Peço licença para introduzir
uma observação de bolso antes de iniciar a leitura deste texto que, aliás, não passa
de uma mera pesquisa epistolar. É que trouxe seis epígrafes, ou seja, seis citações
pontuais de Herberto Helder, colhidas ao longo dessa correspondência, que pretendem
indiciar cada uma das partes deste trabalho. Creio que estas podem conferir alguns
ângulos e brilhos complexos à única e plural pessoa a assinar as cartas que apresento.
De qualquer maneira, este incompleto estudo se resume apenas na eleição arbitrária
de trechos e numa incerta montagem dessa grande variedade, constando, no maior das
vezes, de fragmentos, fragmentos e fragmentos extraídos das referidas missivas.
I.
sou sobretudo
uma pessoa metida na vida, uma pessoa que gosta imenso das pessoas com quem possui
afinidades. Não sou um literato. Por acaso, escrevo e publico livros. Mas até não
dou mais importância a isso do que às outras coisas. Dou mesmo mais importância
a outras coisas, como por exemplo: as amizades, os afectos, o convívio (não indiscriminados,
claro).
Herberto Helder, Carta 20
(07/11/1978)
Durante quinze anos seguidos, de maio de 1973 a abril
de 1988, tive o privilégio de manter uma correspondência contínua com Herberto Helder.
Eu o havia conhecido casualmente em final de setembro de 1972, em Lisboa, no Monumental,
à mesa do Carlos de Oliveira. No momento do encontro, eu ignorava, todavia, quem
fosse aquele sujeito simpático, atlético e bem falante, que mal se interrompeu quando
me sentei, pois que narrava alentada e abstraidamente um episódio muito curioso.
No entanto, pouco a pouco, fui percebendo que aquele estilo me dizia respeito, que
era muito semelhante ao de um pequeno volume que eu lera, ainda no Brasil - um tal
de Retrato em Movimento. Acabei, por fim,
expressando a minha estranheza (a ponto de quase acusar o plágio do orador), quando
o Carlos me explica então que o autor do livro era justo aquele que estávamos ouvindo
com tanta atenção. Posso garantir que o meu espanto pelo reconhecimento involuntário
do Herberto nos rendeu, naquela tarde, boas e amigueiras gargalhadas.
Carlos e Herberto tinham
se tornado muito próximos, leitores-interlocutores dos respectivos originais, bem
como fiéis camaradas da esquerda política. Na altura, freqüentavam-se com certa
assiduidade, que eu saiba desde que Herberto retornara da África, após um grave
acidente de carro no “decurso de uma pacífica reportagem de uma seca” (27). Ele
passara então a morar no Saldanha, na mesma Avenida Praia da Vitória onde residiam
o Carlos e a Ângela: estes, no número 48, e o Herberto no número 1. De maneira que,
posteriormente, quando passa a me escrever, ele sempre me dará notícias do amigo
e da conterrânea madeirense.
Numa carta de Cascais, em
15 de fevereiro de 1980, um exultante Herberto comentava que houve hoje
uma manifestação impressionante contra o actual governo. Milhares
e milhares e milhares de pessoas. Também lá estive. Isto está de novo a aquecer.
O Carlos era para ir comigo, mas desistiu por não se sentir muito bem de saúde.
Foi pena. Tenho a certeza de que ele ficaria melhor. Foi um triunfo de mobilização
popular. (29)
A morte do Carlos, em 1º
de Julho de 1981, tomou Herberto de assalto, a ele, que acompanhara nos últimos
anos as melhoras e as pioras do amigo, bem como a alegria do Finisterra. Aliás, fora ele quem me anunciara,
em julho de 1978, que Carlos ia melhor “depois de um período grande de aflições
de saúde”, a ponto de ter pronto um novo romance. E cogitava: “Eu acho que não é
um ‘romance’, mas uma ‘cosmogonia pessoal em prosa’. Um belo livro, servindo esplendidamente
como introdução à sua poesia” (18). E o entusiasmo persistiu porque, no ano seguinte,
quando esbocei minhas impressões de leitura sobre o Finisterra, Herberto concordou que sim, que a obra era “maravilhosa”
e que estava tendo “imenso êxito aqui em Portugal. É um livro riquíssimo. Disseram-se
muitos disparates sobre, e meia dúzia de coisas certeiras. Houve um bom debate na
TV, e as melhores intervenções foram as da Maria Lúcia Lepecki e do Augusto Abelaira,
ambas no âmbito da análise simbólica e na perspectiva do mito.” (24)
A ausência de Carlos lhe
provoca então um grande abalo, e só em fevereiro do ano seguinte, portanto oito
meses após o seu falecimento, Herberto me daria a saber que, por fim, conseguia
retomar a vida. Em carta de fevereiro de 1982, ele me informa que
Pela minha parte, já menos abalado com a morte do Carlos (que
me atingiu mais profundamente do que eu próprio esperaria), começo a sair da letargia
e a escrever um pouco (não muito, nem sequer o suficiente para pacificar-me). Mas,
enfim, vou escrevendo, e isso é o que mais me ajuda na vida: dá-me algum equilíbrio.
