sábado, 28 de abril de 2018

JÓIS ALBERTO | Poesia na Agulha



Poeta e tradutor elogiado, editor de livros da pequena e recém-criada editora Sol Negro Edições (http://solnegroeditora.blogspot.com), porém grande na qualidade das edições, feitas de maneira artesanal, em pequenas tiragens, e por isso mesmo, podendo ser consideradas verdadeiras obras de arte editorial, Márcio Simões é um dos mais talentosos escritores da novíssima geração no Rio Grande do Norte. Não à toa, recentemente, após conhecer pela internet o renomado poeta, ensaísta e tradutor Floriano Martins, deste recebeu o convite para ser editor-assistente da segunda fase da Agulha Revista de Cultura, uma das mais importantes publicações culturais, na internet, do Brasil. A Agulha Revista de Cultura recebeu, em 2007, o Prêmio Antônio Bento da ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Floriano Martins tornou-se conhecido por dedicar à poesia surrealista no Brasil e em países hispânicos boa parte da produção intelectual dele, na qual destacam-se títulos fundamentais, como os livros O começo da busca – O Surrealismo na poesia da América Latina (São Paulo, 2001) e Um novo continente – este último dedicado ao Surrealismo em todo o continente americano, publicado já na Costa Rica e na Venezuela, com edição brasileira bastante ampliada prevista para este ano. Martins também traduziu livros de autores como Federico Garcia Lorca, Cabrera Infante e Pablo Antonio Cuadra.

A REVISTA

A Agulha Revista de Cultura, ou ARC, sigla da publicação, teve na primeira fase um total de 70 números publicados em 10 anos. Nessa segunda fase, com número zero publicado no final de 2011; o primeiro número lançado em janeiro de 2012 e o segundo a ser divulgado em março, a revista mantém sua periodicidade bimestral. Fez parte do projeto editorial da publicação, na Internet, a Agulha Hispânica, com textos de poetas e escritores de países da América Latina, resultando em 12 números publicados entre 2010 e 2011. Conta ainda com o Projeto Editorial Banda Lusófona e parceria com o Jornal de Poesia, este dirigido por Soares Feitosa. A equipe conta também com a colaboração de vários tradutores, com matérias circulando em inglês e francês, além de português e espanhol.
Acerca dos planos para esta segunda fase, Márcio Simões afirma: “Dar continuidade ao que já vinha sendo feito, uma revista de cultura que busca abordar temas e autores despercebidos pelo universo viciado dos meios de comunicação, da forma mais plural e independente possível, além de se constituir num banco de dados sobre uma série de temas, como literatura hispano-americana, artes plásticas, surrealismo, literatura brasileira etc”.
Segundo Simões, a nova fase da revista conta ainda com o Centro de Estudos Brasileiros, com dossiês sobre música, artes plásticas e literatura brasileira, e com a colaboração de uma equipe de tradutores que tem permitido a circulação de matérias em até quatro línguas, verticalizando as propostas e o alcance da revista.

BEAT E CULTURA LOCAL

Márcio Simões desenvolve em Natal o trabalho de editor de livros com o selo Sol Negro Edições, que, no momento prepara a edição O Livro Invisível de William Burroughs, de Floriano Martins, em pequena tiragem. Caicoense, 32 anos, há vários anos morando na capital, Márcio Simões é Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pela UFRN, onde concluiu mestrado em Linguística Aplicada. É autor de O Pastoreio do Boi, livro de poesia reunindo 12 poemas criados a partir da parábola zen budista de título homônimo e tradição milenar. Foi publicado pela editora natalense “Flor do Sal”, do poeta e editor Adriano de Souza, em 2008, com ilustrações do artista visual Jota Medeiros.
Em 2011 Márcio Simões participou da antologia poética Sol Negro, reunindo mais outros três poetas de Natal: Haroldo de Brito (Sopa d’Osso), Rodrigo Barbosa e Márcio Magnus. A antologia foi publicada pela Sol Negro Edições, com tiragem inicial de 40 exemplares e disponibilizada na Internet no blog Fúrias de Orfeu (http://furiasdeorfeu.blogspot.com). A “Sol Negro” já editou os livros Flâmulas, hidras e coquetéis (poesia), de Barbosa da Silva, e Mar, silêncio e poesia: leituras de Walflan de Queiroz, de autoria de João Antônio Bezerra Neto e Márcio Simões. São dois ensaios com análise literária de dois poemas do poeta potiguar Walflan de Queiroz.

