Pode
talvez surpreender a violência da reacção branca, mas também a mobilização de todos
os meios de comunicação para comentarem aquela mostra, que se inseria, em plano
mais limitado, no seio das actividades que o pequeno grupo surrealista havia realizado
no meio luandense e mais largamente angolano. O grupo era formado por Artur Manuel
do Cruzeiro Seixas, José Manuel Soares Guedes, Manuel António da Silva Júnior, Maria
Manuela Margarido, de quem aqui assina e de Acácio Barradas, com intervenções mais
ou menos localizados; à distância, porém, é necessário considerar também Alfredo
Azevedo, Jorge Costa e um velho militante do Partido Comunista, que nos apoiou com
teimosa persistência, o meu ex-camarada de prisão no Porto, Antero Moreira, que
naquela época era contabilista em Luanda. O tempo não esclarece tudo, mas permite
às vezes que os contornos se façam mais nítidos e que desapareça o cerrado véu que
impede a leitura cristalina. A imprensa e a rádio não se mobilizaram apenas em torno
da exposição de Cruzeiro Seixas e não responderam só às provocações surrealistas;
defenderam, ademais, um conceito de hegemonia branca, inesperadamente atacada nos
fundamentos por uma manifestação que não só transgredia os códigos estéticos vulgarmente
praticados e aceites, como propunha a sua abolição, oferecendo em troca uma arte
bárbara, apresentada como mais próxima da África do que da Europa. Esta posição
aparecia então, e aparecerá ainda hoje a muitos, como de todo inaceitável, já que
alterava um dos pontos de referência do sistema: o belo não era branco mas negro.
É fácil reconhecer aqui, embora talvez de forma involuntária, a vizinhança com certos
segmentos da negritude: para nós, o essencial, porém, era romper o mais sistematicamente
e coerentemente possível com o mundo de dominação dos brancos.
Se
a nossa actividade anterior e a mostra de Janeiro de 1957 pudessem ter deixado qualquer
dúvida, algumas declarações ulteriores, as minhas em particular, se encarregaram
de as eliminar. É verdade que elas hoje revelam claramente a falta dum claro enunciado
político, que, mesmo nos momentos em que está presente, é muito confuso. E nenhuma
surpresa há nisso: não havia naquela época em Portugal e menos ainda em Angola,
tirando alguns minúsculos grupos africanos, quem tivesse um vocabulário político
coerente. Demais a censura era uma realidade e o grupo de censores em acção na Luanda
daquele tempo cumpria com rigorosa e cega determinação a sua tarefa. Não vale a
pena esmiuçar pormenores, mas numa sociedade branca extremamente minoritária e solidária,
cada passo devia ser controlado: cautela compreensível do ponto de vista do aparelho
repressivo. As nossas posições podiam ser também ingénuas, como ingénua seria a
nossa acção, mas não por isso foram menos reveladoras.
A
violenta reacção da população branca de Angola, através dos seus “teóricos” que
eram os jornalistas, e a mobilização da imprensa para comentar um acontecimento
essencialmente estético, mostram até que ponto a sociedade colonial se sentia comprometida
não apenas com a exposição de 1957 como até pelos comentários que ela suscitava.
A falta de humour era muita e eloquente. Na exposição foi colocada, atravessada
numa porta, uma volumosa corrente de ferro, que havia pertencido a uma locomotiva,
a qual foi baptizada como corrente de ar. A colocação do objecto, que parecia
ter como único objectivo impedir a passagem, criava a princípio perplexidade, e
depois irritação, e já que não constava do catálogo, a pergunta fazia-se inevitável:
o que é? Mais tarde, quando todos sabiam já que a exposição erro conjunto formado
pelos objectos mais os seus símbolos, juntava-se: o que quer dizer? A resposta –
nem fria nem provocatória – era a seguinte: não se vê mesmo que se trata duma corrente
de ar? A deslocação daquele objecto pesado e reconhecível para um novo lugar,
onde, permanecendo reconhecível, ganhava uma nova e inesperada categoria, irritava
em alto grau os colonos de Luanda. Foram muito poucos aqueles que responderam com
um sorriso de cumplicidade; a maior parte protestou contra aquela mentira da inteligência
destemida e exorbitante dos surrealistas.
