Poeta
caribenho de língua francesa, nascido em 1947, no seio de uma família numerosa (pai
auxiliar de enfermagem e mãe costureira), em Saint-Claude, pequena cidade no sopé
de uma montanha materna-vulcão em atividade, La Soufrière, em Guadalupe, a ilha-borboleta
das Pequenas Antilhas, Daniel Maximin pertence à geração dos que vieram ao mundo
no imediato pós-guerra com os seus sonhos de paz duradoura e de descolonização em
marcha vitoriosa. A família instalou-se em Paris no início da sua adolescência para
preparar o retorno, futuro, dos sete filhos ao país natal.
Ensaísta importante sobre a produção contemporânea em geral
mas sobretudo em permanente diálogo com poetas antilhanos (Aimé e Suzanne Césaire,
René Ménil, Léon Damas, René Depestre, Jacques Roumain, Vincent Placoly, Guy Tirolien
etc. ) e africanos (Wole Soyinka, Sony Labou Tansi, Léopold Senghor, U’Tamsi etc.),
editor de poetas (a sua edição da poesia completa de Césaire permanece, ainda hoje,
a melhor para quem pretende iniciar estudos antilhanos de língua francesa), [1] Daniel
Maximin trabalhou, durante muitos anos, em contacto com a nova geração de escritores.
Sua atividade cultural fez-se em vários níveis: a) através de um programa de entrevistas
na rádio France Culture; b) acompanhando,
durante anos, o festival internacional de teatro de Limoges e c) no Ministério da
Cultura, encarregado da pasta Affaires culturelles,
promovendo e organizando encontros de poesia e de teatro.
Maximin dirigiu ainda várias encenações de textos (Montserrat, do mexicano Manuel Robles, 1972;
La danse de la forêt, do nigeriano, prêmio
Nobel, Wole Soyinka, 1974; Veillée noire pour
Damas, 1978 e Léon Damas, 1988, estas
duas últimas sobre o poeta da Guiana francesa), tendo colaborado igualmente, ao
longo do tempo, com diretores importantes na criação das peças de Aimé Césaire,
La tragédie du Roi Christophe, Une saison au Congo e Une tempête: Jean-Marie Serreau, Antoine
Vitez e Christian Schiaretti.
Ainda sobre a sua experiência teatral: preparou o texto
a partir do qual o grande diretor burkinabé
Hassane Kouyaté criou o espetáculo Suzanne
Césaire, fontaine solaire, em 2018, para três atrizes, em Fort-de-France, na
Martinica. Antes, em 2016, juntamente com um conhecido pianista antilhano, Alain Jean-Marie, apresentou um espetáculo de poesia e jazz, em Paris, Connivences antillaises, retomado a seguir em outras salas de espetáculo.
Daniel Maximin é provavelmente um dos maiores conhecedores,
senão o melhor, da produção dos chamados Orfeus negros, ultrapassando o velho triângulo
negreiro do Atlântico porque abarca ainda: o Magrebe, ou seja, o Norte da África;
o Oriente Médio (o Líbano); o oceano Índico (Madagascar e La Réunion) e a Polinésia
francesa.
Sobre a sua atividade crítica, aconselhamos aos leitores
a consulta do seu texto Les Orphées noirs.
L’originale poésie franco-polyphonique,
anexo ao seu volume de poemas, e se quiserem, mais tarde, alargar e aprofundar o
seu conhecimento a esse respeito, deverão consultar dois outros dos seus ensaios:
Les Fruits du cyclone. Une géo-poétique de
la Caraïbe (Seuil, 2006) e Aimé Césaire,
frère volcan (Seuil, 2013), ainda não traduzidos para o português. A sua longa
atividade crítica permite-nos igualmente aprofundar a compreensão da sua própria
poética no contexto da criação antilhana.
Depois de várias publicações em revistas, inclusive um
diálogo poético com o congolês Sony Labou Tansi sobre o amor, Maximin publicou,
em 2000, o seu primeiro livro de poemas, L’Invention
des Désirades, na editora Présence Africaine, volume retomado por Seuil, em
nova edição, refundida e aumentada, em 2009.
A poesia de Daniel Maximin retoma e ilumina, resume e glosa
a posteriori, passagens, figuras e temas
recorrentes das suas obras em prosa: os romances (L’Isolé soleil. Paris,
Seuil, 1981; Soufrières. Paris,
Seuil, 1987 e L’Ile et une nuit. Paris, Seuil, 1995), [2] trilogia de poética barroca sobre o passado coletivo, ancestral e recente,
graças à multiplicidade dos narradores e à evocação de personagens originários de
três continentes, além de uma originalíssima narrativa de memórias (Tu, c’est l’enfance. Paris, Gallimard, 2004) em
que o homem adulto dirige-se ao menino de outrora. Daniel Maximin escreve, no momento
atual, um quarto romance, cuja ação se condensa num só dia – o do fuzilamento de
jovens resistentes em 1943 – durante a Ocupação alemã em Paris.
