Um diálogo com Sérgio
Campos a respeito da vida e as suas reflexões sobre a arte de composição
poética: os temas que percorrem a sua obra, os estilos pelas quais ela passeia
com a sua camaleônica estratégia de resgatar, no emaranhado de vozes
dissonantes, um tom revelador e altamente pessoal. Diálogo que encobre e, ao
mesmo tempo, revela pistas ao leitor. Dialogar é uma arte, uma postura crítica
diante dos mecanismos autofágicos da técnica. Como roteiro indispensável à
poesia, o homem desdobra-se em variadas faces, na medida em que os próprios
espelhos vão consumindo suas máscaras. Toda espécie de conversa é uma forma de
desmascaramento sutil, pois no ato de se desmascarar, o poeta refaz novas
maquiagens: esta entrevista (diálogo) - realizada durante o final de julho e o
começo de agosto de 1992, no longo trecho que compreende Pau dos Ferros/RN e
Ilha do Governador/RJ - é a própria silhueta do compromisso poético de Sérgio
Campos que se delineia nas extremidades do afeto - pontes de um tempo menos
obscuro/horroroso e mais propício à troca de olhares que possibilitam os
últimos resquícios de esperança no ser humano.
LF | Numa entrevista conduzida pelo poeta Floriano Martins, você afirmou que a sua ‘estética é basicamente da
repetição’. Pergunto: a sua dimensão poética envolve motivos, temas, atitudes e
certo gosto pelo estilo clássico, você rastreia a tradição em busca do novo, ou
o novo comumente já vem embutido no antigo?
SC | Parece haver consenso de que o moderno nasce da perda de
afetividade, do desencanto (‘entzauberung’,
como fala Luiz Costa Lima, referindo-se a Weber). De fato, essa perda me parece
gerada pelo mecanismo que impôs um simulacro de razão a um mundo que se move
para o caos. Conquanto rejeite essa perda, situo minha escrita no contexto da
modernidade, pois o afastamento de um mundo caduco e repetitivo, piegas e
voltado para a exaltação do nada, é gerador do abalo e derruição dos valores do
fazer do homem, do pensamento, da reflexão e da organização social. É desse
fazer a boa escrita. Gostaria de resgatar a nosso tempo a prática de uma
escrita de rigor, que refletisse, que não se perdesse no desvario. Por isso
muitas vezes, minha poesia tem sido inquinada de ‘clássica’, conceito que não a serve de todo, mas que não rejeito,
se a opção possível for essa prática monótona e ressentida das vanguardas, que
parecem, como a serpe de Valéry, morder a própria cauda.
LF | A ‘Poética da Repetição’ concentra grandes doses de
aprendizagem. Seus ensinamentos estariam ligados à concentração da memória como
fonte inesgotável das experiências?
SC | A identidade pertence à ordem das similitudes. A repetição,
a das trocas (Deleuze). Repetir é elevar a escrita à enésima potência. Dispor
de um universo de materiais apto às reposições, e usá-lo na reinscrição do
poema, valendo-se do ‘dom das trocas’, não é chegar ao igual, mas ao recriado. Nesse sentido, minha escrita
é o permanente resultado da repetição. Repetir é recriar, é uma criação dentro
da criação. Não é operação da memória. E no que eventualmente a possa conter,
nunca de ‘memória afetiva’.
LF | Ciclo amatório é um livro,
essencialmente, memorialístico. Nele, a infância, a adolescência, a maturidade…
comungam gestos e dores. A poesia navega mares imprimindo novas faces com a sua
linguagem ambígua. Você concorda que o cotidiano relatado através da
‘memorialística poética’ expressa as variadas formas dos ciclos da vida, num
total despojamento do sublime?
SC | Não me seduz o confessionalismo, conquanto ele apareça em
minhas primeiras obras. Ao contrário, estou farto desse “eu era assim…”, da
poesia do ego na busca de suprir suas carências pelo apelo a uma inocência de ocasião. A poesia
confessional pode ser uma criança chorando na missa. Penso um dia, de fato,
escrever meu Boitempo, mas sem boi
nem tempo. Uma janela não me pertence, mas à observação.
LF | A lírica é irremediavelmente individualista, ou os homens,
paradoxalmente, constroem suas emoções despindo-se do social?
SC | A lírica é uma virtude da brevidade, como ensinou Eliot. A
emoção, quando se concentra num único/último ato extremo é muito mais intensa.
A emoção de poeta e leitor é individual, a meu ver. É o som do arco na corda
sol.
LF | O mistério poético da criação envolve necessariamente
elementos trágicos? Sente você o prazer do texto se fazendo?
SC | Ehrenzweig denominou a poemágicas as imagens trágicas da
criatividade, porque descrevem o ato de criação. Todavia, há que notar-se que a
criação não envolve apenas abismos. A fabricação das imagens, o descarte das cristalizações do pensamento
é altamente sedutor como processo. Fascina-me o ato de criar. Mais adiante
falarei de meu processo criador.