Também
a reacção diante dum outro objecto é singularmente reveladora. Tratava-se dum tabuleiro
de xadrez com uma caixa que continha as peças e da qual saía uma longa cabeleira
negra que flutuava no espaço como uma alga ou uma nuvem. A relação entre o objecto
geométrico e o carácter aparentemente livre dos cabelos criava surpresa, se bem
que não fosse óbvia a intenção do objecto assim criado. O sentido oculto estava
noutro ponto, e nas visitas demoradas, organizadas ou desorganizadas, era necessário
esclarecer-lhe o sentido. As peças, a preto e branco, postulavam uma interpretação
das cores: não podia existir nem tabuleiro nem jogo se não se considerava a necessidade
funda e constante de igualdade racial. Os espaços brancos e negros equilibravam-se
alternadamente, e no confronto do jogo, entre peças brancas e negras, entre rei
negro e rei branco, não havia uma prioridade de dominação mas apenas a igualdade
proposta e imposta pelo acaso. O nosso objecto desejava chamar a atenção sobre a
estrutura que devia ser proposta a qualquer sociedade e em especial àquela em que
vivíamos: a igualdade. O antropomorfismo subtilmente sugerido, ou até imposto pela
cabeleira negra servia como elemento revelador, para colocar ainda mais em evidência
o sentido humano da nossa proposta.
Se
as explicações sobre a corrente de ar eram só provocadoras, ou desse modo
podiam ser interpretadas, já que induziam um mal estar que podia ser superado se
o espectador considerasse que tudo aquilo pertencia ao domínio do irracional, a
reacção frente ao tabuleiro antropomorfizado não era do mesmo tipo, nem podia sê-lo,
pois não existia aí a mínima ambiguidade interpretativa; nesse momento, como no
seguinte, a simples hipótese duma paridade de grupos étnicos não se limitava a desgostar,
mas repugnava. Creio que as nossas propostas e as reacções que suscitaram não podem
ser compreendidas se não se tem em conta o contexto em que se situavam, onde a mais
pequena invocação da pura e simples igualdade jurídica ou constitucional dos direitos
provocava a cólera dos colonos, que justificavam o seu privilégio social com a cor
branca da pele, por vezes um branco mais teórico do que real, ou melhor ainda com
a ausência, também só hipotética, duma única gota de sangue negro. É então óbvio
que a nossa proposta de igualdade, simbólica por um lado, mas acompanhada por outro
por novas manifestações e atitudes, se colocava como um desafio à maioria branca,
presunçosa da sua missão civilizadora, ao ponto dum qualquer branco, privado de
gosto e de cultura, se considerar superior a qualquer negro, desprezando, como se
soubesse ajuizar com critério, as criações estéticas africanas.
Em
conclusão a exposição tornou-se bem depressa o lugar onde eram postos em causa os
valores sagrados daquele mundo colonial. Numa declaração que me foi pedida pelo
jornalista Acácio Barradas, nosso cúmplice activo na divulgação jornalística das
nossas obras de denúncia dos vícios do colonialismo, quis expor os pontos que me
pareciam mais significativos: o carácter da sociedade colonial inteiramente votada
a obter lucro a qualquer custo e a existência de outras hipóteses sociais. Para
o primeiro ponto apoiei-me em Fernando Pessoa, que tinha denunciado os cadáveres
adiados que procriam; quanto ao segundo, tentei demonstrar que apenas na sociedade
negra, e porventura em alguns nichos campesinos, teria sido possível encontrar uma
motivação suficiente para continuar a viver e sobretudo para transformar radicalmente
o que existia. Foi a proverbial gota de água a mais, que fizeram explodir os insultos,
como de resto era inevitável. Um comerciante sério, Jaime de Amorim, proprietário
duma casa de ferragens na baixa da cidade, adiantou-se a sugerir em segredo coisas
sórdidas contra nós, que teriam significado a nossa destruição, afirmando que ele
e os seus colegas estavam na disposição de colocar as coisas no seu lugar. Com a
violência, naturalmente: e nada disto é para admirar, já que a cidade de Luanda,
como qualquer outra cidade africana onde uma minoria domina sobre uma maioria, respirava
o medo, o pânico, talvez mesmo a morte.
A
falta deste tecido, que nos podia ter servido de escudo, provocou ainda outros efeitos
reveladores. A população de Luanda, e uma parte significativa da população do resto
de Angola, informada pela imprensa e pela rádio, sentiram a exposição de 1957 como
uma manifestação de incrédula alucinação: a iniciativa partia de brancos que não
hesitavam em colocar em cima da mesa a hipótese duma africanização da cultura.
É preciso aqui ter consciência do carácter eminentemente racista da sociedade portuguesa,
que nos trópicos se acentua ainda mais. Diz-se um pouco por todo o lado, e Gilberto
Freyre muito contribuiu para consolidar esta tese, que o luso-tropical não tem o
mesmo código de comportamento racial dos holandeses e dos ingleses. Todos sabemos
que não é verdade: a sociedade portuguesa pratica o racismo dos hipócritas, dos
que não ousam olhar de frente a questão, mas qualquer um se pode dar conta que a
exclusão existe. Para o demonstrar bastava então a topografia de Luanda, com um
pequeno núcleo, a cidade baixa ou branca, e em volta a imensa cidade africana e
negra, com os vários bairros ou aglomerados, de nomes bem expressivos (Cayatte,
Prenda, Lixeira...).
Foi
até num destes bairros que nos instalámos, numa casita da Circunvalação, isto numa
noite em que Cruzeiro Seixas e eu nos decidimos a pintá-la, depois de termos comprado
na loja mais próxima todas as latas de tinta que tinham. Pintura improvisada ao
máximo, sem plano determinado, mas que procurava a adesão dos nossos vizinhos africanos,
que tanto entravam para juntar um traço insólito, uma extravagância, uma sugestão.
Uma casita que afinal provocou um conflito entre nós e o encarregado da ordem pública
na cidade africana, o famoso Poeira, que não podia admitir a existência daquela
ilhota africana, a qual não podia controlar com os mesmos meios despóticos que usava
com os africanos. Só a nossa presença naquela zona era já um sintoma duma osmose
profunda entre surrealistas e africanos: uma convivência e uma preferência que era
preciso condenar peremptoriamente. Também as outras actividades por nós desenvolvidas
não deixavam dúvidas quanto à loucura das propostas. Uma vez comprámos um grande
automóvel, modelo de 1925, com estofos de veludo verde, e decidimos transportar
nele uma gigantesca árvore de cajú que fora desenraizada para dar lugar a uma construção,
com o fito de a replantar no nosso logradouro que não tinha árvores suficientes
para o nosso gosto. Num domingo saiu à estrada toda a população branca da cidade
para assistir à passagem daquele inesquecível cortejo, acompanhado ainda musicalmente
por alguns amigos africanos que havíamos convidado. Infelizmente o cajú não
pegou e este facto é ainda hoje uma das minhas grandes tristezas luandinas.
Era
necessário tomar também em mãos a reapropriação da natureza. Um grande número de
objectos expostos foi montado a partir de restos abandonados por um mar generoso
nas intermináveis praias dos arredores. E mais uma vez a sociedade branca era forçada
a estabelecer uma conexão com esta natureza desprezada e sobretudo desfigurada.
O crescimento de Luanda podia medir-se pelo número de embondeiros abatidos para
dar lugar às casas dos brancos, ao capital branco, ao capitalismo branco. A relação
directa entre o embondeiro e a população negra era destilada no texto de apresentação
da exposição; através duma tradução de Lautréamont punha-se em relevo a qualidade
mágica do embondeiro. Isto era uma outra forma de provocação, pois esta árvore,
que fornecia frutos comestíveis, madeira para construções e até água, já que armazenava
este líquido no momento das chuvas, assim se enraizando de forma incontornável na
vida dos negros africanos, era tomada pelo homem europeu apenas como uma árvore
exótica e por isso insignificante. De novo a visão que nós, surrealistas, tínhamos
da África era diferente da concepção utilitarista da colónia branca.
A
operação de recuperação dos detritos litorais funcionou às mil maravilhas no sentido
desejado pelos surrealistas. Na natureza – e era isto que se procurava dar a entender
– não há desperdícios; a natureza, em cada fase, apenas propõe formas novas, ao
contrário de tudo o que acontece na sociedade branca e aos objectos que ela produz.
