vaticínios de lugares."
Pote-Cru, ele tinha percepções sensoriais largas, como os adivinhos, os
videntes, os bruxos, os urgos, os demiurgos, os curandeiros, os magos. Essa
gente toda usa muito a ignorância para nos conhecer. Como é que eles podem
dizer: "Vi a tarde se encolher no olho de um pássaro?" Entretanto, se
encolhe! Como é que eles podem dizer: "Os carrapichos não pregam no
vento." E, entretanto, não pregam. Essas descobertas vêm da ignorância.
JC | Você vive em uma região brasileira em que a natureza, mal ou bem, ainda
resiste. Há futuro para a natureza?
MB | No grande futuro, não sei o que seja, acho que o homem vai pedir pelo
amor de Deus para conhecer uma árvore, um passarinho, um cavalo. Tenho medo que
a ciência acabe com os cavalos, com a luz natural, com as fontes do ser. Aquela
liberdade que o homem tem de se sentir livre para o silêncio das árvores não
vai ter mais. O idioma não vai servir mais para celebrar. O ser não vai mais
comungar com as coisas. A imaginação não vai mais desabrochar, porque os nossos
desejos e fantasias serão realizados. O mundo vai ter outro cheiro. Salvo não
seja.
2. Manoel de Barros faz do absurdo sensatez
CAMPO GRANDE - Parti para Mato Grosso do Sul com a cabeça carregada de
frases de Manoel de Barros, que anotei das raras entrevistas que o poeta deu no
passado. "Prefiro as máquinas que servem para não funcionar",
ele disse. "Não gosto de dar confiança para a razão, ela diminui a
poesia", afirmou também. "A poesia não existe para comunicar, mas
para comungar", comentou ainda. "Desconfio do verso que fulgura; em
poesia, o opaco é mais luminoso que o brilhante." E disse mais:
"Poesia é um lugar onde a gente ainda pode fazer com que um absurdo seja
uma sensatez."
Antes de viajar, dediquei-me a reler seus poemas.
Mas frases sufocaram-me. "As coisas que não existem são as mais bonitas",
está na abertura do Livro das Ignorãças,
atribuída a Felisdônio. E mais à frente: "As coisas me ampliaram para
menos." No Arranjos para Assobio há uma definição de poeta: "Sujeito
inviável." No Concerto a Céu Aberto
para Solo de Aves está dito: "O nome ensina ao poeta as suas
semelhanças." E em Matéria da Poesia
ele dá uma definição definitiva: "Poesia é a loucura das palavras."
Desde janeiro de 1996, eu vinha tentando convencer
o poeta Manoel de Barros, de 80 anos, a receber-me para uma entrevista. Naquele
verão, ele aceitou, por fim, responder a algumas perguntas por escrito. Nada
mais. A maior parte das poucas entrevistas que Manoel deu ao longo da vida foi
assim: perguntas por escrito e respostas anotadas no papel.
Levou três meses para enviar suas respostas -
publicadas em março do ano passado no Estado. Não desisti. Nas muitas conversas
preparatórias que tivemos por telefone, Manoel parecia sempre um homem
simpático, mas retraído, pouco preparado para as coisas do mundo, entre elas a
imprensa. Aos poucos, construí para meu uso pessoal o perfil de um interiorano,
um caipira dos pântanos, um homem reservado e de poucas palavras, que qualquer
repórter mais afoito poderia machucar seriamente.
JOGO - Ao chegar a Campo Grande, porém, levei uma
rasteira - muito parecida com aquela que Manoel de Barros costuma dar-nos com
seus magníficos versos. Descobri que, durante quase dois anos, ele jogara
comigo, meigamente, mas com mestria, do mesmo modo que, na folha em branco,
joga com suas palavras. Eu - o repórter - fui, por longos meses, apenas uma
palavra na cabeça de Manoel de Barros. Uma palavra perigosa. Agora, graças a
algum raciocínio que eu ainda não podia alcançar, ele abria a guarda e
estávamos frente a frente.