LF | O social é inevitável, já que a linguagem resgata a força
simbólica e verdadeira. Porém, somente a coragem de sentir transforma o cotidiano.
De onde advém a rigorosa presença dessa harmonia tão necessária?
SC | De fato, somente a coragem transforma o cotidiano. O
problema é que o homem costuma atribuí-la à economia
da salvação. Entregou-lhe o emblema aos numes protetores, ao invés de
exercê-la pessoalmente. Contudo, não me parece ser a poesia seu instrumento de
ação. Quando os poetas sobem aos palanques, salvo pouquíssimas exceções,
tornam-se retóricos, pedagógicos. Penso que a poesia está além da realidade, e isto
explica a pouca eficácia de suas empreitadas no factual.
LF | Que ritmos assinalaram, em definitivo, sua passagem segura
em busca da beleza?
SC | Ao asseverar que a beleza tenha a face oculta, Barthes
recorre a uma metáfora de extrema agudeza. É algo que persigo, o belo. Mas devo
reconhecer que, estando como estamos, em pleno transe estético, em que, como
nota Baudrillard, “o sistema funciona, não pela mais-valia da mercadoria, mas
pela mais-valia do signo”, não sei se convém por ora tirar o véu a essa dama
oculta. Não terminaríamos na impossibilidade de um julgamento? O belo não seria
demais belo, a ponto de perder
referência e identidade?
LF | A liquidação do lírico como forma de instaurar uma
engenhosidade poética de cunho concreto não seria a procura da própria essência
desta mesma fonte geradora que é a sensibilidade?
SC | Não consigo figurar a liquidação do lírico. Tenho assistido
a investidas terríveis contra a expressão órfica do poema. Vi assinalados
decretos de morte histórica do lírico, onde se perpetra sua captura. É uma
tentativa fadada ao fracasso. Não posso imaginar que os poemas da 1ª. voz do homem sejam calados.
LF | Seus Mobiles de sal
circunscrevem galáxias, caracterizando fragmentos vitais e comunicam
verdadeiras peripécias de infinito equilíbrio. Em que o seu caleidoscópio,
aventuras do verbo premeditando voos no trapézio, se sustenta neste reino que
inventaria a beleza?
SC | Mobiles de sal é de fato um
caleidoscópio. A busca de equilíbrio é sua obsessão, é o que vocaciona a obra
para o clássico. O eixo central dessa poesia é a preocupação com a forma, a
concisão, a leveza, a exatitude (a não ser nas lâminas/móbiles - um exercício
crítico). Veja que o livro se encerra com du
Fay (compositor medieval) a sentir aromas brancos nas chuvas. Esta me
parece a procura do essencial: uma escrita que, com a máxima economia de meios,
reflita a imagem virtual. São as aventuras do verbo…
LF | Há em sua trajetória alguma fixação poética,
especificamente, no que diz respeito aos bichos e a música?
SC | Sim. Os bichos (o ser animal) prestam-se a experimentações
com o movimento. Não importa a espécie, a família animal, mas seu deslocamento,
as cores e matizes de seus instantâneos corporais. Já a música, posso dizer que
é elemento central de minha poesia. Uma outra linguagem, mas também íntima de
mim. Se não fosse poeta, seria, sem dúvida, um músico. Não há livro meu que não
privilegie a música, e os poemas, em sua quase unanimidade, sintonizam sua
linguagem com a dela. Lembro Valéry, que ao ouvir Tannhauser em sua estreia em Paris, disse a amigos que depois
daquela experiência, não conseguiria mais escrever.
LF | De que maneira você aproximaria Carlos Drummond de Andrade
de João Cabral de Melo Neto?
SC | A poesia de João Cabral de Melo Neto é construtivista,
antimusical, fortemente impressiva e sua linguagem reporta um conteúdo
fortemente analítico. Drummond, um lírico, uma poesia ficcional, uma escrita
redonda. Drummond cometeu um erro fatal ao adotar o confessionalismo de Boitempo. Cabral, não, embora não seja,
pela dureza (a pedra das palavras) do poema, um poeta que me seduza.
LF | Diz Alfredo Bosi que “quanto mais denso e belo é o poema,
tanto mais entranhado em seu corpo formal o mundo
que se abriu no evento e se fechou no claro-escuro dos signos”. Para você, por
quais horizontes o homem capta os espelhos sígnicos do mundo?