O volume de poesias de 2009 divide-se em três partes –
Îles, Ailes e Nous – subtítulos que jogam, em francês, do ponto de vista fonético, com os três pronomes
pessoais, Ils, Elles e Nous, a que se
seguem Autres dérades, cinco textos muito
originais em prosa poética, e, por fim, o longo poema dedicado a Christine Chaulet-Achour,
sobre os poetas contemporâneos que desapareceram cedo demais. Por outras palavras:
os poetas abiku, nascidos para a morte.
A segunda edição dos seus poemas, publicada por Seuil,
acrescenta ainda os últimos poemas inéditos e revela, através de novas versões,
mais largas ou mais densas, de poemas anteriores, o esforço constante de reescritura.
Como os de Aimé Césaire, muitos dos poemas de Maximin parecem obras móveis (oeuvres mobiles, conceito de Ernstpeter Ruhe).
A nova organização dos poemas, na edição de 2009, destaca,
de forma evidente, três grandes eixos de significação:
a) uma geografia simbólica da Guadalupe natal e do grande
arco das Antilhas (o subtítulo Îles só
pode ser traduzido, para manter o jogo dos homófonos, Elas – as Ilhas);
b) uma poética, sob a invocação mítica e tutelar de Ícaro
(Ailes, que para manter o jogo da homofonia
deveria ser traduzido por Eles – os Voos das
Asas), que retoma, subvertendo-o, o tema do horizonte vertical, de um poeta argentino, Roberto Juarroz, afastando
qualquer ideia de punição da hybris e
c) o canto do amor com os seus imprevistos desconcertos
(Nous, que para jogar com a homofonia
em português, poderia ser traduzido por Nós
– os Nós).
Este último eixo de significação, essencialmente lírico,
confirma, à primeira leitura, a sua proximidade com a poesia amorosa do guianense
Léon-Gontran Damas assim como a busca de uma certa musicalidade, de todo ausente,
por exemplo, na poesia daquele com quem Daniel Maximin dialoga incansavelmente,
Aimé Césaire.
Poesia polifônica, ao mesmo tempo enraizada e aberta, sensível
aos discursos aparentemente contraditórios da negritude, da crioulidade
e da americanidade, Daniel Maximin dá
voz não apenas aos que não têm voz, projeto militante que o seu texto atravessa
e ultrapassa, em busca da terra natal e do tempo perdido, ou disperso nos desvios,
fazendo falar, na primeira pessoa, a paisagem que cria a História, o vulcão materno,
os elementos primordiais da criação (terra, ar, fogo e água), o êxodo que precede
a gênese, a música e o silêncio, a escrita sobretudo, apagando resolutamente a distinção
dos gêneros.
Para, muito resumidamente, penetrar no volume L’Invention des Désirades e entender o alcance
da poética de Maximin, optamos por explorar, muito simplesmente, o título do seu
livro, tentando fazer perceber não só o que significa mas sobretudo o que carrega
do ponto de vista imaginário: Invention
e o plural, de todo estranho, do topônimo (real) de uma ilha só existente nas cartas
geográficas maiores, Désirades, por ser
muito pequena e por isso mesmo quase invisível. Ou apenas visível para quem sabe
que ela existe e a procura, com atenção, num mapa do Caribe mais detalhado.
Buscamos ainda explicar o paradoxo: como um lugar inóspito,
com pouca água, espaço de reclusão para leprosos e delinquentes, torna-se, no texto
de Maximin, numa metamorfose inesperada, as ilhas sonhadas, da materialização possível
dos sonhos. Não esqueçamos a noção fundamental de que as Antilhas são um dos laboratórios
culturais da América.
Retomemos pois o título – L’Invention des Désirades – em breve comentário.
Invenção, inventar vêm do latim inventio, achado, descoberta, de invenire, descobrir, achar, formado de in–, em,
mais –venire, vir. O sentido atual de invenção,
de coisa feita previamente não-existente,
no português, é de cerca de 1510. Mas o sentido arcaico, etimológico, não desapareceu.
O mesmo ocorre, aliás, na língua francesa. Inventeur (ou seja, inventor), segundo o
Littré, dicionário da língua clássica, designa o homem que encontra, por acaso feliz,
um tesouro de moedas antigas na terra, um monumento soterrado há séculos do qual
não se tinha memória ou uma gruta pré-histórica desconhecida. Neste sentido, inventer é descobrir o que estava escondido
ou perdido, significado que se mantém igualmente na iconografia e no discurso religioso
e pictórico, na maioria das línguas latinas de tradição católica: na Invenção da Santa Cruz, título do ciclo admirável
de Piero della Francesca, em Arezzo, não se trata de fabricar um factoide (uma falsa
cruz) mas criar uma narrativa pictórica do descobrimento milagroso da cruz da Paixão
de Cristo. O significado primevo mantém-se ainda, em francês, quando se trata de
descobrir, por exemplo, uma gruta num terreno de sua propriedade: l’inventeur de la grotte de Rocamadour é
o senhor Lamothe [3] que inventou a caverna com pinturas e desenhos
do paleolítico e que, sobre ela, teve reconhecidos, oficialmente, os seus direitos
legais.
Por outro lado, se olharmos com atenção um mapa grande
das Caraíbas, Désirade é um ponto quase
invisível, no arco das Pequenas Antilhas, uma dependência administrativa da Guadalupe
desde 1648, situada a apenas alguns quilómetros a Leste da chamada Grande-Terre. [4] Na realidade, esse pontinho tem a forma de um retângulo
alongado. Vigia e sentinela da Guadalupe, a ilha-borboleta, aquele rochedo achatado
mede apenas onze quilômetros de comprimento por dois de largura. Os seus poucos
habitantes, quase todos pescadores, são chamados hoje os Désiradiens: a ilha foi a primeira terra encontrada (ou inventada),
três semanas depois de deixar as Canárias, por Colombo e seus marinheiros, durante
a sua segunda viagem, de 1493, num momento de grande tensão prestes a explodir,
por falta de água a bordo das naves.
O nome Désirade
teria sido dado na euforia do grito de terra
à vista, antes de tomar contacto com a terrível realidade: a ilha era a Desejada,
mas não resolvia o problema premente da sede coletiva. O ilhéu, um estreito planalto
retangular com falésias abruptas, sem cursos de água e batida por correntes de vento,
tem um relevo que não favoriza a condensação da água meteórica e o seu solo é calcário
e árido, condição desfavorável, ainda hoje, à agricultura. [5] A
equipagem de Colombo não encontra assim a água que deseja e de que precisa. Mas logo a seguir, surge Karukéra, a terra das belas águas no seu nome indígena, avistada da gávea de uma caravela, ainda do mar, por causa das grandes quedas de água do Carbet, e Colombo chamou-a com o nome da Virgem de Guadalupe, que viria sincretizar, em todas as Américas negras, com Oxum.
equipagem de Colombo não encontra assim a água que deseja e de que precisa. Mas logo a seguir, surge Karukéra, a terra das belas águas no seu nome indígena, avistada da gávea de uma caravela, ainda do mar, por causa das grandes quedas de água do Carbet, e Colombo chamou-a com o nome da Virgem de Guadalupe, que viria sincretizar, em todas as Américas negras, com Oxum.
No início do século XVIII, um lazareto foi instalado na
extremidade oriental do ilhéu retangular, no lugar chamado Baie-Mahault e as condições
de vida dos doentes eram duras. [6] Na outra extremidade da Désirade,
no sítio denominado Les Galets (ou seja,
os Seixos) foi erguida uma prisão para delinquentes da Grande Terra assim como para
alguns nobres desregrados da Metrópole, rejeitados, domados e internados por suas
famílias aristocráticas. Estamos, portanto, diante de um exemplo perfeito da an álise clássica de Foucault.
Mas tudo isso ainda não esgota as conotações virtuais desse
título, em mil folhas, de um conjunto de poemas: a língua cria articulações imprevistas
e sugere outras conexões improváveis. A homofonia faz de novo das suas: Désirade, a ilha dos desejos dos marinheiros
de Colombo, os decepciona cruelmente e a palavra, em francês, pode ser lida exatamente
como o seu contrário: désir-en-rade, ou
seja, o fracasso ou a perda do desejo, condenado, para sempre, a permanecer insatisfeito.
No entanto, quando o poeta acrescenta um s [7] e põe no plural o topônimo real – Désirade
torna-se Désirades – aquele se transforma
uma vez mais, numa forma euforizante, a flotilha de quilhas perfeitas a singrar
novos mares da utopia. São as ilhas desejadas a serem inventadas, criadas. Por outras
palavras, as ilhas em metamorfose do final do Diário de um retorno ao país natal, de Césaire. Projeção para o futuro
e recuperação do mito antigo da ilha do paraíso terrestre a ser reinventada.
Resumindo o processo da dupla negação (analisado por Gilbert
Durand) e fechando esta breve introdução:
Invenção quer dizer, em sentido arcaico e peculiar, descobrimento do que estava
oculto e, no nome próprio de um topônimo, tornado plural, Desiradas, estão presentes não só as ilhas existentes ainda não edificadas,
mas já atuantes no eixo do desejo, assim como o projeto a cumprir-se do Novo Mundo,
lugar de todos os possíveis e laboratório de novas experiências estéticas.
Esses jogos com a língua – múltiplos e variados – por detrás
da, só aparente, simplicidade do vocabulário de Daniel Maximin, estão em ação nos
poemas do volume, o que lhes dificulta certamente a tradução mas permanecem, para
o trio, – ou será um quarteto? – poeta-leitor-tradutor-escritor, um desafio fascinante
e arriscado de leitura e escrita.
No final, em particular, em um dos seus poemas em prosa,
texto enigmático mas luminoso, Maximin insinua em surdina o grande paradoxo ou será
um segredo de Polichinelo?: a escrita/escriba é mulher, o que implica dizer que
a escrita feminina pode ser feita também por homens.
A CHAVE
DOS SONS
[8]
Colhíamos insultos
E deles
fazíamos diamantes
René Ménil
Nós
órfãos
nascidos mudos
esmagados pela sombra e pelo sol
nós
apesar deles
apesar da mudez apesar de ilhas apesar da morte
nós
todos nós
músicos sem raízes
no sangue com seiva improvisada
luz entreaberta em blues kaladja [9] guajira [10]
recriamos
a liberdade
nos violinos da resistência
e na partitura dos tambores
a liberdade
e a harmonia
claves musicais fugidas do molho de chaves
bricolage de ritmos herdados do futuro
VULCÃO SOUFRIÈRE [11]
No coração
do vulcão, tudo estalou, desmoronou tudo no barulho do rasgar-se das grandes manifestações...
Desde esse dia tens uma veste de fagulhas, cada um dos teus músculos exprime, de
modo pessoal, uma parcela do desejo disperso sobre a mangueira em flor.
Suzanne
Césaire
Sou húmida demais para
cheirar a queimado. O fogo me atravessa em pleno coração mas não sou o fogo. Apenas
aquela que carrega águas e chamas, em fontes e em cachoeiras, sem as quais a terra
não poderia mais girar, nem a ilha poderia mais respirar, prisioneira entre nuvens
e mangues, entre pântanos e marés, com salpicos de lama nas asas das suas folhagens.
As pedras preciosas derretem no meu colo, mas a minha boca é frágil e não sou o
inferno
aguardo
o primeiro sol para salgar a minha caldeira e deixar-me escorrer ao longo das minhas
fraturas, distante dos caminhos de fuga e de salvação para os homens. E se me ponho bem alto
para acolher a sua aurora, é por saber quantos vulcões no sol explodem lá muito
longe para entreter a anos-luz a doçura de um só dos seus raios
eu
queria só por um curto instante, retornar ao mar, por demais avaro para subir até
nós, apesar de toda a água que lhe envio, apesar de todos os vulcões submarinos
que salgam o oceano e o ajudam a transpirar
não
lembro de ter pensado o futuro. Só sei que nele estarei presente. Com o cheiro de enxofre,
as fumaças nos olhos, a argila sobre a pele, o limo nos pés, o leite do fogo do
interior. Quer a ilha estoure, quer afunde sob o oceano, sou terra, se morrer a
terra, serei fogo. Se morrer o fogo, serei ar, em cinza já grávida de um futuro
bem simples para fecundar a primeira gota de água que me oferecer o seu leito.
ILHA-NOITE [12]
Na origem, sonhei contigo,
depois inventei-te a ti. Depois me convidaste. Em ti e no teu caderno. Acreditei
prever o que vias. Desenhei os teus contornos que sonhei abraçar. Ratinhos ocupados
em construir para eles próprios o labirinto da saída. [13]
Segui com a minha tinta
o traçado das tuas feridas e do teu desabrochar, o meu enxofre [14] e o teu mel espalharam o suor dos sentimentos,
das salivas e dos sabores.
Descerramos as fontes,
entreabrimos os jardins, comungamos em palavras de memória e de predição. Páginas
cheias, vivas ou fenecidas bateram o ritmo das nossas conivências ou dissoluções.