(37)
De “deprimidíssimo”, “muito
em baixo”, “sem palavras a dizer”, Herberto alcançara, antes, um “período extremamente
confuso” que tinha a ver com a perda do Carlos e com acontecimentos “capitais”:
“Cada vez mais difícil, a vida”, comentara. E só refere, como interregno desse doloroso
ano de 1981, uma ida ao Marão, a uma “aldeia perdida na montanha, a norte de Portugal”
(36).
O ofício permanente da escrita
(mesmo quando me assegura que o abandonou), os projetos, as revisões, a renegação
de textos e o intermitente afrontamento da depressão - são os dois tons que amparam
a correspondência. Há também presente um lusco-fusco, um sonho secreto de apaziguamento
e harmonia, que sempre converge para a África:
Na realidade, eu queria estar em África, no Sul de Angola, ou
no deserto, numa região que lá é conhecida como Terras-do-Fim-do-Mundo. Penso que
acabarei por aí ir parar, fazendo uma vida o mais primitiva e essencial possível.
Entretanto, vê lá como a ironia trabalha com o dentro e o fora das pessoas – mobilizo-me
neste afã de toupeira no meio da papelada velha. Que tristeza! Dizer que a única
coisa que nos acaba por restar são as palavras! as já mortas! (3)
Tal desabafo é inaugural.
Data das primeiras peças
da correspondência, de agosto de 1973, quando então Herberto se fazia de alfarrabista
de si próprio, buscando recuperar aqui e ali e por toda a parte seus textos e escritos
erráticos, já que tudo se dispersara durante os mais de dois anos em que permanecera
fora de Portugal. De outra feita, no ano seguinte, rememorando as viagens, ele também
sonha com a África através de Nova Iorque. Comentando que, há tempos, estivera nos
Estados Unidos, registra ter levado consigo, “como bagagem”, a sua “pequena mitologia
africana”. E assim se movera “aos choques na 5ª. Avenida. E os negros de Harlem
pouco têm a ver com as tribos de ‘muílas’ ou de ‘mucubais’ que conheci ao sul de
Angola.” (5) Ainda em outro momento, em março de 1980, mencionando a Bélgica e outros
países por onde andara tempos atrás, revela que tudo isso “está morto para mim,
hoje. África, sim, está cada vez mais viva na minha memória. Há momentos em que
quase me é insuportável viver na Europa: penso então ir para Angola ou para a Guiné.”
(31)
II.
Sou uma espécie
de anarquista pacífico, um cidadão da indisciplina ociosa, um militante marcusiano
do erotismo.
Herberto Helder, Carta 6
(08/03/1975)
Os acontecimentos políticos, a transformação das
mentalidades, as mudanças sociais são o pano de fundo das cartas, panorama por vezes
melindroso que em duas ocasiões parece compeli-lo a deixar sua pátria. E ele me
afiança que, antes de mais nada, suas razões estão sempre fora “das razões políticas
em termos tradicionais, fora das máquinas e maquinações do poder.” (6)
Numa carta posterior ao 25
de Abril, Herberto me dá conta de “uma tensão insustentável em Portugal”,
Tão grande que a disponibilidade interior para a leitura, ou
escrita, ou simples remansosa conversa, desapareceu. Somos bombardeados pela paranóia
política geral, os acontecimentos assaltam-nos, dão-se coisas inconcebíveis todos
os dias, a insegurança, a violência, a brutalidade e primarismo ideológicos, as
pressões, as seduções, os equívocos, as armadilhas estão à frente, atrás, por cima
e por baixo de cada passo que damos.”
E o seu grande receio decorre,
nessa ocasião, de supor que tal anseio por “paz e segurança” favoreça “perigosamente
o projecto das direitas”:
A verdade é que os militares e os partidos políticos de esquerda
não têm sabido resolver, sequer abordar, com alguma eficácia os problemas concretos
postos. Há uma intoxicação ideológica que impede a visão objectiva das coisas. Grandes
contradições, programas irrealistas, vontades frenéticas de poder. E agora, com
a campanha eleitoral, tudo irá decerto exacerbar-se. Estás a ver? Não me admiraria
que uma direita implacável e vingativa viesse a tomar conta do país. (6)
Somente em julho, dois meses
depois, eu teria notícias do Herberto. E elas me vinham de Lisboa, já de outro endereço,
e me davam conta de reviravoltas surpreendentes. Isso porque ele participara da
assinatura de um documento que pedia a legalização dum partido (que não identifica
qual seja), petição que levara cerca de seiscentas pessoas, que o tinham assinado,
à prisão. Não sei informar se, conhecendo tal ameaça, ele teria se sentido “compelido
a ir até o estrangeiro”, como me participa, ou se tais prisões ocorreram enquanto
ele se encontrava fora de Portugal. O fato é que, “numa altura difícil”, como me
anuncia nessa carta, ele deixara Lisboa e seguira para Londres - tudo isso de maneira
temerária e sem recursos. De lá, “sem dinheiro”, vira-se obrigado a descer a Paris,
onde esperava obter meios para chegar até o Brasil, precisamente a São Paulo, onde
supunha poder permanecer. Ignoro se ele almejava contar com a ajuda da família que,
como eu saberia depois, vivia lá nessa altura: o seu pai e a irmã casada com o primo.
