sexta-feira, 5 de novembro de 2021

RONALDO MIRANDA | De José Maurício a Almeida Prado, uma visão retrospectiva da música erudita brasileira



O Brasil é um país essencialmente musical. No entanto, enquanto o mundo celebra com toda a razão nossa excelente produção na música popular, os compositores eruditos brasileiros são ainda pouco conhecidos e pouco executados, com exceção feita à figura de Heitor Villa-Lobos, indubitavelmente uma unanimidade internacional.

O Brasil da música de concerto, em termos de criação, é pouco ou mal representado nos grandes festivais de música contemporânea, no repertório das grandes orquestras, nos grandes teatros de ópera, nas temporadas musicais das principais salas. Mas nosso país, nessa esfera, ostenta uma produção de qualidade indiscutível, podendo ombrear-se com o que de melhor se produziu em música por nossos vizinhos continentais, fazendo face também a uma parte expressiva da produção europeia, que representa o melhor da música ocidental.

A primeira grande figura da criação musical brasileira foi José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). O padre carioca, que galgou o status de mestre-capela e foi prestigiado por D. João VI, quando este chegou ao Brasil em 1808, compôs um conjunto respeitável de peças sacras, no qual se destacam grandes Missas e um célebre Réquiem, de força dramática invulgar. Sua linguagem é a do Rococó musical, isto é, a música que se produziu no início do Classicismo. De sua produção sinfônica, fora do âmbito litúrgico, destacam-se a Abertura em Ré e a Abertura Zemira, onde identificamos o estilo galante e eventuais semelhanças com obras de Haydn, Mozart e até mesmo Rossini, que historicamente se situa em período concomitante e posterior.

Seis anos após a morte de José Maurício, nasce em Belém do Pará Antônio Carlos Gomes (1836-1896), o maior compositor das Américas no século 19. Figura ímpar de operista, Carlos Gomes é natural de Campinas, onde fêz estudos de piano e produziu suas primeiras composições. Adolescente, foi para São Paulo, onde se apresentou com o irmão (violinista) em recitais estudantis. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1859, matriculando-se no Conservatório Imperial de Música, onde foi aluno de Francisco Manuel da Silva, o autor do Hino Nacional Brasileiro. Carlos Gomes compôs em 1960 a modinha Quem Sabe, uma de suas raras obras com texto em português. No Rio, ele estreou sua primeira ópera – A noite no Castelo – com texto de Antônio Feliciano de Castilho, escrevendo em seguida Joana de Flandres, com libreto de Salvador de Mendonça. Este trabalho lhe valeu uma bolsa de estudos na Europa, concedida por D. Pedro II. Gomes foi estudar em Milão, onde se tornou aluno de Lauro Rossi no Conservatório local e mais tarde se formou em Composição e Regência. Entre 1865 e 1868, ele escreveu sua ópera mais famosa, Il Guarany, com libreto em italiano de Antonio Scalvini baseado no romance de José de Alencar. A ópera estreou em 1870, no Scala de Milão, e correu mundo, tornando o seu autor uma celebridade. No mesmo ano, Il Guarany foi encenado no Teatro Lírico do Rio de Janeiro com a presença do compositor. Gomes retornou a Milão e casou-se com Adelina Peri, compondo em seguida a ópera Fosca que também estreou no La Scala, sendo mal recebida por crítica e público. Hoje, muitos consideram Fosca sua obra-prima. Seguem-se as óperas Salvator Rosa (estreada em Gênova, em 1874) e Maria Tudor (Scala de Milão, 1879). Voltando ao Brasil e dividindo seu tempo entre o seu país e a Europa, Gomes estreou no Teatro Lírico do Rio a ópera Lo Schiavo, em 1889, dedicando-a à Princesa Isabel. No ano seguinte, ele voltou ao La Scala para mais uma estréia: a ópera Condor, com libreto de Mario Canti. Em 1892, para celebrar o quarto centenário do Descobrimento da América, Gomes apresenta no Teatro Lírico do Rio de Janeiro o oratório Colombo, sua última obra. Convidado a dirigir o Conservatório que leva o seu nome, em Belém, ele morre aos 60 anos na capital paraense.

No Brasil e no mundo, suas óperas voltaram à cena incontáveis vezes, embora atualmente em menor frequência internacional. Editadas pela Ricordi de Milão, suas partituras percorreram os mais prestigiosos teatros líricos. Na metade do século 20, partituras e partes de orquestras, todas manuscritas, já estavam em frangalhos. Felizmente, a partir da década de 1980, já estando o compositor em domínio público, órgãos oficiais da Cultura, no governo brasileiro, patrocinaram edições computadorizadas de seus principais trabalhos.

Das encenações contemporâneas das principais óperas de Carlos Gomes, vale o registro da montagem de Il Guarany, em 1996, na Ópera de Washington, dirigida por Werner Herzog e regida por John Neschling, tendo Plácido Domingo no papel principal.

