segunda-feira, 9 de maio de 2022

LILIAN PESTRE DE ALMEIDA | Aimé Césaire entre surrealismo, contos orais e artes visuais ou explorando um pequeno poema da sua fase inicial



Pequenos poemas entre prosa e poesia

Petits poèmes en prose é título de um volume póstumo de Baudelaire (1869). Este pequeno ensaio poderia chamar-se igualmente “pequenos poemas entre prosa e poesia”. Tínhamos pensado inicialmente abordar, aqui, dois poemas breves, bastante misteriosos à primeira vista, da primeira fase de Aimé Césaire, dita surrealista, a respeito dos quais a crítica não diz grande coisa e dos quais o aparato crítico revela-se bastante característico.

Césaire escreveu-os ainda nos anos 40 do século passado e publicou-os, e depois reescreveu-os, como sempre, no sentido da contenção e da síntese. Fala, neles, de uns animais muito estranhos que lembram a fauna dos contos infantis: uma andorinha que fuma e uma serpente que canta e faz cantar, ou uma maneira de caçar o cervo (invisível no texto) à distância. Que o leitor perceba o seu sentido por intuição ou decifre, aos poucos, por analogia ou pela intratextualidade do poeta, a massa folhada dos significados que se superpõem, é tarefa do leitor. Este, como sempre, deve estar disposto a divertir-se, arriscar e jogar, partindo à caça da fábrica surrealista.

Algo já se publicou sobre Aimé Césaire, em português, no Brasil e em Portugal. No Brasil, sobretudo sobre o seu teatro histórico, em especial as peças sobre o Rei Christophe [1] (do Haiti) e Patrice Lumumba [2] (sobre a sua morte logo depois da Independência do Congo belga), e em Portugal, em particular do ponto de vista político e ideológico, abordando quase sempre dois dos seus ensaios, acompanhados de citações de trechos do seu Cahier d’un retour au pays natal – os mais simples e transparentes [3] do seu grande poema, que os há. No caso português, os ensaios são: Discours sur le colonialisme, traduzido por Mário Pinto de Andrade (o angolano) [4] e Discours sur la négritude (Présence Africaine, 2004). Os dois títulos, no entanto, não esgotam os ensaios de Césaire, na verdade, mais numerosos. [5]

Entretanto, entre ensaio e teatro, é necessário reafirmar com força que Césaire é sobretudo poeta, um dos maiores do século XX e que a crítica deveria concentrar-se na sua poesia, inclusive na sua tradução para o português. A tradução do seu poema Cahier d’un retour au pays natal /Diário de um retorno ao país natal (1939-1956), publicada pela EDUSP em 2012, e hoje, ao que parece, esgotada, foi bastante tardia entre nós. Mais de 50 anos de distância, se pensarmos apenas na última versão do poema, de 1956, dita definitiva.

Voltando ao nosso propósito inicial. Como a decifração do primeiro texto escolhido não só puxou outros temas como nos fez dar algumas voltas e tomar certos atalhos, e a Agulha Revista de Cultura tinha proposto, aos seus colaboradores, uma determinada extensão de texto a não ser ultrapassada de muito, decidimos concentrarmo-nos num único poema, indicando, em nota, duas ou três leituras, já publicadas, sobre o segundo, examinado, neste pequeno ensaio, mais por alto. Trata-se portanto, aqui, de microanálise atenta, tentando ultrapassar o preconceito ainda frequente, entre nós, de que um poema de inspiração surrealista significa qualquer coisa, ou então, um amontoado caótico de imagens estranhas ou delirantes, à livre escolha do leitor. Ou ainda, certamente muito mais grave: aceita-se facilmente que Nerval (com os cinco sonetos do volume Les Chimères, por exemplo) ou Mallarmé (com Le sonnet en X, por exemplo) tenham escrito curtos poemas ainda hoje misteriosos, temas de incontáveis ensaios de prospecção, mas por quê razão um negro antilhano escreveria poemas absconsos, de tão difícil leitura? Devia falar claro e chão sobre escravidão…

Apresentemos os dois poemas, cheios de humor e de leveza, mesmo quando se trata de um pântano (aqui positivo, é claro, no jogo continuado da inversão), ambos ainda da primeira fase marcada pelo surrealismo, em que o poeta Césaire responde/reage a sugestões vindas dos quatro cantos do horizonte, no desfiar e embaralhar das suas leituras, encontros e lembranças, e ainda emoções.

Os dois poemas não são, de modo nenhum, obras menores e a prova disso é justamente o fato de terem sido reescritos e republicados uma dezena de anos mais tarde no volume Cadastre, de 1961 (Seuil). Acrescentamos ainda uma tradução em português para que o leitor possa melhor acompanhar a nossa leitura e confrontar, com calma, o texto original em francês e a tradução em português.

O primeiro poema é inicialmente uma resposta pessoal, entre irônica e séria, ao volume lírico e esotérico de Arcane 17, [6] de André Breton, recém saído no editor comum, Brentano’s, de Nova York. Sobre este, sobretudo, concentraremos a nossa atenção.

O segundo seria um “topos” clássico, poético e pictural: um “artista” (poeta ou pintor) [7] se inspira ao ver um camponês a trabalhar a terra, numa paisagem (no caso de Césaire, um cortador de cana no meio do canavial). Deste segundo texto, Césaire modificará o título inicial ao encontrar, provavelmente, por acaso, numa velha enciclopédia, uma expressão francesa arcaica que articula um antigo método de cifrar uma mensagem a uma forma de caçar, à distância, um cervo. E o cervo a caçar ao longe é a oralidade tradicional (conto e/ou adivinhação).

Fazer de um poema um enigma a ser descodificado aos poucos pelo leitor é uma poética das profundezas que liga a poesia à decifração do mundo e do ser. O leitor faz de Édipo diante da Esfinge, antes de poder entrar na cidade de Tebas e encontrar o seu destino.

Nos dois poemas, há igualmente referências (ocultas) a obras plásticas: gravura de Matta que ilustrava Arcane 17 e uma publicidade de tabaco para cachimbo, muito popular no Canadá para o primeiro, e sem dúvida, um quadro de Brughel, o Velho, para o segundo. Neste, numa bela e tranquila paisagem pintada “en plongée”, um camponês empurra o arado no seu campo enquanto um Ícaro minúsculo, quase invisível, em baixo à direita, cai e afoga-se no mar, em punição à sua hybris. Vêem-se apenas os seus pés rodeados de um círculo de espuma branca que esguicha. Em suma: o trágico é muita vez invisível e a placidez de escuras águas paradas pode abrir o caminho para a descoberta do prazer e da iluminação.

Os dois poemas se intitulam respectivamente “Marais” (= Pântano), mais tarde “Marais nocturne” (o que aparentemente reforça-lhe o caráter soturno, o que, no entanto, é falso, avisa-se logo o leitor apressado), do volume Soleil cou coupé [8] (Sol pescoço cortado, de 1948) e “Au large” (= Ao largo), título mais tarde modificado para “De forlonge” (= antiga expressão cinegética [9] que poderia ser traduzida por “Perseguindo a caça de muito longe” ou apenas “De muito longe”) do volume Corps perdu (= Corpo perdido), de 1949. Assim um poema, só recentemente explorado pela crítica, composto em 1949, recebe novo título, a partir de 1961: “De forlonge”. [10]

Em 1961, igualmente, Césaire reúne os dois volumes marcados pelo surrealismo sob o título bastante neutro de Cadastre. A edição, considerada definitiva, divide-se em duas partes, os volumes anteriores conservando os seus títulos originais: Soleil cou coupé e Corps perdu. [11] Os subtítulos, nitidamente surrealistas, são enfeixados, agora, num novo título geral, deliberadamente prosaico e não-poético.

