Teofrasto
De saída, o
tema desse ensaio nos coloca dois problemas. O primeiro diz respeito ao
extremo lugar-comum, diria até à redundância que ele visa, ao abordar dois escritores
que, embora sob óticas diferentes e procedimentos literários semelhantes mas
diversos em suas finalidades, basearam toda sua obra na questão do tempo,
espécie de fio condutor implícito em cada uma de suas linhas. Propor uma
análise da matéria mesma a partir da qual um escritor plasmou seus objetos e
submeteu-os a uma transfiguração formal é algo parecido ao estudo da
salinidade do mar, ou ao questionamento do sistema heliocêntrico: pode-se
chegar a conclusões brilhantes e a descobertas realmente inusitadas. No
entanto, é preciso uma criatividade fora do normal para não provocar sono no
leitor, e não sucumbir naquela sensação de dejá vu própria dos
textos de críticos que repisam tópicas recorrentes por mero vício imposto
pela rotina. Afinal, o vício é apenas a continuidade natural do hábito. A
proposta pode pecar pela ambição, mas é preferível isso àquela humildade que
não acrescenta nada ao mundo e à inteligência, a não ser o peso da celulose
às estantes de mais uma biblioteca.
Outro aspecto problemático é a comparação de dois
escritores. Como enquadrá-los em suas realidades específicas? Como não
estabelecer uma hierarquia de valor entre ambos, de modo a fazer de um a
continuidade e o apêndice do outro - e, nesse caso, atestar a subserviência da
literatura brasileira aos cânones europeus, fornecedor dos modelos a serem
glosados por aqui? Colocar a questão dessa forma pressupõe que creiamos numa
evolução contínua do Espírito, e num centro virtual dos seus produtos e
agentes, que ora ou outra se atualiza em um dado momento da História e em um
dado ponto geográfico, e que autoriza Hegel, espécie de doublet de
filósofo, curiosamente usado como cartilha pelos mestiços dos tristes
trópicos, a dizer que os indianos, por exemplo, se encontram num estágio
anterior ao grande florescimento racional do Ocidente - leia-se, por
antonomásia, alemão - e a excluir a América das suas Lições de
História Universal, o que nos revela que, para Hegel, a América
surpreendentemente não pertence ao universo, fato que seria muito engraçado
se não fosse tão ridículo. Porque no nosso caso estamos tratando de Proust,
considerado um dos maiores escritores do século XX, e de Pedro Nava, autor
que gozou de certa notoriedade em vida, principalmente entre seus pares e o
público high brown, mas que no entanto sempre se situou à margem
do cânone da literatura do Brasil.
É certo que esses conceitos não são unânimes, e
variam com o tempo. O próprio Shakespeare, tido como um dos maiores poetas de
todos os tempos, foi vilipendiado por Buffon e pela maior parte da crítica do
XVIII francês, que considerava-o de mau gosto, esquemático e vulgar. Nem a
inteligência equestre de Voltaire escapou a esse éthos idiota,
e o autor do King Lear só veio a se tornar o que é hoje a
partir do XIX. Já a publicação da Busca foi vetada por
ninguém menos que André Gide, que depois se arrependeu. Henry James, escritor
e leitor refinado, não terminou o primeiro volume, dizendo tratar-se de obra
feita por um perverso polimorfo com tendências megalomaníacas. Outros diziam
ser impossível levar a sério um autor que gasta cinquenta páginas narrando o
processo de adormecimento do seu protagonista. E assim por diante. Hoje essas
frases viraram anedotas, folclore de interesse circunstancial, enquanto a
obra de Proust só cresce em importância.
O próprio Nava nos adverte quanto à facilidade da
filiação de sua obra à de Proust, não propriamente um memorialista, mas um
autor que se vale da experiência do tempo qualitativo para compor a trama em
primeira pessoa de seu romance, e nega de antemão o esquemático da
comparação. Ao refutar a ideia de ser um possível plagiador do francês,
alegando as particularidades de cada um, diz que o uso da memória, em Proust,
não impede a sua adoção por outro escritor que possa manejá-la de modo diverso.