Em plena metade do século 19, nasce em Niterói o compositor Leopoldo Miguez (1850-1902), filho de espanhol e brasileira. Miguez foi para a Espanha aos dois anos de idade e, aos sete, transferiu-se para o Porto, onde se educou e adquiriu seus primeiros conhecimentos musicais, no violino e na composição. Regressando ao Brasil aos 21 anos, trabalhou como comerciante, casou-se e, finalmente, em 1878, pôde abrir as portas para a música, associando-se a Arthur Napoleão. Ambos fundaram a Casa Arthur Napoleão & Miguez (pianos, instrumentos, partituras) que, em pouco tempo, se tornou o mais importante estabelecimento do gênero no Rio de Janeiro do século 19. Em 1882, aos 32 anos, Miguez passou a se dedicar exclusivamente à música e à composição: viajou para a Europa, levando uma carta de recomendação do Imperador Pedro II para Ambroise Thomas, no Conservatório de Paris, mas passou a residir em Bruxelas. Dois anos depois, regressou ao Rio de Janeiro, onde se tornou um ardoroso defensor da linguagem wagneriana, característica que observamos na parte central do seu belíssimo Noturno para piano. Outro expoente da sua produção camerística é a extensa Sonata para violino e piano, que – paradoxalmente – nos remete à célebre Sonata de César Franck para a mesma formação instrumental. O paradoxo reside no fato de Miguez defender os ideais estéticos de Wagner, Liszt e Berlioz, em relação à música dramática e programática, em contraposição ao formalismo neoclássico de Brahms e César Franck. E é justamente a postura neoclássica, através da estrutura da forma sonata, ampliada e engrandecida pelos compositores românticos, o ponto forte dessa obra-prima escrita por ele para violino e piano. Miguez integrou a comissão que transformou o antigo Conservatório Imperial no Instituto Nacional de Música – atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro – tendo sido o seu primeiro diretor. Foi o autor do Hino à República, com texto de Medeiros e Albuquerque, sem dúvida um dos mais belos exemplares do gênero.


Carioca de origem suíça, Henrique Oswald (1852-1931) foi contemporâneo de Leopoldo Miguez, mas teve uma vida muito mais longeva. Oswald foi educado em São Paulo (para onde foi com apenas um ano de idade) e, aos 16 anos, mudou-se para Florença, onde se tornou aluno de piano de Giuseppe Buonamici, estudando ainda Composição com Grazzini e Maglioni. Aos 19 anos, recebeu do Imperador Pedro II uma bolsa do governo brasileiro, que se estendeu por 15 anos. Conheceu Brahms e Liszt, tornando-se professor do Instituto Musical de Florença. Fez algumas viagens ao Brasil e, em 1900, foi nomeado vice-cônsul do Brasil no Havre. Dois anos depois, sua obra Il Neige!, para piano solo, venceu um Concurso Internacional de Composição promovido pelo jornal Le Figaro, com um júri formado por Saint-Saens, Fauré e Diémer. No ano seguinte, regressou ao Brasil para assumir a direção do Instituto Nacional de Música, permanecendo porém apenas três anos no cargo. Demitiu-se em 1906, para se dedicar totalmente ao ensino do piano. Foram seus alunos grandes compositores brasileiros que se dedicaram à escrita para o teclado, como Frutuoso Viana, Luciano Gallet e Lorenzo Fernandez. A produção composicional de Oswald é extensa e refinada, sobressaindo-se no âmbito do piano e da música de câmera.

Nascido em Fortaleza, Alberto Nepomuceno (1864-1920) é outro grande compositor brasileiro desse período. Educou-se no Recife e já tinha completado 20 anos de idade quando se fixou no Rio de Janeiro. Em 1897, Nepomuceno divulga suas primeiras composições e consegue – com o apoio de famílias ilustres – viajar para a Europa, fixando-se inicialmente em Roma, onde estuda piano e harmonia na Academia Santa Cecília. Em 1890, já em tempos republicanos, obtém do governo brasileiro um bolsa de estudos que lhe permitiu prolongar sua estada europeia, passando a estudar Composição em Berlin, com Heinrich von Herzogenberg, amigo de Brahms. Numa visita a Viena, Nepomuceno conhece a pianista Walborg Bang, ex-aluna de Grieg, com quem ele se casa e viaja para a Noruega em 1893. Depois de uma profícua passagem por Paris, onde assiste à estréia mundial do L’après midi d’um faune, de Debussy, Nepomuceno regressa ao Brasil em 1895, iniciando uma veemente campanha pela adoção do canto em português, na música de concerto, quando todos os compositores preferiam utilizar o italiano e o francês em sua produção vocal. Em 1897, Nepomuceno apresenta em primeira audição no Rio suas principais obras orquestrais: a Série Brasileira (Alvorada na serra, Intermédio, A sesta na rede e Batuque), a Suite Antiga (para cordas) – anteriormente executada pela Filarmônica de Berlin – e a schumanniana Sinfonia em Sol Menor, uma das obras-primas do romantismo brasileiro. Por duas vezes, Nepomuceno foi diretor do Instituto Nacional de Música, modernizando a estrutura curricular e a bibliografia adotada por esta instituição. Um mês antes de sua morte, em 1920, Richard Strauss rege no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o prelúdio de O Garatuja, sua ópera inacabada, prestigiando esse compositor cearense que ganhou o mundo e construiu os pilares do nacionalismo musical em nosso país.