Cadastre, como se sabe, é o registo público/oficial de uma cidade ou região onde figuram as informações sobre a metragem e o valor de propriedades imóveis, e também a administração fiscal dos documentos precedentes. Por outras palavras: Cadastre, título de cartório e de inventário, apresenta, de forma sibilina, o poeta, o seu país natal e as experiências coletivas de vida nas Antilhas.

Qual o critério para escolher entre os dois poemas, inicialmente, previstos? Como escolher entre o mergulho num pântano ou um cortador de cana num canavial? Escolheu-se simplesmente o poema mais antigo e o mais curto, e igualmente o menos estudado, deixando no entanto a sugestão, ao leitor, porventura interessado, de consultar outras leituras já publicadas sobre o cortador de cana. [12]

 

Andorinha que fuma e serpente que faz cantar

Os poemas mais breves de Césaire evocam frequentemente um espaço indefinido, primitivo e noturno, habitado por um bestiário inquietante ou francamente alucinante.

O nosso primeiro esforço de decifração do poema “Marais nocturne” é simples e puramente semântico. É preciso saber o que significam certas palavras desconhecidas ou totalmente exóticas.

No primeiro poema, um par serpente-pássaro constituiria, talvez, para o leitor latino-americano, nascido na Meso-América, uma possível referência ao conhecido par da mitologia asteca (o Quetzalcoátl, a serpente com plumas) mas trata-se de um falso caminho. Ou por outra: é somente uma intertextualidade que se dá, apenas no nível da recepção, possível até de ser justificada do ponto de vista teórico, mas que, infelizmente, não abre caminho para a leitura do texto. As principais referências, na produção do nosso texto, nascem da fusão da oralidade tradicional francesa e da Kundalinî hindu (sic).

Aliás, um par semelhante de serpente-pássaro que liberta enfim o canto, aparecia já no final do Cahier, desde a primeira versão do poema, ainda de 1939. Com maior espaço, deveríamos, assim, trabalhar com a intra-textualidade de Césaire. Destaquemos apenas as diferentes camadas de significação desse breve poema que são, pelo menos, quatro:

a) a figura da Kundalinî que remete ao texto sagrado hindu, o Bhagavata gita; [13]

b) a referência a um geógrafo grego do século II, Pausânias, [14] dito o Periegeta, que narra a punição imposta pelos deuses a quem não os acolhe dignamente: os Dióscoros – os gêmeos Castor e Pólux, filhos de Zeus e de Leda – raptam sua única filha ainda virgem, a um homem que não soube recebê-los condignamente em sua casa, deixando ao pai, no lugar da jovem, uma flor;

c) uma alusão humorística ao livro recente de Breton, Arcane 17, em que o poeta francês descreve um périplo amoroso pela Gaspésie [15] (península do Quebeque, no Canadá francês) e cita uma publicidade de tabaco para cachimbo cujo refrão é “Alouette, gentille alouette, je te fumerai” [16] no lugar de “je te plumerai” e

d) outra alusão discreta a uma gravura de Matta, o grande pintor surrealista chileno, que ilustrou o livro de Breton, usando a imagem de um escafandrista que sobe, enfim, à tona, depois de um mergulho nas profundezas.

Citemos o poema na sua versão definitiva, a mais elíptica, verdadeiro enigma à primeira vista:

 

MARAIS NOCTURNE

 

Le marais déroulant son lasso jusque-là lové autour de son nombril

 

Et me voilà installé par les soins obligeants de l’enlisement au fond du marais et fumant

le tabac le plus rare qu’aucune alouette ait jamais fumé

 

Miasme on m’avait dit que ce ne pouvait être que le règne du crépuscule. Je te donne acte que l’on m’avait trompé. De l’autre côté de la vie, de la mort, montent des bulles. Elles éclatent à la surface avec un bruit d’ampoules brisées. Ce sont les scaphandriers de la réclusion qui reviennent à la surface remiser leur tête

de plomb et de verre, leur tendresse.

Tout animal m’est agami-chien de garde.

Toute plante silphium-lascinatum, parole aveugle du Nord et du Sud.

Pourtant alerte.

Ce sont les serpents.

L’un d’eux siffle le long de ma colonne vertébrale, puis s’enroulant au plus bas de ma cage

thoracique, lance sa tête jusqu’à ma gorge spasmodique.

À la fin l’occlusion en est douce et j’entonne sous le sable

 

L’HYMNE AU SERPENT LOMBAIRE (In La Poésie. Seuil) [17]

 

Antes que o leitor se sinta completamente perdido e atolado nesse pântano noturno, aparentemente ameaçador e traumático, cheio de animais peçonhentos, seria talvez útil ler uma proposta de tradução em português:

 

PÂNTANO NOTURNO

 

O pântano desenrolando o seu laço até então enrodilhado em torno do seu umbigo

 

Eis-me instalado pelos atenciosos cuidados do atolamento no fundo do pântano e fumando o melhor tabaco de cachimbo que uma andorinha já fumou

 

Miasma tinham-me dito que só podia ser o reino do crepúsculo. Asseguro-te que me enganaram. Do outro lado da vida, da morte, sobem bolhas. Elas estouram à superfície com um barulho de ampolas quebradas. São os escafandristas da reclusão que retornam à superfície repondo a sua cabeça de chumbo e de vidro, a sua ternura.

Todo animal é para mim agami-cão de guarda.

Toda planta silphium-lascinatum, palavra cega do Norte e do Sul.

No entanto alerta.

São as serpentes.

Uma delas assobia ao longo da minha coluna vertebral, depois enrolando-se na base da minha caixa torácica, lança a sua cabeça até a minha garganta em espasmos.

No fim a oclusão me é doce e entoo sob a areia

 

O HINO À SERPENTE LOMBAR

 


Há vários animais no poema: no pântano, verdadeiro omphalos, em forma de serpente telúrica, um emaranhado de serpentes (no final, no plural e depois, de novo, no singular e no interior do corpo do narrador); uma andorinha, normalmente ave “uraniana” que rasga o céu com seu voo rápido, aqui claramente “ctônica”; [18] outra ave, sem dúvida, grande uma vez que é comparada a um cão, o “agami” [19] que preferimos não traduzir, mantendo a opacidade do texto original. E uma planta de nome latino que, ligando-se à palavra e por efeito de sinestesia, torna essa mesma palavra, não surda, mas “cega”, tanto ao Norte como ao Sul. Cega em relação ao Sol, evidentemente.

O poema é uma pequena missiva de um poeta a um outro poeta, nenhum dos dois nomeados, de um eu (Césaire) que responde a um tu (Breton): “eis-me instalado… fumando”, “tinham-me dito que”…, “todo animal é para mim”…, “minha coluna vertebral”…, “minha caixa torácica”…, “a oclusão me é doce”…, “entoo… o hino”. Esse eu fez uma outra viagem, muito diferente da viagem do seu interlocutor: “asseguro-te que me enganaram…”

Breton narra, em Arcane 17, uma viagem iniciática, feita em companhia da nova mulher amada, a um finis terrae, uma longa excursão por uma península selvagem, batida pelos ventos do Atlântico norte, entre o mar e o rio Saint-Laurent. Césaire mergulha, solitário, até ao fundo de um pântano, noite fechada ainda por cima, e termina por viajar no seu próprio corpo telúrico. E os seus espasmos são igualmente uma experiência de fusão eufórica/prazer sexual. O seu mergulho o faz enterrar-se na areia molhada.