Um albatroz morto pelos caçadores europeus, caído no mar e restituído às praias
reduzido a esqueleto devido à voracidade dos peixes e dos crustáceos transformava-se
logo num concentrado de propostas plásticas, que bastava deixar sedimentar para
que pudessem ser usadas na reconstrução do universo. Improvisadamente o desperdício
autonomizava-se, propunha-se como exemplo e incitava a criticar o gosto destrutivo
da sociedade branca, incapaz de compreender a subtileza das proposições da natureza.
Neste campo acontecia o nosso encontro com a sociedade africana: porque ao mesmo
tempo que os brancos denunciavam sistematicamente a nossa acção, os africanos vinham
visitar a exposição misturando-se com os brancos e encontrando nela motivos de adesão
e de entusiasmo. Também nesta forma de reagir os africanos se opuseram ao snobismo
dos brancos: ou aprovavam, compreendendo e amando, ou reprovavam, mas sem falsos
argumentos intelectuais, privados de afecto.
É
necessário desde já desfazer qualquer engano: os surrealistas não fizeram tudo aquilo
que devia ou podia ser feito. Ainda assim, para se entender a importância da sua
acção, e fora de qualquer intenção de canonização hagiográfica, que está longe dos
meus propósitos, bastará reflectir no facto de, num ambiente no qual os brancos
calavam entre si as discórdias para fazerem frente comum contra os negros, terem
aparecido alguns brancos que não só desertavam do bloco português como afirmavam
a radical superioridade dos valores africanos sobre a miséria dos projectos europeus.
A sociedade branca foi forçada a interrogar-se, ainda que pouco e por pouco tempo.
Tratou-se, é claro, duma auto-crítica difícil, para não dizer impossível, porque
teria comportado um mal-estar que obrigaria a pôr em causa o próprio colonialismo.
Por esse motivo a reacção da imprensa foi tão violenta e fechada a qualquer tipo
de diálogo: se um branco se afasta, pouco ou muito, dos modelos da sociedade colonial,
deve ser de imediato condenado e marginalizado, se não mesmo expulso.
E
se a sociedade colonial aceitava os casos de africanização de brancos isolados na
floresta que adoptavam usos e costumes africanos, era porque se tratavam de casos
esporádicos, sem contacto com o mundo urbano e dizendo respeito a indivíduos de
estratos sociais modestos, desprovidos da bagagem cultural indispensável para resistir
com eficácia à pressão do contexto social. Tais acidentes, condenáveis em si, tinham
porém uma larga utilidade, já que serviam de pretexto para impor normas severas
de comportamento, em especial aos africanos, que deviam permanecer nos seus espaços,
preservando a sociedade europeia de qualquer forma de contaminação. Ora os surrealistas
podiam ser culpabilizados de tudo ou de quase tudo, mas nunca podiam ser acusados
de analfabetismo ou de irresponsabilidade no plano cultural ou no social. As suas
actividades profissionais, os seus percursos académicos não deixavam qualquer espaço
para este género de argumentos. A africanização que eles propunham não só era inédita
mas a sua racionalização, a sua teorização impunham argumentos diversos, que os
ideólogos do colonialismo não eram capazes de contraditar e por isso se viram constrangidos
a recorrer à repressão.
NOTA
Ensaio
generosamente cedido pela revista A ideia, através de seu editor, Antonio Cándido
Franco. A edição em Portugal traz a seguinte nota final:
O
texto de Alfredo Margarido (1928-2010) que aqui apresentamos foi publicado pela
primeira vez em língua italiana, Surrealismo in Colonia, em Quaderni Portoghesi
(Pisa, Giardini Editori, Primavera de 1978, pp. 53-64), com separata. No mesmo número,
Jorge de Sena publicou o texto “Notas acerca do surrealismo em Portugal”, datado
de Santa Bárbara, 16 de Abril de 1978, por certo um dos derradeiros que escreveu,
se não mesmo o último, visto que morria muito pouco tempo depois. Na reedição em
livro, em Estudos de Literatura Portuguesa – III (1988), volume organizado
por Mécia de Sena, a organizadora, em nota bibliográfica final, esclarece que o
texto foi solicitado por Luciana Stegagno-Picchio e por ela traduzido ao italiano.
O mesmo terá acontecido por certo com o de Alfredo Margarido, cuja versão original,
em língua portuguesa, hoje se desconhece. Optei pois por uma tradução a partir do
italiano, dando tanto quanto sei a conhecer pela primeira vez o texto em português.
