∞ editorial | Os pares insuspeitáveis e os desafios da
amizade

01 | No editorial de uma edição de 2022, da revista A Ideia, lemos: A revista A Ideia
é uma revista crítica do atual modo de vida, assente na especulação financeira,
no sistema da tecnociência, na gestão elitista, na indústria massiva, na
desagregação dos elos de solidariedade, na anulação das subjetividades e na
destruição imparável da vida física do planeta. Mínimo que seja, e assim é com
certeza, a revista pretende dar um contributo no domínio das ideias e das
práticas sensíveis para um novo paradigma social, centrado nas necessidades
sociais, subjetivas e ecológicas e que se possa apresentar como um modelo de
vida duradouro para a Terra e digno para todos os seres. A revista não
acredita que o atual sistema partidário, sujeito a outras pressões, vindas da
indústria, do aparelho tecnocientífico e da corporação militar, tenha condições
para cumprir este desafio. O dilema que vivemos hoje é pois claro: ou
inventamos um novo modo de vida social, que terá necessariamente de ser
maximamente democrático, já que qualquer gestão ditatorial do complexo sistema
técnico de hoje só agravará os seus problemas, e assim se vê no modelo chinês,
ou colapsamos. A revista afirma outrossim a concepção plural que tem na área
de ideias onde se insere. O pensamento libertário não é um bloco monolítico e
coerente. O melhor desta tradição de pensamento é o seu pluralismo, as suas
correntes internas diversificadas, as suas tensões, os seus debates, as suas
diferenças e até as suas contradições. Somos, pois, adversos a estabelecer um
cânone rígido do pensamento libertário, uma doutrina que exclua tudo o que lhe
seja distinto, e advogamos o diálogo aberto entre correntes, na procura
prática de uma cultura cada vez mais rica, esclarecida e diversa. Não existe
uma cultura libertária; existem várias – e todas elas necessárias. Um fato
ganha mais realidade e valor – o mesmo vale dizer para as ideias – quando é
submetido à observação de vários indivíduos posicionados em lugares distintos
e que cruzam depois entre si os seus pontos de vista. Não há como não
concordar integralmente com o que acabamos de ler. Acrescente-se ainda que a
revista é a maior referência internacional no que diz respeito à formação e
polêmicas do Surrealismo em Portugal. Seu diretor, António Cândido Franco, ele
mesmo é um estudioso do tema e conta com uma bibliografia relevante. A seu lado,
nesta edição em homenagem à revista A Ideia, o brasileiro Firmino
Saldanha (1906-1985), um pintor cubista de natureza libertária, que, arquiteto
de formação, em 1957, foi
escolhido, ao lado de Candido Portinari, para concorrer aos prêmios Guggenheim
e participar da exposição realizada em Paris no mesmo ano. Artista pouco afeito
aos palcos, dotado de um profundo senso de humor, pai do irrequieto Zuca
Sardan, Firmino acabou sendo quase de todo esquecido, de modo que muito nos
satisfaz trazê-lo de volta à cena artística, como artista convidado da presente
edição da Agulha Revista de Cultura.

02 | En el editorial de una edición de 2022 de la revista A Ideia, leemos: La revista A Ideia es una
revista crítica con el modo de vida actual, basado en la especulación financiera,
el sistema tecnocientífico, la gestión elitista, la industria masiva, la
desintegración de los lazos de solidaridad, la anulación de las subjetividades
y la destrucción imparable de la vida física del planeta. Por mínimo que sea, y
sin duda lo es, la revista pretende aportar su granito de arena en el ámbito de
las ideas y las prácticas sensibles para un nuevo paradigma social, centrado en
las necesidades sociales, subjetivas y ecológicas, y que pueda presentarse como
un modelo de vida duradero para la Tierra y digno para todos los seres. La
revista no cree que el actual sistema partidista, sujeto a otras presiones
procedentes de la industria, el aparato tecnocientífico y la corporación
militar, esté en condiciones de afrontar este reto. El dilema que vivimos hoy
es, por tanto, claro: o inventamos una nueva forma de vida social, que
necesariamente tendrá que ser lo más democrática posible, ya que cualquier
gestión dictatorial del complejo sistema técnico actual solo agravará sus
problemas, como se ve en el modelo chino, o colapsamos. La revista afirma
asimismo la concepción plural que tiene en el ámbito de las ideas en el que se
inscribe. El pensamiento libertario no es un bloque monolítico y coherente. Lo
mejor de esta tradición de pensamiento es su pluralismo, sus corrientes
internas diversificadas, sus tensiones, sus debates, sus diferencias e incluso
sus contradicciones. Por lo tanto, nos oponemos a establecer un canon rígido
del pensamiento libertario, una doctrina que excluya todo lo que sea distinto,
y abogamos por el diálogo abierto entre corrientes, en la búsqueda práctica de
una cultura cada vez más rica, esclarecida y diversa. No existe una cultura
libertaria; existen varias, y todas ellas son necesarias. Un hecho gana más
realidad y valor —lo mismo puede decirse de las ideas— cuando se somete a la
observación de varios individuos situados en lugares distintos y que luego
cruzan entre sí sus puntos de vista. No hay cómo no estar totalmente de
acuerdo con lo que acabamos de leer. Cabe añadir que la revista es la mayor
referencia internacional en lo que respecta a la formación y las polémicas del
surrealismo en Portugal. Su director, António Cândido Franco, es él mismo un
estudioso del tema y cuenta con una bibliografía relevante. A su lado, en esta
edición en homenaje a la revista A Ideia,
se encuentra el brasileño Firmino Saldanha (1906-1985), un pintor cubista de
naturaleza libertaria que, arquitecto de formación, fue elegido en 1957, junto
con Candido Portinari, para competir por los premios Guggenheim y participar en
la exposición celebrada en París ese mismo año. Artista poco acostumbrado a los
escenarios, dotado de un profundo sentido del humor, padre del inquieto Zuca
Sardan, Firmino acabó siendo casi totalmente olvidado, por lo que nos complace
enormemente traerlo de vuelta a la escena artística, como artista invitado de
la presente edición de Agulha Revista de
Cultura.

