domingo, 15 de setembro de 2024

ANNA APOLINÁRIO | Leila Ferraz e o delírio esculpido na pele

 


O Dia dos Cinco Orgasmos (Mama Quilla, 2024), obra da poeta e mais indelével joia surrealista que esse tempo nos deu, é mais uma de suas deliciosas efabulações, uma majestosa viagem aos abismos do desejo, do corpo, os poemas são pêndulos mágicos que dançam na cadência das voragens da carne e do espírito.

Os títulos de seu grimório, com seus cheiros e sumos provocativos, insolentes, são encantatórios ritos, anunciam a natureza subversiva e deslumbrante de seu íntimo redemoinho de versos. Leila nos descortina um céu desfeito em fábula, nos seduz com sua convulsiva taça dos desejos, sussurra em nossa pele com sua língua imantada do amor.

Um livro que soa como visceral e luxurioso relicário de memórias, repleto de dias e fabulações infindas. Ao abraçar o fulgor dos versos, os meus pés flutuam em sendas desconhecidas de sensações e segredos, um fogo iridescente devora tudo. Com a respiração suspensa e os olhos em êxtase, eu folheio os cometas incendiários de cada sílaba que Leila oferece.


Imersa em arrebatamento onírico, percebo um dilaceramento de fronteiras entre amor e morte, sonho e vigília, uma torrente misteriosa subvertendo realidades, aquarela selvática de preciosos, violentos e eternos orgasmos. Assim eu saboreio o verso de Leila, sua poesia é nudez carnívora abrindo maravilhosos rasgos na teia do mundo.

Com sua poética de vigor metamórfico e visionário, Leila incita a celebração do amor, da liberdade e sobretudo do desejo, pincelando com maestria os doces e deleitosos perigos da aventura humana. Ela possui e balança as chaves do cosmos no parapeito de cada poema e nos convida a mergulhar no precipício espelhado de seus sonhos. Eu leio e deliro.

 

 


LEILA FERRAZ (Brasil, 1944). Poeta, ensaísta, fotógrafa, desenhista. Participou ativamente do Movimento Surrealista de 1965 a 1971 planejando e organizando a 13ª Exposição Internacional do Surrealismo, no Brasil, em 1967, onde expôs desenhos e objetos de funcionamento simbólico. Motivada por assuntos pessoais, manteve-se quase sempre à margem, sem que, no entanto, deixasse de criar. Em uma entrevista concedida a Floriano Martins, ela aclara entusiasmada: O surrealismo me supriu na realização plena tanto nas artes plásticas, como na poesia e literatura. Meus contos são tomados pelo pensamento mágico. E a poesia, pela total entrega aos signos e automatismo – que sempre explodiu. Minha mente já nasceu dotada para a total compreensão e expansão dos significados das palavras. Eu as animei de acordo com minhas emoções e desejos de expressão. Meu mundo e o mundo dos significados se contemplaram um no outro. Para mim as palavras são deuses que se recriam eternamente em meus poemas, falas e artes plásticas. São a manifestação do meu imaginário em constante movimento e assim, infindáveis. Um estado de puro prazer

 


ANNA APOLINÁRIO (Brasil, 1986). Poeta. Publicou os livros Solfejo de Eros (CBJE, 2010), Mistrais (Prêmio Literário Augusto dos Anjos Edições Funesc, 2014), Zarabatana (Patuá, 2016) e Magmáticas Medusas (ARC Edições, 2018). É organizadora do Sarau Selváticas de autoria feminina, em João Pessoa, onde vive.






 


ANTONIA EIRIZ (Cuba, 1929-1995). Se graduó de la Escuela de Bellas Artes de San Alejandro en 1957. Participó en la II Bienal Interamericana de México en 1960 y en la VI Bienal de Sao Paulo en 1961, donde su obra recibió una mención honorífica. De 1962 a 1969 impartió clases en la Escuela de Instructores de Arte y en la Escuela Nacional de Arte, ambas en La Habana. En 1963 ganó el Primer Premio en la Exposición de La Habana, organizada por la Casa de las Américas. Al año siguiente, la Galería Habana presentó su importante exposición “Pintura/Ensamblajes”. En 1966 expuso su obra junto a Raúl Martínez en la Casa del Lago de la Universidad Nacional Autónoma de México, y un año después en el 23 Salón de Mayo en París, Francia. Eiriz tenía una forma muy particular de captar su entorno, optando por retratar las situaciones más dramáticas y grotescas de la condición humana, lo que provocó que su obra fuera incomprendida por el gobierno revolucionario, lo que la llevó a jubilarse anticipadamente. A finales de los años sesenta abandonó la pintura y se dedicó a la promoción de formas de arte popular, transformando su casa en un taller donde enseñaba técnicas como el papel maché y los trabajos textiles a la comunidad local. En 1989 recibió la Orden Félix Varela del Consejo de Estado de Cuba, la más alta distinción del país en el ámbito cultural. En 1991 se realizó una exposición de su obra titulada “Reencuentro” en la Galería Galiano de La Habana y en 1994 recibió una beca de la Fundación John Simon Guggenheim. Después de su muerte en 1995, el Museo de Arte de Fort Lauderdale organizó una retrospectiva de su obra: “Antonia Eiriz: Tributo a una leyenda”. Ahora ella es nuestra artista invitada, en esta edición de Agulha Revista de Cultura.



Agulha Revista de Cultura

Número 255 | setembro de 2024

Artista convidada: Antonia Eiriz (Cuba, 1929-1995)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2024


∞ contatos

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FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com

 





  

 

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