Que homem encontrei? Imaginava Manoel de Barros
magro e triste, mas ele é gorducho e enérgico. Imaginava um homem ingênuo, que
passasse os dias entre cachorros e passarinhos - mas ele ouve concertos
clássicos, lê Kant, Benjamin e Roland Barthes e toma cerveja com psicanalistas.
Caí na armadilha de seus poemas. E talvez fosse isso o que, mantendo-se
escondido, ele desejasse preservar: os versos. Manoel fala como qualquer senhor
respeitável de 80 anos; não fala "torto", como falam seus poemas. É
essa fala reta, provavelmente, o que ele chama de timidez: o homem comum que se
esconde detrás dos versos insensatos.
A crer no próprio Manoel, esse homem que eu agora
tinha diante de mim era falso - o verdadeiro só aparece nos poemas. "É a
palavra que me vai desvelando", ele diz, sabendo que a palavra oral exigida
em uma entrevista o rouba, justamente, daquele poder de burilar, de construir,
de jogar, que a palavra escrita oferece. Ao responder a entrevistas por
escrito, Manoel de Barros transformou as entrevistas em um gênero literário,
tão digno quanto qualquer outro. Era essa, agora, a herança que me massacrava,
mas também me fazia avançar.
Manoel sabe que o diálogo-padrão entre
entrevistador e entrevistado, a ideia de que a determinadas perguntas
correspondem determinadas respostas, a ilusão de que podem entender-se e
comunicar-se, só empobrece a palavra. "Penso que só com a desarrumação
sintática se consegue atingir o 'criançamento' do idioma", ele disse certa
vez.
E agora ali estava eu com minhas perguntas normais,
querendo respostas comuns. Seria possível? Manoel também disse: "O meu
apagamento me exibe antes que me apaga." Mas já estou eu, novamente,
enroscado na teia das palavras. No entanto: poderia ser de outro modo?
A CASA - Manoel de Barros mora em uma bela casa na
Rua Piratininga, no Jardim dos Estados, desenhada pelo arquiteto mato-grossense
Sérgio Saad e por seu companheiro, Osvaldo, que já morreu. Uma casa cheia de
recantos, de pequenos jardins internos, de esconderijos, que dá a impressão de
ser muito maior do que realmente é. Uma casa que engana e se disfarça - como
ele próprio.
Na varanda do quarto, Manoel tem uma
pitangueira, plantada pacientemente pela mulher, Stella, e hoje carregada
de frutos. No pequeno jardim da frente, cercado por um muro de 2 metros, os
passarinhos de Campo Grande vêm cumprimentá-lo. O escritório, em um pequeno
cômodo do segundo andar, é escuro e misterioso. A chave fica escondida no
corredor, sobre o batente da porta. De 7 horas ao meio-dia, todos sabem, Manoel
tranca-se no escritório para ler e escrever e não está para ninguém.
Manoel de Barros ainda passa, uma vez por mês, dois
ou três dias em sua fazenda, a Fazenda Santa Cruz, no município de Corumbá, a
seis horas de carro de Campo Grande. É uma fazenda de 12 mil hectares, onde ele
cria 5 mil cabeças de gado e, na época da cheia, fica completamente isolada do
mundo. Desde que Manoel transformou seus empregados em sócios, ela funciona em
um esquema de autogestão. "Assim, eles não precisam mais de mim",
diz. Dispensar o papel de fazendeiro o alivia.
Sua obra está sendo toda relançada, em primoroso
projeto editorial, pela Record. Em dezembro, chega às livrarias a nova edição
do Livro de Pré-Coisas, editado em
1985 pela Philobiblion. O poeta dedica-se, atualmente, a escrever um novo livro
que tem o título provisório de Tratado
Geral das Inutilezas. Escreve à mão, em caderninhos miúdos, que ele mesmo
monta com folhas grampeadas e capas coloridas e mais parecem obra de criança.
