● O amor pelas palavras
Uma mesa virtual, um respeito mútuo entre
dois editores e uma aposta na essência do amor pelas palavras, foi o suficiente
para que de um único encontro entre Leda Rita Cintra e Floriano Martins
brotasse uma árvore relevante, destinada à difusão de obras de circulação pelo
mundo digital. Assim nasce a coleção “O amor pelas palavras”, uma coedição
entre Editora Cintra e ARC Edições. Livros de venda exclusiva através da
Amazon, a coleção estreia com cinco títulos, tendo por meta a publicação de 15
mais até o final deste ano. Livros de circulação para leitores de línguas
espanhola e portuguesa, aqui inserimos duas conversas que os editores
mantiveram com Alfonso Peña e Claudio Willer.
● CATÁLOGO DE LANÇAMENTO
A Editora Cintra,
iniciando sua parceria com a ARC Edições, apresenta Memória de Borges, contendo
entrevistas que Jorge Luís Borges deu à imprensa local de vários lugares do
mundo por onde passava para dar conferências, aqui compiladas por Floriano
Martins. Borges não pode ser esquecido, a excelência de sua obra não nos
permite o esquecimento; logo, suas palavras aqui mostradas também não.
Este es el segundo título de la colección O AMOR PELAS
PALAVRAS, una complicidad editorial entre ARC Edições y Editora Cintra. El
libro, en sus 756 páginas, recurre el imaginario lírico de Latinoamérica,
registrando los aspectos más esenciales de la creación a través de sus
principales voces poéticas. El brasileño Floriano Martins conversa con 55
poetas de 20 países latinoamericanos en diálogos que suman casi tres décadas de
aventura intelectual.
As deliciosas
peripécias descritas e desenhadas, no século XIX, pelo genial Wilhelm Busch, o
criador das histórias-em-quadrinhos, tem sua força justamente no contraste da
alegria da Fantasia face à carranca da Realidade. No fim, o Mito é sempre posto
em farelos pela realidade prática… Nesta múltipla aventura – do teatro
automático à narrativa patafísica –, realizada a quatro mãos pelos poetas
brasileiros Zuca Sardan e Floriano Martins, concluímos que quanto mais
destroçado o Mito mais força ele ganha e retorna para nos salvar de sermos,
simplesmente, uns macacos lógicos e eruditos. Farelos do Mytho é uma das mais
requintadas proezas estéticas de nosso tempo, reunindo teatro, narrativa,
desenhos, fotografias, colagens em um caldeirão delirante sob a pena satírica
de dois poetas. Venha conferir esta sessão de estripulias, em cartaz na coleção O AMOR PELAS PALAVRAS, da fabulosa cumplicidade da Editora Cintra com a ARC
Edições.
Invenção do Brasil, do brasileiro Floriano Martins, poeta e
ensaísta, é um volume que reúne ensaios e entrevistas cujo tema central assume
a ousadia de propor justamente o que se anuncia no título, a invenção de um
Brasil que seja fruto de uma arte e uma cultura com a grandeza incontestável
que caracteriza o país, embora sob o manto da invisibilidade, grandeza tomada
de assalto pela superficialidade do que circula com ares de oficialidade. O
livro trata das mais variadas questões envolvendo diversos gêneros artísticos,
além de aspectos estratégicos, como direção de revistas, curadoria de
exposições, entraves burocráticos etc. O livro é, portanto, um desafio ao leitor, para que, no fim desta viagem, invente o seu próprio
Brasil.
O crítico de
artes, brasileiro, Jacob Klintowitz (Porto Alegre, 1941) é um dos intelectuais
mais atuantes no país, além de possuir obra dotada de espantosa singularidade,
seja pela extensão como pela luz que incide sobre o objeto de todos os seus
estudos. Escreveu sistematicamente para órgãos de imprensa como Tribuna da
Imprensa, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, revista Isto É, tendo sido
redator e crítico de arte da TV Globo. Foi curador do Espaço Cultural Citi,
assim como conselheiro do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi e do Museu
Judaico de São Paulo. Vice-presidente do Instituto Anima de Sophia, ganhou por
duas vezes o prêmio Gonzaga Duque, da Associação Brasileira de Críticos de
Arte. Com uma bibliografia que chega a 174 títulos publicados, escreveu sobre
artistas e temas os mais variados e consistentes de nossa cultura. Tratados de
Harmonia reúne estudos preciosos e reveladores sobre a obra de destacados
artistas brasileiros: Antonio Bandeira, Arcangelo Ianelli, Claudio Tozzi, Henrique
Léo Fuhro, Inos Corradin, Israel Pedrosa, Ivald Granato, Marcello Grassmann e
Rubens Matuck.