Sabemos que os conceitos de originalidade e plágio são valores românticos,
históricos, e que, embora tomados como virtudes indispensáveis em uma
sociedade de mercado e de livre concorrência, não são peças fundamentais para
a aferição da qualidade estética de uma obra. Pois, sob essa ótica, teríamos
que invalidar toda a produção artística que, do século XIX até hoje, não se
enquadre nessa premissa personalista, e não se guie pela crença (ingênua) em
uma individualidade criadora que extrai obras ex nihilo. Ou seja,
deveríamos começar por Machado de Assis, cujas Memórias Póstumas gozam
de transcrições quase literais de Xavier de Maistre, de Sterne e do Gil
Blas, e, passando pelos contos de Kafka (baseados em parábolas orientais)
e pelo Ulisses de James Joyce (bebido em Homero), censurar
poetas como T. S. Eliot e Ezra Pound, que viam a poesia como a releitura e a
tradução de uma tradição intelectualmente viva, vindo desaguar na invalidação
dos labirintos de Borges (repetição de tópicas retóricas encontráveis em toda
a história da literatura) e de Calvino, e acabando, enfim, por desprezar a Máquina
do Mundo de Drummond, inspirada diretamente na poesia quinhentista e
seiscentista. Antes de cometer esse genocídio, seria preciso reconhecer
modestamente a insuficiência da nossa premissa. A não ser que prefiramos a
integridade (equívoca) de um rebotalho crítico ao que de melhor se produziu
nas letras desse século amargo que ora terminou.
O fato é que, consideradas essas circunstâncias,
não podemos deixar de ver no Baú de Ossos um débito para com
a Busca. Se fôssemos pensar, como os antigos, que toda a imitatio pressupõe
uma emulatio, que toda imitação de um modelo dado, para ser
lograda, precisa trazer a necessidade de superá-lo, teremos que reconhecer
que a obra de Nava deixa muito a desejar. A referência indireta que a Juiz de
Fora de Nava faz à Combray de Marcel Proust comprova o tamanho da sombra com
que o escritor mineiro teve de lidar durante a sua vida literária. Proust
parte de um paradigma filosófico: a durée de Bergson; e de
seus antecedentes literários mais afinados: Baudelaire e Balzac. Ora,
percebemos que, operando uma radicalização do primeiro, e uma apropriação
muito saudável dos outros, ele conseguiu erguer uma obra extremamente sólida,
fazendo da técnica da digressão um instrumento e ao mesmo tempo a substância
mesma capaz de retratar a fugacidade e a indistinção dos fenômenos sensíveis,
não mais subordinados a um princípio transcendente de organização da
percepção. Bergson, um dos pais da fenomenologia, teve uma intuição genial.
Questionando as ideias inatas, concepção que vem desde Platão e deu ensejo a
toda filosofia idealista, segundo a qual nossa compreensão do mundo já viria
inscrita no nosso complexo sensível antes mesmo de efetuarmos um primeiro
contato com a realidade, já que toda ela tem, no plano das ideias, uma arché que
lhe corresponda idealmente, Bergson proporá uma relação de dependência entre
ambas: as qualidades que deduzo da matéria não existem a priori,
mas são construídas no momento mesmo em que as apreendo. De certo modo,
Bergson radicaliza a hipótese de um sujeito transcendental, formulada por
Kant contra a metafísica clássica, para o qual a experiência do tempo estaria
fortemente ligada aos fenômenos, fora dos quais não haveria nada de
cognoscível. A partir desses fatos, Bergson classificará a matéria como “um
conjunto de imagens”, cuja composição depende primordialmente do intermédio
de um agente cândido e frágil, funcionando como centro de representação da
realidade - o corpo.
É claro que em toda sensação há um resquício de
passado, dada a fugacidade do presente. Santo Agostinho diz que este não é nada
mais que a confluência entre passado e futuro: o ponto real onde eles se
encontram mas que, no entanto, não existe por si mesmo, não tem autonomia. E
é interessante ver como o padre Antonio Vieira bebe nas ideias do santo para
compor o magnífico Sermão de Quarta-Feira de Cinzas. Pois é a
partir delas que o orador nos explica o famoso versículo bíblico, segundo o
qual somos pó e ao pó retornaremos. Se viemos do nada e vamos para o nada -
argumenta Vieira - já somos nada. E a vida terrena é vista como um teatro de
ilusão, representação e vaidade.