Chego à sua casa às 10 horas, saio às 19. Depois de
nove horas de conversa amistosa, aumenta, no entanto, minha sensação de
estranhamento. Para consolar-me, volto às palavras do próprio Manoel que trago
anotadas em minha agenda: "Me exibo através de ficar sob as cinzas. Sou
sempre uma pose falsa tirada no escuro. Me exibo de costas. Eu faço o nada
aparecer." Com Manoel de Barros, as palavras perdem seu poder de explicar
e tornam-se enigmas. É isso o que agora carrego.
A leitura desta entrevista dará aos leitores dos
poemas, ainda assim, a falsa sensação de esclarecimento. Poderão ter a ilusão
de que, agora, o poeta se aclara, que finalmente sabem quem ele é. Mas não se
iludam: ao voltar aos livros, os versos soarão ainda mais estranhos e
desconcertantes. A entrevista é um gênero da ordem das "inutilezas".
A vida tranquiliza a poesia, mas não a doma.
JC | Como surgiu seu amor pelas coisas sem importância?
MB | Quando eu era jovem, fiz uma longa viagem pela Bolívia. Viajei sem rumo
por Porto Suárez, Orurus, Chiquitos, vivendo sempre no meio da indigência. Eu
não fazia nada, eu simplesmente vivia - e bebia muita chicha, a aguardente que
os índios bolivianos fazem com o milho. Passava os dias ali, quieto, no meio
das coisas miúdas. E me encantei.
JC | Você já se interessava por literatura?
MB | Sim, eu lia muito. Levei comigo as Obras Completas de Rimbaud e de
Baudelaire e não parava de ler. Foi durante essa viagem, também, que descobri o
peruano César Vallejo, um poeta da palavra - como eu.
JC | Um poeta, também, das coisas menores.
MB | Prefiro as coisas menores, as coisas sem nome. Sempre fui muito voltado
para as coisas sem importância. Há pouco tempo, uma poeta do Rio disse-me:
"Quando você escreve, você só se interessa pelas 'inutilezas'." A
palavra é dela, "inutilezas", e me pareceu muito boa. O livro que
estou escrevendo tem o título provisório de Tratado Geral das Inutilezas.
JC | Onde você encontrou as "inutilezas" para o livro que está
escrevendo?
MB | Em minha viagem à Bolívia, procurei as cidades decadentes, as mais
miseráveis. Ficava o dia todo encostado, pescava, bebia, passava os dias
misturado com os bugres, os descendentes diretos dos índios americanos. Eu
vivia no meio deles, empenhado apenas em conhecer aquelas pequenezas.
JC | E o que você fez quando voltou?
MB | Encontrei um amigo que queria ir para Nova York. Foi um choque cultural:
Picasso nos museus, Bach tocando nas igrejas. Fizemos uma viagem cheia de
escalas, fomos chegando aos poucos.
JC | E o que encontraram pelo caminho?
MB | Miséria. Em Santa Cruz de la Sierra, fomos abordados por um menino que
veio oferecer-nos mulher. Ele nos levou a uma casa muito pobre e nos apresentou
a suas três irmãs, três meninas miseráveis. O menino pegava homens na rua para
transar com as irmãs, era assim que a família sobrevivia. Essa experiência
rendeu-me um poema, que chamei de Maria-Pelego-Preto.
JC | Ela existiu mesmo?
MB | Sim, uma das meninas tinha pentelhos que subiam até um umbigo. Os pais
exploravam esses pelos como um fenômeno, uma anormalidade. Cobravam ingressos
só para exibi-los.
JC | Como você publicou seu primeiro livro?
MB | A primeira edição de Poemas Concebidos sem Pecado foi rodada na prensa
manual de um diplomata, o Henrique Rodrigues Vale. Foram só 20 ou 30
exemplares, dados de presente. Não guardei nenhum.
JC | Quando você o lê, hoje, o que acha?
MB | Acho que esse meu primeiro livro é meu melhor livro. Tudo o que escrevi
depois vem dele. Ali, eu já tinha a noção do valor linguístico da poesia.
Poesia não é para contar história, poesia é um fenômeno de linguagem.
JC | Você foi um jovem desocupado?
