A mão coloca-se nos
degraus das forças estelares, segundo os mágicos, como uma força mediadora
entre o cérebro – motor imóvel – e a mão – a força ativa pela qual o motor se
movimenta.
Em termos de caracteres manuais,
a linguagem seria uma forma de conhecimento pertencente ao mecanismo do espaço
e este se submeteria à abrangência do tempo.
A palavra seria no
tempo, o espaço percorrido pela Mão através de um corpo infinitamente abissal –
a Voz. Esta, segundo a tradição Oral, é a extensão máxima do movimento da Mão
no espaço.
A quiromancia é uma
ciência adivinhatória que ensina a arte de conhecer o caráter de uma pessoa,
vocações, aptidões intelectuais e morais, passado, presente e futuro pela forma
e linhas das mãos. Como ciência, foi cultivada no antigo Egito, Índia e mais
tarde difundida entre os gregos e romanos e depois popularizada no mundo
europeu pelos ciganos.
Há duas espécies de
Quiromancia que se conservaram como métodos adivinhatórios: a Quiromancia que
se conservam como métodos de adivinhação: a Quiromancia física, revelando o
destino e o caráter da pessoa pela inspeção das mãos e a Quiromancia
Astrológica, que através do estudo das formas e linhas da mão tenta descobrir a
influência planetária destas linhas.
A associação de ideias
delirantes sobre os temas relacionados com o homem é a expressão dramática de
uma atitude eletiva sobre o Surrealismo, enquanto aberto, irredutível sobre um
novo julgamento de valores em termos de Arte, de Vida.
A função desse novo
critério de julgamento é uma transgressão mental da própria consciência que nos
permitirá furiosamente abalar e minar para todo o sempre o pensamento e a vida.
Será uma liason
organique, portanto agressiva, de vida, ou seja, somente após a compreensão
de um “sentido transgressivo”, é que se pode atingir o outro lado do mistério.
Isso porque começo a transmitir a visualização de acontecimentos repetidos
sempre simbolicamente e cada vez mais intensos na medida de serem
transgressores. Aos poucos esses modelos se tornam sensíveis e vivos e começam
a ser regidos pelo princípio do prazer.
“O erotismo é para a
vida sensual o que a poesia é para a linguagem. O erotismo é poético. Ele é a
poesia do Amor Carnal, graças a esse amor impregna-se de espiritualidade e
tende a lançar um ponto entre o possível e o impossível”.
Tudo o que pode haver,
entre o Homem e a Natureza, é ultrapassado na medida em que há uma entrega
total. Uma abertura ampliadora de energia solar e da destruição do homem, para
que ele possa renascer a cada dia vindo de um mundo sem distância. Assim, nasce
também o Amor. As repetições simbólicas, que são decorrentes as ideias sobre a
natureza, Homem e Linguagem (enquanto instrumento do próprio homem para que ele
possa, a partir de si e já coroado pelo Amor, falar).
Esse foi o pensamento e
a intenção da XIII Exposição Internacional do Surrealismo, que aconteceu em
1967, São Paulo, na Fundação Armando Álvares Penteado.
Havia a intenção de
montagem em termos mágicos e labirínticos. Propiciar ao visitante a
possibilidade de “experimentar” uma iniciação e uma nova ordem de mistérios. As
ligações seriam metaforicamente as linhas, os sinais modificadores do destino
do homem, os montes da palma e demais pontos teriam a mesma condução. Enfim, a
montagem obedecia a uma ordem determinada de iniciação aos mistérios da palavra
através de relacionamentos visuais que o visitante/expectador pudessem ter a
partir de objetos dispostos de uma forma preconcebida. Assim, cada “compartimento”
formado por intersecções das linhas no espaço ultrapassavam a mera figuração
plástica. Antes de tudo constituía-se em um movimento holístico e vital. Uma
atitude em movimento. Nessa exposição, procurou-se dar esse sentido pelo
constante relacionamento entre das obras expostas com o texto-chave (Do
surrealismo e de suas obras vivas) de André Breton. Tal relacionamento se
dava sobre uma organização espacial/física em forma de mão aberta com cada
trabalho ligado ao texto de Breton, suspenso e preso a partir do teto. Era um
emaranhado de linhas e obras de arte que ganhavam um sentido próprio e único
para cada indivíduo. E seu relacionamento com as obras expostas. Na medida em
que cada frase do texto se ligava a um momento – pictórico, poético, fotográfico,
escultural, roupagens, objetos, enfim a tudo que cabia naquela mão invisível,
apenas sensível. O expectador era convidado a todo o momento a se locomover
pelo espaço, acompanhando os fios ligados à cada conceito ou ideia proposta no
texto de Breton e a colocar-se em disponibilidade para vivenciar um mundo
surrealista em sua essência primordial: o dar e receber um entendimento mágico.
*****
Leila
Ferraz (Brasil, 1944). Poeta, artista plástica, ensaísta. Contato: leilaferraz2006@gmail.com. Página
ilustrada com obras de Leila Ferraz (Brasil), artista convidada desta edição de ARC.
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Cultura
Fase II | Número 19 | Agosto de 2016
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Gostei muito de seu texto, Leila. Muito original e interessante.
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