terça-feira, 12 de janeiro de 2016

FLORIANO MARTINS | Robert Graves: uma experiência fantástica


Evocar a posteridade
É chorar diante de teu próprio túmulo,
Falando como ventríloquo aos não nascidos:
"Se pudesses estar presente em carne e osso, herói!
Que coroas e que festins!"

Robert Graves

Ao lermos a poesia de Robert Graves compreendemos muito bem uma afirmação de Elias Canetti, no sentido de que "as palavras estão carregadas de uma espécie particular de paixão". Não é outro senão o próprio Graves quem nos diz que "a verdadeira prática poética exige uma mente tão milagrosamente afinada e iluminada que pode transformar as palavras, através de uma série de mais do que coincidências, em uma entidade vivente, em um poema que pode atuar por si só (durante séculos depois da morte do autor, talvez) afetando os leitores com sua magia armazenada." Tanto aqui como em todas as demais oportunidades em que tocou em tais assuntos, Graves foi sempre enfático em sua defesa da inspiração, essa transgressão propiciatória do potens poético. Seja a escritura automática proposta pelos surrealistas - na verdade uma saudável técnica de como despertar a inspiração, apesar de suas controversas leituras - ou os inúmeros recursos ao Soma, seguem válidas todas as maneiras de se tocar o espontâneo, de se expandir o fluxo da imaginação. Contudo, não se pode esquecer que "a poesia tem suas raízes nos princípios da artesania, guiada pela inspiração". Graves sempre esteve a lembrar que na raiz do termo arte (ars, em latim) encontramos a concepção grega (artao) de juntar, que nos leva diretamente ao sentido de artesania, apesar da degradação sistemática que o termo sofreu ao longo dos tempos. Desta forma, sua crença na inspiração como fonte do poder criador da poesia, a exemplo do cubano José Lezama Lima, contemplava também a força ativa do verbo e o trabalho manual do poeta na definição de suas obras.
Filiado a uma linhagem romântica - extrapolando os limites do Romantismo enquanto escola literária, claro está -, costumava dizer que "um poeta da Musa enamora-se absolutamente, e seu amor sincero é para ele a encarnação da Musa". Ao mesmo tempo em que lamentava que o ser sensível (em alguns idiomas latinos originalmente uma mescla de sensitivo e vigilante) tenha sido substituído pelo ser racional, na exata proporção em que o mistério foi se desfazendo. Em uma célebre entrevista a Edwin Newman, em 1970, assevera: "o que ocorre é que quando alguém começa a tornar público um mistério sofre um castigo severo", lembrando os trágicos acontecimentos desatados por Alexandre o Grande ao cortar o nó górdio em lugar errado. Não se trata de exacerbada paixão pelo passado ou de ingenuidade diante do presente, mas sim de um profundo respeito por aquelas forças que foram rompidas ao decorrer da história da humanidade, cujos efeitos desastrosos nos fizeram chegar ao umbral deste milênio nas condições em que chegamos. Dizia então: "a função da poesia é a invocação religiosa da Musa; sua utilidade é a mescla de exaltação e de horror que sua presença suscita".
Robert von Ranke Graves nasceu em Wimbledon, ao sul de Londres, em 1895. Entre seus pares de língua inglesa encontram-se dois outros importantes poetas deste século, Hart Crane e Archibald MacLeish, por sua vez herdeiros de uma tradição poética já sedimentada através de autores como William Blake, Emily Dickinson, Algeron Charles Swinburne, Gerard Manley Hopkins e William Butler Yeats. O londrino Robert Graves seguia a tradição bárdica inglesa, encontrando-se esta vinculada à tradição do medievo oral épico, onde prevalece, a uma acentuada rigidez na métrica dos versos, o tratamento melódico em função da recitação. Sua paixão pela literatura inglesa o tornou um ardente estudioso, sobretudo das pressupostas origens da poesia. Dedicou-se também ao estudo de inúmeros idiomas e mitologias. Ao deixar o exército, em 1919 - fora convocado durante a primeira Guerra Mundial -, decidira-se a não ter empregos jamais em sua vida. Uma relativa exceção foi a cátedra de literatura inglesa na Universidade do Cairo, no Egito, em 1926 - "Ali era responsável somente perante o vice-reitor e não tinha predecessores ou assistentes. Ressalte-se que tive que comprar todos os livros para a biblioteca." -, experiência não muito extensa em sua vida. Três anos depois, já havendo retornado à Inglaterra, partiu para Deya, uma aldeia de pescadores em Palma de Mallorca. Ao partir, deixou publicada uma notável autobiografia de seus anos juvenis, Goodbye to all that, onde estão salientados os horrores da guerra e o desencanto amoroso que culminaria na inviabilidade de seu primeiro casamento.