MB | Tentei trabalhar como advogado, mas não funcionou. Na minha primeira
audiência como advogado, fiquei tão nervoso que simplesmente vomitei em cima do
processo. Imagine a cena: aquela mesa longa, o juiz postado na cabeceira, eu
sentado diante dos autos. É minha vez de começar a falar. Então, antes de dizer
a primeira palavra, eu me curvo sobre os documentos e vomito.
JC | Você, certamente, escolheu a profissão errada.
MB | Mas então escute uma segunda história. Agora não sou mais advogado, sou poeta.
Um dia, convidam-me para um programa especial na rádio em que escritores
brasileiros iriam ler franceses. Eu deveria ler um poema de Aragon. O programa
está no ar. É minha vez de ler. Mas, antes de dizer a primeira palavra, eu
desmaio.
JC | Poemas são assim tão perigosos? Os seus costumam ser adotados nas provas
de vestibular. Você não gosta. Por quê?
MB | Faço uma poesia difícil. Depois, cair no mundo das imagens não é para
qualquer um. Ainda mais para adolescentes. Adolescentes querem as coisas retas,
senão não aceitam. E minha poesia é torta.
JC | Eles exigem, no mínimo, professores muito preparados.
MB | Mas nem os professores me digerem. Há pouco tempo, chegou aqui em casa
uma das coordenadoras do vestibular em Mato Grosso. Ela me disse: "Eu não
entendo nada de seus livros. Se me permitir dizer a verdade, eu vou dizer: seus
livros são uma m...!"
JC | E como você reagiu?
MB | Eu lhe disse: "Olhe, minha querida, se meus poemas são difíceis, a
culpa não é minha. Juro que não tenho culpa. Meus poemas sofrem de
mim."
JC | E então?
MB | Ela estava desesperada. E me disse: "Pois é, mas eu não entendo
nada. Como é que vou preparar meus alunos para as provas?" Eu respondi:
"Olhe, eu também não sei o que lhe dizer. Meus livros não são para vestibular."
Poesia exige sensibilidade. Se você não tem sensibilidade, preparo algum
adianta.
JC | No seu caso, de onde veio essa sensibilidade?
MB | Fui criado numa fazenda do Pantanal. Meu pai empregou-se como arameiro,
que é aquele sujeito que faz a cerca para isolar o gado. Cortava as árvores
para tirar postes, depois passava o arame nas cercas. A gente não tinha casa,
vivia acampado na beira das cercas. Até os 8 anos, eu fui criado no chão, da
forma mais primitiva.
JC | E o gosto pela leitura, como surgiu?
MB | Quando deixei de acompanhar meu pai pelas fazendas, fui para um colégio
interno em Campo Grande. Depois, meu pai me mandou para o Rio, para o Colégio
São José, dos irmãos maristas, onde fiquei por mais sete anos. Passei todo esse
tempo lendo.
JC | João Cabral de Melo Neto também estudou com os irmãos maristas, no
Recife, e guarda recordações bem pouco estimulantes desse período de sua vida.
MB | Eu tive a sorte de conhecer um professor, padre Ezequiel, um homem culto
e de espírito aberto, que marcou profundamente minha formação. Quando eu tinha
13 anos, ele me deu para ler um livro do padre Vieira. Fiquei alucinado. Vieira
despertou em mim o gosto pela frase, pela sintaxe, pela construção sofisticada.
Vieira não tinha o menor apreço pela verdade, ele gostava é da frase. Se você
quiser tornar-se cristão lendo Vieira, não se tornará. Se quiser tornar-se
escritor, poderá tornar-se.
JC | É uma leitura que ainda hoje o acompanha?
MB | Jamais o abandonei. Agora mesmo estou lendo o capítulo dedicado a Vieira
na História da Inteligência Brasileira, de Wilson Martins. Ele segue o Vieira
passo a passo, com revelações que me assombram. Lendo o Vieira, descobri que
qualquer palavra pode tornar-se poética, desde que você a coloque no lugar
certo. Com o Vieira aprendi o valor da construção na poesia. Até hoje eu o leio
todos os dias.
JC | A faculdade de Direito afastou-o da literatura?
MB | Nada me afastaria. Eu tomava a condução para ir à faculdade, mas parava
no centro e ia para a Biblioteca Nacional. Padre Ezequiel, é claro, não me fez
ler Rimbaud, Mallarmé, Baudelaire, mas me ensinou o francês. Na Biblioteca
Nacional, eu finalmente podia lê-los.
JC | E quanto à prosa?
MB | É claro, o Machado. Ele é uma glória. Mas o prosador que hoje eu prezo
mais que todos é o Dalton Trevisan. O Dalton é um escritor da linguagem, que
modifica sempre, que enxuga cada vez mais. Para o Dalton, a linguagem é mais
importante que o personagem. O Dalton lembra-me aquele personagem do Giovanni
Papini que aparece em Gog, aquele
literato que enxugou tanto seu livro que, um dia, descobriu que só lhe restava
uma palavra.
JC | O que essa busca da linguagem mínima significa?
MB | A evolução para a linguagem enxuta é a evolução para o absoluto. Meus
escritores favoritos são aqueles que se encaram como seres de linguagem. O
Dalton, o Machado, o Guimarães Rosa, o Gregório de Matos, o João Cabral, o
Augusto dos Anjos, o Pessoa.
JC | Você não inclui Clarice Lispector nessa lista?
MB | É claro que sim, como ela me escapou? Um dia, escrevi uma carta para a
Clarice e ela nunca me respondeu. É uma coisa que me frustrou muito. Abri meu
verbo, entreguei meu coração, e nada. Ela só me deu o silêncio. Até hoje isso
me dói.
JC | É, no mínimo, surpreendente que um escritor tão empenhado no trato da
linguagem tenha sido, em determinado momento da vida, um militante comunista.
Comunistas preferiam, em geral, os "conteúdos".
MB | Foi o Apolônio de Carvalho quem me enfiou na Juventude Comunista. Eu o
conheci quando era estudante e morava no porão de uma pensão do Catete,
que pertencia a uma húngara. Éramos quatro rapazes vivendo no porão. Um dia
recebemos uma tarefa: devíamos pintar a frase "Viva o comunismo" na
estátua de Pedro Álvares Cabral, na Glória. Os outros foram, eu não. Às 4
horas, a polícia bateu na pensão. Meus amigos tinham sido presos e os policiais
queriam levar-me.
JC | Como se defendeu?
MB | Fui salvo pela húngara. "Sr. policial, deixe esse menino em
paz", ela disse. "Ele acabou de chegar do colégio de padres, não pode
ser comunista." Eu estava com 18 anos e ainda tinha cara de menino. Mas os
policiais não se convenciam. Então, a húngara usou o argumento decisivo:
"Ele até escreveu um livro de poesia." Um policial, sem acreditar,
pediu o livro. Eu mostrei, então, o livro que tinha acabado de escrever.
Chamava-se Nossa Senhora de Minha Escuridão.
JC | Um título que não combina muito com você.
MB | Era um livro de sonetos, feitos ainda no colégio. Produziu um efeito
avassalador. O policial leu os títulos: Para Nossa Senhora, A Fala de Jesus
Cristo, coisas assim. Fechou o livro, botou debaixo do braço e disse:
"Você pode ficar." Fui salvo pelos sonetos.
JC | Você ainda conserva esses poemas?
MB | Infelizmente, não. Não sei por que, o policial levou o livro com ele.
Era minha única cópia e eu o perdi para sempre. Hoje, deve estar nos arquivos
do Filinto Muller...
JC | Como você vê o comunismo hoje?
MB | Apesar de tudo, ainda me considero um socialista. O que sobrou do
comunismo é muito importante para o mundo. Considero, além disso, que o
socialismo é inevitável. Mais cedo ou mais tarde, o socialismo virá.
JC | Como você se afastou da política?