Figura importante na criação musical brasileira na virada do século 19 para o século 20, o carioca Francisco Braga (1868-1945) galgou o mundo, apesar de sua infância extremamente humilde. Estudou no Asilo de Meninos Desvalidos do Rio de Janeiro, e no Conservatório Imperial de Música recebeu de Carlos Mesquita os primeiros ensinamentos de harmonia e contraponto, formando-se também em clarineta com Antônio Luís de Moura. Em fevereiro de 1890, Braga, pouco antes de completar 22 anos, foi estudar Composição em Paris com bolsa do governo brasileiro. Entre 25 candidatos, passou em primeiro lugar no difícil exame de habilitação ao Conservatoire, passando a estudar por quatro anos com Jules Massenet. Compôs cerca de 30 obras durante seu curso de Composição. Viajou em seguida para Viena e Dresden, visitando Bayreuth em 1896, para assistir à Tetralogia, de Richard Wagner. Entre 1898 e 1899, Braga compôs sua ópera Jupira, tentando encená-la em vão num grande teatro de ópera europeu. A estreia acabou acontecendo em 1900, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.

De volta ao Rio, Braga tornou-se professor de Harmonia, Contraponto, Fuga e Composição no Instituto Nacional de Música, enriquecendo o corpo docente da instituição e transmitindo a seus alunos os ensinamentos que recebeu de Massenet no Conservatório de Paris. Em 1906, ele compôs o Hino à Bandeira, com texto de Olavo Bilac, que – tal como o Hino à República de Leopoldo Miguez – possui qualidade musical indiscutível. Seus três poemas sinfônicos – Cauchemar (1895), Marabá (1898) e Insônia (1908) integram o repertório das grandes orquestras, tendo sido o último deles programado no concerto inaugural do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 14 de julho de 1909. É, porém, seu Episódio Sinfônico (1898), na minha opinião, sua mais bela página orquestral, com forte influência wagneriana nos grupetos que lembram as progressões de Liebestod, em Tristão e Isolda. Apesar de citar o folclore brasileiro no seu Divertimento para piano solo (Sambam as abelhas nos manacás, nas jasmineiras e nos cambucás), Francisco Braga não foi uma figura central no processo de consolidação do nacionalismo brasileiro em música.

Entre os precursores do nacionalismo em nosso país, que viria a se afirmar mais tarde na figura telúrica de Heitor Villa-Lobos, são apontados vários compositores que eventualmente escreveram breves esboços de influência nacional. Entre eles está o paranaense Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913), autor de A Sertaneja, peça pianística que cita um tema folclórico brasileiro entre arroubos virtuosísticos dignos de um Franz Liszt que, aliás, ao que se conta tradicionalmente, foi um dos intérpretes da obra. O paulista Alexandre Levy (1864-1892), que viveu apenas 28 anos, foi mais enfático, pois é o autor de pelo menos três obras que nos remetem ao nosso populário: Variações sobre um tema brasileiro (para orquestra), Tango brasileiro (para piano solo) e, sobretudo, a Suite Brasileira, peça sinfônica que abriga um elogiado Samba, entre seus quatro movimentos. Mas foi Alberto Nepomuceno, sem dúvida, o maior farol a iluminar a trilha para o nosso nacionalismo em música.

Expoente da música erudita brasileira de todas as épocas, o carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – além de afirmar o Nacionalismo – consolidou o Modernismo musical em nosso país. Estudou violoncelo e violão, quando jovem, e frequentou os grupos de chorões do Rio de Janeiro, identificando-se desde cedo com a cultura popular. Teve aulas de Harmonia com Frederico Nascimento no Instituto Nacional de Música, mas não conseguiu se adaptar ao currículo acadêmico da instituição. Villa participou da Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922, e pouco depois viajou para Paris, para onde voltou algumas vezes sob os auspícios da família Guinle. Motivado por seu temperamento impetuoso e sua paixão pela música, escreveu mais de mil peças, entre as quais seguramente podemos identificar uma centena de obras-primas. Sua coleção pianística A Prole do Bebê (em dois volumes) recebeu rapidamente reconhecimento internacional, graças a Arthur Rubinstein, que incluiu no seu repertório o volume 1, divulgando essa coletânea em recitais ao redor do mundo. Seus Estudos e Prelúdios para Violão se inscrevem entre o que de melhor se compôs para o instrumento na literatura do século 20, enquanto a série de Bachianas Brasileiras – mesclando as formas e o estilo de Bach com material sonoro brasileiro – revelaram nove obras primas, com diversas formações instrumentais. As mais conhecidas e gravadas foram as Bachianas número 1 (para conjunto de violoncelos) e número 5 (para soprano e conjunto de violoncelos, com textos de Dora Vasconcelos e Manuel Bandeira). As Bachianas número 4 – para orquestra – também são festejadas mundialmente: recentemente, no seu concerto de Ano Novo (2020-2021), a Filarmônica de Berlim, sob a regência de Kirill Petrenko, seu novo titular, ofereceu uma admirável execução dessa obra. A performance está gravada em vídeo no Youtube, no canal da Filarmônica, para quem quiser conhecer. Por outro lado, a série de Choros (também com as mais diversas formações instrumentais) é considerada por muitos como o ápice da produção villalobiana. Enquanto Villa revelou uma certa influência da música francesa em peças instrumentais (como as Sonatas para Violino e Piano ou o Quarteto Simbólico), ele expressou a exuberância do folclore brasileiro em seus amplos matizes, das canções do Guia Prático e das Cirandas, para piano, às peças corais de influência afro, como Xangô e Estrela é Lua Nova, chegando ainda à temática indígena em várias produções, como a peça coral Canide Iune e a exuberante cantata profana Mandú Çarará. Da sua extensa produção pianística, vale lembrar As Três Marias, Rudepoema, New York Skyline, Valsa da Dor, o Ciclo Brasileiro (que inclui Impressões Seresteiras, Festa no Sertão, Dança do Índio Branco e Plantio do Caboclo), entre muitas outras obras. O Quinteto em Forma de Choros – para flauta, oboé, clarineta, trompa e fagote – não tem paralelo nessa formação instrumental entre a produção da primeira metade do século 20 em continente americano. Além de 16 quartetos de cordas, Villa escreveu numerosas canções (voz e piano), algumas delas – como Melodia Sentimental e Cair da Tarde – retiradas da sua gigantesca Floresta do Amazonas, peça sinfônico-coral que ele compôs para a trilha sonora do filme Green Mansions. Em música dramática, sua principal criação foi a ópera Yerma, a partir da peça de Federico Garcia Lorca.