SC | O corpo formal é em verdade um processo privado. No
claro-escuro dos signos o poema se elabora. Obra em favor de seus mais
recônditos desígnios. A densidade e a beleza são naturalmente objetivos a
prospectar. Não são regidos por códigos, leis. Mas também não são ocasionais. É
um mundo original, o lugar para as metamorfoses criativas. O espelho dos signos
parece mostrar-se, pois, na sombra. Um paradoxo da surpresa. O arcano e seu
mistério. Um grande poema começa neste claro-escuro. É seu horizonte de
captação.
LF | Gostaria que você comentasse esta afirmação de Umberto Eco:
“Frequentemente, cumpre revirginar a sensibilidade, impondo-lhe uma longa
quarentena.”
SC | Ante a decadência geral dos conteúdos, de que nos fala Benn,
e a vertigem das formas, o pensamento de Eco me parece ter a força de um apelo.
Uma quarentena, eu diria, um longo processo de decantação dessa sensibilidade
exasperada, parece-me indispensável. Talvez esse resgate da sensibilidade pura,
em meio à saturação, revivesse a ascese que os virginalistas (para recorrer a
um anelo pelo medievo, tão a gosto de Eco) emprestaram, p. ex., à música da
sacralidade.
LF | Para Roman Jakobson: “A função poética projeta o princípio
de equivalência do eixo da seleção sobre o eixo da combinação.” Em que sentido,
poética e linguística se combinam?
SC | Poesia é linguagem. Na fenomenologia do poético, ambas são
indissociáveis e Bachelard já teve a oportunidade de nô-lo dizer. O princípio
de equivalência implica necessariamente em que a poesia gire em torno desses
eixos. Ou se babelizaria a ponto de
não se distinguir o poético (não selecionado) do prosaico.
LF | Você concorda que a metalinguagem
é a mais relevante característica da modernidade poética?
SC | Não a mais relevante, mas essencial à renovação da
linguagem. Com a questão anterior, essa estabelece uma saudável relação
dialética. Gosto muito de sentir o novo emergir das palavras em seu laboratório
imagético. Mas minha linguagem de ofício é
a convencional.
LF | A música é uma constante em sua obra. Até que ponto esta
visceralidade se torna fundamental para a elaboração de sua escritura, universo
prazeroso do texto?
SC | Durante 20 anos deixei de escrever e ao curso desse tempo,
por razões várias, dediquei-me à música. Voltando à poesia, em 1984, era
natural que minha sensibilidade se houvesse impregnado de modo tão acentuado de
música. Todavia, isso foi acidental.
LF | Segundo José Guilherme Merquior, no livro Arte e sociedade em Marcuse, Adorno e
Benjamin, “A práxis tecnológica só é capaz de usufruir a arte em estado de
nostalgia incurável.” Quais os recantos que guardam essa nostalgia, esse elo
perdido do homem para com a sociedade?
SC | A nostalgia repete os termos da primeira pergunta, retro,
que traduz a perda da afetividade. Apenas há que a nostalgia não rompe com o passado. Mantém-no
latente, vivo. De fato, o mecanismo, o que chamo de Computalha, ao contrapor-se a um mundo manual, mundo do homem, antimaquínico,
só pode cultivar a arte de maneira nostálgica. Lutar contra isso “é luta mais
vã” (CDA). Merquior foi muito preciso aqui.
LF | Concorda com Jomard Muniz de Britto (in: Bordel brasilírico bordel) ao afirmar
que: “Deixando de ser singular individualidade, o poeta é o plural possível de
cada um de nós”?
SC | Não me parece que o poeta seja o plural de que fala Jomard Muniz de Britto. Como disse, a
experiência poética é individual, tanto no processo de criação como no
inter-relacionamento com o leitor. Sou céptico ante a visão carismática do
poema.
LF | Em nossa sociedade, podemos apontar O lobo e o pastor, ou tudo não estaria voltado para o caos, já que
“viver é conjurar simulacros/em busca de uma dor benevolente”?
SC | Esses versos traduzem uma visão bastante pessimista. É o
resultado de um estado de espírito e a tradução de que, de fato, a relação
entre o lobo e o pastor é de mera
convivência, distante dos afetos. Seria uma resposta à questão dos tempos que
vivemos - questão crucial - sobre se amamos ou amamos quem nos ama? Eis o
simulacro, o jogo, o logro que este poema revela. Observemos que a dor não é
fatal, como diz o poema. Deixou de sê-lo, para tornar-se benevolente, vale
dizer, foi estetizada pelo consolo.
LF | Por entre pardais e borboletas construímos nossas vidas.
Brevidade ou eternidade, todo instante assinala este exílio voluntário. De que
se alimenta a trajetória dos pardais e das borboletas?