Mas, voltando a Bergson, a função da memória,
nesse caso, ganha grande relevância: ela é o único meio de que disponho para
organizar o conjunto de imagens que me são suscitadas pelos afetos, e o único
instrumento que me torna possível a representação. Sem ela, sucumbiríamos
numa massa amorfa de estados psíquicos sem resolução, e seríamos incapazes de
relacionar coisas diferentes. Dos tipos de memória, dois se destacam: a
voluntária, de arquivo, e a involuntária, também chamada de qualitativa. Para
o vitalismo de Bergson, esta última será de maior importância, pois é ela que
demonstra a ligação íntima entre as minhas faculdades, as qualidades que
depreendo da experiência e os eventos que se dão, e que são selecionados por
esse “centro de ação real” que é o meu corpo. Ela será a base de sua
especulação, e, seguindo um esquema em forma de cone, se encontrará na
interseção entre a atualidade do momento presente - a ponta do cone - e a
virtualidade de todos os acontecimentos passados que trago comigo - toda a
extensão progressiva do polígono. O curioso dessa proposta é não estarmos
lidando com o passado exclusivo de um indivíduo, na medida em que a sua
memória é feita de ecos ancestrais da espécie, pode-se dizer até de rudimentos
biológicos e não articulados, e estes podem ser atualizados conforme a
exigência da circunstância ou a natureza da experiência sensível.
Percebemos então o quão ambicioso é o projeto de
Proust. Dado que, num sentido genérico, a literatura é uma arte temporal, ele
quis usar o seu próprio fundamento como alicerce de sua obra. Platão nos diz
que se instruir e lembrar são a mesma coisa; cria que já trazemos todo o
repertório de conhecimentos implícitos em nossa alma, pois já o vivemos num
passado remoto, e os conceitos nunca podem nascer dos sentidos, mas apenas do
inteligível. Por isso, Aristóteles, mais tarde, dirá que todo o conhecimento
está ligado ao tempo, e que a memória é o “princípio da sensibilidade”. A
“reaquisição” da memória seria a reminiscência - quando apreendemos algo pela
segunda vez. O que é interessante, no entanto, é a passagem em que o filósofo
grego nos diz que a “sensação de uma coisa leva a outra semelhante”. Ora, é
basicamente esse o princípio de composição de toda aBusca: o princípio
da analogia e da metáfora.
É incômodo para um leitor de Proust ver como se
repisa o episódio da madeleine. Ele é importante porque
desencadeará todo o resto, como um novelo que fôssemos desenrolando. Mas está
longe de ser o único. E há momentos memoráveis, até mais importantes do que
esse e muitas vezes esquecidos pela crítica, o que nos dá a má impressão de
que ela só leu as suas primeiras cinquenta páginas. A sensação desencadeia no
narrador uma série de reminiscências; estas, por sua vez, se dão a partir de
traços análogos, movendo-se na unidade do campo sensível. Do chá à casa de
sua avó saem Balbec, Villeparisis, Guermantes, Combray e a gama de
personagens que povoam o seu imaginário. Veremos esse mesmo princípio de
associação também nos personagens. É o caso de Swan, que relaciona a sonata
de Vintueil, tocada nos encontros na casa dos Verdurin, à sua paixão por
Odette de Crécy. Os signos olfativos ou gustativos, visuais ou sonoros,
funcionam como um elo de ligação entre as imagens, que são nossas
representações mentais. Essa associação, como diz Deleuze em seu curioso
estudo, é transversal: liga o presente da percepção a um passado virtual,
tornando-se um misto dos dois. Da mesma maneira, a organização das classes
sociais conta com uma figura, muito valorizada por Proust, que faz a
transição entre elas: o mundano. O mundano típico, no nosso caso, seria Swan.