O contexto é conhecido: André Breton (que vem de ser abandonado, ao chegar aos Estados Unidos e durante a guerra, por sua mulher, Jacqueline Lamba) e a chilena Elisa Claro se encontram em Nova York e visitam juntos o Canadá francês em 1944. Arcane 17 foi escrito em dois meses (de 20 de agosto a 20 de outubro). Narrativa de um novo encontro amoroso e ensaio, Arcane 17 está prenhe de alusões poéticas, políticas e esotéricas. O título faz alusão à 17ª carta do tarot de Marselha, usado para a divinação. A lâmina em questão faz parte dos Arcanos maiores e representa a Estrela e também a 17ª letra do alfabeto hebraico (o peh). O peh este evoca, como signo, a língua na boca. É questão portanto de comunicação profunda e de novo amour fou.

A edição original do volume foi realizada em dezembro de 1944, com apenas 325 exemplares e ilustrações de Roberto Matta, [20] saindo por Brentano’s, editora da 5ª avenida em Nova York.

A evocação do Canadá francês por Breton é reveladora. O poeta traça o retrato de uma região isolada e selvagem, protegida e arcaizante sob a influência “obscurantista” da Igreja católica. Ora, uma marca de tabaco para cachimbo, chamava-se, então no Canadá, “Alouette” (= Andorinha). Encontram-se, ainda hoje e facilmente, imagens desse tabaco numa publicidade dos anos 40: o refrão era então “Alouette, gentille Alouette/ Alouette je te fumerai.

Em resumo: Breton recita uma publicidade contemporânea e conhecida do Canadá francês, que transforma “e pisa o velho Valais de Nerval”. Césaire, no seu poema, em resposta, reutiliza o achado do amigo, modificando-o. O narrador, na primeira pessoa e só, instala-se, em imaginação, confortavelmente na areia molhada do fundo de um pântano e se põe a fumar o tabaco Andorinha, identificando-se com a marca de tabaco. Por outras palavras: aquilo que se fuma torna-se sujeito que fuma. Um feitiço acontece: o que se fuma torna-se fumante e nas volutas da fumaça que sobe do cachimbo, o pântano que tem a forma de uma grande serpente enrodilhada, se transforma. O objeto torna-se sujeito ativo, bruxo ainda por cima, e fonte de metamorfose.

As crianças brincando de roda podem encenar o arrancar das penas da Alouette/Andorinha, o valente Colibri pode ser morto e despedaçado no muito conhecido conto antilhano em crioulo, mas a nova Andorinha, a que fuma cachimbo no fundo do pântano, torna-se seu duplo vitorioso e adjuvante do poeta. Avançamos de saída uma leitura ainda obscura para o nosso leitor brasileiro. Mas chegaremos lá.

No poema, o narrador “fumando o melhor tabaco de cachimbo que uma andorinha já fumou”, abre a porta à descoberta das serpentes (benéficas, claro) do pântano. E no final, igualmente à sua serpente interior que, despertando, sobe ao longo da sua coluna vertebral provocando-lhe êxtase sexual.

Resta ainda um outro animal, totalmente desconhecido, o “agami”. O narrador afirma, no meio do poema “todo animal é para mim agami-cão de guarda”. O cão é de tal modo maléfico e negativo em Césaire, que colore de conotações negativas qualquer outro animal a ele associado, até mesmo uma ave.

A mesma estranha palavra “agami” aparecia, aliás, em “Le Grand Midi”, outro longo poema épico da primeira fase, de 1941:

 

Arums d’amour

Me bercerez-vous plus docile que l’agami

Mes lèpres et mes ennuis? (In La Poésie). [21]

 

No poema épico “Le Grand Midi”, [22] o agami, ave pesada, de voo rasante e curto, consolida no espírito do leitor, a ideia de não-elevação, de servidão ou de inconsciente colaboração com o inimigo. O seu sentido disfórico, mais discreto no caso, é confirmado por “adormecer” mansamente, embalando o narrador. Inútil procurar em dicionários ou enciclopédias: nenhum deles nos dirá porquê uma grande ave americana ganha, na poesia de Césaire, conotação tão negativa, ao mesmo tempo de guardar (como um cão) e de embalar e fazer adormecer a consciência das suas lepras e dos seus tormentos.

É um comentário do naturalista francês do século XVIII, Buffon (1707-1788), que nos dará a primeira chave do mistério: resumimos rapidamente a sua apresentação da grande ave desconhecidade. Agami. Zool. Palavra da Guiana francesa designando uma ave pernalta de plumagem negra, chamada igualmente “oiseau-trompette” pelo grito estridente; pode ser domesticada para guardar galinheiros. E Buffon acrescenta literalmente: “Não apenas o agami pode ser domesticado muito facilmente, mas ele se liga até mesmo a quem o trata, com tanta facilidade e fidelidade, como o cão”. [23] Negro, fiel, serviçal, domesticável como um cão, ave que guarda, no galinheiro, outras aves: tudo prepara o agami para ser o símbolo negativo por excelência. O infame, ou inconsciente, colaborador negro, na sua dupla face: a masculina, do capataz de cor que controla e guarda escravos numa plantation ou a feminina, da doce negra-mãe de leite, a da antilhana. [24]

Consideremos agora a planta misteriosa com sua dupla denominação latina, silphium-lascinatum. Ela possui uma longa tradição literária entre os Antigos.


O “agami”, o cão de guarda de outras aves domesticadas e o cão que ajuda a perseguir fugitivos são negativos e poderiam facilmente ser articulados ainda com a tradição lírica romântica francesa: Alfred de Vigny, no seu poema muito conhecido, “La mort du loup”, [25] opõe o cão, “animal servil” ao seu duplo livre, o lobo. [26] No entanto, uma planta negativa é coisa rara e algo de tão estranho em Césaire, um verdadeiro “etíope”, segundo a classificação de Frobenius, que é necessário encontrar uma justificação para penetrar no enigma do poema. O leitor só identifica, de saída, uma única espécie negativa de vegetal em toda a obra de Césaire, a cana de açúcar. Para a cana, não há necessidade de explicação: ela liga-se à escravidão em todas as Américas negras. E os exemplos poderiam ser muitos, se tivéssemos mais espaço.

A consulta ao Glossaire de René Hénane (Jean-Michel Place, 2004) e ao Lexique, publicado em anexo ao livro de Papa Samba Diop, La poésie d’Aimé Césaire. Propositions de lecture (Champion, 2010) não dá nenhuma indicação que permita a leitura da passagem e sobretudo justifique a conotação negativa de uma flor.

Papa Samba Diop, no seu léxico fornece, no entanto, uma sugestão que poderia ser aproveitada indiretamente: a tal planta de duplo nome latino tem flores amarelas ou esbranquiçadas que lembram vagamente o girassol:

 

Silphium-lascinatum ou Silphium lancinatum

Planta vivaz podendo atingir dois metros de altura, com flores amarelas ou esbranquiçadas comparáveis às do girassol. Corrente no Maryland e na Flórida (USA), mas apresenta algumas espécies nas Antilhas (ibid.)

 

A espécie teria sido descrita por Carl Linnaeus, em 1753. Se a flor é semelhante à do girassol, voltando-se para o sol – daí o seu outro nome popular de “planta-bússola” –, o que explica a sua “surdez” diante do Norte e do Sul. Mas falta ainda algo: por quê o silphium é tão negativo?