Na qualidade de educador, Villa-Lobos teve como seu principal assistente – no comando da educação musical no Estado do Rio de Janeiro – José Vieira Brandão (1911-2002), ele próprio um excelente compositor.

Contemporâneo de Heitor Villa-Lobos, Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948), carioca de origem espanhola, foi figura de destaque na consolidação do nacionalismo musical brasileiro. Ingressou em 1917 no Instituto Nacional de Música, onde estudou harmonia, contraponto, fuga e composição com Francisco Braga, Henrique Oswald e Frederico Nascimento, a quem substituiu como professor em 1923. Em 1936, fundou o Conservatório Brasileiro de Música, instituição levada adiante por sua filha Marina Lorenzo Fernandez e sua sobrinha Cecília Fernandez Conde.

É autor de uma extensa e importante obra para piano, na qual se incluem – entre outras peças – inspiradas Suites, Três Estudos em Forma de Sonatina e a vigorosa Sonata Breve. Compôs expressivas canções e numerosa música de câmera. No âmbito orquestral, sobressai-se a Suite Reisado do Pastoreio, que inclui o famoso Batuque, obra sinfônica que passou pelas mãos de Arturo Toscanini, Serge Koussevitzky e Leonard Bernstein.

Se dois cariocas – Villa-Lobos e Lorenzo Fernandez – pontificaram ao início do nacionalismo musical brasileiro, dois paulistas – Francisco Mignone e Camargo Guarnieri – brilharam na consolidação desse movimento.

Francisco Mignone (São Paulo, 1897 – Rio de Janeiro, 1986) era filho do flautista Alferio Mignone (italiano radicado em São Paulo), com quem fêz seus primeiros estudos musicais. Mignone estudou em seguida no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde se formou em piano, flauta e composição. Com bolsa de estudos do Governo do Estado de São Paulo, foi para Milão, em 1920, estudando com Vincenzo Ferroni. Lá escreveu sua primeira ópera, O Contratador de Diamantes, que incluía a famosa Congada, peça sinfônica exuberante que foi regida mais tarde no Rio de Janeiro por Richard Strauss com a Filarmônica de Viena.


De volta a São Paulo, Mignone participou de rodas de choro no Braz, Bixiga e Barra Funda, compondo peças populares sob o pseudônimo de Chico Bororó. Em 1929, Mignone conhece Mário de Andrade que se torna seu amigo e mentor musical. Esse foi um passo decisivo para a sua carreira de compositor autenticamente nacionalista. Do aconselhamento estético de Mário de Andrade, nascem várias obras lapidares de Mignone, como a peça sinfônica Festa nas Igrejas e a célebre coletânea de Valsas de Esquina, para piano solo.

Mignone casou-se com Liddy Chiafarelli. Enviuvando em 1962, casou-se em segundas núpcias com Maria Josephina, que – em gravações e ao vivo – veio a se tornar uma fiel intérprete da sua produção para o teclado. Em 1934, o compositor se muda para o Rio de Janeiro para assumir o posto de Professor de Regência do Instituto Nacional de Música. Sua produção autoral é contínua e abundante, incluindo todos os gêneros e formações instrumentais: piano, voz e piano, música de câmera, música sinfônica, ópera e balé. Os anos setenta foram pródigos para a criação de Mignone, que compõe as óperas O Chalaça (1973) e O Sargento de Milícias (1978), além do balé Quincas Berro d’Água (1979).