Mas creio ser mais factível especular que ele seguisse para um emprego no Ministério
de Negócios Estrangeiros que, numa carta anterior, mencionara (6). Se tal colocação
dar-se-ia no Brasil ou em outra parte, ou se teria deveras ligação com a sua partida
de Lisboa é impossível dizer. No entanto, descendo de Londres para Paris, ele acreditava
poder encontrar “gente conhecida e de confiança”:
Eis-me em Paris, ansioso, dependente, esperando que me chegasse
da Ilha da Madeira (onde nasci e tenho alguma família) o dinheiro necessário para
a viagem até ao Brasil. Nada. Já passei por muitas situações paralelas, mas desta
vez foi mais difícil, porque receava regressar a Lisboa, por motivos políticos muito
complicados, mas que de modo algum têm a ver com posições minhas de direita. Não
sou de direita. Mas nessa altura, e agora também (até quando?), quem não estava
(está) com o partido comunista (estalinista) era (é) fascista. Chegámos a esta degradação
dos valores. Mas como a situação em Paris era insustentável, voltei. Disposto a
tudo, como ainda estou. Como está grande número de portugueses, que se considera
miseravelmente enganado com o viés que tomou a revolução. (7)
Tal saída repentina e o retorno
inesperado a Lisboa trouxeram-lhe conseqüências práticas indesejáveis. Herberto
perdera o emprego na rádio que obtivera pós-25 de Abril, e, de novo em Lisboa, estava
em busca de trabalho, vendo-se, portanto, obrigado a
andar por aí à procura de outro, numa altura em que há quase
meio milhão de desempregados no país, numa população de apenas três milhões de trabalhadores.
Salvou-me um amigo que possui uma vaga casa editora. Estou aqui a organizar uma
hipotética revista, numa época em que ninguém lê revistas, ou tem sequer dinheiro
para comprá-las. Por enquanto, não sabendo de resto até quando, tenho a subsistência
mais ou menos garantida, o que não sucede com muitos portugueses. (7)
A “vaga” editora onde então
trabalha ficava situada na Avenida Duque de Loulé (70, 3º. Dto), e a “hipotética
revista” era a Nova, como ele me elucidaria
depois, onde publicará aquele texto sobre a “Marilyn Monroe”, bem como outros que
depois renegará, dentre os quais um referente à “família lingüística ibero-afro-americana”,
em virtude do qual há de me repreender quando, mais tarde, o utilizarei como uma
das epígrafes de um texto.
No final de 1978, Herberto
está outra vez “muito prestes a sair de Portugal” (20), mas o esforço resulta de
novo em vão. E, assim, de Cascais, ele me avisa que seu endereço e seu lugar de
estar continuam, por fim, sendo o mesmo:
Afinal, a grande mudança e transformação foi deslocada para o
infinito. Enfim, as longas e belas histórias do nada. Continuarei a queimar-me no
meu próprio e privado lume. A serenidade é um pensamento dos atormentados. E é pelo
desejo de salvações que se vê como funciona quem está perdido. Bilhete lúgubre,
este. Não dês importância. Já sei que a minha força está em saber manejar a minha
fraqueza. Sou hoje uma espécie de campeão nesta estranha ginástica. (...) Estou
em ressurreição lenta. (21)
Creio que essa dita “mudança”
tinha a ver também com outro projeto que, pela segunda vez, invade a correspondência:
o de deixar de escrever.
III.
Porque eu sou
a minha poesia e, de certo modo, sou o que os meus poemas fizeram de mim. Isto não
é atitude literária. Muito mais real do que se possa crer.
Herberto Helder, Carta 14
(17/11/1977)
Como assegurei, no momento em que a epistolografia
começa, Herberto me prevenira ter abandonado a escrita, comprazendo-se apenas em
reunir e passar a limpo, datilografando, aquela “papelada velha”. De modo que ele
se apresentava, na ocasião, apenas como um pesquisador que se propunha a recompor
a sua “biblioteca”, as suas próprias produções, dispersas e extraviadas “de tantas
idas e vindas, tempo fora pela Europa e África, há mais de dois anos”. Na altura,
ele também esclarecia que esse era um
trabalho fatigante, uma dissipação menor, com que substituo outra
mais avassaladora e fundamental dissipação: a de escrever, por exemplo, ou a de
viajar.