SC | Alimenta-se da estratégia de viver. E agarrando-se à vida, o
pardal, como espécie, não mostra senão que o movimento é essencial para os de
sua espécie. Mas se o pardal é voraz, e sua permanência no tempo demonstra
isso, seu inverso é a borboleta, frágil, para quem a eternidade repousa no
instante. O pardal é triste, estoico, empenha-se profundamente em manter-se
vivo. A borboleta, ao contrário, funda sua eternidade no breve. O que demonstra
que o belo é efêmero, mas se repete, e se repete. O pardal não sonha, é um
instinto, uma inevitável obsessão pela vida. Pardais e borboletas alimentam-se
de suas disponibilidades ante os atos extremos do viver.
LF | Você se considera um poeta de inspiração ou de transpiração?
Um poeta mediúnico ou materialista?
SC | Mediúnico. Escrevo por compulsão um poema que, de alguma
forma, parece sempre já estar pronto. Atribuo o fenômeno - que me assusta - a
um estado incoercível de inspiração. Escrito o poema, contraditoriamente,
começo a convencer-me de que será preciso melhorá-lo. É uma segunda instância
que se inicia. Implica na tarefa de reinscrevê-lo, por pura ascese. Qualquer
outra resposta a sua pergunta, seria puro maniqueísmo.
LF | Fale-nos do seu processo de criação.
SC | Valéry verificou, com muita percuciência, que, na obra de
arte, devemos considerá-la a partir de sua própria elaboração. Penso que
privilegio o processo creacional ao
considerá-lo eixo em torno do qual gravita minha poesia. Essa obsedante
persecução do equilíbrio de uma arte
capax de espacialização, demanda um método, ou se torna inviável. Criar é
mover-se no oculto e no avesso. Não me parece um processo de autodestruição,
conquanto comporte análise profunda da personalidade criadora.
LF | Na Trilogia de lumiar
que transcrições do real sua poesia nos oferece?
SC | Uma visão nostálgica da modernidade. Visão, ipso facto moderna. A modernidade - e mais acentuadamente a pós-modernidade -
é nostálgica, implica a impossibilidade de recuperar valores perdidos. A
tecnologia da velocidade é sua alegoria. A modernidade traduz ceticismo. O mito
é sua tábua de salvação. A Trilogia é
a tentativa do resgate do eu por seu duplo e o registro da decepção, etapa a
etapa, das estratégias de aproximação.
LF | “Os poemas líricos são como a infância de um poeta; só têm
interesse na medida em que ele ultrapassou essa fase.” Esta afirmação do
crítico George Gottfried Gervinus a propósito de Hölderlin, não seria uma
atitude reducionista, visto que a
grande lírica, em suas obras problematizam diversos aspectos da sociedade?
SC | Penso que inteiramente reducionista,
e sequer merecedora do bônus de pragmática. Hölderlin é um poeta complexo, e
seus estudiosos chegam a vê-lo mais como um clássico do que um romântico. Está
aí sua tendência helenizante a conviver com a admiração a Schiller. A lírica, a
meu ver, é atributo de uma poética. O
que estetiza é a forma de expressão, os materiais, os padrões utilizados. Não
vejo sentido na frase, ainda porque a lírica não pode ser reduzida a mera
etapa. Ainda mais falando de um poeta como Hölderlin, tão enigmático sob o
prisma conceitual.
LF | Por que “A ideologia é sempre omnívora”?
SC | Porque a ideologia tem, por natureza, hegemônica. O que é
hegemônico é naturalmente omnívoro. Expande e se preserva a qualquer custo.
Tremo ante o ideológico.
LF | O poeta precisa, efetivamente, “sangrar o desejo: avaria
máxima.”?
SC | Esta frase foi cunhada na elaboração de um prefácio. Parte
de leituras de Bataille e Guattari. O conceito de poesia desejosa advém do inconsciente maquínico (em analogia a ele)
e dos delírios de Schreber, na Viena fin-du-siécle.
O de avaria advém do estudo da Microfísica
do desejo. Seriam praticamente irreprodutíveis, sem grande perda de
conteúdo, razão porque me atenho à ideia geral: arte desejosa, como expressão do desejo, é um gasto sem medida do
ser (artista). Mas representa uma doação e uma prática que exaspera a criação (invenção, emoção etc.). Isso se patenteia,
v.g., no barroco, que tanto fascina inúmeros escritores. E, como o livro que
prefaciava continha uma poesia extremamente desejosa, ao ponto da máxima avaria
(desvario), penso ter revelado uma das acepções desse ementário de decisões
extremas.
LF | A vivência metafórica tece imagens para a elaboração de um
mundo novo. Que luzes centralizam os desejos e as manifestações anímicas no
momento máximo da criação?
SC | Sem metáfora, disse de certa feita, a pirâmide seria apenas
pedra. Prospectar um mundo sempre em estado de criação realiza o artista. Todo
momento de descoberta é um momento extremo, máximo.
LF | Acredita como Lezama Lima, que “A ficção dos mitos são novos
mitos, com novos cansaços e terrores”?