Os dicionários, mesmo altamente especializados, só dão o que podem dar: uma lista aberta de significações. Consultemos ainda a intra-textualidade do poeta: ela, infelizmente, não nos oferece outra pista e a dupla denominação em latim de uma flor misteriosa só aparece neste poema sobre o pântano noturno. Sabemos ainda que a semente do silphium lembra um coração e era largamente utilizada como contraceptivo, na Antiguidade. A planta é mencionada no sétimo poema de Catulo, que é uma declaração de amor a Lésbia: o quarto verso significa “Cirene onde cresce o sílfio”. Tudo isso cria um espaço, meio vago mas amplo, de conotações ligadas não só à paixão como à esterilidade.

Uma passagem do grego Pausânias [27] nos fornece uma pista mais interessante. Na sua descrição da Grécia, o geógrafo antigo narra uma história que deve ter chamado a atenção de Césaire. Os Dióscuros (par de gêmeos, filhos de Zeus) que lembram aliás os Marassa, no vodu ou os Ibeji no candomblé brasileiro, se apresentam, um dia, como viajantes estrangeiros, a um homem, chamado Formium, pedindo-lhe hospitalidade. No dia seguinte, os Dióscuros, insatisfeitos por não terem recebido o quarto que desejavam, ao deixarem a casa, raptam a filha virgem do hospedeiro, deixando no seu lugar o silphium lascinatum. A história é a seguinte:

 

Près de là est une maison qu’habitaient jadis, dit-on, les fils de Tyndarée, et qui appartint dans la suite à un Spartiate nommé Phormion. Les Dioscures, s'étant présentés chez ce Phormion comme des étrangers, lui demandèrent l’hospitalité en disant qu’ils venaient de Cyrène, et ils prièrent qu’on leur donnât la chambre qui leur plaisait le plus lorsqu’ils étaient parmi les hommes. Phormion leur répondit que tout le reste de la maison était à leur disposition, excepté la chambre qu’ils demandaient, parce qu’elle était occupée par sa fille qui n’était pas encore mariée. Le lendemain, la jeune fille avait disparu ainsi que toutes celles qui la servaient, et on trouva dans la chambre les statues des Dioscures et une table sur laquelle il y avait du silphium. (Perigenèse, I, III, cap. XVI) [28]

 

Para Césaire, do ponto de vista mítico, a flor misteriosa, além de não mais indicar o Norte e o Sul, impede um pai de ter uma descendência, que o faria viver depois da sua morte. O Silphium interrompe o fluxo das gerações dentro de uma linhagem. Ao perder a sua única filha, o pai perde a sua descendência vindoura. A planta, simbolicamente, traz a morte do futuro para um homem. No fundo, ela é a negação mesma do ciclo vital de vida-morte-renascimento. Em resumo: a recusa total do homem e da cultura “etíopes”, segundo a concepção de Frobenius

Se a ave agami liga-se à servidão, por ser facilmente domesticável, a flor misteriosa liga-se à esterilidade e à morte em vida, além da perda da bússola natural que procurava o Sol, fonte de vida. Os dois – ave e planta – são negativos. No caso da flor dita também “planta bússola”, sua agulha imobilizou-se para sempre. Ela está cega e surda ao Norte e ao Sul.

Mas é no fundo de um pântano noturno que se dá a transformação do negativo em positivo.

Identificamos de saída o tema da Kundalinî: não voltaremos a ela por ora. O último verso transcrito em letras capitais não deixa dúvidas. A ascensão da serpente que poderíamos caracterizar como cósmica no Cahier, tem lugar, aqui, do ponto de vista pessoal e no microcosmo de um corpo humano.

Terminamos aqui a introdução sobre a semântica do poema. Podemos começar a lê-lo. E a apreciá-lo como leitores.

 

Um espaço simbólico

Ultrapassados os problemas de vocabulário, note-se que, felizmente aqui, a já muita denunciada “perversidade sintática” [29] de Césaire não cria outras armadilhas para a compreensão do seu poema pelo leitor.

 

1. No pântano, a serpente que sustenta o mundo

O pântano, em Césaire, é a matéria primordial, indiferenciada, prenhe de todas as virtualidades e germinações invisíveis. Essa matéria dos inícios pode aparecer, na sua poesia, como marais (pântano), mangrove (mangue) ou ainda marigot (pequeno charco fluvial). [30] Todos, de águas escuras, paradas e pesadas, da terra firme ou da fronteira incerta entre terra e mar, nada têm de maléfico, muito pelo contrário. Na versão inicial do poema – um pouco mais longa e que não analisamos aqui – o pântano era ainda um lugar de maturação, protegendo o narrador contra o “mau olhado” (mauvais oeil).

Miasma”, disseram ao narrador, mas é falso: “me enganaram”, confirma o poeta a Breton, seu interlocutor. Miasma é a emanação pútrida de corpos e substâncias em decomposição. Lá, no pântano, estão as serpentes, todas: a primordial que se enrola em torno do omphalos e as outras, múltiplas, até a Kundalinî dos hindus. Lá ainda “os escafandristas da reclusão […] retornam à superfície repondo a sua cabeça de chumbo e de vidro, a sua ternura”. Note-se inversão: normalmente os escafandristas mergulham num meio perigoso, aqui, eles voltam à tona e trazem a “sua ternura”. E é à tona que os escafandristas repõem a sua proteção de chumbo e de vidro. Outra inversão ou descoberta: o pântano, “do outro lado da vida, da morte”, não é o reino do crepúsculo. Segundo a etimologia, crepúsculo é o duvidoso, o incerto, o lugar da falsa luz do sol, que já desceu no horizonte. Da mesma forma, também não é o reino do “miasma”.

Um escafandrista aparece na gravura de Matta, em Arcane 17. No poema de Césaire, a figura se desdobra ou se multiplica em vários, graças ao plural.

No primeiro verso, percebe-se que o pântano é também o reino da grande serpente primordial que se põe em movimento: o pântano desenrolando o seu laço até então enrodilhado em torno do seu umbigo. Esta serpente corresponde, ao mesmo tempo, ao Dan africano ou ainda, para mantermos a camada significante hindu particularmente importante neste curto poema, a Ananda que encerra, nos seus anéis, a base do eixo do mundo. A Ananda carrega o mundo do qual assegura a estabilidade.

Há duas maneiras, do ponto de vista simbólico, de carregar o mundo: a) pode ser levando-o às costas ou sobre os ombros (como o gigante Atlas para os gregos ou o São Cristóvão no cristianismo primitivo), ou ainda, como o elefante com as suas quatro patas poderosas ou b) pode ser abraçando o “criado” com um círculo contínuo, que o impede de se desintegrar. É o que faz a serpente “enrolada em torno do seu umbigo”. No início do poema, o ofídio primordial – a Ananta – se põe em movimento “desenrolando o seu laço”.