(3).
Nessa carta de maio de 1973,
após publicar o primeiro volume da Poesia
Toda e afiançando-me que o segundo sairia logo em junho, Herberto informava
que o lançamento da Prosa Toda estava
previsto para outubro próximo – portanto, ainda em 1973. E que o dito volume compreenderia
Os Passos em Volta (baseado na terceira
edição que, segundo ele, era a mais completa), O Humor em Quotidiano Negro (que embora escrito em 1965 ainda se conservava
inédito) e o Apresentação do Rosto, inteiramente
refundido. Ele cogitava também um segundo volume de Prosa Toda, que incluiria textos dispersos e inéditos. Mas a arrumação
disso seria apenas possível para quando tivesse “paciência” (2).
Ocorre que, para Herberto
(eu viria a descobrir depois), “dactilografar” significava bem outra coisa, como
me atestaria en passant: “eu mesmo dactilografo,
pois, enquanto o faço, vou introduzindo alterações”... (20) Vê-se que o exercício
de “datilografar” rende muitíssimo ao nosso Poeta. Apresentação do Rosto possui, aliás, diversas versões, sem nenhuma definitiva,
tendo, ao longo dos anos, migrado, lacunarmente fragmentado, para diferentes passos
da sua obra final. Esse é o livro sempre mencionado na correspondência, já que Herberto
parece tê-lo eleito como seu permanente objeto de revisão, reescrevendo-o “inteiramente
e de novo o reescreverei. Inclusivamente, cortei muitas passagens”, como me assegura
em 1978 (17). Também em 1979, ele argumentava que “quanto à nova versão do Apresentação do Rosto, há um problema”:
Como sou muito indisciplinado, salto da revisão dos poemas para
a “Apresentação”, do que tem resultado não ter inteiramente revisto nem uns nem
a outra. Mete pelo meio enormes lapsos de ócio, dispersões, comprazimento no silêncio,
reclusões nirvânicas, interesses súbitos e exclusivos por matérias bizarras, grandes
repugnâncias pela literatura, desânimos, exaltações e depressões neuróticas, e terá
um quadro bastante expressivo (24).
O mesmo se passa com O Humor em Quotidiano Negro que, de “projeto ambicioso”, acabou ficando
“reduzido a meia dúzia de páginas que fazem parte do volume (de que te falei em
carta anterior) Photomaton & Vox,
que tenho pronto, mas [que] só deverá sair no próximo ano” – portanto, em 1979.
E isso sem lembrar que esse original ainda passará por pelo menos quatro provas
tipográficas, como me elucidará depois. E fica patente que tais planos só poderão
entrar em “ordem quando tiver a minha vida normalizada, o que espero conseguir dentro
de... de – quanto tempo? Não sei.”
Também devem ter influído
nesses cálculos a mudança de editora, ocorrida em 1979, quando Herberto deixa a
“& etc” e passa para a “Assírio e Alvim”. O Humor em Quotidiano Negro era, então,
um projecto de tratamento das notícias da imprensa, no sentido
de, reformulando-as, mostrar que a regra da vida quotidiana é o insólito, que o
imaginário da excepção é o real da regra. Uma espécie de subversão dos estatutos,
e um código novo para a interpretação da vida diária. (20)
Talvez o Cobra seja, de todos esses casos, aquele
que mais emblematicamente exiba tais mutações (enfim, tal procedimento poético que
há de se encarnar como a sua digital definitiva), com uma clareza estarrecedora.
Recordo-me que em outubro de 1975, e ainda da Duque de Loulé, Herberto me relatava
que se dedicava a “rever, dactilografar e organizar as minhas prosas”, e a
monologar acerca de um velho projecto de livro que não sei se
alguma vez escreverei, mas que seria uma espécie de circunferência em torno da minha
experiência humana e poética. Não propriamente um balanço, mas uma inquirição exigente,
implacável; afinal, talvez uma meditação sensível sobre as maneiras pessoais de
ganhar o silêncio. (8)
De maneira que, quando me
envia, em agosto de 1977, o Cobra publicado,
o meu exemplar já vem “bastante emendado à mão”, fato a progredir no seguinte volume
que me será postado em abril do outro ano, quando Herberto informa que as correções
são “definitivas. Suprimi o último poema, como aliás abandonei a ideia de acrescentar
outros dois.” E rematava a questão deste modo: “Suponho que o livro fica um pouco
menos mau assim. De qualquer modo, não lhe tocarei mais. Pelo menos, assim espero.”
Ora, ora! Herberto sempre
padeceu de uma autocrítica cruel, pois que não lia “o antigo. Tenho medo. As leituras
acidentais que fiz de coisas minhas já publicadas deprimiram-me. Detesto tudo.”