SC | É uma epígrafe para o desencanto. Lezama Lima, aqui, me
parece levar o ceticismo a consequências extremas. Acredito, contudo, nas
possibilidades de saúde (Paz) do homem e da arte, conquanto reconheça que
atravessem tempos extremamente adversos.
LF | O reverso dos mitos é uma problemática, no mesmo instante em
que o fantástico, transfigurado no belo, traça um quadro onde o encanto funda
outra simbologia. Quais são as suas categorias simbólicas?
SC | Todorov nos dá um bom subsídio para que nos situemos perante
o símbolo. Creio que o símbolo, em verdade, mostra o devir do sentido. Deleuze
nos daria razão aqui, pois observa que cada conceito “remete a outros
conceitos, não somente em sua história, mas em seu devir ou conexões
presentes”. Isso a meu ver permite uma ponte entre poesia e conceito. Julgo
também que o símbolo não é algo arbitrário, mas coerente em si, como ainda que
realize a “fusão dos contrários”, como, v.g., entre abstrato e real, realidade
e ficção. Finalmente, ainda com Todorov, creio que o símbolo exprime o
indizível, ou seja, o que os signos não-simbólicos não conseguem transmitir.
Estes são os símbolos que me interessam.
LF | Numa entrevista de Floriano Martins (conduzida por você),
ele afirmou: “O ato de criação para mim está ligado ao mais intenso delírio da
lucidez. Instante em que as imagens encarnam”. Criar é subverter, delirar,
desfazer (ou praticar) equívocos, sempre seguir, depois partir novamente.
Sérgio, em poesia nunca se chega?
SC | A resposta de Floriano Martins, grande poeta e pensador, bem
elucida, a meu ver, a poesia do desejo e exposição à avaria (delírio, aqui).
Concordo com ela.
Não, Leontino, não se
chega. Se isso acontecesse os mistérios alucinados estilhaçariam os espelhos. E
sem mistério, como suportar a vida horizontal?
LF | Qual a sua opinião sobre a poesia de Manoel de Barros?
SC | Uma linguagem extremamente pessoal. Não será, talvez, um clássico.
Mas é, decerto, um excelente poeta.
LF | Que autores brasileiros mais o influenciaram? E quais
atualmente aqueles de sua admiração?
SC | Comecei por Drummond, poesia arquetípica. Lembro, como
autores de (in)formação: Carlos Maria de Araújo, Carlos Pena Filho e Jorge de
Lima. Celebrei os três em poema de um de meus livros. Quanto aos atuais, são os
que sabemos nós, poetas, nominar, com nossas idiossincrasias e afeições.
LF | Por que você passou tanto tempo sem publicar? Diga-nos desse
seu silêncio de quase trinta anos.
SC | Senti-me coagido pelo meio literário que frequentava, no
início da década de 60, a escrever poesia
de vanguarda. Como logo percebi minha impossibilidade de fazê-lo (e por que
o faria?), refluí. Foi uma atitude imatura, própria da idade. Estabeleci uma
espécie de pacto com a música e
ouvi-a por 20 anos, numa dedicação absoluta. Vim desde o cantus firmus, dos albores da polifonia medieval até a 2ª. Escola de Viena, onde fiquei, até
hoje, em dependência (isso sem
considerarmos os neoclássicos do modernismo). A music of poetry, que Eliot vê com reservas, como tendente a
exacerbar uma atitude de romantismo piegas e de pauperização da escrita, ao
contrário, em muito me ajudou. Pois ao voltar a escrever, em 1984, verifiquei
que a música houvera se mantido como ponte entre eu e a poesia. Nesses oito
anos, foram 10 livros escritos, a busca compulsiva de um elo abandonado, caso
de amor mal resolvido…
LF | Sua poesia concebe a existência de maneira apaixonada e
lúcida, esta mistura de elementos sintetiza o gesto do poeta que toca corpos e
percebe que “saber não é amar.” Traduza-nos a sua ira cativa da memória.
SC | Sou um poeta vocacionado ao clássico, embora no contexto da
modernidade. A paixão é um arremesso da emoção, tensa como o fio do arco.
Rápida e certeira. Movimento que me é pouco próprio, pois minha poesia é mais
analítica. Parece, contudo, vulnerar o que atinge. Saber não é amar representa um instantâneo do ser ante o movimento
da paixão, que Guattari muito bem significa na expressão: “Pensar é sempre
seguir a linha de fuga do voo da bruxa.” Às vezes, sigo.
LF | Depois de dez livros publicados num espaço tão curto (menos
de dez anos), quais os seus projetos (os seus próximos trabalhos)?
SC | Editar livros. Estudar literatura. Estudar ideias, num
sentido amplo. E reescrever muitos poemas muitas vezes. Minha poesia é
inacabada.
LF | Fale-nos de sua atividade como editor.
SC | Falo de Mundo Manual.