 A Ananta é uma serpente (nagâ) da mitologia hindu que forma, aliás, um par com a nossa já conhecida Kundalinî. Seu nome, em sânscrito, significa sem fim ou sem limite, eterno e infinito. Repousando sobre as águas primordiais, Ananta, a serpente cósmica, serve de leito para o deus Visnhu enquanto este descansa, depois da dissolução (pralaya) de um universo antigo, à espera que o deus criador, Brahma, renasça do seu umbigo e crie um universo novo. No Baghavad gîta (Canto X), Khrisna se define assim “eu sou Ananta entre as nagâs”. [31] Césaire resume portanto, no seu curto poema, uma leitura pessoal do grande poema espiritual hindu. O espantoso é que a sua data de composição, na primeira versão publicada, por Édition Fragance de 1949, seja tão precoce, o que sugere o conhecimento prévio da tradição hindu ou antes do seu retorno à Martinica às vésperas da II Guerra ou pouco depois do seu retorno à França como deputado eleito na Assembleia Nacional. [32]

Enfim, note-se o interesse sempre presente do poeta por narrativas de cosmogonias por ensaios sucessivos, o que acontecerá, uma vez mais, com a criação do mundo segundo a epopeia maya-quiché, o Popol-vuh, que aparecerá em outros poemas mais tardios.

 

2. A lembrança da conjunção dos andróginos

Duas observações se impõem ainda para além da pluralidade das serpentes no pântano.

A primeira é o “sifflement” (assobio) que acompanha a ascensão da Kundalinî pela coluna lombar do narrador. Mas ao contrário do horror que vive Orestes, no momento em que se lança para a morte em Racine (pour qui sont ces serpents qui sifflent sur vos têtes?), [33] o narrador alcança, com a serpente, um êxtase sensual/sexual. Césaire conhece bem demais os clássicos franceses para que a lembrança da famosa aliteração de Andromaque não esteja aí subjacente, com inversão de conotação.

A segunda observação relaciona-se com a lembrança do andrógino. A subida da Kundalinî, figura e força femininas, permite a junção feliz do masculino e do feminino. Mas essa conjunção, fortemente erótica, nasce, no poema, de outra inversão: a força feminina é fálica (lança a sua cabeça) e a garganta do narrador, em espasmos, corresponde, de certo modo, a um útero masculino, onde nascem sucessivamente o prazer e o canto.

Como sempre, em Césaire, a união amorosa corresponde à conjunção de dois andróginos. O narrador pode enfim cantar. Sua língua – não esqueçamos o peh do alfabeto hebraico - se destrava na boca e se liberta na alegria. Essa mesma língua luta, no Cahier, contra “a imóvel verrição” e essa conjunção dos andróginos está claramente no mesmo poema, desde a sua primeira versão, na cosmogonia sonhada. [34]

 

3. O cachimbo fumador ou a Andorinha, novo avatar de Colibri

 

La publicité est la fleur de la vie contemporaine,

elle touche à la poésie.

CENDRARS, Blaise. Aujourd’hui, 1927.

 


A presença da publicidade na poesia surge sobretudo depois da I Guerra e é um rasto que pega fogo rápido, por toda a parte, seja na poesia, seja na memória de cada geração. “As três mulheres do sabonete Araxá”, de Manuel Bandeira, que todos os brasileiros conhecem ou as quatro belas mulheres que, antigamente, nos bondes de Santos, pronunciavam as sílabas separadas de LU-GO-LI-NA, revelando dentes perfeitos no belo sorriso final, e outras publicidades semelhantes, estão na memória de cada um de nós e de todos. Cada geração parece ter gravado certas publicidades que incorpora à sua bagagem de imagens e com as quais joga na linguagem seja no quotidiano, seja no literário. O jogo poético com a publicidade precede até o surrealismo.

A segunda estrofe do nosso poema é inicialmente um piscar de olhos ao texto de Breton, Arcane 17. Já referimos por alto o contexto inicial, a viagem de um novo casal (Breton-Elisa Claro) pelo Canadá francês (Québec) [35] e pela Gaspésie. Sobre a publicidade do tabaco para cachimbo seria, talvez, útil, ler um pouco mais o texto de Breton. Como Arcane 17 nunca foi traduzido para o português, cita-se uma passagem talvez um pouco longa para que se possa ter uma ideia da sua visão sobre a província no Norte da América, fundada pelos franceses no início do século XVII.

Situemos o texto de Arcane 17 no tempo da Guerra. Breton escreve, logo depois do desembarque das tropas aliadas na Normandia, começado a 6 de junho de 1944. A sua análise revela a superposição de colonizações diferentes, a não integração da comunidade francófona que linguisticamente parece anacrônica e à margem da História, sobretudo a alienação coletiva, expressada pela publicidade que pisoteia a região cantada liricamente por Gérard de Nerval, ao Sul de Senlis, na sua novela Sylvie (1853):

 

L’isolement, sur cette côte de la Gaspésie, aujourd’hui, est aussi inespéré et aussi grand qu’il se puisse. Cette région du Canada vit, en effet, sur un statut particulier et malgré tout un peu en marge de l’Histoire, du fait qu’incorporée à un dominion anglais elle a gardé de la France, non seulement la langue où se sont établis toutes sortes d’anachronismes, mais aussi l’empreinte profonde des moeurs. Peut-être, pour dramatique qu’il soit, le débarquement actuel de nombreux Canadiens français sur la côte normande aidera-t-il au rétablissement d’un contact vital, manquant depuis près de deux siècles. Mais ceux qui sont demeurés ici montrent par leurs gestes et leurs propos qu’ils n’ont jamais pu dépasser tout à fait un stade où leur aventure propre, en tant que groupe, se brouille pour se confondre tant bien que mal avec une autre. Si, de leur part, toute rancœur a probablement disparu, leur intégration au sein de la communauté anglaise se montre des plus illusoires. L’Eglise catholique, fidèle à ses méthodes d’obscurcissements, use ici de sa toute puissance influence pour prévenir la diffusion de ce qui n’est pas littérature édifiante (le théâtre classique est pratiquement réduit à Esther et à Polyeucte qui s’offrent en hautes piles dans les librairies de Québec, le dix-huitième semble ne pas avoir lieu, Hugo est introuvable) […..] Tout cela compose, dans l’air admirablement limpide, un écran de protection très efficace contre la folie de l’heure, comme d’une vapeur qui, certains matins, s’étend à tout l’horizon (“Alouette, tabac à fumer naturel”, dit candidement ce paquet, à l’image d’un oiseau chantant dans les herbes et, dans ce début de chanson qu’il piétine, tout le vieux Valois de Nerval rejaillit pour s’épuiser aussi vite “Alouette, gentille alouette, Alouette je te fumerai”). [36]

 

Se a Andorinha, no texto de Breton é o triste epítome da profunda alienação do Québec, a Andorinha que fuma, no fundo do pântano, no poema de Césaire, é o pássaro com o qual se identifica o narrador, provocando, em si próprio enquanto indivíduo, a sua transformação. E a libertação do narrador, pelo menos no seu corpo, ao entoar o “hino à serpente lombar”.

Du miel aux cendres, o segundo tomo das Mythologiques, [37] de Claude Lévi-Strauss, publicado em 1977, partindo da oposição entre o mel e as cinzas do tabaco, explora através de mitos americanos, dois itinerários complementares. O mel exprime a força sedutora da natureza enquanto a fumaça do tabaco elevando-se em direção aos seres sobrenaturais, retém o homem na via que o afasta da cultura. Antes do texto erudito do antropólogo, a intuição poética de Césaire parece ter visto certo.

A fumaça da Andorinha abre as portas, como vimos, à descoberta das serpentes benéficas do fundo do pântano.

Consideremos ainda, por um instante, a gravura de Matta. O Escafandrista, na gravura que ilustrou o Arcane 17, é, na verdade, uma mulher com o rosto semioculto pelo capacete mas de seios nus e estes identificam o feminino, claro. É ela que parece fazer sair o fogo de um poço e três sóis estão, no alto, no céu: são as Estrelas. E o nome do Arcano 17 é A Estrela (L’Etoile). Para Breton, para Matta e para Césaire, a salvação toma a forma de um corpo feminino.