O outro pilar paulista do nacionalismo musical brasileiro é Mozart Camargo Guarnieri ((1907-1993), talvez o compositor brasileiro mais conhecido internacionalmente depois de Villa-Lobos. Guarnieri nasceu em Tietê e mudou-se para São Paulo aos 16 anos, passando a estudar piano com Ernani Braga e Antônio de Sá Pereira. Em seguida, estudou harmonia, contraponto, fuga e composição com Lamberto Baldi, regente italiano que se instalou na capital paulista e, mais tarde, se transferiu para Montevidéu. Em 1928, Guarnieri conhece Mário de Andrade. Tal como ocorreu em relação a Mignone, Mário se torna seu mentor musical e o nomeia regente do Coral Paulistano. Com libreto de Mário de Andrade, Guarnieri compõe a ópera Pedro Malazarte, em 1932, aos 25 anos de idade. Em 1938, ele segue para Paris, com bolsa de estudos do Governo do Estado de São Paulo, para estudar com Charles Koechclin, conhecendo personalidades do meio musical parisiense como a musicóloga Nadia Boulanger.

Em outubro de 1942, tendo desenvolvido uma sólida amizade com Aaron Copland e já tendo recebido uma efusiva performance de Leonard Bernstein com a New York Philharmonic para sua Dança Brasileira, Guarnieri inicia um período de seis meses de residência musical nos Estados Unidos. É quando ele compõe sua importante Abertura Concertante, peça sinfônica que foi regida por Serge Koussevitzky com a Boston Symphony Orchestra.

Além do apoio de Mário de Andrade, foram decisivos – para que Guarnieri se firmasse na cena musical brasileira e internacional – outros dois suportes: o de Luiz Heitor Correa de Azevedo (musicólogo brasileiro residente em Paris) e Curt Lange (musicólogo alemão radicado em Montevidéu). Já consolidado como compositor, Guarnieri lança em 1950 o manifesto “Carta aberta aos músicos e críticos do Brasil”, em que defende o nacionalismo e se mostra contrário às inovações e à universalização da linguagem musical contemporânea, a partir da técnica dodecafônica de Schoenberg, introduzida no Brasil por Hans Joachim Koellreutter. Foi um embate infeliz, que não reflete a importância que Guarnieri exerceu na música brasileira.

Além de excelente compositor, ele foi um competente professor de composição, citando-se entre seus alunos Osvaldo Lacerda, Sérgio Vasconcelos Correa, Kilza Setti, Lina Pires de Campos, Almeida Prado, Aylton Escobar, Marlos Nobre, Raul do Valle, Edmundo Villani-Cortes e Antonio Ribeiro.

Guarnieri foi um mestre da forma e abordou todos os gêneros musicais em sua produção generosa em quantidade e qualidade. As obras para piano são magníficas, sobressaindo-se os 50 Ponteios, as Danças Brasileiras (também orquestradas), a série de Sonatinas e a única (e vigorosa) Sonata, ultra contemporânea em sua textura livremente atonal. Sua música de câmera é primorosa e sua produção orquestral inclui Sinfonias e Concertos para Piano, entre muitas outras obras. Em 1960, ele escreveu Um Homem Só, sua segunda ópera, com libreto do teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri.

Nascido em Petrópolis, César Guerra Peixe (1914-1993) é figura marcante do nacionalismo brasileiro. Violinista de formação, estudou com Paulina d’Ambrosio no Instituto Nacional de Música, recebendo orientação em Harmonia de Arnaud Gouvea. Em 1943, ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, onde foi o primeiro aluno a se diplomar no Curso de Composição. Em 1944, passou a trabalhar sob a orientação de Hans Joachim Koellreutter, integrando o grupo Música Viva, ao lado de Claudio Santoro, Edino Krieger e Eunice Catunda. Durante os cinco anos em que utilizou a técnica dodecafônica, Guerra compôs um número expressivo de obras instrumentais, entre as quais se destaca o seu Noneto, regido por Hermann Scherchen em várias cidades europeias. Entre 1948 e 1950, ele trabalha como arranjador numa emissora radiofônica do Recife, onde pesquisa o folclore da região nordeste, coletando frevos, côcos, xangôs e maracatus. Mais tarde, no Rio de Janeiro, torna-se professor de Composição dos Seminários de Música Pro-Arte e do Museu da Imagem e do Som, atuando também como violinista da Orquestra Sinfônica Nacional. Entre seus alunos, estão Ernani Aguiar, Guilherme Bauer, Nestor de Holanda Cavalcanti, Antonio Guerreiro e Carlos Cruz. O catálogo de obras de Cesar Guerra Peixe é primoroso, com numerosa produção para piano (onde se inclui a série de Prelúdios Tropicais), voz e piano (com destaque para os Cânticos Serranos e a famosa Passárgada, sobre texto de Manuel Bandeira) e música de câmera (das incontáveis produções, ressalto o Duo para Clarineta e Fagote). No campo orquestral, um destaque especialíssimo para o Concertino para Violino (obra prima que nos remete a Bela Bartók), Assimilações, Museu da Inconfidência e Tributo a Portinari.