(11)
Da derradeira vez em que
me anuncia o abandono da escrita (em final de 1978), Herberto, que vivia desde 1976
em Cascais, se diz agora em busca de “um outro estilo de vida”, o que iria determinar
uma “alteração radical”, uma metamorfose necessária visto que sua existência tinha
sido até então “desordenadíssima, dolorosa, um bocado louca e, quase certo, estava
a dirigir-me para a minha própria destruição.” E concluía que talvez
agora tudo mude, mas essa mudança implica um rumo tão novo que
é quase certo, dado que ela se efective, que abandonarei definitiva e completamente
a escrita. Tenho uma certa quantidade de inéditos, mas, publicados eles, penso dedicar-me
apenas às exigências de um outro estilo de vida. E crê que será sem qualquer pena.
Desejo paz, equilíbrio, uma relação forte e estável com aquilo que o mundo tem de
bom. (19)
Como quase tudo em Herberto,
essa decisão de outubro de 1978 é basicamente polêmica, senão contraditória. Porque,
desejando “paz, equilíbrio”, ele acabava por se contrapor, visto que, no mesmo parágrafo
em que expurgava a escrita, defendia-a com unhas e dentes como “o instável e precário
meio de introduzir alguma ordem em mim” (19).
Em julho de 1983, ele reportará,
então, que “Retirei-me muito, depois da morte do Carlos com pouquíssima gente me
dou. Vou escrevendo alguma coisa, não muita”. Que perambula no momento “por Chinas
e Japões clássicos, pelos alemães (os românticos sobretudo).” (40).
Em fevereiro do ano seguinte,
especula que “Sem vida nova para iniciar, que faço eu? Leio, escrevo um pouco. E
tenho alguns projectos de pequenas viagens.” (43) Em abril de 1985, revela que “Eu
cá vou fazendo, com a sabida irregularidade, as coisas que posso. Quase me não dou
com ninguém. Ando por uns labirintos mentais que talvez me conduzam algures.” (45).
IV.
dizem que a
minha poesia é “impenetrável” e por isso – conforme me constou – não escrevem sobre
ela. (...) Espero que o tempo me dará as razões e a razão. Se não der, tant pis pour moi.
Mais je m´en fiche pas mal!
Herberto Helder, Carta 14
(16/11/1977)
Leitor contumaz, ele também vai me dando conta da
sua constelação intelectual preferida. Em 1983, alude a Jung como
uma das minhas referências, embora também ache que Freud era
uma cabeça infernalmente maquinadora. Ambos apaixonantes, mesmo na guerra que se
faziam. Conheces a “Autobiografia” de Jung? As referências a Freud são extremamente
reveladoras.
(4)
Recomenda-me, por exemplo,
em 1978, que leia “livros de Alquimia, Ciência Hermética em geral. Se puderes, lê
Lévi-Strauss, Mircea Eliade e Antropologias em geral. A Alquimia é muito importante
para a compreensão de certas referências na minha poesia. A Cobra está cheia de alusões alquímicas. Se
puderes, lê ainda os Gnósticos”, e me indica um pequeno livro do Jacques Lacarrière,
publicado pela Gallimard, a esse respeito (16). Em carta seguinte, creio que com
receio de ter carregado nas tintas, sublinha que as “doutrinas religiosas, filosóficas,
cosmológicas, etc, bem como de todos os mitos” são, na verdade, “formas fixas, incrustadas
na história da cultura humana, e que não iluminam realmente a poesia. A poesia é
que os ilumina a eles.” (17)
De um ou de outro livro em
que se debruça com mais vigor, ele partilha comigo a satisfação da leitura. Em 1973,
Herberto está relendo o Húmus do Raul
Brandão, e considera “de novo que é um livro extraordinário – e talvez eu não tenha
conseguido dar dele uma replica sintética-poemática aceitável” (5). Ao Macunaíma, volume que me solicita em 1977,
chama-o de “pequena maravilha, e muito elucidativo também no entendimento da genealogia
de um Guimarães Rosa” (12). Em 1978, está verdadeiramente encantado com Los Hijos del Limo, do Octávio Paz, “ensaio
dos mais pertinentes sobre poesia moderna e, mais do que isso, uma verdadeira Arte
Poética. Como não muitas vezes é dado ler-se.” (18); em 1979, refere-me o Literatura e Mito de Furio Jesi, que considera
“mais que admirável” (24); em 1980, pede-me que consiga-lhe (nos reservados da Biblioteca
Nacional de Paris) fotocópias de um livro do Comte de Mirabeau, o Erotica Biblion; depois procura pelo Requiem de Anna Akhmatova, e pela literatura
pop: pelo Seigneurs et nouvelles creátures,
do roqueiro Jim Morrison, e pelos Poèmes
do beatnik Gregory Corso (33). Em 1981, está lendo Augusto e Haroldo de Campos (35);
em 1983, relê Borges (40); em 1985, conhece os poemas de Souzândrade (45) e o Cobra Norato, do Raul Bopp, que ele devora
“imediatamente” e que acha “fascinante” (46).