***
● DUAS CONVERSAS COM OS EDITORES
1. ALFONSO PEÑA | Narrador e diretor da revista Matérika, da
Costa Rica
AP | Leda & Floriano,
su travesía por publicaciones de revistas y ediciones de libros es muy amplio y
de gran recorrido. Me parece que para nuestros lectores y amigos será
importante conocer sus observaciones y comentarios sobre el hechode como dos
sellos editoriales se compaginan y entran en complicidad para publicar libros
en formato eBook… ¿Esencias,
descubrimientos?
FM | Hay dos puntos complementares. El primero es una
estrategia de mercado. El segundo, mi admiración por este trabajo editorial que
hace tiempo realiza Leda. Hay un modo, todavía hay, de hacer del mercado algo
más humano. Además es muy importante la complicidad, en todos los sentidos,
sobre todo en un tiempo como el nuestro, en que el aislamiento posee un acento
muy peligroso.
LRC | Concordo com Floriano na
admiração, admiro em Floriano esse trabalhador da cultura latino-americana,
que acredita em transformar os homens pela cultura. Admiro e aceito sua ideia
de cumplicidade, uma cumplicidade muito necessária para que possamos continuar
a caminhar sem nos atermos a especificações solitárias e imunes a
compartilhamentos culturais e humanos, o que
apenas traz o isolamento de cada homem ou mulher.
AP | Editora
Cintra y ArcEdições, poseen en sus
catálogos títulos importantes, en algunos casos con autores de gran bagaje y
prestigio como fue el primer título sobre las entrevistas concedidas por Jorge
Luis Borges y recopiladas por FlorianoMartinspara esta edición… ¿Qué esperan de
este título con el que inicia la colección?
FM | Nuestra preocupación central es con la configuración
de un catálogo que sea al mismo tiempo diversificado y relevante. La idea es
buscar títulos que expresen una distinción en relación al mercado común.
Memoria de Borges es una selección de entrevistas que ha dado a la prensa el
poeta argentino en su pasaje por varios países, en sus viajes como
conferencistas. Este material estaba disperso, en grande parte los periódicos
habían cerrado sus puertas, así que es un libro muy raro y revelador del
carácter de Jorge Luis Borges. En esta misma dirección estamos preparando
libros de autores como Vicente Huidobro, Aldo Pellegrini, Jacob Kintowitz. Lo
que esperamos con esa apuesta editorial es ofrecer al lector una muestra
significativa y diversa del arte y el pensamiento en nuestro tiempo, desde principios
del siglo pasado hasta hoy.
LRC | Nesta pergunta percebo a preocupação
com o destino que receberão grandes autores, livros e ideias com as atuais
publicações; uma preocupação que ainda não é a nossa, se pensarmos no grande
público, mas que é nossa se pensarmos em levar a grande literatura, no sentido
de autores e textos de qualidade excelente, para um público que tem o direito
de ter preservados livros como esse de J. L. Borges e outros que constam dos
catálogos dessas duas editoras, livros que sem essas publicações estariam
perdidos nos armários e gavetas, alguns nas memórias de quem os leu, mas longe
das prateleiras das livrarias e gráficas.
AP | La propuesta editorial de ustedes como editores se puede
entender como una manera de enfrentar la crisis en los sistemas capitalistas…
Ante la “difundida” caída del libro impreso, consideran que los eBooks es un
modo efectivo de combatir la crisis…
FM | Hay en esa perspectiva más de deseo que de modo
efectivo. Además es un riesgo pensar en las cosas como siendo excluyentes. Eso
es muy común en Brasil, dejar una cosa por otra, cuando es plenamente posible
la común relación entre varias cosas. ARC Edições sigue con sus libros
impresos, ahora mismo presentamos un libro muy bello, en colores, sobre las
esculturas de un importante artista brasileño: Valdir Rocha. Sumamos nuestro
esfuerzo en búsqueda de un sitio mágico en que el arte y el pensamiento alcancen
una perfecta mecánica de interrelación. Igual seguimos con la publicación
mensual de Agulha Revista de Cultura
e sus series especiales. Hay mucho trabajo y este es el modo más efectivo de
ser: trabajar para combatir las crisis todas, sobre todo la crisis moral, que
es la más corrosiva.
