1 Por quê, a realidade não se cansa?
… Numa das minhas voltas pela atualidade, fiquei a par do que, em resumo,
é o livro, de memórias, de Francisco Pinto Balsemão… De algumas memórias, porque,
de acordo com o próprio, nem todas convém serem lembradas. De relevante,
no alinhamento, a confirmação, colateral, de que o País tem estado sob a tutela
de jovens companheiros da vida airada; gente que nasceu e cresceu em clima
de inocentes aventuras –razão porque, no topo da pirâmide, haja o
que houver, não há culpados. E não há, por ser incoerente culpar quem,
medrando em parcerias de irresponsabilidade, tem tido permissão para ser
governo.
Ora!, eu que tinha pensado escrever sobre
a morte, na qualidade de boa notícia, de repente, o espírito ficou indeciso, entre
o sério e o satírico; olhando em redor, procurando a ponta por onde
pegar –não porque faltem assuntos sérios e assuntos sérios que façam rir; mas, porque
a escolha seria facilitada, se menor fosse o volume das matérias.
Decidi-me, então, pelo lado paranoico
do estado pandémico, dando evidência ao que a própria situação deixa claro;
mostrando que poderia e poderá ser muito pior, por se deixar à Ciência e à Política
a esperança na resolução dos nossos problemas, sem que se repare que a multiplicação
e o agravamento dos padecimentos tem origem na ação de cientistas
e de políticos –isento a Ciência e a Política, como entidades abstratas,
cujos corpos dependem do corpo e da cabeça de pessoas que, mesmo desequilibradas,
podem ter habilitações para o exercício.
A Ciência vem sendo transformada em religião
incontestável; com igrejas, capelas e seguidores toldados
pelo espírito de religiosidade; à procura, outra vez, de um deus que
ninguém conhece, porque as pessoas procuram-no longe do deus que nelas existe;
à mercê das experiências do Diabo.
A Política está mais do que preenchida
por gente procurando salvaguardar o seu presente e o seu futuro; defendendo
interesses de que o País –o interesse coletivo– não colhe benefícios;
mas, prejuízos, resultantes da falta de amor-próprio traduzido nos arranjos
da promiscuidade.
Todos necessitamos, de fato, de algum
tempo, para a realização de que os equívocos, os erros, são ferramenta
útil… Se os tivermos por material de reflexão! E se reerguer-mo-nos,
de cada vez que caímos, deixa a imagem de sermos corajosos, não procurarmos
saber por que caímos, dará, de nós, a imagem de, simplesmente, estúpidos.
Estando atentos, constataremos
que os poderes –político e científico– preferem o investimento
nos negócios ao investimento na reformulação do Ensino,
e à implementação de hábitos promotores de saúde. Não há interesse,
por não haver vantagens económicas no esclarecimento sobre princípios
de coexistência e convivência, nem sobre o que, como conduta e
hábitos alimentares, mais se nos adequa. É a ignorância o mais
lucrativo negócio.
É disto que deveriam constar as verdadeiras
e necessárias aulas de cidadania, as quais levassem a que se perceba que
as doenças e deformações são devidas aos nossos errados hábitos
e comportamentos –tendo em conta, claro, as anormalidades congénitas,
por causa do que defino como multiculturalismo genético ou coexistência
indevida de genes que deveriam ficar distantes. Nem sequer há doenças
próprias da idade. São males devidos a usos e costumes
que, com a idade, se agravam, podendo levar a estados deploráveis.
Juntemos, agora, os efeitos da transgênese,
de que o momento porque passamos é ilustração convincente.
Todas estas elucidações caberiam à Escola,
desde o ensino básico ao hipotético doutoramento, se os professores
fossem, todos, devotos, preparados e interessados; e se o sistema
escolar não teimasse na ideia de que a educação cabe aos pais
–o que, só por si, é indício de falta de reflexão, em espaço onde a reflexão
é o mínimo exigível, porque ninguém ensina… sem, implicitamente,
educar: pela forma como se apresenta, como expõe, como se
movimenta; pelas mensagens que, enquanto reflexo de ideal,
não consegue deixar de transmitir.
Se as espécies selvagens, sem os nossos
predicados, vivem e sobrevivem organizadas e saudáveis –sem regime
político, sem médico de família nem exames regulares–, até que
lhes apareçam os cientistas e os políticos –o Ser humano–, qual é
a conclusão a que podemos chegar?… Qual é a dificuldade em perceber que a Vida é
berço, escola, alimento, profilaxia e cura?…
É evidente o que, para bem e para mal,
nos diferencia das outras espécies. E que, provado pela nossa natureza
e percurso, acabaríamos por ter modelo de vida distinto. No entanto,
fará sentido perguntar-se, de que nos serve a capacidade de raciocínio, se
não descortinarmos qualquer solução de compromisso; plano liberto
de extremismos, e que, de algum modo, seduza e amacie o Instinto?…
Se a nossa vocação se esgota nos
negócios, não se espere da inteligência artificial a compensação às
fragilidades emocionais refletidas no uso da Razão, porque a memória informática
depende da memória e do anseio humanos, que, por sua vez, depende
da memória e do anseio do Instinto –que, naturalmente, ao artifício chamará
um figo; tratará do assunto como quem se lambuza com sofisticados pastéis derretidos
em creme.
Bem!, depois do que parece manifesto
contra o considerado conhecimento científico, devo esclarecer não ter
nada contra a Ciência nem contra a Política; mas, contra as pessoas que, indevidamente,
se servem da Ciência e da Política. E entendo, até, que a Humanidade está, cada
vez mais, exposta ao entusiasmo de quem, por imaturidade e/ou espírito
perverso, não entende e/ou não quer entender o que a Ciência, no sentido
puro, propõe, conjugando vocação, inteligência, moderação e
dignidade…
Quanto à Política, apesar das particularidades
próprias, está, também ela, exposta ao entusiasmo de quem, por inocência
e/ou espírito perverso, não entende e/ou não quer entender o que
a Política, no sentido puro, propõe, conjugando vocação, conhecimento,
inteligência e dignidade.
Dado ser a minha primeira participação,
na Athena, aproveito para saudar os restantes colaboradores, e agradecer, aos responsáveis
administrativos e editoriais, o espaço disponibilizado; e dizer, já agora, não ter
mais do que propostas de reflexão, crente de que a salvação da Humanidade
não está nas ferramentas; mas, no modo como as ferramentas são utilizadas,
na sequência da reformulação da mentalidade com que se vive, porque, como
já, outras vezes e noutros contextos, referi, o conhecimento não é inteligência.
A inteligência está no modo como o conhecimento é aplicado
–o que, de imediato, leva à conclusão de que a paz e a saúde da Humanidade
não dependem de sofisticados artifícios; mas, da simples mudança de comportamentos…
… Continua a ter-se por sabor a injusto o fim das coisas
e dos seres a que nos apegamos. E, tratando-se de coisas e seres que amemos, o desaparecimento
provoca, para além do desconforto, a reformulação no modo como passamos a olhar
tudo o que nos rodeia, sendo a consciência abalada pelo reconhecimento de que a
nossa evolução depende da importância que atribuirmos ao efémero
e, consequentemente, ao desprendimento como defesa que ameniza
os ímpetos do Instinto de Posse –instala-se a certeza de ser ilusão sentirmo-nos
mais do que usufrutuários.
Como se sabe, nada é eterno. Desde o Princípio.
No entanto, movidos pela discordância do inconformismo, há humanos que mantêm a
procura da imortalidade –investindo o que têm, o que não têm e o que
não lhes pertence; hipotecando lições do passado e oportunidades com que o presente
nos anima, estimulando a resistência, perante a irresistibilidade da atração pelo
que projetamos e acreditamos estar guardado nas gavetas do amanhã
que, ansiosamente, perseguimos, sem nunca tirarmos os olhos do dia seguinte.
Ambições, guerras, ódios, e amores, é claro!, tudo reciclado
e repetido, como Quem baralha, parte e dá… sem experimentar outras cartas –a Humanidade
é a mesma; formada por tudo o que, desde o início, a caracteriza e se sobrepõe a
conhecimento
e experiência adquiridos e negligenciados, como se tudo o que
pensamos e fazemos seja o excesso que os cálculos da Vida previram; mas, mantendo
inalterados os Seus planos, sendo a Razão mera tolerância do Instinto.
Daí, o caminho andado ter o aspecto de nunca ter sido percorrido;
com as pedras, em que tropeçamos, preservando os esgares de ironia e de indiferença
com que atapetaram e sabotaram a passagem e o destino das tantas gerações que acreditaram
ser possível iludir a realidade, bastando, para tanto, mudar de roupa.