Acerca do romance contemporâneo
português, ele me fornece em 1983 um parecer alentado e valioso, que preciso citar
na íntegra, pois que, a meu ver, passa pela sua experiência não só de leitura, mas
de escrita:
Há qualquer coisa nova que poderia ser feita, e ninguém está
a dar por ela. Penso que, em “As Casas Pardas”, a Maria Velho da Costa andou por
lá, mas menos no recente “Lucialima”, agora. Já não consigo ler a Agustina Bessa
Luís, que em tempos admirei. E depois – como hei-de dizer–te? – será possível hoje
um romance? Já desconfio do poema quanto mais do romance. O Michaux, sabes?, ficou
apavorado quando acabou de escrever “Plume”. E era um romance? Não. Quando muito,
uma sequência de cenas com apenas, como elemento unificador, uma personagem coerentemente
caracterizada e reagindo coerentemente a situações que serviam para caracterizá-la
como uma espécie de símbolo: a vulnerabilidade e a carência de defesas contra o
mundo, este, agressivamente absurdo, mundo que afinal a personagem também criava
com a sua vulnerabilidade e carência de defesas. Poder-se-á chamar a isto - oh viciosa
mentalidade etiquetadora! – uma equação esquizofrénica? De qualquer modo, não era
um romance, e ele – delicioso Michaux! – apavorou-se. Os romances apavoram-me, de
facto. Repara no percurso joyceano... Quando penso no que W. Burroughs está a fazer
nos USA... Ou então: o grande desafio não poderia ser aprontar uma coisa assim como
“O Burro de Ouro”, de Apuleio? A ponderação destas questões – e outras – atira-me
para fora do que se escreve por aqui em ficções. (41)
Em 1976, num período de “grave
indiferença por tudo” (10), Herberto desistira de ir ao Brasil, a Itália, a Israel;
rejeitara a reedição da Poesia Toda, do
volume de Prosas, e encontrava-se em estado
lastimável. Para animá-lo, eu lhe enviara um cartão com uma das árvores de Soutine,
crente que aquela visão poderia reenergizá-lo. Mas ele me respondera tristemente
que não:
Estou com o teu Soutine, embora melhor do que uma árvore talvez
um ‘bouef écorché’ dele pudesse ser o meu espelho de agora” (10).
Também nessa altura, não
tem estado com ninguém:
Faço uma vida extremamente retirada. E depois, sabes?, estou
um bocado farto de tudo: revoluções, pessoas, conversas. Acho que vou ficando pronto
para uma boa morte” (11).
No ano seguinte não aceita
o convite para “escritor residente” em Londres, mas já com muita pena, pois que
“só eu sei como gosto da Inglaterra, sobretudo de Londres, e da gente inglesa –
tão gentil, civilizada e bonita. Mas sou um bicho ferozmente independente e odeio
qualquer espécie de obrigações, deveres, anuências, servidões, pactos, etc.” (18)
Todavia, mesmo quando está
incomunicável (mais ou menos a posição em que se encontra na maior parte do tempo
da correspondência), Herberto me dá notícias dos outros: que o Gastão Cruz vai publicar
um “roteiro (no bom sentido) da poesia portuguesa” (2); que o Zé Gomes Ferreira
lançou a sua Poesia V e está me enviando
um exemplar (3); que o Manuel da Fonseca “foi operado aos olhos e pouco aparece,
mas sei que recuperou. Esteve praticamente cego” (18); que, além do Carlos e da
Ângela, tem visto o Augusto, Gastão, o Ramos Rosa (5); que assistiu a meia dúzia
de episódios dessa “deplorável Gabriela” na TV, na reconquista que o Brasil empreende
da sua ex-metrópole: “Bons actores, hábeis técnicos. Mas como se pode tolerar esse
Jorge Amado? Embora melhor, pertence à execrável raça do Ferreira de Castro que,
ainda na adolescência, me fazia eczema” (11); que é curioso que um texto sobre sua
obra apareça “numa revista que pretende ser a ultra-vanguarda radical da poesia
portuguesa” (19); que é possível que o Carlos tenha deixado coisas inéditas (44),
etc, etc.
Diretamente sobre sua obra,
menciona que só a Máquina Lírica parece
“difícil”, mas
apenas antes de apanhar o seu processo de composição, e para
isso só se tem de ultrapassar a ideia equívoca de que a sua escrita se relaciona
de alguma forma com computadores.(...) A técnica de escrita do livro é esta: vários
planos imagéticos e vocabulares simultâneos, reiteração verbal, constituição de
diversos centros de percepção visual: mas, repara, cada poema possui um centro fundamental,
e toda a matéria que o forma reflui para esse centro, depois de se desdobrar. (27)
V.