Uma tomada de posição contra o mecanicismo. O livro como matéria de estocástica
e não estética. Uma editora artesanal, humanizando a produção do livro.
Ademais, descobri que é tão gostoso fazer um livro como escrevê-lo. A editora é
acessível a quem tenha obra de qualidade e possa custeá-la. Não tenho como
arcar com o ônus de editar autores. Mal consigo editar a mim mesmo. Todavia,
elaboro o projeto gráfico, orço o livro e o acompanho até a entrega. Tudo tem
de passar por mim. Reconheço que Mundo
Manual é uma extensão de meu fazer poético.
LF | Faça-nos um balanço da poesia latino-americana mais
importante (influente), no momento.
SC | A poesia latino-americana abraçou o modernismo, foi
receptiva a ele, conquanto a brasileira cingiu-se à Semana. Há poetas que seguiram todas as rotas estéticas do
modernismo, tomaram partido, vincularam-se a movimentos e escolas. O
surrealismo, apenas para citar um exemplo, encontrou solo fértil na poesia da
AL. Nós, nos trancamos como conchas, senhores do mundo, numa atitude de
isolamento. O interessante é que um poeta como Mário de Andrade, líder do
movimento modernista, sabia o que ocorria na AL. Em sua biblioteca, após anos
de seu falecimento, foram encontrados livros de todos os grandes poetas
modernistas do continente. Por que esse silêncio? Nosso modernismo perdeu o
trem da história. Isso não é um balanço. São indícios reveladores de que houve
algo de grave em nosso isolamento. Desconhecemos movimentos, perdemos contato
com poetas como Lezama Lima, Paz, Huidobro, Vallejo, Girondo, apenas para citar
alguns. Foi uma perda irrecuperável.
LF | Dizia o poeta e crítico Mario Faustino: “O poeta
contemporâneo tem de ser perigoso como Dante foi perigoso: uma força
respeitável frente às demais forças sociais. Do contrário, no entontecedor
movimento rumo-Norte a que assistimos em nossos dias, a poesia seria qualquer
coisa de marginal, menina chorona ou risonha, abandonada à beira de uma
autoestrada de tráfego intenso.” Em que consiste o perigo da poesia, e por
extensão do poeta?
SC | O perigo do poeta é recorrer à memória como compensação para
a carência de afeto. Esse chorão e piegas a que alude Mario Faustino, permanece
como disse antes, ancorado no imaginário da infância. Convém passar ao largo. O
poeta deve estar em sintonia com os homens e seu tempo, ser um agente de
mudanças (embora sem subir os palanques e adotar discursos salvacionistas,
sucumbindo à retórica). Esse menino chorão de que nos fala, aliás, já foi
atropelado há muito tempo. Quanto a Dante, melhor dirá Eliot, mas tenho
reservas a essa subversão, a esse perigo de que fala Mario Faustino.
LF | Qual a questão fundamental, de feição complexa, que resume o
emparedamento do poeta no seio da sociedade?
SC | Minha poesia é obra também - como disse - da paixão, conquanto
vocacionada para a reflexão e o esmero creacional.
Essa lucidez (tenho-a como tal) repõe meu universo em estado de equilíbrio numa
época de concordatas, quando não de grandes falências. A tarefa que me imponho,
de recuperação dos elos perdidos (na
expressão de Ivan Junqueira, sempre precisa) demanda uma escrita tersa,
concisa, ascética, expressa numa sintaxe de rigor. A ira de que falo, é a que
sofro. Sou paciente dela, não seu agente. Antes, padeço a ira dos tempos e dos
dias e tento “repor as coisas nos lugares certos.”
LF | Segundo Severo Sarduy: “Missa e orgia: ritos de ambições
iguais, de iguais impossíveis”, e ainda, “Cair em falta contra a falta,
transgredir a transgressão: única forma de graça.” O inesgotável filão erótico
é visto, sobretudo, através de ressonâncias simbólicas, por isso o código do corpo erotizado desencadeia
reações contrárias à linguagem mais picante. Como você encara a produção
poética que invoca uma textura de desejos intensos (a hora de acoplar
contradições)?
SC | Como em nossa época tudo se encontra estetizado, o corpo não
foge naturalmente à regra. Diria mais, que a mídia hiperestetizou as categorias
do belo, de sorte que vejo, hoje, a chamada poesia
erótica com total ceticismo. Mais um novo que se torna velho, que obsolesce
de modo alarmante. As mulheres desnudas, que já foram razão de escândalo, hoje
despertam bocejos na TV. Foram consumidos todos os valores. O corpo, enfim,
sofreu este processo antropofágico… Não vejo na poesia atual o sexo como
culminação de um processo natural de afeto. O código do corpo circuitou. Transformou-se em indústria
da mais-valia da estetização. Quanto a Sarduy, cumpre o discurso do
pós-moderno: dizer tudo e não dizer nada.