Ele é quem se apaixona por Odette, uma espécie de cocote de cabaré, frequenta
jantares na casa de pequenos burgueses e é amigo íntimo da duquesa de
Guermantes. Mais adiante, em Sodoma e Gomorra, o autor nos levará
a encarar o sexo sob essa ótica transversal, encarnada nas figuras de Charlus
e Jupien. Temos então a unidade perfeita e simétrica entre uma teoria da
percepção mista, a figura civil do mundano promovendo uma transição entre as
camadas sociais e a transversalidade dos corpos. Essa síntese não encontramos
em Nava, que ora parece usar uma memória de arquivo e arrola uma centena de
seus antepassados, ora divaga sobre os motivos que o levaram a lembrá-los,
sem, contudo, submeter todo o seu material humano a uma base
filosófica una. A proliferação de nomes de pessoas, cidades e coisas é tão
grande que causa no leitor uma hipertrofia. Se Nava tivesse elegido meia
dúzia de personagens centrais e submetesse esse seu catálogo - no sentido da
poesia antiga - a uma trama desenvolvida por eles, ele conseguiria um efeito
estético e uma coesão narrativa mais interessante, dada a habilidade de
pintar situações que ele demonstra, e livraria sua obra do encadeamento de
lembranças que parecem desfilar sobre um palco com fundo falso.
Os estados flutuantes da nossa percepção que
Proust nos apresenta nos levam a uma falta de compromisso com a verdade, e
nos impossibilita de pintar o mundo tal e qual. Há uma série de reflexões do
narrador sobre as suas impressões. Ora descreve uma paisagem sem delinear
seus contornos, ora fala dos vitrais de uma igreja de forma difusa. Às vezes
esse limite é tão tênue que não conseguimos sequer descrever um objeto. É o
que ocorre quando o jovem Marcel, passando o veraneio em Balbec a convite de
Saint-Loup, vai ao ateliê do pintor Elstir. Lá este lhe mostra um retrato
masculino que fizera, e o narrador, por um motivo que ele próprio desconhece,
só consegue enxergar no quadro o rosto andrógino de Odette. Ou, quando em um
passeio pelo balneário dessa região, num grupo de meninas correndo na areia
só consegue ver uma massa amorfa se movendo à revelia de qualquer ordem. O
mundo se nos oferece, não como uma representação coesa, mas como um
simulacro. Toda vez que vamos às coisas idealizando o que elas possam ser,
nos frustramos - a realidade está sempre aquém da nossa expectativa. E esse é
um dos componentes da ironia de Proust: o idealismo. Marcel está sempre
forjando imagens ideais da realidade, que estão, por sua vez, se destruindo
de maneira consecutiva, conforme vão sendo adaptadas à mesma. É o caso, por
exemplo, do espetáculo que vê com a atriz Berma interpretando Fedra. De tal
modo ele havia idealizado essa representação que, ao vê-la de fato, sentiu
nojo, pois ela não correspondia a uma pequena parte do que idealizara. Algo
parecido se dá quando pode enfim conhecer a duquesa de Guermantes, à
distância, numa cerimônia religiosa destinada a nobres: o amor e a reverência
que ele lhe atribuía ruíram diante daquele rosto impoluto, frio, resignado,
que, segundo o próprio narrador, pareciam mirar o vazio. Esse movimento de
busca de algo absoluto e a consequente corrupção de suas prerrogativas, em
uma espécie de oscilação entre a totalidade (artificial) e a realidade
(insuficiente), está presente em toda a Busca. Faz parte do
espírito fin de siècle, e está desenvolvido à exaustão nos
paraísos artificiais e no dandismo da aristocracia artística então decadente,
dos quais Proust é um filho legítimo. O fato é que em muitos momentos a
maneira pela qual o narrador expressa seu idealismo é tão afetada e tão
pedante que gera uma situação irônica. É como se, submetidos aos jogos
sociais e aos simulacros da realidade, nossos próprios paradigmas éticos e
racionais parecessem inócuos. Quando ele começa a enumerar as centenas de
motivos que levaram a fenecer seu amor por Gilberte, e ao fim dos quais nos
diz que poderia ser qualquer um deles ou outra coisa muito mais simples e
banal na qual não houvesse pensado, se não tivermos um pouco do humour francês
para entender a ironia, é capaz de dormirmos lá pela metade do
desenvolvimento.
