O grito de 22,
partido de São Paulo, despertou o resto do país. Cada região buscou as suas raízes
e com elas produziu seus versos e sua prosa. No Rio Grande do Sul apareceu logo
o nome de Augusto Meyer, que fez poesia com versos assim: "Teu corpo faz sonhar
com frutos bravos: bucuparis, bromélias, guabijus". Ou com este verso eminentemente
gaúcho: "A cabeça do alazão é uma chama esbelta".
Seria no ensaio,
porém que ele deixaria sua mensagem principal, num entendimento completo do mistério
literário, capaz de produzir tanto um Cervantes como um Proust. Uma análise completa
do extraordinário talento de Meyer como ensaísta está no volume que Alberto da Costa
e Silva selecionou e prefaciou, chamado "Ensaios escolhidos".
Como estamos
no ano do centenário de morte de Machado de Assis, vale a pena lembrar que Augusto
Meyer foi um dos grandes machadianos da Academia Brasileira de Letras. Seu ensaio
"O enterro de Machado de Assis", que Alberto da Costa e Silva inclui em
Ensaios escolhidos, fornece bons trechos sobre Machado de Assis que poderão ser
usados nos muitos discursos e nas conferências programadas para este ano.
Boa ideia foi
a lembrança do discurso de Alcindo Guanabara, pronunciado na Câmara dos Deputados.
Dizia o orador: "Ninguém como ele", dizia o orador, "afirmou na obra
literária a sua individualidade e a nossa nacionalidade. Antes dele, contemporaneamente
com ele, Gonçalves Dias e José de Alencar falavam do Brasil, mas do Brasil que nós
não conhecemos, de um Brasil pré-histórico, do Brasil dos selvagens romantizados
e poetizados, que é, para nós outros, quase um Brasil de ficção.
Machado de Assis
disse de sua gente, de seu tempo e de seu meio. O seu campo de atividade foi a sociedade
em que vivemos. Não tinha imaginação ou não se servia dela; falava como filósofo,
como anotador, como crítico. Ele era calmo, um retraído, um tímido, e, não obstante,
foi considerável e intensa a sua influência sobre as classes cultas da sociedade...
Tinha um estilo seu, próprio, singular, único na nossa e quiçá, em alheias línguas.
Não sei se direi demais dizendo que tinha, ou que fizera, uma língua nova, que novo,
ou pelo menos inconfundível era o português que tratava.
Era um irônico,
de uma ironia que não era, nem se parecia, com l'esprit dos franceses nem o humour
dos ingleses; uma ironia que superava a de Sterne ou de Xavier de Maistre e dir-se-ia
filha da. de Anatole France, se não houvera precedido. Original e único, era um
filósofo, um comentador, um crítico e um analista - analista das coisas e dos homens,
das almas e dos costumes, dos indivíduos e do meio, das paixões e dos pequenos vícios.
Não tinha o sarcasmo dissolvente, mas um doce e benévolo ceticismo".
Augusto Meyer
reproduz ainda trecho de Olavo Bilac sobre a morte de Machado, um verdadeiro texto
de poeta: "O féretro do Mestre amado foi para o cemitério arrastado numa onda
de amor, oscilando sobre o vasto coração palpitante do Rio de Janeiro. À frente,
as bandeiras das escolas, os pendões dos moços tremiam e arfavam como grandes asas
luminosas; e o rumor que as rodas da carreta arrancavam das pedras das ruas era
como o soluço da terra carioca".
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Os ensaios de
Augusto Meyer mostram um mundo literário que é, ao mesmo tempo, nosso, e analisa
uma série de assuntos da literatura universal, como o solilóquio de Hamlet, a obra
de Pascal, Gobineau, Dostoievski, Garret, Fiodorov.
Ensaios escolhidos,
de Augusto Meyer, é uma edição da José Olympio, com seleção e prefácio de Alberto
da Costa e Silva. Capa: Interface Designers/ Sérgio Liuzzi, foto da capa do arquivo
da família.
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Tribuna da Imprensa (RJ) 15/4/2008. Artista
convidada | Rozi Demant (Nova Zelândia, 1983)
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Agulha Revista de Cultura
Número 116 | Agosto de 2018
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
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revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
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| FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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