Outro sólido pilar do Brasil musical no século 20 foi Claudio Santoro (1919-1989). O compositor amazonense se dividiu entre Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Alemanha e Brasília, onde terminou os seus dias regendo a Orquestra do Teatro Nacional, por ele fundada em 1979. Santoro participou do Grupo Música Viva, estudando sob a orientação de Koellreutter, na década de 1940. Em 1948, recebeu o Prêmio da Fundação Lili Boulanger, em Boston, com Stravinsky e Aaron Copland no júri. Por suas convicções políticas, não pôde entrar nos Estados Unidos. Viajou então para Paris, onde estudou com Nadia Boulanger, participando em seguida do Congresso de Compositores Progressistas em Praga, uma demonstração de apoio ao realismo socialista em relação à Música.

A convite de Darcy Ribeiro, foi fundador do Departamento de Música da Universidade de Brasília, onde se tornou Professor de Composição. Por força das circunstâncias, no regime militar, deixou o Brasil para residir na Alemanha, em Heidelberg, Detmold e Mannheim, atuando principalmente como professor de Regência. E foi justamente a regência sua última atividade ao retornar ao Brasil, dirigindo a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília.

A produção de Santoro é extensa e intensa, na música de câmera e na música orquestral, onde se destacam as Interações Assintóticas, Bodas sem Fígaro, Ponteio, Impressões de uma Usina de Aço e a Fantasia para Violino e Orquestra, entre magníficas sinfonias e instigantes Concertos para Piano. Com o poeta Vinicius de Moraes, compôs em Paris dois cadernos de Canções de Amor, que se inscrevem entre as mais belas páginas da literatura brasileira para voz e teclado. Para piano solo, compôs sonatas, paulistanas, prelúdios e a belíssima Toccata, uma das páginas definitivas da música brasileira para teclado no século 20. A linguagem musical de Santoro, embora inclua o nacionalismo, não se fixa nessa característica, percorrendo também a música serial, aleatória, livremente atonal e eletroacústica. A fase final foi por ele mesmo batizada de “universal”, pela amplitude de sua abrangência poética.

O mais jovem integrante do Grupo Música Viva de Koellreutter foi o catarinense Edino Krieger. Nascido em Brusque, em 1928, Edino – hoje aos 93 anos – é o decano dos compositores brasileiros, tendo desenvolvido uma brilhante carreira como compositor, crítico e administrador musical. Começando seus estudos musicais como violinista, ele se iniciou no instrumento sob a orientação de seu pai, Aldo Krieger. Aos 15 anos veio para o Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Continuou a estudar violino no Conservatório Brasileiro de Música, sob a orientação de Edith Reis, mas logo a Composição se firmou como a sua maior vocação. Orientando-se com Koellreutter e participando do Grupo Música Viva, ao lado de Santoro, Guerra Peixe e Eunice Katunda, ele adquiriu um bom domínio no ofício de compor, obtendo em 1948, aos 20 anos de idade, uma bolsa para estudar com Aaron Copland no Festival de Tanglewood. Seguiram-se aulas regulares por um período mais amplo na Juilliard School of Music, em Nova Iorque, onde Edino foi orientado por Peter Mennin. De volta ao Brasil, passou a trabalhar na Rádio MEC (onde mais tarde se tornou Diretor Musical) e a atuar como crítico de música na Tribuna da Imprensa. Mais tarde, criou o programa Primeira Classe, na Rádio Jornal do Brasil FM, e atuou como crítico de música do Jornal do Brasil. Foi, no entanto, como Diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte, na década de 1980, que ele deixou seu maior legado como administrador musical, criando o Projeto Pro-Memus (Memória Musical Brasileira), que produziu um substancial acervo de edições e gravações de nossa criação musical erudita.

A produção de Edino Krieger como compositor prima pela qualidade. Sua encantadora Sonatina para piano (1950) lembra a linguagem neoclássica de Copland e Peter Mennin, acrescida de um sabor modal bem brasileiro, tal como ocorre na Sonata para Piano a quatro mãos. Anteriormente, escreveu Miniaturas, também para o teclado, em linguagem serial, e posteriormente, já nos anos 2000, produziu outra grande obra pianística – os Estudos Intervalares. Sua Ritmata, para violão solo, correu mundo em gravações e performances ao vivo, enquanto sua produção de câmera registra um belo quarteto de cordas e um maravilhoso duo de violino e piano – Sonâncias. Sua produção sinfônica é numerosa e liderada, a meu ver, pelo Canticum Naturale que, em dois movimentos – Diálogo dos Pássaros e Monólogo das Águas -retrata os sons e a atmosfera da Amazônia. Mas há que citar o Ludus Symphonicus, estreado por Stanislaw Skrowacewski com a Orquestra de Filadélfia em 1965 no Festival de Caracas, a Toccata para Piano e Orquestra (1967), o Concerto para dois violões e orquestra de cordas (estreado em 1996 pelo Duo Assad) e as Três Imagens de Nova Friburgo (cordas e piano obligato), entre muitas outras obras.

