Merecemos. Refiro-me ao Prêmio Antônio Bento, concedido a Agulha
Revista de Cultura por sua atuação e divulgação das artes no ano de 2007,
pela Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA.
Normalmente, editoriais de Agulha Revista de Cultura vêm sem assinatura.
Independentemente de quem o redigiu, autoria é de seus editores. Expressam a opinião
de ambos. Desta vez, fiz questão de assiná-lo, para o devido registro de que a idealização,
concepção e projeto de Agulha Revista de Cultura são de Floriano
Martins, bem como seu acabamento, a realização propriamente eletrônica, e a maior
parte do restante do trabalho editorial – contato com colaboradores, recebimento
e seleção de matérias, etc. E, também, para registrar que jamais, desde a criação
desta revista eletrônica, deixou de haver concordância plena entre mim e Floriano
com relação à orientação geral ou qualquer outro aspecto de sua edição e conteúdo.
Surrealistas não admitiam prêmios. Max Ernst foi excluído, em 1951, por haver
ganho o prêmio da Bienal de Veneza (mas Jean-Pierre Schuster revela, em Le quatrième
chant, que, no episódio, Breton foi voto vencido, assim corrigindo algo de sua
reputação de autoritário e intransigente). Quanto a nós, este prêmio, aceitamo-lo
com prazer. Por várias razões. Em primeiro lugar, por tratar-se, a ABCA, de entidade
séria, com um corpo de jurados isento (alguns, sequer os conhecemos pessoalmente);
enfim, por ninguém, aqui, haver alguma vez na vida cabalado prêmios ou enveredado
por qualquer um desses tortuosos meandros da política literária.
E por um detalhe especialmente importante: o prêmio da ABCA é para revista,
veículo de comunicação, em geral, e não especificamente para publicação eletrônica,
do meio digital. Enseja, portanto, uma reflexão sobre jornalismo cultural, mídia
impressa inclusive. Que alguns dos parâmetros de Agulha Revista de Cultura
se projetem, que venham a ser adotados por outros veículos: não recuar diante da
complexidade ou densidade; preferir o que está fora das pautas do mundanismo cultural,
incluindo os temas “malditos”, a começar pelo sistemático e detalhado exame do surrealismo;
empreender o diálogo com as literaturas e toda a produção cultural da América Latina
e do mundo hispânico; e, ao mesmo tempo, entender-se como expressão da lusofonia,
da criação em língua portuguesa.
Se o presente texto vem na primeira pessoa, são nossos, meu e de Floriano,
o reconhecimento pela colaboração de outros meios eletrônicos, devidamente registrados
em links de Agulha Revista de Cultura. Especialmente,
inclusive por nos ampliarem o alcance e circulação, o pioneiro Jornal de Poesia
de Soares Feitosa, e o TriploV de Maria Estela Guedes. E o registro, como
fato animador, de que o crescimento do prestígio de Agulha Revista de Cultura
é sincrônico com aquele de bons veículos eletrônicos, a exemplo, entre outros cujos
acessos também figuram em nosso portal, de Cronópios.
O principal agradecimento, claro, é aos colaboradores. Sem essa quantidade
de bons ensaístas e articulistas, de importantes artistas visuais, que se dispuseram
a colaborar, que enviaram matérias e sugestões, não haveria revista.
Caberia o chavão de que o maior prêmio – nosso e de nossos colaboradores
– são os leitores? Sim. O prêmio da ABCA completa o que se realizava através da
quantidade de acessos a Agulha Revista de Cultura. Um indicador:
sermos achados e consultados através do Google e outros dispositivos de busca,
cujos critérios e algoritmos, por sua vez, levam em conta a quantidade de acessos.
Daí figurarmos no topo dessas extensas listas, em uma quantidade de tópicos, nomes
de autores e outros temas. Por isso vêm a nós tantos pesquisadores, e demais interessados.
Ano que vem, Agulha Revista de Cultura completará
dez anos. Para nós, seus editores, é o começo, etapa de uma estimulante aventura
intelectual.
Agulha Revista de Cultura cumpre com esta edição um ciclo de 10 anos. Até aqui, foram 70 números.
Significa dizer, considerando que em momentos fomos uma publicação mensal e em outros
bimestral, uma média de 7 edições por ano. Também alternamos a quantidade de matérias
publicadas ao longo de toda uma década, ora com 12, 15 ou mesmo 20 textos por edição
– como neste último número –, o que nos leva à marca aproximada de 1.800 ensaios
e entrevistas em 70 edições. Algo em torno de 80% desse material foi dedicado a
temas latino-americanos, à criação artística e à cultura na América Latina. Não
recuamos diante da complexidade ou densidade; preferimos o que está fora das pautas
do mundanismo cultural, incluindo temas “malditos”, a começar pelo sistemático e
detalhado exame do surrealismo; empreendemos o diálogo com a produção cultural da
América Latina e do mundo hispânico e, ao mesmo tempo, nos entendemos como expressão
da lusofonia, da criação em língua portuguesa. Por isso, Agulha Revista de Cultura
circulou em português e espanhol, sendo talvez o único veículo assim constituído
em toda a mídia eletrônica.