LRC | Combater a atual crise econômica seria
possível através dos textos em eBooks dados seus preços muito mais acessíveis
do que quando falamos de publicações impressas, mas para isso teríamos de estar
no mesmo patamar de alguns países estrangeiros em que o eBook é um verdadeiro
sucesso de vendas sem, contudo, atrapalhar as vendas das publicações impressas.
Há que saber fazer conviver de forma harmônica esses dois tipos de publicações,
o eBook e o impresso, como um dia fizemos conviver televisão e jornais
impressos que, se hoje estão em menor número não é absolutamente por causa da
televisão que foi combatida pelos jornalistas e autores de textos impressos
quando surgiu, mas por causa de uma crise que se prolonga e atinge muitos
segmentos além do financeiro.
FM | La palabra-llave es la misma, en cualquier actividad
de mercado: difusión. Por supuesto que hablamos de difusión de un obyecto de
calidad. Es indispensable establecer la diferencia, porque el mercado está
saturado de mercancías de baja calidad. El mercado de libros no es distinto.
Así que la estrategia esencial apunta en la dirección de muy buena y activa
difusión, a través de los mecanismos de publicidad de Amazon, así como la
difusión que hacemos a través de las redes sociales y la complicidad que
mantenemos con nuestros amigos de las artes, editores de revistas, periodistas
etc. A ver que sale de todo
esto…
LRC | Concordo com Floriano: divulgar,
divulgar e divulgar de todas as maneiras possíveis sem perder o foco da
qualidade; porém, não se pode negar que um público leitor mais assíduo seria
desejável, embora saibamos que isso se consegue com educação e tempo.
AP | En conversaciones que mantengo con personas y amigos de
diversos países y medios, muchos opinan que todavía los lectores de libros
impresos no se “acostumbran” al eBook, en otras palabras “no se siente
cómodos”. ¿Cómo lograr que se integren a las parafernalias digitales…?
FM | Hay que insistir que se tratan de modos distintos de
acercamiento de contenidos. Es plenamente posible contar con los dos mundos, el
impreso y el virtual. Fíjate que lo mismo se decía de los periódicos que hoy
circulan ampliamente en el medio digital. El problema mayor no está en el
formato de presentación de la lectura, sino en el interés por la lectura misma.
Esto es lo que más me preocupa, sobre todo en un país como Brasil, el
agotamiento de la lectura relevante. En eso sentido, ojalá el mundo digital
pueda ayudar simplemente por ofrecer un nuevo formato de acceso.
LRC | Essa é uma questão de difícil
resposta, porque vemos em ônibus, metrôs etc., assim como nas casas, pessoas
das mais diferentes faixas etárias com kindles nas mãos lendo… São aparelhos
que tornam muito mais fácil o transporte e manejo dos textos do que livros
impressos. Além disso, apesar de acreditar que o hábito do livro impresso seja
próprio de uma faixa etária mais elevada, quando os eBooks nem sequer existiam,
acredito bem fortemente que o verdadeiro leitor, não permite que o meio o
impeça de chegar ao conteúdo com o qual deseja se deleitar, como prova o grande
Esdras do Nascimento, autor também da Editora Cintra, recentemente falecido
que, aos 83 anos possuía três aparelhos kindles e só lia em eBook, porque cada
kindle comporta 3 mil títulos, não pega poeira, é de fácil transportar e não
gasta espaço.
AP | Quizá es importante que podamos conversar en relación a
las ediciones alternativas en contraposición con las ediciones de los emporios
editoriales… ¿similitudes, diferencias?
FM | No veo como contraposición. Hay de todo en los dos
modos, el mundo está tomado por el preocupante crecimiento de la basura. Hay
una creciente marginalización del ser, el interés de convertir al ser en pieza
de reposición de un mercado de almas. Cada uno reacciona a su modo, por
supuesto. Pero la más grande calamidad radica en la inacción.
LRC | Espero que hoje, como sempre, haja a
similitude da procura da qualidade e que a diferença sirva apenas para publicar
mais títulos, já que nem todos caberiam em uma única casa ou forma de edição.
AP |¿Podemos referirnos a generaciones de lectores en papel y
digitales…? Hace unos años este cuestionamiento se hubiera percibido como algo
utópico, podemos afirmar que ya existe “la generación” de lectores digitales de
un modo convencido y autónomo. ¿Opinión?
FM | Bueno, que así sea, pero… ¿Qué importa? ¿Qué importa,
tomemos la música por ejemplo, que exista una generación de música acústica y
otra de música electrónica? Nada de eso define la calidad del arte, más aún, la
calidad de la vida.
LRC | Penso que cada vez mais países com
maior número de leitores acessam de todas as maneiras os livros; logo, são mais
acessíveis a essa nova forma de publicação, sem deixar de ler os impressos.
Acredito que em locais semoventes como ônibus, metrôs, etc. se vê mais pessoas
lendo publicações digitais pela facilidade de transportar e isso pode nos levar
erroneamente a acreditar que apenas os jovens, que usam esse tipo de transporte
leem no digital, o que não é verdade, pois isto se constata apenas pela facilidade
de transportar os livros nos veículos coletivos como em viagens. O que me
parece é que no Brasil, especialmente, novidades de qualquer tipo, que não se
refiram a moda e cosméticos, demoram um tempo maior para serem incorporadas.
AP | Para concluir, se habla de un “catálogo” con un inicio de
20 títulos para los próximos 6 meses… Es un trabajo acelerado y lleno de
matices… ¿Cómo piensan enfrentar la producción, el diseño de portadas,
composición de páginas internas, la distribución, las ventas… y sobre todo la
calidad editorial…?
FM | Bueno, el primero paso es de cierto modo lo más
tranquilo, pues estamos trabajando con libros ya existentes, algunos que
inclusive tuvieron una primera edición impresa. Libros que son una
re-compilación de textos dispersos en periódicos y volúmenes con autores
diversos. La parte del diseño gráfico está conmigo, incluso las portadas. Ya
Leda cuida de la preparación técnica de cada título para inserción en la
plataforma Kindle, de Amazon. Manejamos los dos las estrategias de distribución
y Leda hace el acompañamiento de las ventas. Es un trabajo muy dinámico y me
encanta esa perspectiva creada por nosotros, esa mecánica mágica del
descubrimiento perene de uno en el otro. Las relaciones de trabajo son también
relaciones amorosas. Así es la vida.
LRC | Vejo que parte da resposta já foi dada
por Floriano e concordo; ademais, o que importa mesmo aos dois selos é, além do
encantamento da parceria, que cada título tenha examinada cuidadosamente a
qualidade, para que sejamos não grandes vendedores de livros, mas sim
divulgadores de inéditos e textos de grande qualidade esquecidos nas gavetas e
que não podem nem devem ser esquecidos porque a perda seria da própria
humanidade.
2. CLAUDIO WILLER | Poeta e ensaísta brasileiro
CW
| Como veio à luz esta
parceria editorial, gerando este novo selo com um nome tão bonito, O amor pelas palavras? Quais os planos?
FM | O título da coleção foi emprestado de
um de meus primeiros livros publicados, em 1982. Mas reflete, em essência, a
intensidade de nossa relação com o mundo dos livros e com a palavra dada, não
apenas escrita. Funciona, portanto, como uma carta de princípio. Há uma relação
de mercado, certamente, considerando que os livros estão à venda, porém o que é
determinante é criar novas perspectivas de acesso a títulos que o mercado comum
não dá atenção.
LRC | Embora concordando com o que foi dito
por Floriano, de que nossa meta não é essencialmente financeira, acredito que
essa parceria é uma tentativa de fazer o mercado livreiro e principalmente o
mercado do eBook despertar para o fato de que se pode publicar com excelência
de qualidade tanto no papel impresso como no digital, sem esquecer que o
digital nos dá a possibilidade de pensar primeiramente na qualidade do que é
oferecido, sem precisar pensar tão emergencialmente no retorno financeiro da
empreitada, porque o investimento pequeno dessas publicações torna isso
possível.
CW
| Floriano e Leda Cintra
já se conheciam faz tempo, não é? Já havia um diálogo, um interesse em
colaborarem? Façam um resumo desse diálogo.
FM | Conheci Leda Cintra quando, já não
recordo por sugestão de quem, eu a procurei para atuar como agente literária em
busca de edição justamente para o livro Memória
de Borges, com que hoje abrimos a nossa coleção. O livro sofreu uma recusa
generalizada por conta dos habituais entraves que a viúva do poeta argentino
levava a termo pelos corredores editoriais em diversos países. Mesmo que se
soubesse que os direitos autorais deste livro não pertenciam ao Borges, e sim
aos diversos jornais e revistas onde as entrevistas foram publicadas, o fato é
que as editoras não queriam arriscar. Finalmente o livro sai pelas Edições
Nephelibata, de Santa Catarina, em uma belíssima caixa com dois volumes, edição
artesanal, com uma tiragem de 60 exemplares. Meu convívio com Leda se
intensificou a partir daí, ela passou a colaborar com a Agulha Revista de Cultura, ao mesmo tempo em que editou um livro de
contos do costarriquenho Alfonso Peña e um livro meu: Invenção do Brasil. Era então uma versão resumida do livro homônimo
que hoje tratamos de incluir na coleção. Por desdobramento natural, uma vez que
sempre trocávamos e-mails a respeito dos problemas editoriais no Brasil, nos
veio a ideia de somar nossas duas casas editoriais em torno de um projeto
comum, utilizando apenas a plataforma virtual, com a determinação de compor um
catálogo relevante.
LRC | Pois é… a recusa de publicar Memória de Borges por causa das
invectivas da viúva foi quase trágica. Os editores queriam o livro, reconheciam
sua importância, mas editores não costumam se arriscar em polêmicas com
herdeiros de direitos autorais, mesmo quando os direitos sejam tão
questionáveis quanto neste caso, em que se resguarda muito mais o nome de Jorge
Luis Borges do que direitos que, como disse Floriano, pertencem aos
entrevistadores. Acredito que a questão dos direitos autorais deveria ser
melhor revista, porque resguardar os autores é publicar seus textos, não
esquecê-los mercê da não politica dos herdeiros, como acontece com frequência no nosso país em que grandes
autores e suas excelentes obras terminam caindo no esquecimento mercê de
herdeiros e de editores que se digladiam sem nenhuma noção.
CW
| Seu campo, Floriano,
tem sido preferencialmente o surrealismo – que, no Brasil, virou dissidência
cultural, pelo modo como é desconsiderado por elites pensantes. Sua colossal
pesquisa – em especial sobre manifestações do surrealismo fora da França – terá
reflexos nas pautas ou títulos dessa nova série?
FM | Não creio que seja possível, do ponto
de vista de uma prática quando menos razoável de abrangência cultural, deixar
de fora o surrealismo de qualquer catálogo editorial. Seja pela importância
fundamental do movimento, quanto pelo volume impressionante de títulos que acompanha
a vida literária de incontáveis países. Eu tenho em preparo no momento dois
livros dedicados ao tema. O primeiro deles é uma bem abrangente antologia
poética de poetas surrealistas em todo o mundo, com um total de quase mil
páginas. Este livro deverá ser publicado até novembro. O outro volume requer
mais tempo de preparo, por se tratar de um volume crítico de diálogos que venho
mantendo com estudiosos do surrealismo em países como Portugal, México,
Espanha, Grécia, Austrália, Holanda etc. Pouco antes de sua morte, deixaram
comigo originais dedicados ao surrealismo os poetas André Coyné (França) e
Carlos M. Luis (Cuba). Como temos uma previsão de 20 títulos para este resto de
2017, estes originais em breve entrarão em fase de digitação, e creio que será
possível publicá-los no início do próximo ano. Há também livros dedicados ao
surrealismo que já se encontram na previsão editorial para este ano: ensaios do
argentino Aldo Pellegrini; uma antologia poética do Roberto Piva, em espanhol;
um amplo volume de teatro automático escrito a quatro mãos por mim e Zuca
Sardan; um estudo crítico que preparei sobre a obra plástica da artista Susana
Wald etc. Aqui é importante destacar que os livros atendem a leitores tanto em
idioma português quanto espanhol, o que amplia o alcance de nossa aventura
editorial.
LRC | Acho importante a publicação dessas
obras dedicadas ao surrealismo que, na América Latina, quase exclui o Brasil,
em que o desconhecimento por essa corrente literária se resume a Dali.
