sábado, 28 de abril de 2018

AGULHA REVISTA DE CULTURA # 112 | Abril de 2018



EL GRABADO EN COSTA RICA

A fixação de imagens ou letras em placas de madeira insere-se em uma tradição milenar. Esteve presente na Ásia no século I, embora somente no século IX se localize seu primeiro registro, graças à edição chinesa do livro Diamond Sutra. Tecnicamente, consiste em sulcar uma superfície lisa e plana da madeira, preparando-a para a impressão em papel, cuja resultante será sempre o negativo do original.
Seu aspecto rudimentar tornou-a intensamente popular em toda a Europa, a partir do século XV, aliada à invenção da imprensa, onde eram combinadas impressões de textos e ilustrações. Contudo, seguia considerada arte menor, por se tratar de método impreciso de representação figurativa. Acrescente-se aí a tradição santeira, imposta pelo Santo Ofício, como sua característica redutora. O primeiro grande mestre europeu a utilizar a xilogravura dentro de uma perspectiva outra foi o alemão Albrecht Dürer, no século seguinte, deslocando-a de uma submissão de ordem religiosa, inserindo-a, em definitivo, em uma dimensão artística.
Embora não interesse aqui detalhar uma cronologia crítica da utilização dessa técnica, é importante frisar a íntima correlação existente entre o trabalho realizado hoje no Ceará e outros ambientes históricos. Quando Edvard Munch e Paul Gauguin restabeleceram o prestígio da xilogravura, a mesma encontrava-se bastante limitada a uma expressão popular, em seus vícios santeiros e tauromáquicos.
Dentre os inúmeros países em que se constituiu sólida tradição da gravura encontra-se a Costa Rica. Em texto que apresenta uma mostra de gravadores do Ceará e da Costa Rica, em 1989, observa Alfonso Peña o que segue:

Embora a gravura seja conhecida na Costa Rica desde princípios do século XX, não é senão nos anos 1930 que o artista Max Jiménez, com suas frequentes estadas na Europa, Cuba, Chile, México e Estados Unidos, põe em contato os gravadores nacionais diretamente com as escolas de gravura mais destacadas da época. De uma maneira similar, Francisco Amighetti viaja a Buenos Aires, Argentina, em 1931, e após permanecer na América do Sul até 1933, em seu regresso transmite ao meio local seu conhecimento e pesquisa nas técnicas da gravura moderna.  Do que disse dá fé Abelardo Bonilla no prólogo do livro Album de grabados, de 1934, onde são listados nomes como os de Francisco Zúñiga, Francisco Amighetti, Manuel de la Cruz González e Teodorico Quirós, entre outros. Embora sendo recente o nosso percurso na rota da gravura, de tão antiga estirpe, o artista costarriquense tem mostrado uma decidida inclinação por essa técnica. Em favor do que dissemos é possível mencionar o surgimento, cada vez mais amplo, de mostras da gravura costarriquense em exposições internacionais, bienais da gravura, publicação de catálogos, livros e prêmios de prestígio internacional.

Na mesma ocasião, cabe recordar as palavras de um dos mais expressivos gravadores da Costa Rica, Alberto Murillo, que acertadamente observa:

O desenvolvimento da gravura no mundo inteiro em um passado recente pode ser explicado como o achado para os artistas de uma fonte alternativa de valores estéticos contemporâneos, de acordo com o desenvolvimento das artes gráficas e os processos fotográficos em auge permanente (cultura visual). Além do mais, os gravadores sempre acharam de grande interesse o caráter multi-exemplar da estampa artística, na busca de um público mais amplo para o desfrute da obra artística.

Em minhas incansáveis conversas com Alfonso Peña, nos decidimos pela imposição de uma edição monotemática da Agulha Revista de Cultura dedicada a compor um painel histórico e atual da gravura como fonte substanciosa de expressão artística na Costa Rica.
Ao lado de ensaios dedicados à obra de nomes fundamentais, em distintas gerações, como o são Alvaro Duval, Emilia Prieto, Francisco Amighetti e Rudy Espinoza, o leitor encontrará na presente edição abordagens críticas acerca da presença da gravura no ambiente filatélico, a evocação de um passado indígena com relevante legado, bem como uma memória do desenvolvimento da técnica e revelador depoimento de alguns dos artistas mais destacados.
Nossos agradecimentos a todos aqueles que atenderam a nossa convocatória: Adriano Corrales Arias, Alfonso Peña, Carlos Calderón Herrera, Carolina Córdoba Zamora, Efraín Hernández Eric J. Hidalgo Valverde, Esteban A. Calvo Campos, María Alejandra Triana, Minor Arias Uva e Rafael Ángel Herra. Especial menção a Alberto Murillo, pelos contatos e seleção de obras, com sua renovada cumplicidade.

Os Editores



Índice

ADRIANO CORRALES ARIAS | El grabado en Costa Rica

ALFONO PEÑA | Violar los límites de la superficie…

CARLOS CALDERÓN HERRERA | Francisco Amighetti entre lo moderno y lo mestizo

CAROLINA CÓRDOBA ZAMORA | Descubriendo a Emilia Prieto, su vida en su obra o su obra es su vida

EFRAÍN HERNÁNDEZ | El grabado de Alvaro Duval

ERIC J. HIDALGO VALVERDE | El grabado en la filatelia costarricense

ESTEBAN A. CALVO CAMPOS | Consideraciones sobre vida y obra de Rudy Espinoza

MARÍA ALEJANDRA TRIANA | Los primeros grabados de Francisco Amighetti

MINOR ARIAS UVA | Descolonización del legado indígena costarricense

RAFAEL ÁNGEL HERRA | La palabra Amighetti se dice de muchas maneras


*****

Agulha Revista de Cultura
Número 112 | Abril de 2018
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista
os editores não se responsabilizam pela devolução de material não solicitado
todos os direitos reservados © triunfo produções ltda.
CNPJ 02.081.443/0001-80






Nenhum comentário:

Postar um comentário