MB | Militei durante cinco anos. Um dia, decepcionei-me com um discurso do
Prestes, que passou a elogiar o Vargas, o mesmo que o tinha prendido, e resolvi
afastar-me do partido. Meus amigos diziam-me: "Não sai do partido, porque
eles te matam." Então resolvi sumir. Peguei um trem e fui para a fronteira
do Paraguai, onde meu pai era gerente de uma charqueada. Fiquei escondido por
uns seis meses.
JC | E o que você fez durante esse tempo?
MB | Voltei a viajar pelo Pantanal. Naquela época, descobri que no
Pantanal se falava uma espécie de dialeto. E botei na minha cabeça de que
eu iria estruturar as bases desse dialeto. Viajando pela fronteira, dei-me
conta de que cada fazenda do Pantanal era uma ilha linguística, em cada
uma delas se falava um dialeto próprio. Passei, então, a colecionar palavras.
Em pouco tempo, eu reuni mais de 500 expressões do dialeto
pantaneiro.
JC | O que você fez desse material?
MB | Você não vai acreditar: eu perdi. Não sei como perdi. Fico muito
chateado quando penso no que aconteceu. Ninguém se preocupou em preservar o
dialeto do Pantanal, só eu. E, no entanto, deixei que tudo se perdesse.
JC | Como se reencontrou com a literatura?
MB | Eu me cansei e precisava ganhar a vida, não tinha muito tempo para a
literatura. Tinha de usar, de alguma forma, meu diploma de advogado. Arranjei
então um emprego no Sindicato dos Peixeiros. Toda madrugada, a polícia saía à
caça dos peixeiros que adulteravam o peso de seus produtos. Minha missão era ir
até as delegacias para soltá-los. Fazia um requerimento, pagava uma fiança e os
livrava da prisão. Nada de espetacular. Fiquei nisso uns bons três anos de
minha vida.
JC | Não chegou a tentar de novo a vida de escritório?
MB | Trabalhei por um breve período no escritório do Dr. Cloves Ramalhete. Eu
só podia fazer serviço de subalterno, pois jamais suportei encarar uma
audiência. Eu sei que sou esquizofrênico. Essa minha timidez excessiva, esse
meu narcisismo, são sintomas bem claros disso.
JC | Um esquizofrênico, no entanto, que se tornou um bem-sucedido
fazendeiro.
MB | Meu pai morreu, herdei uma fazenda e tive de voltar para Mato
Grosso para administrá-la. Voltei em 1961, pouco depois da eleição do Jânio
Quadros. Disse para minha mulher: "Vamos ficar em Mato Grosso o mesmo
período que o Jânio permanecer no Alvorada." Mas ele renunciou logo
depois, enquanto eu passei muitos anos envolvido com a fazenda. Hoje, não. Meu
filho caçula é quem cuida de tudo, eu só assino papéis de vez em quando.
JC | Voltar não lhe pareceu um retrocesso?
MB | Eu tinha medo de voltar porque o interior pode mumificar a gente. Eu
achava que ia ficar emburrecido, paralisado. Mas aconteceu o contrário. Quando
retornei ao Pantanal, minha imaginação desabrochou. Isso foi um deslumbramento.
Aqui tenho sossego, silêncio. Aqui a imaginação pode dar saltos. Não posso ir
às grandes exposições de arte ou frequentar cinematecas. Mas vou sempre ao Rio.
Tenho um pequeno apartamento no Leblon.
JC | Nesse longo percurso, ao que parece, quase nada do menino pantaneiro se
perdeu.
MB | Eu não mudei. Até hoje me entendo muito com as crianças. Elas são
inteligentes, descobrem coisas que a gente não vê. Têm a sintaxe torta. Eu
tenho em mim, sempre, um lado muito grande de brejo, de natureza. Acho que sou
extraído das palavras. Os lacanianos adoram quando digo essas coisas.
JC | Você conhece algum?
MB | Muitos. Eles não me deixam. Eu me correspondo há muito tempo com o M. D.
Magno. Em Campo Grande, há um grupo de analistas lacanianas com quem saio uma
ou duas noites por semana para tomar umas cervejas. Elas pensam que minha
poesia comprova as teorias de Lacan.
