Um dos mais conhecidos poetas do Surrealismo,
vanguarda artística europeia que surgiu em Paris no começo do século XX, mais especificamente
no período entre as duas guerras mundiais (1919-1939), os chamados anos loucos,
Éluard destacou-se por sua poesia que exaltava de maneira especial o amor e a liberdade,
o que o levou a ser considerado o mais lírico e mais bem-dotado dos poetas surrealistas
franceses.
Foi depois de uma passagem pelo Dadaísmo,
movimento de vanguarda que procurava contestar os modelos tradicionais e clássicos,
que Éluard aderiu ao Surrealismo, do qual foi um dos grandes nomes, ao lado de André
Breton (1896-1966), Louis Aragon (1897-1982) e Antonin Artaud (1896-1948). Ganhou
fama principalmente depois que, em 1942, seus poemas em nome da liberdade circularam
clandestinamente durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), à época da ocupação
nazista, e inclusive foram lançados por aviões ingleses para incentivar as tropas
da Resistência que lutavam pela libertação da França.
Por isso, ficou conhecido como o poeta
da Liberdade. Em seguida, por seu inconformismo diante da má distribuição da renda
e da voraz cobiça dos exploradores de sempre, optou por aderir ao Partido Comunista
Francês, mas sua adesão durou pouco porque logo descobriu que, por trás da pregação
ideológica em favor dos menos favorecidos, havia uma orientação totalitária, de
que, à época, o stalinismo soviético seria o melhor exemplo.
Por isso, além de uma poesia engajada e
libertária, optou por se dedicar com afinco em exaltar o amor espiritual e carnal,
como se pode comprovar nos versos no poema XIII que faz parte de O amor
a poesia:
Apaixonada
com o segredo atrás de teu sorriso / Toda nua as palavras de amor / Descobrem teus
seios e teu colo / E tuas ancas e tuas pálpebras / Descobrem todas as carícias /
Para que os beijos em teus olhos / Mostrem apenas a ti toda inteira.
II | Como observa no texto
de apresentação da obra o poeta Floriano Martins, o maior estudioso brasileiro do
Surrealismo, Éluard sempre foi o mais autêntico reflexo de sua poesia, pois era
possível ler os seus poemas como se na página com os versos mirasse a si mesmo diante
de um espelho. Segundo Martins, Éluard, em seus poemas, nos traz de volta à poesia,
o amor, a liberdade, sempre que estejamos com a casa inteiramente aberta ao sabor
de sua poesia intensa.
Saio das cavernas
da angústia / Das curvas lentas do medo / Caio em um poço de plumas / Papoulas ao
reencontro / Sem pensar / Num espelho fechado / Sois tão belas como frutos / E tão
pesadas ó meus mestres / Que precisais de asas para viver / Ou de meus sonhos. / A infância fica em sua casa / A corar com seus
deveres / A merecer a vida / Com seus jogos de todas as cores / Seus cadernos tosados
seus estojos ácidos / Uma mão se fecha pousa / As mãos da criança / Como rãs (...)
III | Nascido
em Saint Denis, numa família burguesa, Paulo Éluard teve uma infância feliz, mas,
aos 16 anos, contraiu tuberculose, o que o levou a interromper os estudos. Foi para
um sanatório em Davos, na Suíça, onde conviveu com o poeta brasileiro Manuel Bandeira
(1886-1968), que lá estava também a tratar da mesma doença. Lá conheceu uma jovem
russa, Elena Diakonova (1894-1982), a quem passou a chamar de Gala, com quem se
casou em 1917 e teve a filha Cecile (1918-2016).
Dono de vasta obra, começou a publicar livros
em parceria. Com Benjamin Péret (1899-1959), escreveu 152 poèmes.
Com André Breton, No defeito do silêncio e Imaculada
Concepção. Com Breton e René Char (1907-1988), Trabalhos. Publicou
ainda Capital da dor (1926). Em 1928, novamente doente, retorna
para o sanatório com Gala, onde ela reencontra o pintor Salvador Dali (1904-1989),
um dos ícones do Surrealismo, com quem já tivera um affair e passa a viver.
Por sua vez, Éluard conhece Maria Benz, uma artista da Alsácia conhecida como Nusch,
com quem viveu até 1935.
Depois de expulso do Partido Comunista Francês,
Éluard, em 1936, segue para a Espanha disposto a combater o movimento direitista
do ditador Francisco Franco (1892-1975). À época, escreve o famoso poema “A vitória
de Guernica”, em homenagem àquela cidade que fora bombardeada. Nessa época, passa
a ter amizade com o pintor Pablo Picasso (1881-1973). Em 1940, retorna com Nusch
para Paris. Em 1943, com o poeta francês Jean Lescure (1912-2005), reúne textos
de poetas da Resistência e publica A honra dos poetas.
Com a morte de Nusch, em 1946, buscou forças
para continuar a viver e publicou Do horizonte de um
homem ao horizonte de todos. Em abril de 1948,
Éluard e Picasso são convidados a participar do Congresso para a Paz em Wroclaw,
na Polônia. Em junho, Éluard publica Poemas políticos.
Em 1949, vai para Budapeste assistir às
festas comemorativas do centenário da morte do poeta húngaro Sándor Petófi (1823-1849),
onde se encontra com o poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973). Em setembro, participa
de mais um Congresso da Paz, no México, onde conhece a jornalista Dominique Lemort
(1914-2000), com quem se casaria em 1951. Neste mesmo ano, publicou Le Phénix.
Em novembro de 1952, morre, em sua residência, em consequência de um ataque cardíaco.
SERVIÇO
O amor a poesia
(L’amour la poésie), de Paul Éluard, edição bilíngue, com
tradução de Eclair Antônio Almeida Filho e Márcio Simões, ilustrações de Zoé Parisot
e introdução por Floriano Martins. Natal-RN, Sol Negro Edições, 212 páginas, 2024.
Site: solnegroeditora.blogspot.com E-mail: edsolnegro@hotmail.com
ADELTO GONÇALVES. Jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012), Direito e Justiça em terras d’el-rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os vira-latas da madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O reino, a colônia e o poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. Escreveu prefácio para o livro Kenneth Maxwell on Global Trends (Londres, Robbin Laird, editor, 2024), lançado na Inglaterra. E-mail: marilizadelto@uol.com.br
DAVIDE GALBIATI (Itália, 1976). Para el artista, el tema de la conexión Cuerpo-Espíritu existe desde el principio de los tiempos y probablemente continuará indefinidamente. En esta dirección, Davide Galbiati busca un lenguaje plástico con formas simples y singulares que evoquen tanto a pueblos ancestrales como a civilizaciones de un futuro sideral. Sublima el aura humana en materia para hacer visible lo invisible. Se inspira en el trabajo de escultores antiguos, como Tutmosis (escultor del faraón Akenatón) y en las esculturas griegas arcaicas. El artista alimenta el ardiente deseo de oponer el ruido del mundo al silencio vibrante del quieto. Huye, pues, de las contorsiones dinámicas de las esculturas barrocas o neoclásicas para pensar en la calma telúrica de los antiguos faraones. Galbiati nos lleva a la escultura por el camino del silencio. Gracias al cariño inagotable de nuestra colaboradora Berta Lucía Estrada, Davide Galbiati es el artista invitado de esta edición de Agulha Revista de Cultura.
Agulha Revista de Cultura
Número 258 | dezembro de 2024
Artista convidado: Davide Galbiati (Itália, 1976)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2024
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FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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