● CENTRO DE
ESTUDOS LATINO-AMERICANOS FLORIANO MARTINS
Não há símbolo de poder mais
forte que o livro. Muito além da ideia de domínio ou influência, o poder essencial
celebra concentração e irradiação. O livro recolhe em suas páginas raiz e variáveis
de todos os demais símbolos de poder: os nomes, os selos, as leis, as chaves, as
máscaras, as armas… O livro é o verdadeiro poder, sendo emblema e prática de todas
as perspectivas do sonho, da memória e da atitude imediata com que nos definimos
a cada instante.
O livro se reconhece pelo
que está escrito dentro e fora de seus nichos e antecâmaras. O livro é talvez a
única fonte real de integração, ao unir – sem a mínima sombra de imposição ou corrupção
– os mundos destinados a ser e estar. O livro é o que somos, porém ao mesmo tempo
em que é o lugar que habitamos.
Cofre único e generoso onde
aguardam visitação os segredos da humanidade. Tudo em seu íntimo está aberto e ao
mesmo tempo requer uma senha. A chave de acesso ao livro é a sua leitura, o que
corresponde a uma relação amorosa entre conhecimento e sensibilidade.
A leitura é uma forma tanto
de tecer quanto de desvendar a rota invisível dos labirintos. Podemos esconder o
mundo dentro daquilo que sabemos. Também isto o livro nos ensina. Como podemos dar
abrigo a todas as formas de vida que buscam novos laços de revelação e consciência.
Ou podemos apenas transformar água em vinho. O livro é o reflexo de nossa existência.
O verdadeiro autor de um
livro sabe que todo ele é apócrifo. Não recordo a origem da imagem de que, assim
como o lago é um abismo acrescido de água, o livro seria o mesmo abismo acrescido
de letras. De saberes, corrigiriam uns. De truques, remendariam outros. Porém o
abismo ainda está ali e o que a ele acrescentamos é a medida exata do que somos.
Esta é a imagem que dá conformação
à casa de leitura que idealizamos, como um lugar sagrado em que crisálida e cigarra
se reconheçam irmanadas e integradas à representação maior de suas vidas. Casa ou
ninho, o centro do mundo é uma estação, uma passagem, a ponte que entrelaça antes
e depois, as margens místicas, os vislumbres acidentados, os extremos, as dissonâncias…
Porém não podemos chegar
ali e seguir viagem sem que sejamos possuídos pela intuição de que nada permanece.
A intuição não é uma certeza, mas antes um estado paradisíaco em que mil realidades
vagam como transparências que se superpõem. O centro é uma esfera fabulosa, repleta
de círculos concêntricos e postigos iluminados pela sensibilidade de quem os frequenta.
O centro é o livro é a chave
é a crisálida e cada vez que deixamos pousar uma imagem sobre outra nos reconhecemos
múltiplos de um mesmo sentido determinado: a convivência. Este é o princípio que
protagoniza a criação do Centro de Estudos Latino-Americanos Floriano Martins.
Sinceramente não me encabula
que o mesmo leve meu nome, porque o próprio ego não é senão uma fagulha da convivência.
O que me estimula a rascunhar estas palavras é outra afirmação de uma mesma personalidade:
a doação do acervo inaugural desta casa é uma espécie de determinação da chama,
ou seja, a de que devemos buscar contatos significativos.
Somos tocados pelas formas.
Nós nos comunicamos por intermédio delas. O símbolo maior da casa é a crença na
integração. O mundo se espalha por todos nós justamente em seus fragmentos. Na exata
medida em que nós nos espelhamos nos insaciáveis mundos que reproduzimos a cada
instante.
Os livros que aqui estamos
reunindo não são matizes de um dogma, mas antes o incorruptível acúmulo de combinações
de saber. Um concerto que é retrato fiel de infinitos desconcertos. Se acaso delimitamos
sua área com o marco geográfico de uma América Latina o fazemos movidos pelo mesmo
princípio conjugado de concentração e irradiação.
São incontáveis os mundos
que cabem em um livro, na mesma inumerável impossibilidade de definir quantos mundos
saem dos livros a cada leitura. Continentes e conteúdos se mesclam, na mesma proporção
em que corpo e alma, na formação de novos abismos aos quais decidiremos se lhe acrescentamos
água ou letras.
Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade
e Linguagem (GPCSL/CNPq)
Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE)
Departamento de Ciências Humanas (DCH)
- Campus VI de Caetité
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Coordenação: Rogério Soares Brito (UNEB/Letras),
Maria de Fátima Novaes Pires (UFBA/História) e Paulo Henrique Duque Santos (UNEB/História)
Contatos diretamente com o CEL-FM: celfm@uneb.br
Contatos com Floriano Martins: floriano.agulha@gmail.com
Telefone: (77) 3454.2021
Av. Contorno
46400-000 Caetité - BA
A doação que fiz ao CENTRO DE
ESTUDOS LITERÁRIOS LATINO-AMERICANOS FLORIANO MARTINS (CEL-FM) deste que ora se afirma como seu acervo inaugural
expressa um velho sonho de dar à cultura sua carga mais intensa de generosidade.