Escrever sempre
foi para mim o instável e precário meio de introduzir alguma ordem em mim e à minha
volta, um meio de libertar-me de uma espécie de sufocação interior que contaminava
cada instante da vida.
Herberto Helder, Carta 19
(30/10/1978)
Aliada à sua escrita, quase par a par, há, no entanto,
um fantasma que ele enfrenta diuturnamente e sem dó, que, aliás, lhe consome esforços
e recursos: a depressão. Numa carta de 1982, ele assinala que já fez de tudo “homeopatia,
quimioterapia, tratamentos eléctricos, etc. Tudo em vão. A psicoterapia (mais exactamente;
fiz grupo-análise) é lenta, mas os resultados são mais sólidos e permanentes ou,
se quiseres, mais duradoiros” (38). E a depressão lhe dilapida os parcos recursos
financeiros desde há muito, visto que já em 1973, ele alude que
Isto tem ido mal. Uma das habituais depressões nervosas, embora
das menos graves. Mas já voltei à tona. Espero manter-me aí para as respectivas
alegrais pulmonares. E as práticas mamíferas, carnívoras, e mesmo antropofágicas
da escrita. Ando com fome (5).
Na mesma ocasião, argumenta
que tem gastado tanto com seus tratamentos que não pode sequer enviar os exemplares
da sua Poesia Toda para alguém conhecido,
porque “os dois volumes custam caro em relação às minhas disponibilidades neste
momento, que são escandalosamente baixas (pus-me a gastar com os psicoterapeutas....)”
(5). Em 1976, na altura de sua mudança da Duque de Loulé para Cascais, ele admite
de novo a “grande depressão” que atravessa mesmo depois de quatro anos de psicanálise:
Estou num estado lamentável: uma grande depressão. Sinto voltarem
todos, ou grande parte deles, os sintomas dos meus piores períodos de depressão.
Quatro anos de psicanálise parecem não ter feito muito. A ideia de que vou enlouquecer,
obsessões de toda a ordem, insónias, alterações de percepção, enfim: o catálogo
inteiro de psicopatologia, como eles dizem. Gostaria de morrer. (9)
No entanto, Herberto sempre
se defende desse monstro assacando contra ele a sua escrita ou a sua ironia, como
me explica e me ensina:
Talvez seja um bocado duro chegar à conclusão de que o mais conveniente
na vida é praticar a ironia, a expensas alheias e próprias. Mas é mesmo a essa conclusão
a que se tem de chegar. (...) O tempo joga a favor da qualidade. Entretanto, podemos
ironizar, inclusivamente por estarmos a pensar que temos qualidade. O mundo é divertido.
(15)
E, meses mais tarde, relata-me,
da maneira a mais leve e amena possível (talvez treinando a sua auto-ironia), a
perda do amigo psicanalista:
Com um psicanalista, passei eu tardes inteiras às voltas com
a numerologia do “Apocalipse”, cujas revelações (chegamos a essa conclusão, aliás
apoiados em certas correntes exegéticas), para terem um verdadeiro sentido de conjunto,
devem ser procuradas num esquema numerológico. Incrível, mas o psicanalista suicidou-se
passado um mês! Chamava-se Fernando Medina. Ele procurava conciliar uma quantidade
de coisas inconciliáveis; suponho que morreu disso, de inconciliação. Como se morre
de insolação. Há sóis demasiado fortes para as nossas cabeças. (19)
Não é possível explanar os
meandros dessa “desarrumação” dos seus dias (11), nem das “passagens infernais”
(39) desse Poeta que nunca se considerou um “literato”.
VI.
E parece que
ainda não se percebe e completamente que na minha poesia nada é aleatório, salvo
se se considerar aleatório aquilo que nos é dado obscuramente, tudo o que é “órfico”.
Mas então toda a poesia “inspirada” seria aleatória.
Herberto Helder, Carta 16
(04/04/1978)
E encerro provisoriamente estes comentários, citando
um longo trecho em que Herberto expressava os seus anseios de escrita e de desocultação,
desejos que persistem muito vivos na sua obra póstuma.
E, por isso mesmo, me pergunto
se teria ele apreciado que ouvíssemos, ressoando no poema-suicida de Letra Aberta (o poema 15 da “noite por água
dentro”), aquele XX do Guardador de Rebanhos,
assim como a derradeira correspondência de Sá-Carneiro para Pessoa, assim como estilhaços
da poesia contemporânea brasileira e portuguesa, dos Lusíadas - poema onde, afinal, o Tejo “é mais belo” que o Sena? E será
que aquela água toda, que borrifa esse poema de Herberto e se alastra por ele, não
terá vindo daquela torneira aberta pelo poema anterior, nisso que, “por fora”, ele
é “corda de viola”, “corda de viola que [no entanto] ressoa”?!