 Césaire, no seu poema, põe a figura da escafandrista de Matta no plural, com múltiplas inversões, pois ao subirem à tona e ao colocarem, só no espaço exterior e não no fundo do pântano, o capacete protetor contra o miasma, está a requalificar o par baixo/alto, profundo/elevado. É quase inútil lembrar que a Kundalinî é força feminina assim como a pequena Alouette/Andorinha.

A leitura de Césaire deve ser tentada sempre a partir da sua intratextualidade, ou seja, a partir de outros textos seus que se iluminam uns aos outros. Aí estão as pistas a seguir, de perto ou de longe. Por outras palavras, um poema pode contradizer, transformar, dialectizar as significações propostas pelos dicionários, inclusive de símbolos. O poeta cria as suas próprias estruturas antropológicas a partir da fusão de diferentes mitos, colhidos aqui ou ali, na sua paisagem insular inclusive ou na oralidade tradicional em crioulo. O poema, relido em voz alta, tem ainda uma coloração humorística que aumenta o seu encanto.

Césaire alarga a sua intertextualidade fazendo entrar mitos sagrados da Índia e ainda uma resposta ao livro recém-publicado de Breton assim como uma referência à gravura de Matta. [38]

Mas a nossa Andorinha pode ser vista, igualmente, no espelho trágico de Colibri, personagem do folclore popular da Martinica assim como a sua vigança contra os seus inimigos poderosos. E partimos para um novo atalho ou desvio (Glissant diria “un Détour”): a oralidade tradicional em crioulo.

O que é um avatar? No hinduísmo, é a descida de um ser divino à terra, em forma materializada; em linguagem figurada, uma nova ou cada uma das fases de uma entidade sobrenatural sujeita a transformações, ou ainda, simplesmente, metamorfose, mutação.

No quarto número da revista Tropiques, de janeiro de 1942, o primeiro texto, assinado em parceria por Aimé Césaire e René Ménil, é fundamental: com pouco mais de quatro páginas, o artigo, intitulado “Introduction au folclore martiniquais”, coloca a problemática da literatura oral em crioulo, modo de expressão alusivo e metafórico de “um povo que tem fome” e que diz o seu “medo” através da figura do “zumbi” (haitiano). As duas últimas partes do ensaio abordam o “tambor” e a derrota de Colibri, personagem popular tradicional, morto depois de lutar contra vários animais enviados pelo Bom Deus: Cavalo, Boi, Peixe-Armado. Última frase: “Era uma vez um homem negro agarrado à sua terra”.

O artigo seguinte, no mesmo número de Tropiques, é a transcrição, na sua dupla versão (francês-crioulo), feita ainda no final do século XIX, por Lafcadio Hearn do famoso “Conte Colibri”. [39]

Resumo do conto: o pequeno Colibri tinha um grande tambor que tocava sempre. Deus queria fazer uma estrada mas os negros diziam que só sabiam trabalhar ao som do tambor. O Bom Deus envia então Cavalo para tomar à força o tambor de Colibri. Este recusa entregar o seu tambor e ao lutar contra Cavalo, Colibri perde algumas penas mas fura os olhos a Cavalo. O Bom Deus chama então o Boi que tem chifres. Colibri luta uma vez mais e apesar de ferido, ganha de novo a luta. O Bom Deus envia então Peixe Armado (Poisson Armé) e Colibri cai morto, perdendo todas as suas penas. Peixe-Armado corta-lhe a cabeça e toma-lhe o tambor. Fim do conto.

De certa forma, a nossa pequena Andorinha/Alouette é a revanche de Colibri assassinado pelos seus inimigos enviados pelo Bom Deus. E não se trata de simples suposição nossa uma vez que um outro poema de Césaire, muito elíptico, e do mesmo período (Ferrements, 1960), recria, de forma sibilina, o conto popular, muitas vezes ouvido, na sua infância e nas infâncias de todos, na Martinica. Transcrevemos abaixo o poema ainda mais curto e secreto, sobre a morte de Colibri, seguido de um ensaio de tradução, em português. Creio que o leitor não terá, agora, nenhuma dificuldade na sua leitura uma vez que já conhece as estruturas antropológicas profundas de “Pântano noturno”.

O novo poema tem oito versos, dos quais apenas dois fazem um dístico. Todos os outros seis versos aparecem isolados, separados ao mesmo tempo do anterior e do seguinte, sem maiúsculas nem qualquer pontuação. O texto, composto por imagens, verdadeiros flashes, sem articulação lógica, tem apenas dois verbos conjugados: a aurora […] sobre a sua corrente morde feroz e o pássaro[…] exige a conta das suas penas dispersadas. “Morder” e “exigir”: na natureza e no céu, a luz do Sol acorrentado e o pequeno Colibri, na terra, resistem. Assim como o Cahier começa com imagem da manhãzinha (“au bout du petit matin”), aqui a aurora esforça-se por nascer num espaço quebrado em que o sol não mais se levanta.

Assim, esperamos que o leitor não se sinta muito defraudado por termos abandonado o poema “De forlonge” pois acabará por ter lido dois poemas surrealistas da primeira fase de Césaire.

 

BEAU SANG GICLE

 

tête trophée membres lacérés

 

dard assassin beau sang giclé

 

enfances enfances conte trop remué

l’aube sur sa chaîne mord féroce à naître

 

ô assassin attardé

 

l’oiseau aux plumes jadis plus belles que le passé

 

exige le compte de ses plumes dispersées

(in Ferrements, in La Poésie) [40]

 

Segue-se uma tentativa de tradução. Note-se que o título (Belo sangue esguichado) volta no segundo verso, como leitmotif central, o do sangue que jorra quando Colibri tem a cabeça cortada:

 

BELO SANGUE ESGUICHADO

 

cabeça troféu membros lacerados

 

dardo assassino belo sangue esguichado

 

infâncias infâncias conto por demais remexido

a aurora a nascer sobre a sua corrente morde feroz

 

ó assassino atrasado

 

o pássaro de penas outrora mais belas que o passado

 

exige a conta das suas penas dispersadas

 

Conclusão aberta e provisória

A poética de Césaire está entre o oral e o escrito, entre o dito e o edito, entre a memória da oralidade (memória de uma canção infantil retomada por Nerval como símbolo do seu Valois natal, mais tarde transformada, por uma publicidade contemporânea do Canadá francês, comentada por Breton como reveladora da alienação coletiva de uma região francófona na América) e memória do escrito (densa e erudita intertextualidade que retoma e transforma, sem cessar, uma longa tradição literária desde os Gregos com Pausânias ou a epopeia hindu de Bhagavata gita até aos poetas vanguardistas contemporâneos). No nosso primeiro poema sobre um pântano, há também a memória, de novo transformada, de uma gravura de Matta: para descobri-lo basta comparar os escafandristas que sobem em lugar de mergulharem, no texto, remetendo ao longe (“de forlonge”) à imagem do Arcano Maior 17 (a Estrela) no tarot de Marseille, segundo a versão do artista surrealista chileno que ilustra uma obra de Breton.

O poema “Beau sang giclé”, enfim, como uma pequena coda sobre a morte de Colibri, em Ferrements, nasce de uma experiência, histórica e linguística, coletiva e individual, literalmente ancestral pois ligada ao tempo da longa duração, em que o leitor deve aprender a ler o texto composto de palavras soltas e enigmáticas, como Édipo diante da Esfinge.