Ao ser indagada acerca das relações entre a paixão e a escolha de uma forma de arte, respondeu Gertrude Stein tratar-se de uma relação íntima e total, visto que "não existe outra coisa que determine a forma". Se este essencial instante de ruptura em Graves não lhe decidiu exatamente a forma de seu trabalho, configurou nova norma de vida e lhe definiu um percurso a ser traçado. Ainda retornando a Londres, a residência em Mallorca passaria a ser fixa a partir de 1946, onde permaneceu até sua morte, em 1985. Naturalmente a residência fixa não o impediu de ir aos Estados Unidos proferir conferências em inúmeras universidades. Em seus noventa anos de vida, Robert Graves nos deixou, mais do que a assombrosa marca de mais de uma centena de livros publicados, a solidez inquestionável de uma obra poética, a peculiaridade do tratamento histórico que imprimiu em seus romances e - arriscaria dizer sobretudo - a fundamental discussão que propôs, em alguns casos pautada por ressonantes polêmicas, de temas conflituosos tais como as relações entre poesia e religião, artesania e tecnologia, além de suas agudas observações em torno do amor, do sonho, do mecanismo das alucinações, dos acessos da genialidade, entre outros incontáveis temas tão ao gosto da agudeza intelectual deste imenso poeta.
Graves escreveu seus primeiros versos em plena primeira Guerra Mundial. Em 1916 já publicava Goliath and David e Over the Brazier, seguidos no ano seguinte por Fairies and fusiliers. Reportei-me à sua lúcida contribuição crítica ensaística, mas não devemos esquecer que a mesma jamais distanciou-se de uma base poética. "Desde que tinha quinze anos a poesia tem sido minha paixão dominante e nunca empreendi intencionalmente tarefa alguma nem estabeleci nenhuma relação que parecesse incompatível com os princípios poéticos, o que por vezes me valeu a reputação de excêntrico." Constituiu-se a guerra tanto um desencanto quanto a afirmação de um espírito. Como a própria vida, concluiria Graves, já nos anos 70, que "um poema é algo completamente imprevisível", ao que acrescentava: "tem que possuir aquela ordem interior clara na qual cada palavra corresponde a cada uma das outras - e recorde que as palavras não devem ser tratadas como fichas e sim como seres humanos." Tendo atravessado um século extremamente controverso, sobretudo pela rapidez em que valores foram erguidos e ruídos em si, Graves chega a recordar a metade inaugural da primeira Guerra Mundial - da qual participou como soldado - como "uma guerra honrada e limpa". Segundo ele as guerras foram convertidas em ações policiais - um reflexo disto é a maneira como as revoluções, especialmente na América Latina, foram convertidas em golpes militares.
As eventuais contradições advindas do fato de um poeta abandonar sua atividade pública talvez sinalizem uma necessidade de reconfiguração de umnorte. Disse Tólstoi que a arte conduz o homem à fraternidade. Vinculava-se, portanto, ao despertar de uma emoção religiosa. Nosso século foi atingido por um deslocamento brusco do conceito de religião. Converteu-se o religare original em um tropeção desordenado de partículas, depreciativamente denominado multidão (em suas diversas modalidades). Não há mais sociedades constituídas. Não há mais a noção do bem público. Robert Graves atravessou este século impregnado de guerras frias e carrinhos de supermercado, onde os valores morais são confundidos com bens de consumo. A psicanálise fez com que o homem se descobrisse um abrigo (único) de si mesmo, porém não lhe deu a passagem para tornar-se assim tão magistral em meio ao empório ilimitado da revolução industrial. Estendeu-se em tamanhas contradições este século que chegamos a discutir os propósitos práticos da utopia. Além do que fomos invadidos por uma fascinante