03 | In the editorial of a 2022 issue
of A Ideia magazine, we read: A Ideia magazine is critical of the current way of
life, based on financial speculation, the techno-scientific system, elitist
management, mass industry, the disintegration of bonds of solidarity, the
nullification of subjectivities, and the unstoppable destruction of the
planet's physical life. However small it may be, and it certainly is, the
magazine aims to do its bit in the field of ideas and practices that are
sensitive to a new social paradigm, focused on social, subjective, and
ecological needs, and which can be presented as a sustainable model of life for
the Earth and dignified for all beings. The magazine does not believe that the
current partisan system, subject to other pressures from industry, the
techno-scientific apparatus, and the military-industrial complex, is in a
position to meet this challenge. The dilemma we face today is therefore clear:
either we invent a new form of social life, which will necessarily have to be
as democratic as possible, since any dictatorial management of the current
complex technical system will only aggravate its problems, as can be seen in
the Chinese model, or we collapse. The magazine also affirms the pluralistic
conception it has in the realm of ideas in which it operates. Libertarian
thought is not a monolithic and coherent bloc. The best thing about this
tradition of thought is its pluralism, its diverse internal currents, its
tensions, its debates, its differences, and even its contradictions. Therefore,
we oppose the establishment of a rigid canon of libertarian thought, a doctrine
that excludes everything that is different, and we advocate open dialogue
between currents, in the practical search for an increasingly rich,
enlightened, and diverse culture. There is no single libertarian culture; there
are several, and all of them are necessary. A fact gains more reality and
value—the same can be said of ideas—when it is subjected to the observation of
several individuals located in different places who then exchange their points
of view. It is impossible not to agree wholeheartedly with what we have
just read. It should be added that the magazine is the leading international
reference on the formation and controversies of surrealism in Portugal. Its
director, António Cândido Franco, is himself a scholar of the subject and has a
relevant bibliography. Alongside him, in this edition paying tribute to the
magazine A Ideia, is the Brazilian
Firmino Saldanha (1906-1985), a cubist painter with a libertarian streak who,
trained as an architect, was chosen in 1957, along with Candido Portinari, to
compete for the Guggenheim prizes and participate in the exhibition held in
Paris that same year. An artist unaccustomed to the limelight, gifted with a
deep sense of humor, and father of the restless Zuca Sardan, Firmino ended up
being almost completely forgotten, which is why we are delighted to bring him
back to the art scene as a guest artist in this edition of Agulha Revista de Cultura.
Os Editores
∞ índice
ALFREDO MARGARIDO | Surrealismo negro
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/alfredo-margarido-surrealismo-negro.html
ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO | Breve
nota sobre o combate cultural do nosso tempo surrealismo e crítica
situacionista
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/antonio-candido-franco-breve-nota-sobre.html
ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO | Breve Notícia sobre
Prémios Literários
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/antonio-candido-franco-breve-noticia.html
ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO | Manuel de Castro – Os versos de gelo
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/antonio-candido-franco-manuel-de-castro.html
ANTÓNIO CÂNDIDO
FRANCO | O grupo do Café Gelo: do princípio ao fim
FLORIANO
MARTINS | António Cândido Franco, uma ideia com 50 anos de idade
JORGE LEANDRO
ROSA | Novíssima Simone Weil – o ativismo e os trabalhos da alma
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/jorge-leandro-rosa-novissima-simone.html
MANUELA PARREIRA DA SILVA |
Uma biografia de Fernando Pessoa
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/manuela-parreira-da-silva-uma-biografia.html
MARIA ESTELA GUEDES |
Sobre Manuel de Castro – Um texto de Herberto Helder
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/maria-estela-guedes-sobre-manuel-de.html
PENELOPE ROSEMONT | Diane di Prima (1934-2020)
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/12/penelope-rosemont-diane-di-prima-1934.html
Agulha Revista de Cultura
CODINOME ABRAXAS # 09 – A IDEIA – REVISTA DE CULTURA LIBERTÁRIA (PORTUGAL)
Artista convidado: Firmino Saldanha(Brasil, 1906-1985)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2025
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário