Aos vinte anos,
aconteceu, precisamente um ano exacto depois da publicação de Sangria, existir mais do que
justificação para conhecer o Cesariny. Apareceu, nessa altura, a revista
bilingue, com edição em Português e outra em Castelhano, chamada Síntese e Síntesis, dirigida por Azevedo Martins, que, por seu turno, era
igualmente director do Jornal de Letras e
Artes. O Cesariny – pessoalmente não nos conhecíamos – publicou na revista Síntesis uma crítica literária aos
autores “novíssimos”, surgidos entretanto, e, nesse pé, irmana-nos, a mim e ao
Almeida Faria, falando, no referente ao meu caso, en erotismo y ataque, e, no caso do Benigno José (de Almeida
Faria), en metafísica y erotismo. O
Cesariny via-nos, ao tempo, como paradigmas da jovem vanguarda portuguesa.
Ambos tínhamos 20 anos. Bons tempos em que eu e o Ben – portanto, o Benigno
José –, autor do Rumor branco,
tínhamos o tempo a favor. Além disso, tratava-se, outrossim, de uma sublinhável
questão geracional. A crítica muito arguta do Cesariny coloca – como não podia
deixar de ser – o dedo nessa ferida. Com efeito, o Almeida Faria é, precisamente,
um mês e cinco dias mais novo do que eu. Bons tempos, repito, bons tempos… em
que o inconfundível André francês (Breton) e o Sartre ainda estavam vivinhos da
costa! No meu segundo livro, Um arbusto
entre os calhaus, aparecido em 1965 – contava, assim, 22 anos –, o meu
discurso poético já não era tão “vanguardista” como o da Sangria, e vislumbra-se, em dois ou três poemas, certa atmosfera
que lembrará algum Alexandre O’Neill… Não sei de onde nasceu essa remota
“influência” da minha verde vintena de anos … Contudo, ao tempo, eu já era
jornalista e... cronista (sarcástico). E o sarcasmo é bem surrealista!
Entretanto, tudo passou, muitos mortos correram pelo rio abaixo!!!, e, de há
muitos, muitos anos a esta parte, creio que tenho uma voz própria. Mas não
rejeito a herança surrealista. Pela liberdade sem máscara é que vamos. Ainda,
no contexto, regresso um pouco atrás, e é com certa emoção que relembro o
seguinte: em Dezembro de 1963, na tarde em que conheci o Cesariny (ele estava a
expor pintura numa casa mesclada de antiquário e não sei de que outros produtos
mais, na rua das Chagas, ao Calhariz), e achei por bem procurá-lo – repito, nós
não nos conhecíamos pessoalmente – a fim de agradecer o teor da sua crítica. A
tal em que nos irmanava em modernidade e vanguarda, a mim e ao Benigno (Almeida
Faria). Às vezes, o desassombro (não é do nosso bairro!, não é do nosso clube
de peito, não é do nosso partido…), o desassombro não pessoalizado, o
desinteresse humanista – o crítico foi vero – marca caminhos e comportamentos…
Desta feita, e para mim, o Cesariny de 1962 merecia, pela sua atitude… um bom
abraço. Os meus começos literários passaram por bonitas peripécias ocultas…O
meu livro de estreia, Sangria, foi
publicado pela Guimarães Editores, e mal eu sabia na altura que quem deferiu a
sua publicação, quem a aconselhou, foi outro grande poeta surrealista, o
Alexandre O’ Neill. A velha editora da rua da Misericórdia pedia-lhe pareceres.
Nesse tempo, eu ainda não conhecia o Alexandre, o carismático “Xana”, nem ele
me conhecia a mim. Eu era um jovem estorilense de 19 buliçosas ou pacatas ou
agressivas primaveras… Sobra um episódio deveras curioso: quando fui falar ao
Mário (Cesariny) na tal loja de antiquário onde estava a expor, na referida rua
das Chagas, perto do Camões – como disse atrás nós não nos conhecíamos –, ele
perguntou-me, muito expedito, se, na minha crónica “O Natal visto por um surrealista”, que sairia no dia seguinte
no Jornal de Letras e Artes (o
Cesariny estivera à tarde na Redacção desse nosso único semanário cultural),
ele perguntou-me se aquele “surrealista”, que estava grifado, tinha mesmo
comas; inquiriu se esse efeito visual ou minimizador era de minha
responsabilidade ou da responsabilidade do director do jornal: o advogado e
espírita Azevedo Martins, que tinha sido, em tempos, estagiário do velho
alfacinha Ramada Curto, e este, por sua vez, ex-ministro das Finanças da 1ª.
República. Queria o Cesariny dizer na sua que o meu, já, amigo Azevedo Martins
era menino para, por seu alvedrio, ter transformado surrealista em
“surrealista”. Então, informei o meu futuro amigo
Mário que as comas eram de minha inteira autoria. Surrealistas seriam o Cesariny e alguns outros… Foram eles quem surgira no momento azado (psíquico e/ ou existencial). Como se infere do já revelado, a grande “influência” que os primeiros surrealistas tiveram na minha poesia aconteceu, como se viu, por acidentes “misteriosos”: o Cesariny escreve, sem me conhecer pessoalmente, sobre a Sangria, e o O’Neill, sem me conhecer de parte alguma, sanciona a publicação, na Guimarães Editores, do meu livro de estreia, a referida Sangria. É um acaso lindo de acontecer, mas algo levado da breca! Não olvidemos que eu tinha 19 anos! De outro modo, nada disto invalida a grande admiração que eu tive sempre, e mantenho, pelo Poeta António Maria Lisboa, de facto, a vários títulos prodigioso. Entretanto, considero o Cesariny e O’Neill grandes poetas do século XX em Português. Voltando ao Lisboa, a sua morte moça, a má sorte que teve em vida, a sina desgraçada que a família “analfa” deu à sua obra – gera, cimenta, faz explodir, aos olhos da cidade sempre embasbacada, porque é golpista e doidinha por petrodólares? (sabe-se lá!!!), um mistério exemplar, coisa sangrenta, para ser arremessada às ventas burguesas…
Mário que as comas eram de minha inteira autoria. Surrealistas seriam o Cesariny e alguns outros… Foram eles quem surgira no momento azado (psíquico e/ ou existencial). Como se infere do já revelado, a grande “influência” que os primeiros surrealistas tiveram na minha poesia aconteceu, como se viu, por acidentes “misteriosos”: o Cesariny escreve, sem me conhecer pessoalmente, sobre a Sangria, e o O’Neill, sem me conhecer de parte alguma, sanciona a publicação, na Guimarães Editores, do meu livro de estreia, a referida Sangria. É um acaso lindo de acontecer, mas algo levado da breca! Não olvidemos que eu tinha 19 anos! De outro modo, nada disto invalida a grande admiração que eu tive sempre, e mantenho, pelo Poeta António Maria Lisboa, de facto, a vários títulos prodigioso. Entretanto, considero o Cesariny e O’Neill grandes poetas do século XX em Português. Voltando ao Lisboa, a sua morte moça, a má sorte que teve em vida, a sina desgraçada que a família “analfa” deu à sua obra – gera, cimenta, faz explodir, aos olhos da cidade sempre embasbacada, porque é golpista e doidinha por petrodólares? (sabe-se lá!!!), um mistério exemplar, coisa sangrenta, para ser arremessada às ventas burguesas…
Já descrevi como e quando conheci o poeta
Mário Cesariny, e porquê aconteceu esse conhecimento. Por outro lado, tenho
prazer em revelar que, nessa mesma tarde, quando ele estava a expor no
antiquário da rua das Chagas, ofereceu-me a antologia de textos em português,
com reprodução de alguns objectos e obras plásticos – Surrealismo-Abjeccionismo –, por ele seleccionada e com chancela da
editorial Minotauro. É com natural emoção que revejo a dedicatória simples mas
sempre acutilante do Mário: Ao Fernando Grade
Lembrança do Solstício de Inverno do Mário Cesariny Lx. 63. Quanto às
recordações que guardo dele, ao longo duma vida, naturalmente são de
diversificada feitura e vária emoção; retenho, sob vários aspectos, diversas e
naturais linhas de pensamento. O Mário sempre foi um homem marcado pelo signo
dignificador da Liberdade. Isso muito o abonou. Até ao dia da sua morte. E,
nessa data última, antes de o corpo partir do Palácio Galveias (ao Campo
Pequeno) para o cemitério dos Prazeres – revejo-me agora, e com nova e
indisfarçável emoção, a participar na derradeira homenagem prestada ao
Cesariny. Vários recitadores disseram poemas do grande poeta. Não me lembro dos
nomes de todos. Retive o da Eunice Muñoz e o do João Grosso. Eu fui o último
amigo a intervir. Recitei do Mário um texto topo dos topos. Foi o sexto poema
do Discurso, e é vulgarmente
conhecido por “Pastelaria”. Trata-se, inquestionavelmente, de um dos maiores
poemas modernos da língua portuguesa. Usando a rasoira, que muita gente sabe
que eu utilizo, isto é, abrangendo uma distância qualitativa de zero a 20
valores, não tenho dúvida de atribuir a este notável trabalho a valoração de
20,9 valores… Trata-se de um texto insuperável, está ao mesmo nível do oitavo
poema do “Guardador de rebanhos”, do Alberto Caeiro, ou do soneto “Alma da
minha mãe, não venhas mais ao lar, não vagabundes mais…”, etc., do Camilo
Pessanha, ou a Tabacaria, do Álvaro
de Campos, ou o poema “Serenidade és minha” do Raul de Carvalho, ou o poema
“Isso ontem único”, do António Maria Lisboa, ou A invenção do Amor, do Daniel Filipe, ou o poema ”As espécies de
mortos”, da Fiama Hasse Pais Brandão, ou o poema O amor em Visita do Herberto Helder, ou novamente do Mário Cesariny
de Vasconcelos os poemas Corpo visível
e “A Antonin Artaud”. Entretanto, na situação em que recitei do Cesariny o seu
poema “Discurso”, no dia do seu enterro e, mais exactamente, no final da velada
do corpo, revelo agora aqui o pensamento que tive nessa altura, mas, na
verdade, não dispus de disposição nem, talvez, coragem para revelá-lo. Aprendi
o específico modo de dizer, na altura, esse poema espantoso com a jovem
cascalense Zita Glória (Duarte Silva). Minha vizinha no Estoril. Ela era mais
nova do que eu dez meses e meio. A Zita veio a ser uma das melhores actrizes
portuguesas do século XX; agora, a saudosa Zita está miseravelmente esquecida
por todos nós. Este gritante olvido faz de todos – a gente transformada em
seita… –, e de mim também, uns lindos sacanas! Como já disse, ou sugeri,
retenho à tona de água muitas lembranças ou informações fosfóricas do Cesariny.
Uma vez perguntei-lhe, já não sei onde, e quando, em termos tão provocatórios
como aqueles quase sempre constantes na postura do autor de Discurso Sobre a Reabilitação do Real
Quotidiano e Autoridade e Liberdade
São Uma e a Mesma Coisa: – Mário, se não quiseres não digas, mas quem é
para ti o maior poeta português vivo? – Fernando, eu sou um monstro, só gosto
da minha poesia – ele tinha razão,
dispunha de boas razões pétreas para falar deste jeito. Além disso, para muita gente, e para mim também, o Mário era o maior de nós todos, dos “tais” que ainda estavam vivos… Também, nas duas ou três últimas décadas de vida, o Cesariny, confrontado com a pergunta que lhe fiz e que, decerto, muitos, tantos curiosos… eram bem capazes de já lha ter feito: “ – Mário, que estás a escrever agora?” – ele respondeu-me, de jeito igual àquele com que certamente replicara a outras pessoas: – Nada. A Musa pôs-me os cornos – a Musa (com letra grandona ou minúscula) pusera-se-lhe na alheta; não é nada de estranho ou incomum, acontece bastas vezes a quem escreve poesia. Mais com poetas do que com ficcionistas. A poesia é mais imagética, mais carnal, mergulha mais fundo e melhor no fundo do poço… Acontece, então, que alguns poetas não queiram forçar a nota, deixem-se ficar por aí, até porque terão a sensação ou o pressentimento de que não conseguirão fazer melhor do que já fizeram. Atingiram o cume da montanha e resolvem desistir. Param. Mudam de sangue, transitam para outros precipícios ou quartos escuros… O grande Mário C. libertou-se para as bandas da pintura, realizou, nesta modalidade, uma busca, uma pesquisa de belíssimo fulgor. Ao fim e ao resto, catapultou para as artes plásticas a enorme carga imagética da sua poesia. Foi ser poeta noutro suporte. Aliás, não há pintor ou escultor ou, mormente, desenhador que valha a pena, se não tiver olhos de poeta; se for capado de imaginação, é melhor que mude de “existência” (parafraseando o Sartre), que deixe a pintura para os danados, porque a dita cuja é bem um jogo de facas… No contexto pessoal, o sentimento é levado da breca…, não esqueço que, ainda no tempo do fascismo, o Mário publicou, no suplemento cultural do jornal A Capital (onde eu era colaborador), um artigo em que entrava em polémica com o José Ernesto de Sousa. Bem integrado no assunto em compita, o Mário achou pertinente transcrever nesse texto o meu micropoema “Panorama da Literatura e das Artes Plásticas Portuguesas”:”Todos todos cínicos/ todos todos génios/ todos bons/ rapazes”. (Muitos anos depois, em 1985, o Cesariny publicou, na Assírio & Alvim, o livro As Mãos na Água a Cabeça no Mar, onde integrou o meu poema acima referenciado). Nos últimos tempos da vida do Cesariny, houve na Perve Galeria (à qual nós os dois estávamos ligados, e estamos…, e, na parte que lhe toca, vai ser, será, um morto festivo através da sua Casa da Liberdade, adstrita à Perve, em Alfama), realizou-se uma série de palestras interventivas. Numa dessas sessões, participou o Mário, eu também, bem como outros artistas e intelectuais. O assunto central viajava entre o possível sentido de Deus… ou qualquer crença metafísica, e a Poesia, ou algo sensitivamente movediço que gravite ou rasteje ou voe por essas bandas; incentivei o Cesariny a recitar ou a ler um poema seu, ele não quis fazê-lo, não teria ali nenhum livro consigo, e resolveu pegar na minha antologia 25 Anos de Poesia 1962-1987, que estava sobre a mesa; então, folheou o livro, muito bem folheado, escolheu o que quis escolher, e recitou com afinco e profundeza o meu poema “Recado para Greta Garbo(sa)”. Sem falsas modéstias, que é coisa sempre sonsa, não resisto a dizer que fiquei tão satisfeito como no dia em que me entregaram o “Prémio Memória Vivida do 25 de Abril” – em 1994 –, através de uma crónica extensa onde relatava as peripécias da data em fogo em que as ideias do seminarista taralhoco Salazar… e do seu sucessor Marcelo Caetano (vulgo gradeano, “O vígaro d’Alvalade”) passaram ao cano de esgoto da História – ambos foram escorraçados como banido seria depois o criminoso e beato Francisco Franco, assassino dos povos de Espanha.
dispunha de boas razões pétreas para falar deste jeito. Além disso, para muita gente, e para mim também, o Mário era o maior de nós todos, dos “tais” que ainda estavam vivos… Também, nas duas ou três últimas décadas de vida, o Cesariny, confrontado com a pergunta que lhe fiz e que, decerto, muitos, tantos curiosos… eram bem capazes de já lha ter feito: “ – Mário, que estás a escrever agora?” – ele respondeu-me, de jeito igual àquele com que certamente replicara a outras pessoas: – Nada. A Musa pôs-me os cornos – a Musa (com letra grandona ou minúscula) pusera-se-lhe na alheta; não é nada de estranho ou incomum, acontece bastas vezes a quem escreve poesia. Mais com poetas do que com ficcionistas. A poesia é mais imagética, mais carnal, mergulha mais fundo e melhor no fundo do poço… Acontece, então, que alguns poetas não queiram forçar a nota, deixem-se ficar por aí, até porque terão a sensação ou o pressentimento de que não conseguirão fazer melhor do que já fizeram. Atingiram o cume da montanha e resolvem desistir. Param. Mudam de sangue, transitam para outros precipícios ou quartos escuros… O grande Mário C. libertou-se para as bandas da pintura, realizou, nesta modalidade, uma busca, uma pesquisa de belíssimo fulgor. Ao fim e ao resto, catapultou para as artes plásticas a enorme carga imagética da sua poesia. Foi ser poeta noutro suporte. Aliás, não há pintor ou escultor ou, mormente, desenhador que valha a pena, se não tiver olhos de poeta; se for capado de imaginação, é melhor que mude de “existência” (parafraseando o Sartre), que deixe a pintura para os danados, porque a dita cuja é bem um jogo de facas… No contexto pessoal, o sentimento é levado da breca…, não esqueço que, ainda no tempo do fascismo, o Mário publicou, no suplemento cultural do jornal A Capital (onde eu era colaborador), um artigo em que entrava em polémica com o José Ernesto de Sousa. Bem integrado no assunto em compita, o Mário achou pertinente transcrever nesse texto o