Tendo sido um dos protagonistas da acção surrealista em Luanda, Margarido, que acabou
expulso de Angola por causa dela, pagando muito caro a ousadia, deixa nestas linhas
um contributo para se começar a entender um segmento quase desconhecido do surrealismo
português, a intervenção que ele teve na Luanda colonial da década de 50 do século
passado. No livro A Intervenção Surrealista (1966), Mário Cesariny recolheu
a propósito desta extensão alguns trechos jornalísticos de bom recorte, centrados
todos nas duas exposições de Cruzeiro Seixas na cidade, a primeira em Novembro de
1953, e a segunda em Janeiro de 1957, esta largamente tratada no texto de Margarido.
Entre os extractos relativos à segunda mostra, Cesariny recolhe um, publicado em
O Comércio de Angola (23-1-57), da autoria de Jaime de Amorim, referido por
Margarido como um dos que atacaram a exposição. Deixo um passo do seu texto, que
bem pode dar a ver a medida do escândalo que a mostra provocou na sociedade branca
angolana: Também eu, depois de engolir um sapo, cobrei ânimo para ir até o antigo
“covil dos ladrões”, ver uma coisa a que impropriamente chamaram exposição de pintura...
Fui evidentemente logrado, porque ali não há pintura, não há cor; há cheiro... fétido.
(...) Não vi pintura, mas vi lixo; não vi arte, mas vi imundície; não vi originalidade,
mas sim... ! Um dos interesses do texto de Margarido está em fornecer elementos
que vão além dos dois eventos, dando a conhecer a existência dum grupo surrealista
organizado em Luanda na segunda metade da década de 50 e que terá acabado por causa
da dispersão dos seus membros – Cruzeiro Seixas regressou a Lisboa no início da
década seguinte e Margarido foi expulso de Angola, pelo governador-geral, logo no
final de 1957, e proibido de aí regressar, tendo-se exilado em Paris no início da
década seguinte, não sem antes passar pelas mesas do café Gelo, vindo a colaborar
nas mais importantes publicações desta geração, Folhas de Poesia, Pirâmide e KWY.
[A.C.F.]
ALFREDO MARGARIDO (Portugal, 1928-2010). Dedicou-se especialmente à sociologia da literatura e aos problemas africanos. Poeta cuja obra apresenta elementos surrealizantes, bem como ensaísta e ficcionista, foi um dos introdutores do nouveau roman francês em Portugal. Após alguns anos em África, onde trabalhou na produção agrícola em São Tomé e Príncipe, transferiu-se para Angola, onde foi responsável pelo Fundo das Casas Económicas, corporação que pretendia resolver o problema de habitação da classe média ascendente. Todavia a sua intervenção na imprensa provocou uma reacção violenta do Governador-geral, Horácio José de Sá Viana Rebelo, que ordenou a sua expulsão. A partir de 1964 instala-se em Paris, com o apoio de uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo-se integrado nos movimentos de extrema-esquerda. Criou e codirigiu a revista Cadernos de Circunstância.
SARA SAUDKOVÁ (República Tcheca, 1967). Fotógrafa e escritora. Sara Saudková fotografa principalmente nus. Do ponto de vista técnico, são principalmente fotos clássicas em preto e branco tiradas em médio formato. Seu trabalho inicial foi influenciado pelo trabalho de Jan Saudek, com quem – como ela diz – aprendeu, porque melhor escola não há. Gradualmente, ela encontrou seu próprio estilo muito distinto. Dedica-se exclusivamente à criação livre – com fotografias encenadas documenta relações entre homens e mulheres – despedidas e esperas e entre: amor, saudade ou solidão. Suas fotos são bem lúdicas, com uma carga erótica. Saudková também escreve livros. Publicou Midnight Fairy Tales, para crianças, bem como o livro autobiográfico Ta zrzavá, Sweaty Back, sobre a crise de um homem de meia-idade bem-sucedido e um romance policial sombrio, Chuva. Nelas, trata de relacionamentos dramáticos, tramas sofisticadas e histórias emocionantes. Ele escreve sua prosa em uma linguagem viva. Sara é nossa artista convidada, a quem agradeço, pois desde nosso primeiro encontro foi muito generosa e simpática.
Número 218 | novembro de 2022
Artista convidada: Sara Saudkovà (República Tcheca, 1967)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
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