modalidade nova de vida: tocar o outro à distância, cujo paroxismo requintado nos ilude de que estamos por dentro de todas as coisas, que permitimos toda espécie de experiência (cuja ressalva única a ser severamente evitada é que não nos toque o humano). Em livros publicados nos anos 50, Robert Graves já punha em questão tais determinantes perspectivas, salientando admiravelmente sua fidelidade etimológica. Ao ser indagado sobre a eventualidade de um poeta lançar-se além de seu tempo, concluiu simplesmente com a recusa à existência do tempo. Borges difundiu entre nós uma teoria da refutação do tempo histórico. Graves não pretendia substituí-lo, a exemplo do ficcionista argentino, pela versão cíclica do budismo. Dizia de maneira a mais lacônica: "Eu me responsabilizo absolutamente por haver nascido".
A singularidade de suas afirmações despertava sempre notáveis discussões, a exemplo de uma tese, bastante combatida na época em que a difundiu, de que a Odisséia teria sido composta na Sicília, no que pese seu léxico inteiramente centrado na navegação. Graves também alardeou a hipótese - esta, por sinal, compartilhada por vários outros autores - da Odisséia não tratar-se de um livro de autoria única. Seu romance Homer’s daughter (1955) traz uma fascinante abordagem a este respeito. Em outro livro publicado no mesmo ano, The greek myths, o próprio Graves comenta: "Se bem que ela nos surja sob a máscara de uma obra épica, a Odisséia é, na realidade, o primeiro romance grego, não constituindo, por conseguinte, uma autoridade plena e totalmente responsável no que respeita aos mitos, propriamente ditos." Em concordância com Graves, é importante lembrarmos aqui a observação de Italo Calvino acerca da "extrapolação dos territórios da épica" na composição da Odisséia. Por sua vez, Robert Graves foi sempre um ávido defensor da poesia épica, atento à origem grega da palavra poesia (poíesis) - cujo significado é sempre bom recordar: "fazer com que ocorra algo de extraordinário", o que nos remete a um antigo postulado da civilização pré-colombiana de que o poeta é aquele que faz com que as coisas se ponham de pé -, ciente de que a verdadeira poesia contempla simultaneamente o conto e o canto, potências que não devem ser separadas em momento algum. E nos diz: "O poder poético, o poder de fazer com que ocorram coisas, pode elevar uma simples união amorosa ao ponto em que a ausência física supre a presença viva", concluindo que "na poesia a coidentificação pentadimensional dos amantes é uma verdade e não uma fantasia idealista".
Robert Graves integra uma tradição nobre do romance histórico - um outro nome fundamental em língua inglesa é sir Walter Scott -, sobretudo por seu dístico formado por I, Claudius e Claudius the God (ambos de 1934). Segundo nos recorda George Steiner, "os mestres clássicos da ficção histórica escrevem a narrativa e o diálogo na linguagem de seu próprio tempo. Criam a ilusão do presente histórico por força da imaginação realizada e porque eles próprios sentem que as afinidades entre a história passada e sua própria época têm uma continuidade viva." Apesar da indiscutível importância de sua poesia e também de sua vasta produção ensaística, Graves acabou alcançando um número bem maior de leitores através de sua ficção histórica. Aos dois já mencionados romances, acrescenta-se um outro bastante difundido: King Jesus (1946), onde se estabelece uma espécie de confronto com o mundo bíblico. O tema bíblico sempre ocupou destacado lugar nas reflexões do poeta inglês. Em outro livro seu, Difficult questions, easy answers (1964), lemos um longo ensaio onde questiona duramente (e através de inúmeros exemplos) as intencionais descaracterizações procedidas na Bíblia, concluindo: "A Bíblia segue sendo ao mesmo tempo o livro mais fascinante e mais perigoso jamais publicado, pois seus textos foram convertidos pela política de São Paulo em tudo para todos". Até certo ponto ao contrário de sua ensaística, observe-se aqui que a ficção histórica de Graves é muito mais afeita ao plano literário do que erudito. Como bem destacou Modesto Pozo Lárez, verifica-se ali "um tom irônico que, com frequência, converte-se em burlesco e que utiliza para tratar acontecimentos domésticos e cotidianos, aparentemente intranscendentes, mas que, contemplados em sua verdadeira dimensão, condicionam de forma fatal o destino de seus personagens." Outros admiráveis exemplos da produção literária de Graves neste âmbito são Antigua, Penny, Puce (1936) e The story of Mary Powell, wife to Mr. Milton (1943).