Cada número foi aberto por um editorial, acompanhando e comentado acontecimentos,
da esfera artística e literária, e também política, além de contribuir para o debate
sobre o alcance e consequências da Internet, acompanhando de perto a expansão do
meio digital e do mundo virtual. Relendo o que foi escrito sobre o tema, percebe-se,
pensamos, o equilíbrio: nem catastrofismo, nem messianismo salvacionista; quanto
às críticas mais recentes à difusão de informações pela Internet, a própria recepção
de Agulha Revista de Cultura é
uma resposta aos profetas de mau agouro, aos que veem a diversidade de utilizações
da rede como acarretando a vulgarização e o rebaixamento de nível cultural – cabe
até repetir a crítica, já feita aqui, a essa transferência de responsabilidades,
das consequências de carências das políticas públicas educacionais e culturais e
das mídias institucionalizadas para o mundo virtual, aquele das páginas, sítios,
blogs e dispositivos de busca ou relacionamento.
Enfim, todos os números de Agulha Revista de Cultura, desde os
iniciais até os mais recentes, continuam e continuarão atuais. Prova-o seu crescimento
como fonte de pesquisas e consultas, a descoberta por leitores que, estabelecendo
contato, passaram a integrar a lista dos seus destinatários. Com o aprimoramento
dos dispositivos de consulta na Internet, quem pesquisar sobre uma série de autores
e temas, encontra matérias de Agulha Revista de Cultura entre as primeiras opções nas extensas
séries de páginas disponibilizadas por esses serviços. Assim, restrita ao meio digital,
ao mesmo tempo ultrapassou esse meio.
Some-se a essas realizações o fato de que um dos editores da Agulha
Revista de Cultura criou e segue coordenando, para o Jornal de Poesia,
a Banda Hispânica, banco de dados destinado à difusão de poesia de língua
espanhola, abrangendo – até o momento – um total de 20 países e 550 poetas, o que
significa cerca de 1.600 entrevistas e textos críticos dedicados à obra desses autores.
Assim Agulha Revista de Cultura realizou,
em seus 10 anos de aventura editorial, o projeto que motivou sua existência: transformar-se
em uma mesa de debate dos principais temas que envolvem a cultura e as artes em
nosso tempo. Quando surgimos, não havia esse espaço na imprensa do Brasil. Virtual
ou impressa, esta permanece quase de todo naufragada nas águas do entretenimento,
sem oferecer ao público um espaço de reflexão, conhecimento, multiplicidade, e não
apenas a informação de caráter comercial. Em geral, a imprensa trata seu público
como mero cliente: é uma lástima que a área do chamado jornalismo cultural tenha
adotado essa fórmula.
Ao longo dessa década e destes 70 números publicados, abordando os mais diversos
temas, Agulha Revista de Cultura foi uma verdadeira prática de política
cultural em um país mais afeito ao fuxico cultural. Ultrapassou a simples publicação
de seus números: seus editores foram convidados para eventos literários em diversos
países; definiu contratos editoriais, seja na área de poesia, ensaio ou tradução;
formou parcerias com grupos editoriais também em âmbito internacional; ampliou o
espaço de difusão de inúmeras revistas, inclusive com um intercâmbio de edições
especiais dedicadas a alguns países
A trajetória de vida de Agulha Revista de Cultura é marcada
por esse sentido singular de conquista e desbravamento. Não cortejamos o túmulo
da glória. Arriscamo-nos sempre a difundir nomes de pouca circulação ou esquecidos,
desde que não faltasse consistência a seu trabalho. Criamos uma Galeria de Revistas,
espaço único na imprensa, tanto virtual quanto impressa, para a difusão e apresentação
crítica de publicações similares. A cada edição apresentamos uma média de 50 obras
do que chamamos de "artista convidado", buscando nomes, entre consagrados
e até mesmo estreantes, em quase 20 países. Foram aprazíveis, valiosas e efetivas
as relações alcançadas com colaboradores, leitores, instituições em todo este período.
Evidentemente, o Brasil também participou dessa conjuntura, sobretudo no plano afetivo,
apesar de nossa imprensa, em geral, ter-lhe dado mínima atenção, talvez apenas para
confirmar o velho e perverso adágio popular de que santo de casa não obra milagre.
Concluir este ciclo editorial nos parece agora uma manifestação de compreensão
do papel até aqui representado, e da consciência de que outros meios de prossegui-lo
se apresentam como urgências que precisam ser atendidas. Agulha Revista de Cultura
permanecerá, casa aberta aos visitantes do ciberespaço. O link será mantido,
com a totalidade do seu acervo de matérias. Seus editores agradecem imensamente
a contribuição de todos, pelo carinho da leitura, sugestões, envio de textos e consultas.
Em particular, nosso agradecimento maior vai para Francisco José Soares Feitosa,
que fundou e dirige o Jornal de Poesia, pioneiro em termos de utilização
da Internet como veículo de circulação de poesia em todo o mundo, Feitosa que sempre
nos apoiou de forma incondicional, ancorando a Agulha Revista de Cultura
com toda sua amizade. Esse capítulo foi construído graças a um sentido inestimável
de fraternidade. O que nos enche de felicidade o coração.
*****
Organização
a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista
convidado | Valdir Rocha
Imagens ©
Acervo Resto do Mundo
Esta
edição integra o projeto
de séries especiais da Agulha
Revista de Cultura, assim estruturado:
S1 |
PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
S2 |
VIAGENS DO SURREALISMO
S3 | O RIO
DA MEMÓRIA
A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase a
coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido
hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio 2010-2011 restringiu seu
ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de Agulha Hispânica, sob a
coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto
original, desta vez sob a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio
Simões.
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