Nascido na cidade paraibana de Conceição, José Siqueira (1907-1985) transferiu-se para o Rio de Janeiro aos 20 anos de idade. Estudou com Francisco Braga no Instituto Nacional de Música, onde se formou em Composição e Regência. Teve intensa atividade como compositor, regente, professor e administrador musical. Foi o fundador da Orquestra Sinfônica Brasileira (1940), da Ordem dos Músicos do Brasil, da Orquestra Sinfônica Nacional e da Orquestra de Câmara do Brasil. Siqueira tornou-se professor do Instituto Nacional de Música, hoje Escola de Música da UFRJ, onde formou diversos compositores, entre os quais se incluem Ricardo Tacuchian e Jorge Antunes. Sua produção é ampla e diversificada, especialmente em música de câmera e música sinfônica, onde se destaca um vigoroso Concerto para Orquestra.

Consolidando a criação musical contemporânea no Brasil do século 20, Marlos Nobre nasceu em Recife em 1939. Pianista de formação, dedicou-se à composição, à regência e à administração musical, área em que se tornou figura polêmica. Em sua cidade natal, estudou harmonia, contraponto e composição com o Padre Jaime Diniz. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, foi orientado por Koellreutter entre 1956 e 1959, passando sem seguida a estudar com Camargo Guarnieri em São Paulo, entre 1960 e 1962. Marlos foi bolsista da Fundação Rockfeller no Instituto Torcuato di Tella em Buenos Aires, onde foi aluno de Alberto Ginastera, diretor musical dessa instituição que levava à capital argentina grandes nomes da cena musical contemporânea. Assim sendo, Marlos pôde ter contato (e receber aulas) de figuras como Messiaen, Copland, Malipiero e Dallapiccola. Em Tanglewood, participou do importante curso de férias da Boston Symphony no Berkshire Music Center, podendo se orientar com Gunther Schüller e Leonard Bernstein.

Marlos foi diretor musical da Rádio MEC e diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte. Foi ainda Presidente do Conselho Internacional de Música da UNESCO em Paris, entre 1985 e 1987. Como compositor, sua obra é extensa e reveladora de marcante personalidade. Entre as obras para piano solo (muitas delas gravadas por Roberto Szidon para a Deutsche Grammophon), podemos citar o primoroso Tema e Variações Op. 7, Homenagem a Rubinstein, Nazarethiana, Tocatina Ponteio e Final, e Tango, entre muitas outras. No setor da música de câmera, destacam-se Ukrinmakrinkrin para soprano e pequeno conjunto (gravada por Amelita Baltar), Sonâncias para dois pianos e percussão, e Rythmetron, para percussão, composta para o Balé do Harlem. Na área orquestral, vale destacar Convergências, In Memoriam e Concerto Breve, entre muitos outros títulos.


Marlos Nobre é detentor de vários prêmios nacionais e internacionais, sendo o último deles – e talvez o mais importante – o Prêmio Thomas Luis de Victoria, recebido em 2005 em Madri da Sociedade de Direitos de Autor da Espanha. Atualmente, ele é o regente da Orquestra Sinfônica de Recife.

Outro grande pilar da criação musical no Brasil do século 20 foi José Antonio de Almeida Prado (1943-2010). Nascido em Santos, educou-se em São Paulo, onde estudou piano com Dinorá de Carvalho, harmonia com Osvaldo Lacerda e composição com Camargo Guarnieri. Em 1969, Almeida Prado foi revelado para o Brasil e para o mundo ao conquistar o primeiro lugar no I Festival de Música da Guanabara com a obra Pequenos Funerais Cantantes, para coro e orquestra, sobre texto de Hilda Hilst. Partiu em seguida para Paris, onde residiu de 1970 a 1973, estudando com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen. De volta ao Brasil, em 1974, trabalhou um ano no Conservatório Musical de Cubatão, logo se transferindo para Campinas, como Professor de Composição do Instituto de Artes da UNICAMP, onde permaneceu 25 anos, até a sua aposentadoria no ano 2000. Morreu jovem, aos 67 anos, residindo em São Paulo, onde tinha por opção pouquíssimos alunos de Composição e era o apresentador e produtor do programa Kaleidoscópio, na Rádio Cultura-FM.

Almeida Prado é autor de uma obra extensa e riquíssima, em expressividade do conteúdo musical. Sendo ele mesmo um pianista de mão cheia, escreveu inúmeras peças para o piano, das quais podemos citar a série de Cartas Celestes, a série de Poesilúdios, Rios, Ilhas e Momentos, entre muitas outras. Em música de câmera, vale lembrar o Trio Marítimo (1983), música instrumental – piano, violino e violoncelo – inspirada em Fernando Pessoa, o quarteto de cordas Livro Sonoro (1973) e o sexteto Portrait de Lili Boulanger (flauta, piano e quarteto de cordas), estreado no Espace Pierre Cardin, Paris, em abril de 1974, sob a regência de Marius Constant. No âmbito da música orquestral são muitos os títulos importantes, incluindo obras concertantes (Exoflora, Aurora, Concerto Fribourgeois e Concerto para Piano e Orquestra), a Abertura Cidade de São Paulo, a Fantasia para violino e orquestra – estreada em 1987 por sua filha Constança com a OSB e o maestro Roberto Tibiriçá, Orejacytatá (encomendada pelo Ministério da Cultura para celebrar os 500 anos do Brasil em 2000) e a monumental Missa de São Nicolau, composta e estreada em 1987 na Suíça. Vale lembrar que esta obra foi criada em situação muito peculiar. O coreógrafo argentino Oscar Araiz ouviu a Sinfonia dos Orixás, de Almeida Prado, em gravação de Benito Juarez com a Sinfônica de Campinas, e encantou-se com a peça, transformando-a num espetáculo de balé para o Grand Palais de Genève, onde era o diretor artístico. Com os direitos autorais recebidos, Almeida Prado pôde passar um ano sabático em Fribourg, Suíça, compondo então a Missa de São Nicolau, obra maravilhosa, que ele pôde exibir em gravação para nós, seus colegas – num Simpósio de Compositores promovido por Lutero Rodrigues e Rodolfo Coelho de Souza, dentro da programação do Festival de Inverno de Campos do Jordão em 1988.