O acesso a toda forma de conhecimento é uma dádiva que deve ser estendida a todos.
Sempre me inquietou visitar bibliotecas particulares de escritores e ali me deparar
com um acervo mudo, que não se comunica senão com seu detentor. Ao longo dos anos
fui tratando de doar livros a pequenas bibliotecas, porém uma ideia maior me perseguia,
a de concentrar parte significativa de meu acervo em um local único, criando condições
de pesquisa e deleite, um ponto a partir do qual pudéssemos ir além, planejando
palestras e outros eventos que enriqueçam o conhecimento de quem se mostrar interessado.
Outro aspecto fundamental é o da diversidade de opções de conhecimento, o que me
levou a constituir o presente acervo não apenas de livros, mas também de revistas,
jornais, documentários e música. Sua definição como centro de estudos latino-americanos
vem do fato de que esta tem sido a área mais ampla de minha produção intelectual,
ao mesmo tempo em que contribui, ainda que minimamente, para o acesso ao que se
produz de mais relevante em boa parte de nosso continente. O Centro,
contudo, tende a ser o mais amplo e generoso possível na busca de novos vasos comunicantes.
Este é, portanto, um primeiro acervo. O passo seguinte já nos leva a sonhar com
doações vindas de outros escritores e mesmo de instituições, de modo a instigar
o prazer pela leitura, pelo conhecimento, e consequente aprimoramento da sensibilidade.
Floriano Martins
Embora já em avançada fase de montagem, o CENTRO DE ESTUDOS LITERÁRIOS LATINO-AMERICANOS FLORIANO
MARTINS (CEL-FM) deverá ter sua inauguração oficial
somente no segundo semestre de 2017. Até lá todo o acervo está sendo devidamente
catalogado e este registro será, a seu tempo, disponibilizado em página própria:
https://www.facebook.com/centrodeestudoslatinoamericanos/. Solicitamos a escritores, editores, artistas,
pesquisadores, dentro de suas possibilidades, a doação de títulos que possam engrandecer
nosso acervo. Antecipadamente agradecemos à generosidade de todos.
CENTRO DE ESTUDOS LITERÁRIOS LATINO-AMERICANOS FLORIANO MARTINS (CEL-FM)
Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE)
Departamento de Ciências Humanas (DCH)
- Campus VI de Caetité
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
A/c Rogério Soares Brito (UNEB/Letras)
Av. Contorno
46400-000 Caetité - BA
O CENTRO DE ESTUDOS LITERÁRIOS LATINO-AMERICANOS FLORIANO
MARTINS (CEL-FM) tem o apoio cultural da Agulha Revista de Cultura (http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/).
● ÍNDICE
ALASTAIR
SOOKE | Joseph Cornell: o homem
que guardou o mundo numa caixa
ALFONSO
PEÑA | Zuca Sardan y la cámara de gas hilarante
ANA CRISTINA JOAQUIM | Letra pélvica: rápidas considerações sobre
a Antologia da poesia erótica brasileira,
organizada por Eliane Robert Moraes
ESTER FRIDMAN | Uma obra perigosa no século das luzes
FERNANDO BOGADO | La verdadera utopía de Frank Zappa
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/2017/03/fernando-bogado-la-verdadera-utopia-de.html
FLORIANO MARTINS | Pucuna, Pájaro Cascabel, Alacrán Azul – Tres revistas de los años
1960
HAROLD ALVARADO TENORIO | Lectura de María, de Jorge Isaacs
MARIA LÚCIA DAL FARRA | Marginália
herbertiana: a “intransponível fobia epistolar”
NICOLAU SAIÃO | É assim que se faz a estória
PEDRO
MACIEL | Hilda Hilst: a vida e a poesia
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/2017/03/pedro-maciel-hilda-hilst-vida-e-poesia.html
ARTISTA CONVIDADO | JOSEPH CORNELL | FLORIANO MARTINS | Joseph Cornell
e a metafísica do efêmero
Página ilustrada com obras de Joseph Cornell (Estados Unidos), artista convidado
desta edição de ARC.
*****
Agulha Revista de Cultura
Número 95 | Fevereiro de 2017
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista
os editores não se responsabilizam pela devolução de material não solicitado
todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80
Mais um belo número da AGULHA. Destaque para o editorial (o amor aos livros, a grandeza da doação de toda uma biblioteca e até o prazer e a satisfação desse gesto), mais as reproduções das caixas de Joseph Cornell, inclusive com textos a respeito, e ainda as considerações de Ester Fridman que passam pela filosofia e ficção. Aplaudo o meu caro amigo Floriano Floriano Martins.[Valdir Rocha]
ResponderExcluirFloriano, Viva o Centro d. E. L-A Floriano Martins!... Tiveste admirável generosidade filantrópica
ResponderExcluirde aproxima§âo da cultura aos estudiosos e cultores das letras e... um texto excepcional
sobre as infinitas maravilhas do Livro. Bravos! Abraxxxxxas [Zuca Sardan]