LF | Como você resumiria sua aventura poética?
SC | Seja qual for o ponto que essa caminhada vá dar, se não me
mantiver lúcido, em meus 51 anos, tornar-me-ei prisioneiro do tempo sem
paredes, como digo em A cúpula e o rumor.
Preocupo-me em manter minha identidade, assumindo o domínio de meu fazer
poético, a qualquer risco. Seria
ridículo (e fatal), nesta quadra de vida que se inicia, sucumbir de novo a
pressão dos descontentes…
LF | Em Ponto &
contraponto, você afirma que “a poesia é a arte da palavra, que a palavra é
o ser da poesia.” Que relação esta arte da palavra mantém com a imaginação, já
que para Murilo Mendes: “A poesia é a realidade; a imaginação, seu vestíbulo”?
SC | A pergunta é a forma dialógica mais simples e, imaginar, um
processo canônico de encontrar respostas no contexto de uma lógica original.
Observar, perquirir, são atividades geradoras de universos, de romper
formulações conceituais. Veja-se, v.g., o artefato (cicle) de Duchamp. É passível de muitas significações. A imaginação
é um processo, pois, de subversão, o
monge guardião das chaves de uma lógica oculta. Teço essas considerações
para situar Murilo Mendes entre os mais imaginosos poetas brasileiros. É um dos
únicos pensadores originais que tivemos. Nosso modernismo literário parece
pequeno perante ele. Seu pensamento, transcrito na pergunta é, em alguns de
seus princípios, emblemático. A imaginação é, sem dúvida, o vestíbulo para
qualquer entrada na escrita.
LF | Ainda do grande Murilo Mendes: “Sempre, em todos os tempos,
a poesia corrigiu a crítica.” Qual a sua avaliação a respeito deste pensamento?
SC | Na pergunta anterior, há uma expressão que, de propósito,
deixei para mencionar aqui. Não concordo com Murilo em que a poesia seja a realidade. Sem tanger a questão da escrita psicótica, de que fala Todorov
com clareza, a realidade, em seu plano de imanência, tem mil faces. O idiota,
por exemplo, é um pensador que pensa por si mesmo, para além dos conceitos. A
realidade é um simulacro da transcendência, como, v.g., a verdade. Não será a
poesia o duplo da transcendência? Discordo
de Murilo, em parte, na afirmação da pergunta anterior, como de sua asserção na
presente. Entendo a crítica do poético ao reputá-la o pensamento sobre o
fenômeno da escrita, que envolve também a língua. Sou tentado a ver no crítico
uma figura conceitual jurídica, porque, ao pensar, julga, e existencial, no
desenvolver a potência de outras personagens conceituais, como, no caso, o
próprio poeta. Naturalmente, falo do crítico competente, e não dos redatores de
plantão.
LF | A escrita do SI
estabelece um paralelo com a poesia como con(ficção),
ou ambas se complementam?
SC | A impregnação da memória não só pela afetividade, mas também
por pulsões narcísicas, também é causa infalível do desastre de um projeto
poético. A escrita do Narciso é
omnívora, autofágica, alimenta-se da própria ilusão da beleza. Principalmente,
em Mobiles de sal, tratei de não
sucumbir a ambos, que inegavelmente possuem poder de atração. Ao (re)construir
minha casa, neste livro, como no mais recente, A cúpula e o rumor, penso tê-la mantido imune a esses fatores de
desequilíbrio e desagregação.
LF | Comente a afirmativa de Hugo Friedrich, em A estrutura da lírica moderna: “A arte
moderna, não encontrando o repouso na realidade objetiva, atual e histórica,
também não a encontra na autêntica transcendência. Seu reino poético passa a
ser o mundo irreal criado por ela própria, o qual só existe graças à palavra.
Suas relações se mantêm deliberadamente insolúveis em relação ao corrente e ao
seguro.”
SC | De fato, a arte moderna representou a rotura do elo entre o
homem e seu universo de valores. Os arquétipos se pulverizaram. A própria
transcendência, no dizer de Deleuze, transformou-se em anedota vital. Naturalmente, o apelo a uma ordem oriunda do caos
reativo passou a representar uma saída para a tragédia do homem sem território.
Resta efetivamente a palavra, íntegra, indissolúvel, porém se cultivada com
rigor, com uma atitude hierática. Não lhe faltam desafetos, a dizê-la
instrumento da retórica e da mentira. Veja-se o caso de George Steiner, que
chega a afirmar que prefere a linguagem musical à literária, pois aquela não
mente. “Mozart não mente”, diz. Melhor ficar na lúcida companhia de Hugo
Friedrich.
LF | Decerto há um ponto
e um contraponto poéticos,
organicamente articulados. Como eles se apresentam em sua obra?