Cada um fez ao outro
a dádiva da sua solidão. Sem pesar demais sobre os sentimentos. Sem traficar em
finais felizes de imaginárias fecundações.
Não adianta nada partir,
é preciso partir a tempo. E não se acusa ninguém da sua vida reencontrada. Despidos
de frases. Entre lençóis desfeitos dele e dela transtornados. Puros-sangues misturados.
Guiados, deixados, separados, desamarrados. Sem necessidade de encantos ao fim das
nossas mil noites. Mas a aurora retirará ao mal a sua luz.
A fiel palavra-passe
vela sobre as nossas fronteiras de coração abertas sem chave nem espelho:
Ser ao outro e a si
mesmo enseada, densa, dança
Miragem
de moinho, magia de nora d’água
NOTAS
1. De forma semelhante, a sua
edição dos textos esparsos de Suzanne Césaire, publicados, durante os anos da guerra,
na revista Tropiques, é imprescindível.
Título:
Suzanne Césaire. Le grand camouflage. Écrits de Dissidence (1941-1945). Seuil, 2015.
2.
Nenhuma dessas narrativas foi traduzida para o português.
3.
A descoberta, ou invenção, data de outubro de 1920, no Lot, região da Occitânia,
no sul da França.
4. A asa direita da borboleta-Guadalupe
chama-se Grande Terra (Grande Terre) e
a asa esquerda, Terra Baixa (Basse Terre),
o que não deixa de intrigar os visitantes, uma vez que esta possui o pico culminante
da ilha, o vulcão Soufrière com quase 1500 metros de altura.
5.
Hoje, a ilha Desirada recebe água potável da Guadalupe.
6. O leprosário fechou as portas
só em 1952. O bagne extinguiu-se, depois
da II Guerra, quando se fecharam os presídios franceses de trabalhos forçados, mas
o centro de detenção da Desirada continua a receber reclusos ainda hoje.
7. Processo
semelhante ocorre no título do segundo romance de Maximin, Soufrières (1995) com acréscimo de um s. Breve resumo do enredo: um grupo de jovens, barricados numa casa
de Saint Claude, as janelas pregadas por tábuas, espera a erupção anunciada do vulcão
Soufrière, cuja força telúrica não só
protege a memória do passado como atiça a esperança da recriação da ilha sob as
cinzas de um paraíso fracassado.
8. O título do poema, em francês,
joga com a expressão la clé des songes,
título de obras que, desde os gregos antigos, pretende interpretar o significado
dos sonhos; título igualmente de um quadro célebre de Magritte. Maximin joga com
a dupla significação de clé, ao mesmo
tempo chave e clave musical.
9. Na Guadalupe, o kaladja é um ritmo lento que exprime certa dor moral, uma ideia de tristeza
e melancolia.
10. Gênero musical derivado do punto
cubano.
11.
O topônimo Soufrière significa mina de enxofre.
12. O poema retoma o final do terceiro romance de Maximin,
L’île et une nuit, 1995, cuja ação se
condensa numa noite. Breve resumo: o vento se levanta na Guadalupe, o mar engrossa
e avança em torno da ilha, ameaçador: o ciclone anunciado pela rádio aproxima-se.
Marie-Gabriel, sozinha na sua velha casa crioula, prepara-se para o dilúvio. Prega
as portas e as janelas, reúne velas, faz provisão de água e de comida. As próximas
sete horas serão intensas, cheias de nostalgia e de lembranças. De esperança também.
O título do poema no original, Île-nuit, jogando com a homofonia, tem dupla
face: negativa il nuit (= ele, o vento,
traz prejuízo) e il luit (= x, não se
sabe quem, ilumina).
13. Fórmula que retoma, quase ipsis litteris, a proposta do OULIPO. Ouvroir de littérature potentielle, geralmente designado pelo seu acrônimo
(OuLiPo ou Oulipo), é um grupo internacional de literários e de matemáticos, surgido
na França nos anos 60, que se definem como rats qui construisent eux-mêmes le labyrinthe
dont ils se proposent de sortir (ratos que constroem o labirinto do qual propõem,
depois, sair). As figuras mais conhecidas são: Queneau, Pérec, Italo Calvino, entre
outras. Criam textos a partir de regras e constrangimentos rígidos, previamente
acordados e obedecidos..
14.
É a ilha-vulcão que fala na primeira pessoa.
*****
Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NO MUNDO INTEIRO
Número 155 | Julho de 2020
Artista convidado: Isabel Ruiz (Guatemala,
1945-2019)
editor geral | FLORIANO MARTINS |
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