JC | Você concorda com essa tese?
MB | Só sei dizer que a palavra é o nascedouro que acaba compondo a gente. O
poeta é um ser extraído das palavras. Não é a gente que faz com as palavras,
são as palavras que fazem com a gente. O meu texto é isso.
JC | E a natureza onde fica?
MB | Somos parte da natureza. E, do mesmo modo, somos parte das palavras
também. Quantas vezes uma palavra interrompe a gente e aparece? Quantas vezes
ela se impõe sem que possamos entender por quê? Uns pensam que é mediunidade,
mas é a palavra que fala em nós. Para um poeta, a palavra que se impõe é
mais forte que o sentido.
JC | A palavra está, então, acima de tudo.
MB | Eu considero que, na escala dos valores humanos, o sujeito que mexe com
palavras está em primeiro lugar. Recebo aqui em casa muitos poetas, e muitos
maus poetas, e sempre lhes digo isso. Mesmo nos maus poetas a palavra já é uma
qualidade. Só essa dedicação à gratuidade da palavra já merece meu respeito.
Ser poeta é dedicar-se às inutilezas - que é como chamo as coisas
inúteis.
JC | De onde vem seu interesse particular pelos pássaros?
MB | Antes das palavras vem o canto puro, sem sentido, que é aquilo que está
no bico dos pássaros. O canto é ágrafo, não admite escrita. Só depois dele é
que as palavras aparecem. Existe uma continuidade entre o canto dos pássaros e
as palavras humanas. O canto dos pássaros é uma "despalavra".
JC | Seus poemas estão cheios, também, de insetos. Muita gente sente repulsa
por insetos, você não?
MB | Meu impulso poético me diz que as coisas grandes devem ser
desequilibradas com as pequenas. Tenho uma atração pelas coisas mínimas. O
ínfimo tem sua grandeza e ela me encanta. Gosto muito das coisas
desimportantes, como os insetos. Não só das coisas, mas também dos homens
desimportantes, que eu chamo de "desheróis".
JC | Daí seu interesse por Charles Chaplin?
MB | Chaplin descobriu o encanto dos vagabundos. Queria celebrar o ínfimo, o
pobre coitado, o homem jogado fora, o joão-ninguém. Mas eu tomei gosto pelo
desimportante lendo o Gogol, um escritor que exaltou como ninguém o homem sem
valor, sem qualidade. Estou sempre relendo O Capote. A literatura do homem
desqualificada, do pobre diabo, começou com Gogol.
JC | Nenhum inseto o incomoda?
MB | Não tenho medo de insetos, nem mesmo de baratas. Eu fui criado em chão
de acampamento, no meio de lagartixas, lagartos, sapos, mosquitos. Vivi nos
brejos, lugares úmidos que custam muito a secar. Eu convivi muito com essas
palavras que aparecem em mim. Na hora de escrever um verso, essas palavras
brotam em mim naturalmente. É o lastro "brejal" que não perdi.
JC | Nenhuma relação, eu suponho, com os poemas do senador José
Sarney...
MB | Nem com o seu lado "brejal" nem com os seus poemas de
marimbondo. O José Sarney é um subliterato. Se ficasse só presidente já era
ruim, mas ainda escritor...
JC | O que você pensa da exploração turística do Pantanal?
MB | Não é uma exploração, é uma deformação. Mas existem limites. O Pantanal
tem um regime de chuvas e de enchentes que ninguém pode mudar. Se o sujeito
cismar de erguer um restaurante, uma agência bancária, um supermercado, daqui a
seis meses tudo estará boiando. O Pantanal sabe defender-se. O turismo jamais
vai conseguir domá-lo.
JC | No Pantanal, a natureza ainda se sobrepõe à cultura.