Deleuze tem uma teoria muito interessante sobre a Busca.
Diz-nos que, na obra, o espaço é mais importante do que o tempo. Aparente
contradição nos termos, talvez ele tenha razão. Porque a memória, lidando com
as regiões mais profundas do pensamento, ativa nele um processo de
recuperação do passado por meio de imagens que está todo ligado à nossa
atividade inconsciente. E, parafraseando Hoffmansthal, para o inconsciente
todos os tempos são presentes e simultâneos. Nele não há uma demarcação
nítida entre fatos que se sucedem ou antecedem, porque sua necessidade de
atualização não se guia pelo seu valor lógico, mas por analogias estabelecidas
pela percepção no momento em que algo ativa essa cadeia onde objetos
distantes e até mesmo divergentes se unem. A insistência com que Proust se
refere à escrita da Busca usando metáforas tomadas à
arquitetura - no caso, compara-a a uma catedral - e às artes plásticas - um
mosaico - parece ser, nesse caso, esclarecedora.
Como se pode ver, a proposta desse texto
precisaria de um desenvolvimento muito mais longo e detido, que virá à luz no
futuro, quem sabe? É impossível abranger três mil páginas de
uma das prosas mais matizadas e complexas que já se escreveu, a relação entre
os conceitos de tempo, memória e percepção numa perspectiva histórica e
filosófica e, de quebra, sintetizar o pensamento de Bergson em meia dúzia de páginas.
Nem o demiurgo de Platão conseguiria essa proeza. Isso é apenas um esboço
onde tentei registrar alguns apontamentos de leituras. O que posso concluir?
Nava demonstra uma boa habilidade narrativa; peca pelas menções que faz a seu
autor favorito, pois elas dão o testemunho de um modelo que ele aspirava
incorporar. O Baú de Ossos cita excessivamente. Nesse sentido,
talvez ele, sozinho, seja um documento histórico mais importante e mais
repleto de fontes e precisão do que a Busca. Mas em termos artísticos
essa sua precisão e seu rigor evidenciam que Nava escreveu a partir da
memória voluntária, ora ou outra fazendo uma intervenção reflexiva sobre a
essência mesma da memória. Já Proust desenvolve toda a sua
obra a partir do elã vital que encontramos na filosofia de Bergson, o que me
parece mais rico esteticamente, e mesmo no sentido retórico. Roger Shattuck
fez uma comparação muito pertinente entre Kafak e Proust. Segundo ele, ambos
os escritores demonstram um mal-estar diante do mundo. O primeiro pela ausência,
o vazio espiritual e de sentido, o segundo pelo excesso e pelo acúmulo. Os
personagens de Kafka estão sempre perdidos porque o vazio gera o absurdo, e
esse a incompreensão. Em Proust tudo significa de forma absoluta; devido à
sensibilidade do seu narrador, sensibilidade que beira o patológico, os
sentidos são hipertrofiados a tal ponto que os conceitos também perdem a
consistência, e os objetos se tornam relativos a um extremo insuportável. É o
caso das causas de sua separação de Gilberte de que falei aqui, entre dezenas
de outros exemplos. Essa capacidade de fruir de uma infinidade de formas
distintas um mesmo evento, transformá-lo em uma simulação da realidade e não
mais na realidade em si mesma e vê-lo sob uma série de perspectivas
diferentes parece ser a grande virtude da obra de Proust. Seu excesso -
digressões de trinta páginas - nos desconcerta. Ao passo que o excessivo, em
Nava, apenas cansa.
|
Rodrigo Petrônio (Brasil, 1975). Poeta e ensaísta.
Autor de História Natural (poemas) e Transversal do
Tempo (ensaios). Agulha Revista de Cultura # 35. Agosto de 2003. Página ilustrada com
obras de William Blake (Inglaterra), artista convidado desta edição.
|
PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009) | 05 de 10
Organização a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista convidado | William Blake
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o
projeto de séries especiais da Agulha
Revista de Cultura, assim estruturado:
1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO
3 O RIO DA MEMÓRIA
A Agulha Revista de Cultura
teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio
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