Para o nosso eventual leitor: este pequeno ensaio, numa tentativa de exploração metódica de um imaginário e de uma poética, brinca com dois passarinhos – uma Andorinha mágica e um Colibri combatente –, sem falar em algumas serpentes benéficas, recriados pelo poeta da Martinica. O texto poderia chamar-se igualmente A revanche de Colibri graças à Andorinha.

 

NOTAS

Os poemas estão traduzidos ao português por Lilian Pestre de Almeida.

1. La Tragédie du Roi Christophe. Présence Africaine, 1963.

2. Une saison au Cong. Présence Africaine, 1966.

3. Criou-se, assim, de certa forma, uma outra narrativa, mais linear e simples, accessível ao grande público, evitando-se as passagens mais obscuras, sobretudo dos movimentos centrais do poema.

4. Lisboa, Sá da Costa, 1ª edição 1978. Além da tradução, Mário de Andrade assina o Prefácio.

5. Ver ainda, em particular, os ensaios publicados em Tropiques (1941-1945), Lettre à Maurice Thorez (Présence Africaine, 1956) e o grande ensaio histórico Toussaint Louverture, la Révolution française et le problème colonial (Présence Africaine, 1962).

6. Arcane 17 é um texto poético de Breton, escrito de 20 de agosto a 20 de outubro de 1944, durante uma viagem na Gaspésie (na província do Québec), na costa leste do Canadá, em companhia da chilena Elisa Claro, sua nova musa e futura mulher. Faz alusão à 17ª lâmina do tarot. A edição original foi publicada por Brentano’s em março de 1945, com quatro ilustrações de Matta.

7. Ut pictura poesis, a expressão de Horácio, na sua Arte poética (c. 20 a.C.), está no cerne de inúmeros pequenos poemas de Césaire.

8. O título Soleil cou coupé é tomado de empréstimo ao último verso do poema “Zone” do volume Alcools (1913), de Guillaume Apollinaire. No entanto, o personagem do “degolado” (le cou coupé) aparece em alguns poemas de Césaire: corresponde a Boukman (no Haiti) e a Zumbi dos Palmares (no Brasil).

9. Ver o dicionário Littré: Terme de chasse. Il va de forlonge, il chasse le forlonge, se dit d'un chien qui suit de loin, qui chasse de loin.

10. O poema fora publicado, pela primeira vez, em edição de luxo para colecionadores (Fragance éditeur), ilustrada com 32 águas-fortes de Picasso.

11. Cadastre. Seuil, 1961.

12. As leituras são: a) PESTRE DE ALMEIDA, Lilian. De forlonge ou à partir de l’oralité traditionnelle, in Samia Kassab-Charfi (dir.), Altérité et mutations dans la langue. Pour une stylistique des littératures francophones. Bruxelles, Academia Bruylant, 2010, texto desenvolvido in Césaire hors frontières. Poétique, intertextualité et littérature comparée. Köningshausen & Neumann, 2015) CORINUS, Véronine. “Césaire à l’écoute de la voix majolè”, in Carnets : revue électronique d’études françaises. Série II, nº 13, mai 2018.

13. A Kundalinî deriva de uma palavra em sânscrito significando, ipsis litteris, “enrolada como uma serpente” ou “a que tem a forma de uma serpente”: é a força física ou espiritual (dependendo da linhagem esotérica ser naturalista ou espiritualista), que jaz, adormecida, no primeiro chakra, o centro de força situado na base da coluna vertebral dos homens. Ao acordar, a sua ascensão é a energia que passa entre os chakras ou centros de energia no corpo físico. Despertada, a Kundalinî percorre igualmente todo o corpo espiritual, equilibrando os canais energéticos e centros de energia. Ao subir ao longo da coluna vertebral, a Kundalinî chega ao sétimo chakra, o da garganta, desembocando para o discípulo, ora na iluminação que o põe em comunicação com o cosmos, ora na ativação da glândula pineal e na liberação das endorfinas, provocando intensa euforia.

14. Pausânias, geógrafo e viajante grego do segundo século (c.115-180), é o autor da Descrição da Grécia (em grego clássico: Periegesis Hellados), obra consultada por Césaire que aí bebe o seu conhecimento físico da Grécia Antiga, graças às suas descrições de localidades da Grécia central e do Peloponeso, assim como algumas lendas. É uma das fontes clássicas do poeta da Martinica.

15. É o berço do Canadá francês, espécie de finis terrae onde desembarcou Jacques Cartier em 1534.

16. A publicidade do Canadá francês transforma uma canção tradicional francesa, para crianças, com refrão e várias repetições: Alouette, gentillle alouette, je te plumerai la tête, … je te plumerai les ailes; … je te plumerai les pattes etc. (Andorinha, gentil andorinha, eu te arrancarei as penas da cabeça, … das asas, … das patas etc.)

17. O último verso, transcrito em maiúsculas, corresponde à subida da Kundalinî ao longo da coluna vertebral. Utilizamos aqui a edição Aimé Césaire. La Poésie. Edition établie par Daniel Maximin et Gilles Carpentier. Seuil, 1994: todas as nossas indicações de página a ela se referem, precedidas por La Poésie.

18. “Uraniano” e “ctônico”, adjetivos utilizados por Gilbert Durand, opõem-se como “do céu” (de Uranos) e “da terra ou dos subterrâneos infernais” (lugar das divindades como Hades, Deméter etc.)

19. Agami (Agamia agami, subfamília dos Tigrisomatinae) é o termo crioulo, bastante popular na Guiana francesa, para designar uma grande ave pernalta chamada, no Brasil, “garça da mata” ou “socó-beija-flor”.

20. Roberto Matta, pintor surrealista chileno (Santiago do Chile, 1911 - Cività Vecchia, Itália, 2002).

21. Amorosos lírios de árum/ mais docemente que o agami embalareis/ minhas lepras e meus tormentos? Árum é um gênero botânico da família das aráceas, nativas na Europa, Magrebe, Oriente Médio, com a maior diversidade na região do Mediterrâneo. Todas as partes da planta são venenosas, contendo uma significante quantidade de oxalato de cálcio. Na classificação de Jussieu (1789) é um gênero botânico, ordem Aroideae.

22. A primeira versão do poema “Le Grand Midi” aparece no segundo número de Tropiques, julho de 1941. Do longo poema, propomos uma leitura no volume, Mémoire et métamorphose. Aimé Césaire entre l’oral et l’écrit. Königshausen &neumann, 2010.

23. Ver HÉNANE, René. Glossaire des termes rares dans l’oeuvre d’Aimé Césaire. J.-M. Place, 2004, p. 14. A referência seria BUFFON, T. VI, Oiseaux.

24. A da das Antilhas francesas corresponde à babá, mãe de leite brasileira.

25. O poema de Vigny, narrativa de uma outra caçada, esta coletiva, foi publicado, pela primeira vez, em Paris, na Revue des Deux Mondes, em 1843. Faz parte posteriormente do volume Les Destinées, de 1864.

26. Vigny opõe dois canídeos (cão x lobo), um domesticado, outro selvagem; Césaire duas aves (agami x andorinha, que remete a Colibri). Ver mais adiante a relação com Colibri, personagem de contos orais nas Antilhas.

27. Césaire conhece perfeitamente Pausânias: é uma das suas leituras clássicas e uma das suas fontes. Ver, in Mémoire et métamorphose, no capítulo sobre os poemas “túmulos”, o texto dedicado a Saint-John Perse e ao rio Orontes. Por outro lado, Césaire conhece igualmente o livro de Frazer, James George sobre o geógrafo grego.