MB | É um lugar edênico. Eu diria adâmico. Está na origem do mundo. Parece
que a formação geológica do Pantanal ainda não terminou. Claude Lévi-Strauss,
quando o visitou, observou que seus rios não têm profundidade, não têm
barrancos. O Pantanal é um lugar primário, não terminado, sem feições
definitivas. É muito inquieto, muito incorreto, sem disciplina. "No
Pantanal não se pode passar a régua", eu escrevi. A régua impõe limites e
o Pantanal não tem limites. Tem uma estrutura aquática que não permite que ele
seja modificado.
JC | Você escreveu também: "O artista é um erro da natureza." Pode
explicar isso?
MB | Mas eu também escrevi: "Beethoven é um erro perfeito." Logo, o
erro é a perfeição. O artista é um doente, não é um homem normal. É sempre um
psicótico, tem um desvio de sensibilidade, algo assim. Minha principal
qualidade literária é minha visão torta do mundo - logo, minha principal
qualidade literária é minha doença. Escrever que "Beethoven é um erro
perfeito" é uma ideia torta, não é? Escrever que "o silêncio do mar é
azul" também é uma ideia torta, porque silêncio não tem cor. E, no
entanto, eu escrevi isso e as pessoas consideram. Todo artista tem um desvio
linguístico e é ele que forma seu estilo.
JC | O estilo é uma condenação?
MB | O estilo é um estigma, é uma coisa que marca. Já vem com as nuances do
indivíduo. O estilo é coisa quase genética. Todo escritor surge de uma doença.
Quanto mais um escritor é atingido pela anormalidade, mais seu estilo
aparece.
JC | Uma pessoa como Bernardo, o velho empregado a quem você dedicou um longo
poema, também está marcada pela estigma da anormalidade e no entanto não se
tornou poeta. Como isso se explica?
MB | Bernardo está internado há um mês em um asilo. Ele está sofrendo do
coração. Temos a mesma idade e ele está comigo desde os 18 anos. Bernardo não
fala, não fala mesmo. Não porque não queira, mas por fastio. Ele tem uma inocência
animal.
JC | Os pássaros ainda pousam na cabeça dele?
MB | Não só os pássaros, mas até as galinhas selvagens. Os porcos querem ir
para o seu colo. Todos os animais querem chegar perto de Bernardo. Não sei o
que é, não me peça explicação. Bernardo tem uma inocência animal, de forma que
os animais sentem e se aproximam.
JC | Você o tem visitado?
MB | Vou sempre visitá-lo. Encontro-o rindo e fumando seu cachimbo. Os
médicos dizem que não adianta mais proibir. Bernardo é um ser que não conhece
ter. Ele nunca teve nada, nunca pediu nada. A gente é que leva roupa, lhe dá
comida, remédio. E tem uma memória igual à de um computador. Ele é capaz de
dizer a idade de uma pessoa que ele conheceu há 50 anos e nunca mais encontrou.
A memória é o sentido que, nele, absorveu os outros.
JC | Já em seu caso parece que o gozo com as palavras está acima de tudo. É
isso?
MB | É verdade, eu gozo com as palavras. Já escrevi: "Meu gozo é no
fazer." É no fazer o verso que o poeta goza. Eu tenho isso: todo verso
meu, eu gozei nele. Não escrevo muito porque eu demoro muito para gozar. Eu
trabalho muito em cima das palavras, bolino muito as palavras, acaricio.
"Uma palavra tirou o roupão para mim", eu escrevi. E é exatamente
isso o que acontece.
JOSÉ CASTELLO (Brasil, 1951). Crítico literário e narrador. As
duas entrevistas foram publicadas no Caderno
2, do jornal Estado de S. Paulo,
aqui reproduzidas com a devida autorização do autor. Visitem: http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/.
Página ilustrada com obras de J. Karl Bogartte (Estados Unidos), artista
convidado desta edição de ARC.
Agulha Revista de Cultura
Fase II | Número 11 | Junho de 2015
editor geral | FLORIANO MARTINS | arcflorianomartins@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FLORIANO MARTINS
GLADYS MENDÍA | LUIZ LEITÃO | MÁRCIO SIMÕES
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os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista
os editores não se responsabilizam pela devolução de material não solicitado
todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
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