Confundindo conhecimento e inteligência
–supondo serem, um e outra, a mesma coisa–, a Ciência é apresentada, tratada e imposta
como a única religião capaz de suster os prejuízos e as tragédias a que
a dureza da Vida não nos poupa. Mesinhas científicas tomam o lugar dos
dentes de alho e do sinal da cruz, assim que pressentida a proximidade de Satanás,
que, sem piedade, e de sorriso nem sequer esquivo, mostra quanto é prolífico o seu
imaginário –de cada vez que os deuses terrenos dão fogo à forja e ar
ao fole, o Diabo pousa as bolas-de-sabão, e sopra, por exemplo, qualquer
inocente pandemia, contra a qual, no intervalo de duas meias-solas postas em sapatos
que nunca tiveram grandes dias, são concebidas e implementas medidas absurdas …
Nada faz tão mal à Humanidade como a ignorância desesperada
por dinheiro!…
Ao ser confiada a marcha da Espécie a estas dúzias de iluminados
que, às escuras, lhe desenham os passos, o risco de se assistir ao colapso é sério.
De tal ordem, que o affair Rússia-Ucrânia, ou vice-versa,
é, no meio disto tudo, pouco representativo, apesar do temor, infundado, de que
a guerra alastrasse…
Não! Não haverá dia D, de decisivo. O D
é outro; tem o significado do desespero, tantas as guerras
e as réplicas intermináveis a que é dada cobertura, porque a paz e a normalidade
não dão proventos. A aposta é no desassossego, com a demência coletiva dando corda
aos brinquedos.
Havendo a hipótese de pôr ordem no caos, e evitar a insolvência,
a esperança reside na ação individual como forma de ser encontrado
um novo coletivo, formado por gente que, pensando pela sua própria
cabeça, se eduque e se prepare para detectar falácias, valorizando o sugerido pela
coerência,
porque, afinal, a Vida é escaparate de informação disponível e não só ao alcance
dos visionários altruístas que a Democracia tem vindo
a desmascarar, confirmando não haver regime político que salve da derrocada qualquer
sociedade constituída por pessoas que mais não querem do que entretenimento e salvaguardar
a conveniência.
A decrepitude é perceptível. O desleixo vigora. A letargia
é generalizada, e, por entre o amontoado de escombros –tantas as pessoas em ruínas–,
espreguiça-se a aurora anunciando o milagre 5G, não havendo problemas humanos que
a tecnologia não solucione.
– Então, por quê, no estádio em que se encontra a Revolução
Tecnológica, tudo se apresenta tão problemático???!!!…
– A perfeição também tem hiatos… E é própria a demora na adequação da génese da mente à génese das máquinas… Sejamos optimistas…
RODRIGO COSTA (Portugal, 1952). Curso Geral de Artes Visuais, da Escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis. Representado, em Portugal, em coleções privadas e em instituições, tais como a Câmara Municipal de Gaia; Casa-Museu João Mário; Millennium bcp e Banco Português de Investimento. Em coleções privadas, em Espanha, França, Irlanda, Inglaterra e Índia. Exposições: no País e no exterior, 27 exposições individuais. Participou em inúmeras de caráter coletivo, de entre as quais, London At Fair, 2008; Royal Academy of Arts, Summer Exhibition, 2012, Londres; ROI – Royal Institute of Oil Painters, Londres, 2013. Autor de vários livros (pintura, poesia e ensaio).
ARIADNA PINEDA (México, 1980). Estudió la Licenciatura en Artes Visuales en la Facultad de Bellas Artes de la UMSNH, así como Diseño de moda en Instituto INMODART en la ciudad de Morelia, Michoacán. Su experiencia profesional se ha forjado creando pintura, escenografía teatral, diseño de vestuario teatral y dancístico, escultura, fotografía, ilustración y muralismo. Sus exposiciones individuales han girado la mayoría en torno al arte con técnicas experimentales realizando obras arte háptico-senso-perceptual para personas con discapacidad visual, otras exposiciones de arte fumage y pintura al óleo, todas con su particular estilo surrealista. A la fecha son 13 sus exposiciones individuales desde el 2011. Participa en exposiciones colectivas desde 1996 dando un total de 38 colectivos. Algunas de sus obras se encuentran en Italia, Canadá, EU, en manos de coleccionistas privados. Ariadna en su creación encontró un nuevo camino con precedencia a partir de años de exploración, experimentación y especialización en la pintura al óleo y el arte fumage, encontrando su propio lenguaje, hoy busca dar a conocer con luz propia su obra surrealista más reciente para tomar con mayor fuerza los caminos de la creación. Ariadna Pineda es la artista invitada de esta edición especial de Agulha Revista de Cultura.
Agulha Revista de Cultura
CODINOME ABRAXAS # 06 – ATHENA (PORTUGAL)
Artista convidada: Ariadna Pineda (México, 1980)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2025
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com









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