Se é verdade, como diz Harold Bloom, que "a grande literatura é sempre reescrever ou revisar, e baseia-se numa leitura que abra espaço para o eu, ou que atua de tal modo que reabre velhas obras a nossos novos sofrimentos", não encontro justificativas para a não inclusão de Robert Graves no organismo canônico ocidental proposto pelo crítico norte-americano. Em todo o agigantado corpo de sua tese (The western canon, 1994) não se encontra uma única menção ao autor de I, Claudius - cujas características de revisão abrem "espaço para o eu", contemplando a defesa de Bloom acerca do cânone. Livro anterior, com reprimenda menor, em vista de que não se arvora a totalizar conceito algum, Perché leggere i classici (1991), de Italo Calvino (o novelista italiano que não é sequer citado por Bloom), também não se refere a Robert Graves, embora o poeta inglês se enquadre indiscutivelmente em todos os dez itens que defende Calvino como fundamentais na definição de um clássico. Neste último as discordâncias não podem ser tão severas, visto que a edição (póstuma) foi realizada pela viúva, Esther Calvino, embora tendo em conta as anotações de seu marido. O caso de Bloom é gritante porque situa autores como Reinaldo Arenas, Carlos Drummond de Andrade, Julio Cortazar, Nathanael West, José Cardoso Pires, Pere Gimferrer, ao mesmo tempo em que não faz referência a Graves, Marcel Schwob, Ernst Jünger, Gonzalo Rojas, Elias Canetti, Malcolm de Chazal ou José Lezama Lima (o nome do cubano é citado unicamente no apêndice do livro). Por sua vez, George Steiner refere-se a uma definição da "qualidade do novo" na poesia de língua inglesa observada a partir de Eliot, Pound e Graves. Clássica discussão em torno dos ausentes, bem se pode argüir. O fato é que parecemos estar construindo uma história literária fundada em tantas ausências inaceitáveis que acabamos gerando a veracidade indiscutível de uma história subterrânea baseada justamente na necessidade de corrigir os erros da superfície. É muito triste que tenhamos chegado a este ponto. Parece-nos que estamos tratando nossas vidas como algo subordinado unicamente a um jargão jornalístico. De uma maneira genérica, observa Robert Graves em um ensaio: "O pior que se pode dizer sobre a ciência moderna é que carece de consciência unida ou, ao menos, que se obrigou a aceitar o poder de Mammóm." Um mínimo de discernimento crítico nos permite localizar os pontos em que o academicismo - aquilo em que se converteu a ciência -, através de seus organismos limitadores da expressão humana, trabalha ardilosamente contra a poesia. Nada no âmbito da paranoia e sim de uma factível degradação de valores e princípios. Uma ciência da propaganda absorveu com notável eficácia inúmeros componentes da psicanálise. Em outro livro, Graves nos recorda com ácida ironia que a Faculdade de Economia de Londres o convidou para uma palestra e que, ao informar que o tema da mesma seria sobre Mammóm, indagaram-no então sobre o mesmo, uma vez que não conheciam o significado de tal termo. O grande absurdo é justamente o fato de mammóm significar dinheiro em hebraico.
Embora não seja do agrado de nenhum autor ver destacado um livro seu como preponderante entre os demais, o fato é que não se pode deixar de frisar a importância cimeira de The white goddess - A historical grammar of poetic myth (1948) no âmbito geral da indiscutível contribuição de Robert Graves. Através desta insólita gramática se reconstrói a linguagem mágica de uma antiga Europa, detalhando as fascinantes cerimônias religiosas populares em honra da deusa Lua e a maneira como esses mitos foram se distorcendo graças à presença de invasores e aventureiros, incluindo os aspectos mais graves da substituição desse antigo legado poético por uma linguagem racional em honra de Apolo, levada a termo pelos primeiros filósofos gregos. O jornal Sunday Times incluiu Robert Graves em uma lista dos mil criadores do século XX, inclusão justificada na ocasião pela publicação de The white goddess. O curioso é observar que ao lado do poeta inglês, na seção conjunta G-H, constavam os nomes de Goebbels, Goering e Hitler. É uma escolha que nos deixa perplexos, tanto quanto sua ausência da república canônica de Harold Bloom. Segundo o próprio Graves, a Deusa Branca "é a deusa do amor e da batalha, a deusa da vida e da morte que governou a Europa muito antes que aparecessem os deuses masculinos". E define melhor ainda ao salientar a impropriedade do substituto sintético ao tratarmos do mito poético.