Seu último trabalho foi a obra orquestral Etudes sur Paris, escrita por encomenda da OSESP e estreada na Sala São Paulo em 2009, sob a regência de Cláudio Cruz.

Com a figura de Almeida Prado, encerro este artigo que não pretende incluir todos os nomes importantes na história da música erudita brasileira, em termos de composição, mas apenas traçar uma espinha dorsal na linha do tempo, em dois séculos, sem esgotar o tema. São muitos os autores importantes, no Brasil do século 20, muitos deles ligados ao ensino universitário. Raul do Valle, Olivier Toni, Mário Ficarelli, Willy Correa de Oliveira, Gilberto Mendes, Aylton Escobar, Osvaldo Lacerda, Sérgio Vasconcellos Correa, Kilza Setti,Breno Blauth, Ernst Mahle e Edmundo Villani-Cortes são alguns dos muitos compositores que representam o Estado de São Paulo. Ernst Widmer, Lindembergue Cardoso, Jamari Oliveira e Fernando Cerqueira fizeram história na Bahia. Ricardo Tacuchian, Jorge Antunes, Murilo Santos e Vânia Dantas Leite constituíram um importante núcleo no Rio de Janeiro. Henrique Morozowicz e Jocy de Oliveira representam – em linguagens diametralmente opostas – o Estado do Paraná. Jocy nasceu em Curitiba, mas tornou-se cidadã do mundo: viveu em São Paulo, Paris, Nova Iorque e Rio de Janeiro, onde reside atualmente. E Radamés Gnattali, Esther Scliar, Armando Albuquerque, Bruno Kiefer e Flávio Oliveira – os dois primeiros radicados no Rio – registraram a produção musical do Rio Grande do Sul nessa esfera.

Embora as faixas etárias oscilem, a geração imediatamente posterior, na qual me incluo, abriga Marisa Rezende, Guilherme Bauer, Calimério Soares, David Korenchendler, Rodolfo Coelho de Souza, Ernani Aguiar, Celso Loureiro Chaves, Harry Crowl, Rodolfo Caesar, Maria Helena Rosas Fernandes, Paulo Costa Lima, Oilliam Lanna e Nestor de Hollanda Cavalcanti.

Seguem-se João Guilherme RIpper, Wellington Gomes, Tim Rescala, Rodrigo Chichelli, Eduardo Guimarães Álvares, Liduino Pitombeira, Eli-Eri Moura, Flo Menezes, Dimitri Cervo, Marcos Lucas e Caio Senna. Mais recentemente, Alexandre Lunsqui, Alexandre Fracalanza Travassos, Felipe Lara e André Mehmari.

São muitos aqueles que ainda escolhem o campo profissional difícil da composição e é quase impossível não omitir alguém. O fato é que chegamos ao século 21 com uma produção numerosa e representativa na esfera erudita da nossa tão eclética criação musical brasileira.

 

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RONALDO MIRANDA (Brasil, 1948). Estudou Piano com Dulce de Saules e Composição com Henrique Morelenbaum, na Escola de Música da UFRJ. Começou sua carreira musical como crítico do Jornal do Brasil, intensificando seu trabalho como compositor a partir de 1977, quando obteve o 1º Prêmio no Concurso para a II Bienal de Música Brasileira Contemporânea da Sala Cecília Meireles. Entre seus prêmios, destacam-se o Troféu Golfinho de Ouro (1981), três Prêmios APCA (1982, 2006 e 2013), o Troféu Carlos Gomes (2001), o Concurso Internacional de Composição da Budapeste (1986) e a Comenda da Ordem das Letras e das Artes da França (1984). Participou de inúmeros festivais de música contemporânea (Aarhus, Budapeste, Berlim, Salzburgo, Nova Iorque, Baltimore e Palma de Mallorca) e teve obras comissionadas por importantes instituições no Brasil e no exterior. Sua produção abrange música vocal e instrumental, num amplo catálogo que inclui três óperas: Dom Casmurro, A Tempestade e O Menino e a Liberdade. Foi professor de Composição da UFRJ, Vice-Diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte e Diretor da Sala Cecília Meireles. Integrou o Departamento de Música da ECA-USP entre 2004 e 2020, como Professor de Composição. Atualmente, é membro da Academia Brasileira de Música.




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[A partir de janeiro de 2022]

 

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Número 186 | novembro de 2021

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