CW
| Leda Cintra, como se
projeta seu campo de interesses nessa programação editorial? Haverá mais sobre
Pagu? Sobre censura e seus malefícios?
LRC | Como disse no inicio, o instigante
nessas publicações digitais, interesse maior da editora Cintra é a possibilidade
de tirar do esquecimento nomes como Geraldo Ferraz, do qual publicamos Doramundo, o romance que em 1956 foi
considerado o melhor do ano, sem nos esquecermos que foi o ano em que Guimarães
Rosa teve publicado seu Grande Sertão
Veredas. Também de Geraldo Ferraz publicaremos outros livros como Depois de Tudo, uma autobiografia quase
já esquecida, assim como Jorge de Andrade, do qual publicamos todo o teatro,
num belíssimo trabalho de Elizabeth Azevedo que complementou essa edição de
suas peças com apresentações e
prefácios de professores, críticos,
gente do teatro como Antonio Candido de
Mello e Souza, Carlos Guilherme Motta,
Antunes Filho etc.
Sim, pretendemos publicar toda a obra de
Pagu que, como você sabe melhor do que ninguém é mito, mas mito em um país como
o Brasil, periga ter o nome usado desde escolas até brechós, sem dar satisfação
aos herdeiros. E olha que os herdeiros da obra de Pagu, seus netos e noras, são
bem simpáticos com os pretendentes a alcançar esses títulos… mas Pagu está
atualmente em vários países, com seu Parque
Industrial, tais como Estados Unidos, México, França, Croácia e, em breve,
sairá pela nova Editora Linha a Linha, que começa seu catálogo com esse título
aqui no Brasil onde já se encontra disponível em ebook pela Editora Cintra.
Veja, entretanto, que são traduções de estudiosos, professores universitários,
que descobrem Patricia Galvão e sua obra em feiras culturais e por ela se
interessam a ponto de traduzir e buscar editoras. No Brasil fazer os leitores
comprarem livros ou eBooks é difícil, e
para a Editora Cintra o maior exemplo disso é o de que todo mês são vendidos de
dois a três eBooks de Parque Industrial,
mas em uma promoção gratuita de 72 hs foram baixados 470 eBooks dessa autora.
Isso, entretanto, em nada nos aborrece, como disse Floriano Martins, nosso foco
maior não são as vendas, porque embora estejamos no mercado, o foco principal é
o de preservar títulos da nossa lavra que sem as possibilidades dos eBooks
morreriam nos fundos de gavetas parecendo pouco comerciais para as editoras que
imprimem livros.
CW
| Floriano, você é
artista múltiplo, literário e visual. Isso tem consequências na escolha de
títulos?
FM | Uma consequência natural. Não apenas
no tocante à definição do catálogo, como também no cuidado com o projeto
gráfico, considerando que assino capa e desenho interno de todos os livros.
Além disto, me parecem já indissociáveis as criações literárias e plásticas,
sendo bem comum a existência de escritores que são também artistas plásticos ou
gráficos, e vice-versa.
Os
Editores
***
● ÍNDICE
ALFONSO PEÑA | Cali Rivera & el arte para ser libres
HAROLD ALVARADO
TENORIO | Los Nuevos y León de Greiff
JACOB KLINTOWITZ | Click – a arte da inclusão
JACOB KLINTOWITZ | Marcos Coelho Benjamim
JOSÉ ÁNGEL LEYVA |
Eduardo García Aguilar, extranjero y sin banderas, el mundo es la raíz
MANUEL MORA SERRANO | Tres fabulillas
MARIA LÚCIA DAL FARRA | Da bike ao
helicóptero: Vergílio Ferreira e Herberto Helder
MARIA LÚCIA DAL FARRA | Vergílio Ferreira
e a nostalgia da aura
RAFAEL RUILOBA | Rogelio Sinán
y sus voces mágicas
ARTISTA CONVIDADO | WOLFGANG PAALEN, por
Aldo Pellegrini
***
Página ilustrada com obras de Wolfgang
Paalen (Suíça, 1905-1959), artista convidado desta edição de ARC.
***
Agulha Revista de Cultura
Número 102 | Setembro de 2017
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão |
FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
equipe de tradução
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
ALLAN VIDIGAL | ECLAIR ANTONIO ALMEIDA FILHO | FEDERICO RIVERO SCARANI | MILENE MORAES
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