Dentre os próximos lançamentos da “Sol Negro” estão os livros Ypý-opá, de Haroldo Brito (Sopa d’Osso); Aorigem Diágora, de Jota Medeiros; e Mattinata, do escritor pernambucano Fernando Monteiro, em co-edição com a catarinense Edições Nephelibata. Indagado sobre quais autores da literatura criada no RN podem ser considerados surrealistas, Márcio Simões comenta: “não dá pra falar exatamente em autores surrealistas no RN, mas podem-se ver traços e aproximações com surrealismo em autores como Walflan de Queiroz e Antônio Pinto de Medeiros, por exemplo, pelo uso de certas imagens insólitas, trechos de escrita não referencial, aproveitamento de material inconsciente. Ambos também foram leitores de Murilo Mendes, Jorge de Lima e dos surrealistas franceses, que liam no original”.

ENTRE O SURREALISMO NORTE-AMERICANO E A LITERATURA BEAT

Em entrevista ao jornalista Jóis Alberto, Floriano Martins fala de seus trabalhos sobre literatura surrealista e beat e comenta como estreitou os laços com a poesia norte-riograndense:

JA | Como surgiu o convite para o poeta norte-riograndense Márcio Simões ser editor-assistente da ARC na internet?

FM | A Agulha Revista de Cultura concluiu sua primeira fase porque achei que deveria me dedicar mais intensamente à difusão da cultura de língua espanhola, ainda hoje uma inexplicável carência em nosso país. Por dois anos a revista se chamou Agulha Hispânica, até que desenvolvemos um novo design para o Projeto Editorial Banda Hispânica, sendo então estrategicamente possível avançar no que havíamos conquistado com a Agulha Revista de Cultura. Acerca de
todas essas mudanças eu conversava com Márcio Simões, que me pareceu parceiro ideal para renovar estrutura da revista, convidar novos colaboradores, montar uma boa equipe de tradução etc. Márcio tem um campo de visão muito generoso, limpo de preconceitos, é consciente do embate com seus limites, e possui imenso senso de humor.

JA | Como você analisa as relações, em termos de poética, entre a literatura beat norte-americana e a literatura surrealista?

FM | O poeta argentino Francisco Madariaga nos dá um bom mote ao dizer que no continente americano o Surrealismo não era ruptura, mas sim boda. Os anos 1930 e 1940 concentram atividades substanciais que importam à configuração de um Surrealismo que não se resume, em nosso continente, a simples amém à ortodoxia francesa. Os manifestos de Breton, afinal, são demasiado ricos para reagir a eles simplesmente sendo contra ou a favor. Há ambientes fundamentais em nosso continente, de que são exemplos a defesa da negritude no Caribe francês, os embates com as políticas locais e seus governos violentos em muitos países, os ciclos de viagens (americanos que foram à Europa e vice-versa), leituras singulares ou complementares do abstracionismo, do teatro do absurdo, do jazz etc., tudo isto foi temperando o tema. A beat tem em si já um componente da contracultura, que de certa forma enlaça os dois continentes, por conta do maio de 68, e acaba produzindo mais entusiastas de uma guerrilha cultural do que propriamente grandes poetas. De qualquer forma, não estamos mais falando de escolas literárias, as poéticas são distintas entre si, e mais substanciosas quanto mais se distanciam de fórmulas ou vícios de linguagem.

JA | Você tem recebido frequentemente convites para fazer palestras sobre poesia surrealista, no Brasil e países da América Latina. Vem com frequência a Natal? E como está o seu trabalho atual acerca do surrealismo no continente americano?

FM | A família de meu pai é do Rio Grande do Norte. Visitei Natal com frequência em minha adolescência, nas férias de escola, encontros de família. Nos anos 80 publiquei com alguma regularidade matérias no jornal O Galo. Agora mesmo estou tentando publicar no México a poesia completa do Walflan de Queiroz, organizada e prefaciada pelo Márcio Simões. Com relação ao Surrealismo, estou nos últimos detalhes de um livro que aborda desde antecedentes até os dias atuais, distinguindo ambiente ortodoxo e singularidades valiosas, investigando, comentando, entrevistando, um mapa do Surrealismo em todo o continente americano, incluindo uma rara e extensa iconografia, um volume com aproximadamente 900 pgs que pretendo publicar na segunda metade deste 2012. Paralelo a ele trabalho em outro extenso volume dedicado ao Surrealismo na Península Ibérica.


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Agulha Revista de Cultura
Número 111 | Abril de 2018
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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