SC | Trata-se de uma relação dialética cujos polos em confronto
sintetizam a consolidação de uma poética. Nada além disso: a busca de
instrumental de aferição de um estágio de escrita.
LF | Seu mais recente trabalho poético, A cúpula e o rumor, traz novamente a figura enigmática e
desarticuladora do rei.
Essencialmente, a vingança real é terrível, pois, imprime ao homem o exílio e a
solidão. De que maneira o tempo sistematiza o aniquilamento total do rei, caso ele deixe de ser “um simulacro
de sedas/que se cansou/de morrer”?
SC | O rei é a representação simbólica do poder. Poder e pompa.
Poder e arbítrio. Poder e violência. O rei é um simulacro do poder. Note que o
tratamento alegórico desta figura tão violenta e poderosa se contrapõe ao deus grego, com que se parece. Todavia,
vejo a presença do deus helênico como a presença da verdade, ou seja, para a civilização grega, os fatos se passaram exatamente como vividos pelos deuses.
Com estes, tenho cumplicidades, inclusive por minha natureza de ser vocacionado
para o trágico. Essa noção do deus grego me foi em boa hora passada pela
leitura da Introdução à mitologia grega
de Junito de Souza Brandão. O rei (deus ou não) grego é verdadeiro. Édipo é
verdadeiro. Teseu é verdadeiro. O rei, fora do mito, é falso. É o simulacro do
poder. Denunciá-lo é denunciar, eviscerar o poder. Penso que ao fazê-lo, nessa
dualidade tentacular, demito-me da retórica e da ideologia. São os pressupostos
(poéticos) para estar presente aos irados dias de meu tempo.
LF | As ilhas da casa
habitam, pacificamente, as suas ruínas
horizontais?
SC | A reconstrução do mundo a partir das ruínas, essa celebração
da perda, me fascinam. Minha poética, em magma, pode ser definida como poética
da perda. Nada tenho feito senão perder e me consola a facilidade de proceder
ao desmonte/remontagem de tudo que possa idear. Nesse sentido, fascina-me a
(re)construção de minhas casas e de suas ilhas,
arquipélagos de invenção, observatórios “do tempo sem ancoradouro”.
LF | As relações semântico-rítmicas das imagens em Mobiles de sal e A cúpula e o rumor revelam um “longo aprendizado pela palavra”. Que
encantamento ou recompensa você encontra nele?
SC | A descoberta paulatina de avanços no domínio do campo
semântico, a flutuação rímica dos versos, a economia de meios expressionais, o
aperfeiçoamento da escrita podem responder à sua pergunta. Em Mobiles de sal e principalmente agora,
em A cúpula e o rumor começo a
experimentar essa sensação de ascendência sobre meu criar. Admito que o encantamento, a que decerto se remete
sua pergunta, reside nestes deliciosos materiais sucateados em minhas ruínas…
LF | A concisão é um atributo marcante em sua poética. O caráter
fragmentário destes tempos estaria associado diretamente à concisão?
SC | Desde que li Calvino e seus memos passei a preocupar-me ainda mais com o problema da concisão
na escrita (repetindo o que já disse ao falar de Mobiles de sal). É para mim evidente que a velocidade com que se
move o homem em nossos dias está a reclamar brevidade, exatitude e, sem dúvida,
concisão. Ou os poetas (cinjo-me a estes, por razões de ofício) incorporam,
como pressupostos, tais elementos a suas obras, ou perderão de vez seus parcos
leitores para a mídia.
LF | Por que A cúpula e o
rumor, título de seu livro mais recente?
SC | A cúpula é um expansor, reverbera o rumor. Pouco rumor para
uma cúpula delicada, de opalina ou cristal. Se o rumor fosse grande,
estilhaçaria a cúpula. O rigor e a economia de meios faz de meu ofício uma
espécie de poesia de câmera. Ora, o
barulho (como se tem por rumor nesses tempos) não se coaduna com ela. Assim
está fixado em termos dialéticos o título de meu poema/livro: a cúpula a
amplificar o rumor. Tudo o mais perto possível do ponto zero. Aliás, todos os meus livros recebem um título-ponte por
onde adentrar a seu conteúdo. São projetos fechados, no sentido da necessidade
da coesão interna e a ôntica das proposições que se faz.
LEONTINO
FILHO
(Brasil, 1961). Poeta e ensaísta. Esta entrevista consta da edição de Mar
Anterior, obra poética de Sérgio Campos, organizada e editada por Floriano
Martins e Leontino Filho para ARC Edições (2016). Página ilustrada con obras de los niños mágicos
del Arte Amigo (Costa Rica), artistas invitados de esta edición de ARC.
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Agulha Revista de Cultura
Fase II | Número 23 | Janeiro de 2017
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da
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os editores não se responsabilizam pela devolução de material não
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todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
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