Quando fiquei órfão do site Cronópios (em 2009), que fundei e editei
com o parceiro Pipol, me dei conta que já não podia ficar distante da web. Há muito
havia sido contaminado por seu vírus.
Compreendi nestes 15 anos
de experiência na Net que a Literatura e suas várias manifestações já não podiam
prescindir da web criativa e seus relâmpagos rizomáticos de informação. Os deuses
e musas da criação, que andavam fugidios e ressabiados, agora trafegam em bits e
pixels à velocidade da luz.
Se tudo isso, por um lado,
assusta e nos fascina, é inegável que a fatura deste momento exuberante e embrionário
de nossa cibercultura produz uma superfluidade de temas e criações que torna o discernimento
e a identificação do objeto artístico relevante uma tarefa digna de um Hércules
(se ele fosse chegado a essa coisas ditas culturais).
O projeto da revista,
ou do site, MUSA RARA surgiu desta constatação/inquietação
com o objetivo de mostrar, desengavetar
e apontar caminhos artísticos na Literatura e suas Adjacências sem se curvar às
exigências do mercado e da gritaria ignara.
Para isso, não damos a
mínima para as barreiras, reais ou imaginárias, e suas fronteiras ideomercadológicas.
Estamos aqui para dar guarida e fomentar as obras de todas as regiões deste país
continental chamado Brasil e, quem sabe, da hispano-américa e Portugal.
Quiçá, esta MUSA RARA, possa desencaminhar
aqueles que achavam a trilha segura e óbvia demais.
A revista tem um corpo
de colunistas e colaboradores que, sem obrigação com a periodicidade, enviam-nos
colaborações das mais variadas. Abrimos espaço, além das colunas fixas, para textos
acadêmicos, artigos, crítica literária, crônica, ensaio, infanto-juvenil, informações
sobre inéditos e lançamentos, poesia, prosa, resenhas, tradução e entrevistas com
autores e intelectuais.
Nosso time de conselheiros desde o primeiro momento é: Antonio Miranda [Brasília]; Affonso Romano de Sant’Anna [Rio de Janeiro]; Ricardo Aleixo [Minas Gerais]; Lúcia Santaella [São Paulo]; Carlos Emílio C. Lima [Ceará]; Nelson de Oliveira [São Paulo]; Sylvio Back [Rio de Janeiro]; Reynaldo Damazio [São Paulo]; Nilson Oliveira [Belém do Pará]; Gonzalo Aguilar [Argentina]; Sergio Medeiros [Santa Catarina]; Floriano Martins [Ceará]; Claudio Willer [São Paulo]; Adrienne Myrtes [São Paulo]; Ana Peluso [São Paulo]; Virna Teixeira [Ceará/São Paulo]; e Ramon Mello [Rio de Janeiro].
FM | Em que circunstâncias surgiu Musa Rara e qual era então sua motivação
essencial?
EC | Eu havia me desvencilhado de forma um pouco traumática do projeto
Cronópios (www.cronopios.com.br). Muitos
anos pensando, dialogando e editando diariamente um portal que foi um marco na cena
literária que gravitou em torno das imensas possibilidades de divulgação e circulação
que a internet fomentou. Fazia uma graduação tardia no Curso de Letras da USP e
a experiência com literatura na internet foi minha pós-graduação e livre docência,
por assim dizer. Dialoguei e troquei textos e experiências com meus ídolos literários
e com autores que iam se fazendo pelo caminho. Ao sair do Cronópios pensei que iria me distanciar, escrever meus livros, me dedicar
a projetos pessoais. Um pouco por não conseguir ficar distante da cena, e muito
por ser cobrado por vários amigos, autores e editores que passaram a respeitar minha
atuação na net, retomei com a Musa Rara,
projeto bem pessoal e sem a pressa quase compulsiva na qual editava o Cronópios. Cada vez mais é necessário resistir,
continuar interferindo, pois os cadernos culturais minguam e os espaços para literatura
de qualidade e para os novos é quase zero no chamado jornalismo cultural. Dessa
forma, todos temos que resistir, lançar os próprios livros, montar selos e editoras
de nichos, fazer sites especializados, criar revistas. A Musa é minha forma de contribuir nesse processo.
FM | Durante o período em que a realizas, como tem se comportado o cenário
cultural no Brasil no que diz respeito a publicações similares?
EC | O cenário cultural no Brasil é estranho, cíclico e muito dependente
do mercado e dos grandes centros econômicos. Acrescente-se a tudo isso a crise aguda
que vivenciamos nas Humanidades, ou pelo menos na crescente desvalorização dos bens
culturais que ela fomenta. Alguns sítios e revistas ainda resistem, mas muitos vão
ficando pelo caminho. Mesmo os blogs literários, culturais e informativos, que acreditávamos
há 15 anos que iriam proliferar e até mesmo desbancar a mídia impressa não resultaram
no esperado. Muitos foram cooptados ou se cansaram.
FM | Como tem funcionado sua difusão?
EC | Tenho uma Newsletter para
os inscritos e interessados e a conexão constante com a página da Musa ligada ao
Facebook e ao Twitter. O resto é boca a boca, ou melhor, link a link entre os pares,
cúmplices e interessados.
FM | No caso de haver custo financeiro operacional, como tem sido contornado?
EC | Tenho um custo mensal com provedor e anual com o domínio. Assumi
todas as broncas e despesas mínimas de manutenção de um site. Como não tenho uma
equipe, nem escritório montado, não me sai caro. Quando tenho que fazer alguma alteração
ou ajuste no formato, no template ou administrador,
pago um programador. E vamos tocando. Haja Quijote!
*****
EDSON CRUZ (Ilhéus, 1959).
Poeta e editor. Dirige esta destacada revista de circulação virtual: Musa Rara (www.musarara.com.br).
*****
Organização a cargo de Floriano Martins © 2017 ARC Edições
Artista convidado | Pierre Fudaryli (México, 1984)
Imagens © Acervo Resto do Mundo
Esta edição integra o projeto de séries especiais da Agulha
Revista de Cultura, assim estruturado:
1 PRIMEIRA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
2 VIAGENS DO SURREALISMO, I
3 O RIO DA MEMÓRIA, I
4 VANGUARDAS NO SÉCULO XX
5 VOZES POÉTICAS
6 PROJETO EDITORIAL BANDA HISPÂNICA
7 VIAGENS DO SURREALISMO, II
8 O RIO DA MEMÓRIA, II
9 SEGUNDA ANTOLOGIA ARC FASE I (1999-2009)
A Agulha Revista de Cultura teve em sua primeira fase
a coordenação editorial de Floriano Martins e Claudio Willer, tendo sido hospedada
no portal Jornal de Poesia. No biênio
2010-2011 restringiu seu ambiente ao mundo de língua espanhola, sob o título de
Agulha Hispânica, sob a coordenação editorial
apenas de Floriano Martins. Desde 2012 retoma seu projeto original, desta vez sob
a coordenação editorial de Floriano Martins e Márcio Simões.
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