Recolhamos uma passagem deste excepcional The white goddes: "A verdadeira prática poética exige uma mente tão milagrosamente afinada e iluminada que pode transformar as palavras, por meio de uma série de mais que coincidências, em uma entidade vivente, em um poema que pode atuar por si só (durante séculos depois da morte do autor, talvez) afetando os leitores com sua magia armazenada." Mais à frente, concluía que "a fonte do poder criador da poesia não é a inteligência científica, mas sim a inspiração". Naturalmente Graves punha em discussão não a casualidade convulsiva das ações humanas e sim o usufruto de uma perversão: a substituição das sensações por tonalidades gravitacionais da consciência. The white goddess origina-se na peregrinação da poesia pela multiplicidade das instâncias em que rege o amor, os iluminados vilarejos e aldeias em que a alegria é um fruto à mão. A um só tempo ali nasceu o verbo e o homem. Não se trata de um livro profético, e sim da constatação de que o homem não pode viver sem a integridade de sua declaração de humanidade: a poesia.
Diante de todas as possíveis discordâncias no tocante às teses e polêmicas suscitadas por Robert Graves, há uma inquestionável: o ofício do poeta. Talvez não estejamos sabendo lidar com nossa realidade, com o cenário de areias gulosas em que nos movemos, mas é certo que seguimos imbuídos de uma mesma e inflexível tarefa: fazer com que ocorra algo de extraordinário. Mesmo o nobre espírito de Mallarmé ao referir-se ao poeta como aquele que purificará as palavras da tribo não pode agir sem o sentido de uma ação extraordinária. Não se trata aqui de um tema poético único, e sim de seu tratamento ao longo da história da humanidade. Ao mesmo tempo nos deparamos com ingrata frequência com poetas que desconhecem a razão de ser de seu ofício. O Brasil, por exemplo, parece temer uma reflexão mais abrangente acerca da criação poética, visto que raramente nossos poetas se expõem a discutir a organicidade intrínseca de seus atos poéticos. Quando eventualmente tocam no assunto incorrem na deformação do termo artesania a que Graves se referia. Já em 1965, com gesto algo irônico, o poeta inglês declarava que os poemas épicos estão fora de moda. Desde então sabia que a debilidade do épico consiste na perda de identidade com o tempo. A imprensa e o dinheiro só ditam algum valor em sociedades em que o homem perdeu o sentido de seu valor original. Seguimos atravessando o mesmo lodo, o mesmo mar original, a mesma queda d’água. O que muda é nosso comportamento diante dessas forças naturais. O poeta não está fora de moda. A moda é que está preocupantemente agindo fora da poesia. Dizia Robert Graves estar sempre pensando na história das palavras ("seres vivos"). Concluímos com suas próprias palavras: "um poema é [sempre] uma experiência fantástica".

Floriano Martins (Brasil, 1957). Poeta, editor, tradutor e ensaísta. Diretor da Agulha Revista de Cultura e da ARC Edições. Contato: floriano.agulha@gmail.com. Agulha Revista de Cultura # 8. Janeiro de 2001. Página ilustrada com obras de William Blake (Inglaterra), artista convidado desta edição.



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PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009) | 05 de 10
Organização a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista convidado | William Blake
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:

1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO
3 O RIO DA MEMÓRIA

A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.

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