28. Perto dali, há uma casa habitada outrora pelos filhos de Tindaréu, pertencente a seguir a um cidadão espartano chamado Formion. Os Dióscuros, apresentaram-se em casa desse Formion como estrangeiros, pedindo hospitalidade dizendo que vinham de Cirene, e pediram que lhes fosse dada o quarto que mais lhes agradava quando estavam entre os homens. Formion lhes respondeu que toda a sua casa estava à disposição, exceto o quarto pedido, ocupado pela sua filha ainda não casada. No dia seguinte, a jovem tinha desaparecido assim como todas as suas criadas e encontraram, no quarto, duas estátuas dos Dióscutos e sobre uma mesa havia um ramo de silphium.

29. A expressão é de uma outra tradutora de Césaire para o inglês: Annette Smith.

30. O tema do mangue é ainda mais frequente, em Césaire, do que o do pântano.

31. O número de serpentes, com seus nomes crioulos populares (fer de lance, couresse, minute) e seus nomes eruditos (trigonocéphale, bothrops lancéolé) é bastante elevado na poesia de Césaire. Elas aparecem no grande oratório Et les chiens se taisaient.., assim como em vários poemas de diferentes fases (“crevasses”, “avis de tirs”, “soleil serpent”, “sentiments et ressentiments des mots”, “internonce” etc.).

32. A dupla atividade política de Césaire, a partir de 1945, como “maire” de Fort-de-France e deputado na Assembleia Nacional em Paris, não parece ter prejudicado a sua enorme capacidade de leitura. E a sua atuação política no executivo local e no legislativo em Paris, vai perdurar até à sua velhice. Césaire deixa de ser deputado em 1993 e “maire” da sua cidade só em 2001.

33. O verso, além da aliteração, lembra a cabeça mortífera da Medusa. Andromaque, V, 5.

34. Ver, a respeito, o artigo “La cosmogonie césairienne, fête d’Eros”, in Actes du Congrès mondial des littératures de langue francaise négro-africaine, nord-africaine et québécoise en Méditerranée. Université de Padoue, 1984, texto resumido, em parte, no posfácio à tradução do Cahier/Diário, publicado pela EDUSP.

35. Québec é a mesmo tempo capital de província e nome de província: é a maior província do país em extensão territorial e a segunda maior divisão administrativa do Canadá, que se estende ao longo do rio Saint Laurent, e, também, a mais antiga cidade francesa da América, fundada em junho de 1608, por Samuel de Champlain.

36. O isolamento, nesta costa da Gaspésie, hoje, é tão inesperado e igualmente tão grande quanto se possa imaginar. Esta região do Canadá vive, efetivamente, sob um estatuto particular e apesar de tudo, um pouco à margem da História, pelo fato que, incorporada a um dominion inglês ter conservado da França, não somente a língua em que se estabeleceram todos os tipos de anacronismos, mas também a marca profunda dos costumes. Talvez, por dramático que seja, o desembarque atual de numerosos Canadenses franceses na costa normanda ajude ao restabelecimento de um contato vital que falta há quase dois séculos. Mas aqueles que permaneceram aqui mostram, pelos seus gestos e conversas, que nunca puderam ultrapassar completamente um estágio em que a sua aventura própria, enquanto grupo, se desvanece para confundir-se, bem ou mal, com uma outra. Se, da sua parte, qualquer rancor desapareceu, a sua integração no seio da comunidade inglesa se revela das mais ilusórias. A igreja católica, fiel aos seus métodos obscurantistas, usa aqui da sua toda poderosa influência para prevenir a difusão do que não for literatura edificante (o teatro clássico está praticamente reduzido a Esther e Polyeucte que se oferecem em altas pilhas nas livrarias de Québec, o século XVIII parece não ter havido, Hugo não se encontra. […] Tudo isso compõe, no ar admiravelmente límpido, um ecrã protetor muito eficaz contra a loucura do momento, como um vapor que certas manhãs se estende por todo o horizonte (Andorinha, tabaco natural para fumar, diz candidamente o maço, com a imagem de um pássaro cantando no meio das ervas e, neste início de canção que destruindo todo o antigo Valois de Nerval, alça voo para esgotar-se rápido: Andorinha, gentil andorinha. Andorinha, eu te fumarei)

37. Nenhum dos dois textos foi traduzido para o português, ao que me parece, as editoras, no Brasil, recuando diante de ensaios longos, o que deixa o público, que não lê mais francês, sem acesso aos textos mais importantes provavelmente.

38. Lembramos ao leitor que pode ainda apreciar as gravuras do artista chileno consultando, pela Internet, o site André Breton da Bibliothèque Jacques Doucet, de Paris.

39. Lafcadio Hearn (Grécia, 1850-Tóquio, 1904), escritor de origem irlandesa (pelo pai) e grega (pela mãe). Lafcadio, antes de viajar para o Japão, onde se fixa adotando o nome de Yakumo Koizumi, passou pelas Antilhas, recolhendo contos orais.

40. Volume de poemas publicado, em 1960, por Seuil. No ano seguinte, 1961, Césaire retoma e funde dois volumes anteriores, sob o título geral de Cadastre. 

 


LILIAN PESTRE DE ALMEIDA | Romanista de formação, ensaísta e tradutora, publica em francês e/ou português sobre literaturas francófonas, literatura comparada, iconografia e iconologia. O nº 115 da Agulha Revista de Cultura, de julho de 2018, publicou uma edição especial sobre o seu trabalho, sob o titulo “Entre o Mediterrâneo e as Caraíbas”. Últimas publicações: Vampire liminaire: de Lautréamont aux Césaire. Königshausen & Neumann, 2019, e os posfácios às traduções de Suzanne Césaire: Escritos de Dissidência (Papéis selvagens, 2021) e Sony Labou Tansi. O ato de respirar (Cultura e Barbárie, 2021).
 

 


FLORIANO MARTINS | Poeta, editor, ensaísta, artista plástico e tradutor. Criou em 1999 a Agulha Revista de Cultura. Curador dos projetos Atlas Lírico da América Hispânica, da revista Acrobata, e Conexão Hispânica, da Agulha Revista de Cultura. Realizou inúmeras capas de livros. Curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará (Brasil, 2008), e membro do júri do Prêmio Casa das Américas (Cuba, 2009), Concurso Nacional de Poesia (Venezuela, 2010) e Prêmio Anual da Fundação Biblioteca Nacional (Brasil, 2015). Professor convidado da Universidade de Cincinnati (Ohio, Estados Unidos, 2010). Tradutor de livros de César Moro, Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Vicente Huidobro, Hans Arp, Alfonso Peña, Juan Calzadilla, Enrique Molina, Jorge Luis Borges, Aldo Pellegrini e Pablo Antonio Cuadra. Entre seus livros mais recentes se destacam Antes que a árvore se feche (poesia completa, Brasil, 2020), 120 noites de Eros - Mulheres surrealistas (ensaio, Brasil, 2020), Naufrágios do tempo (novela, com Berta Lucía Estrada, 2020), Las mujeres desaparecidas (poesia, Venezuela, 2021), e Un día fui Aurora Leonardos (poesia, Ecuador, 2022).

 


Agulha Revista de Cultura

Série SURREALISMO SURREALISTAS # 09

Número 208 | maio de 2022

Artista convidado: Floriano Martins (Brasil, 1957)

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