E como deveremos ler a “esmola
em rápida moeda falsa” do poema 11 do mesmo livro, aquele da escrita do “poema aceitável”,
madurado “ao longo de oitenta anos”, quando então o poeta arranca da morte “apenas/as
ervas que à volta crescem no chão fechado,/ entre os meus dedos presos pelas pontas/a
uns outros dedos mais subtis e ardentes,/ e que assinam estes também,/o nome cruzes
canhoto”? [1]
Me acode que de lá de onde
está, Herberto deve estar se divertindo muito com essa interpretação, sobretudo
porque ela encena uma investida de delucidação de um mistério.
Mas retomo o ponto onde queria
desembocar. Em 27 de julho de 1975, ele me explanava a seguinte tese:
Penso que uma pessoa escreve para passar desapercebida, para
rodear-se de silêncio, para saber objectivamente que está [o grifo é dele] diferente dos outros, para ocultar-se. Alguma
coisa a este respeito disse eu na parte final do 2º. vol. de “P.T”, nas “Antropofagias”.
Mas tudo isso é complexo: penso que, se é forçoso estar oculto, aspira-se a que
nos desocultem, a que nos tirem a razão, a que nos deixem desarmados, nus, humanos,
frágeis. Porque só assim, descobertos, poderemos ser amados. A decifração é o único
acto de amor. Por isso, apenas se é atingido por certo tipo de tentativa de decifração.
Por isso a gente pode rir de quase todas as pretensões exegéticas. Olhamos para
nós mesmos, e vemo-nos com a mesma roupa. Até que chega – quando chega – o temido
e amado decifrador, aquele que realmente traz chaves, o que traz armas – o guerreiro.
Isto é a história, noutro plano – de Jacob e o Anjo? É a história geral e contínua
– mas particular e rara – da bela adormecida, de todas as demandas e esperas, de
todas as expectações e atenções, de todas as casas à espera de serem habitadas.
Assim na vida; assim na outra vida, cumulada, potencializada, sobrecarregada, mais
intensa e significativa, do poema.(7)
VII.
NUMERAÇÃO DA CORRESPONDÊNCIA
E RESPECTIVAS DATAS
1. Mais ou menos maio 1973
2. 30/05/1973
3.15/06/1973
4. 29/08/1973
5. 15/04/1974
6. 08/03/1975
7. 27/07/1975
8. 15/10/1975
9.04/03/1976
10. 17/10/1976
11. 19/08/1977
12. 21/09/1977
13. 14/10/1977
14. 16/12/1977 e 17/12/1977
15. 09/02/1978
16. 04/04/1978
17. 23/04/1978
18.11/07/1978
19. 31/10/1978
20. 07/11/1978
21. 20/11/1978
22. 12/01/1979
23. 28/02/1979
24. 31/03/1979
25. 12/05/1979
26. 22/05/1979
27. 04/08/1979
|
28. 26/11/1979
29.15/02/1980
30. 03/03/1980
31. 11/03/1980
32. 17/04/1980
33. 10/05/1980
34. 23/04/1981
35. ? 1981
36. 18/11/1981
37. 05/02/1982
38. 03/03/1982
39.26/12/1982
40. 06/07/1983
41. 21/09/1983
42. 28/09/1983
43. 17/02/1984
44. 03/10/1984
45. 14/04/1985
46. 07/05/1985
47. 17/07/1986
47’. 31/07/1986
48. 14/08/1986
49. 07/10/1986
50. 13/09/1987
51. 16/09/1987
51’. 21/09/1987
52. 24/04/1988.
|
NOTAS
A referida correspondência é composta por 52 peças
que estou depositando agora (novembro de 2016) como doação ao Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira,
com a finalidade de que faça parte da futura Cátedra Internacional Herberto Helder.
Numerei as peças
cronologicamente, de maneira que ao citá-las invoco apenas o número adotado. Ao
final do texto (no item VII), forneço, entretanto, as datas correspondentes a fim
de que o leitor possa ter uma visão completa do período em questão.
Para o caso, a expressão utilizada como título do
trabalho encontra-se na Carta 7.
1. HELDER, Herberto – Letra Aberta (poemas inéditos escolhidos por Olga Lima). Porto: Porto
Editora, março de 2016. Poema 15, pp. 30-31; poema 13, pp.27-28; poema 11, pp.23-24.
Os “canhotos” a que me refiro fazem parte do volume
anterior, também póstumo, de H.H., Poemas
Canhotos. Porto: Porto Editora, maio de 2015.
*****
MARIA LÚCIA DAL FARRA (Brasil, 1944). Poeta e
ensaísta. Autora de livros como Livro de auras (1994), Livro de possuídos (2002) e Alumbramentos (2012). Página ilustrada com obras de Joseph
Cornell (Estados Unidos), artista convidado desta edição de ARC.
*****
Agulha Revista de Cultura
Fase II | Número 25 | Março de 2017
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista
os editores não se responsabilizam pela devolução de material não solicitado
todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
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