meu micropoema “Panorama da Literatura e das Artes Plásticas Portuguesas”:”Todos todos cínicos/ todos todos génios/ todos bons/ rapazes”. (Muitos anos depois, em 1985, o Cesariny publicou, na Assírio & Alvim, o livro As Mãos na Água a Cabeça no Mar, onde integrou o meu poema acima referenciado). Nos últimos tempos da vida do Cesariny, houve na Perve Galeria (à qual nós os dois estávamos ligados, e estamos…, e, na parte que lhe toca, vai ser, será, um morto festivo através da sua Casa da Liberdade, adstrita à Perve, em Alfama), realizou-se uma série de palestras interventivas. Numa dessas sessões, participou o Mário, eu também, bem como outros artistas e intelectuais. O assunto central viajava entre o possível sentido de Deus… ou qualquer crença metafísica, e a Poesia, ou algo sensitivamente movediço que gravite ou rasteje ou voe por essas bandas; incentivei o Cesariny a recitar ou a ler um poema seu, ele não quis fazê-lo, não teria ali nenhum livro consigo, e resolveu pegar na minha antologia 25 Anos de Poesia 1962-1987, que estava sobre a mesa; então, folheou o livro, muito bem folheado, escolheu o que quis escolher, e recitou com afinco e profundeza o meu poema “Recado para Greta Garbo(sa)”. Sem falsas modéstias, que é coisa sempre sonsa, não resisto a dizer que fiquei tão satisfeito como no dia em que me entregaram o “Prémio Memória Vivida do 25 de Abril” – em 1994 –, através de uma crónica extensa onde relatava as peripécias da data em fogo em que as ideias do seminarista taralhoco Salazar… e do seu sucessor Marcelo Caetano (vulgo gradeano, “O vígaro d’Alvalade”) passaram ao cano de esgoto da História – ambos foram escorraçados como banido seria depois o criminoso e beato Francisco Franco, assassino dos povos de Espanha.
Voltando ao António Maria Lisboa, fique
assente, pois, que vejo nele um poeta prodigioso. Para um cidadão como eu, que
parece ter a fama de ser parco em elogios, penso que não ficamos nada mal. No
que concerne ao Cesariny, já deixei configurado o que infiro da sua obra
poética e, igualmente, da sua pintura. Escreveu como ninguém sobre o nosso
“real quotidiano”. Um imaginário definitivamente feroz e corrosivo. Está para ficar
por esses tempos literários (ou não) todos. Terei que passar uma “esponja”
sobre o adjectivo “literário”, porquanto os surrealistas abissais estavam-se
nas tintas para o literário como cosmética de vida, como para o percurso de
obra como intenção e fito continuados, assim como para os já atrás referidos
“parece bem” e “parece mal”. Na passada, não me esqueço que, certa vez, dei com
o Mário (Cesariny), na antiga capital do Império dos Incas, nos Restauradores,
a apanhar do chão as possíveis priscas existentes para produzir um cigarrinho
milagroso. Foi uma autêntica obra de arquitectura!!! E fê-la.
*****
Texto
originalmente publicado em A ideia -
Revista de cultura libertária – II série – vol. 16 – n.º 71-72 – Outono de
2013, aqui reproduzido graças à autorização de seu diretor, António Cândido
Franco. Página ilustrada com obras de Nelson de Paula (Brasil).
Organização
a cargo de Floriano Martins © 2016 ARC Edições
Artista
convidado: Nelson de Paula
Agradecimentos
a António Cândido Franco, Maria Estela Guedes, Carlos Felipe Moisés e Nicolau
Saião
Imagens ©
Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o
projeto de séries especiais da Agulha Revista de Cultura, assim estruturado:
1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO
3 O RIO DA MEMÓRIA
A Agulha
Revista de Cultura teve em sua primeira fase a coordenação editorial de Floriano Martins e
Claudio Willer, tendo sido hospedada no portal Jornal de Poesia. No biênio
2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de
Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial apenas de Floriano Martins. Desde
2012 retoma seu projeto original, desta vez sob a coordenação editorial de
Floriano Martins e Márcio Simões.
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