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MARIA ESTELA GUEDES | A Agulha, vinte
anos depois
Falar da Agulha Revista de Cultura, que
festeja os 20 vinte anos, é falar da Internet, que poucos mais tem do que ela. E
é claro que os sucessos da publicação virtual acompanham os progressos da tecnologia
e dela dependem, no que toca ao suporte e divulgação. Penso no Google, por exemplo.
Mal acabávamos um site, e era moda na
altura afixar nele o cartaz “Em construção”, como se o castelo alguma vez viesse
a ser terminado, o passo seguinte era ir ao Google submetê-lo a aprovação e pedir
que os spiders o visitassem todos os dias, uma vez por semana ou por mês,
de modo a que a informação por nós gerada ficasse acessível a quem dela necessitasse,
aqui, ali, no Chile, no Brasil, na Biblioteca Nacional ou na Biblioteca do Congresso.
Parece que hoje isso não é necessário, o que me deixa dúvidas, ao ver que um mesmo
texto, publicado originalmente no sítio A, não aparece no Google, passando a ser
nele disponibilizado horas depois de publicado num sítio B. A diferença reside nisto:
o sítio B tem 20 anos de relacionamento com o Google, o sítio A, mais recente, nunca
disse “Olá!” ao motor de busca.
O Floriano, decerto como eu, não começou com
a Agulha Revista de Cultura, no interior do Jornal de Poesia, sim
com sites construídos de raiz em espaços disponibilizados pelas empresas: Sapo,
Terra à Vista, similares no Brasil. Davam 15, 20 megas de espaço em disco a que
criava um e-mail, nada de parecido com 20 gigas e ainda menos com um tera.
Mas serviu para aprendermos, e nenhum de nós teria levado o respetivo website a
onde o levou, sem ter aprendido os abecês das novas tecnologias, em aparelhos então
ronceiros e misteriosos, que ocupavam a mesa, os debaixos da mesa, e por detrás
ocultavam uma floresta de fios inextricável.
Como foi possível? Com muito trabalho, muitas
noites indormidas, muita aprendizagem à custa do erro, muita pergunta nos chats,
pois nessa era tecnológica – há 20 anos! – nem pensar em telemóveis, facebooks,
porém algo reinava: a solidariedade entre companheiros de viagem, o gosto por ensinar
quem não sabia, a generosidade da dádiva de conhecimento e, entre todos os locais
de companheirismo sem fronteiras, recordo o mIRC.
A tecnologia sobre a qual flutuávamos permitia
duas façanhas entre mais: a instantaneidade entre envio e recepção da mensagem e
o potencial alcance dela a todo o Planeta. Os resultados estão à vista, se bem que
o Floriano Martins, com a Agulha, se tenha especializado no espaço ibero-americano.
Todos sabemos, entretanto, que o português e o espanhol são das línguas mais faladas
do mundo, por isso o nosso alcance ultrapassa as fronteiras da Península Ibérica
e da América Latina. Este “nosso” refere o Triplov que, em 2009, estabelece com
a Agulha uma parceria que leva à publicação da Revista Triplov de Artes,
Religiões e Ciências, com direção do Floriano e minha. Esta aliança, que perdura,
apesar de ter cessado a direção conjunta, tem reforçado poderes, alargado públicos,
e contribuiu para que ambas as editoras virtuais sejam hoje duas instituições reconhecidas,
com créditos seguros na comunidade cultural.
Se a Internet, como tecnologia revolucionária,
é hoje tão necessária como o pão para a boca, também lugares de publicação como
a Agulha o são. Revolucionários porque arrancaram os autores do seu pequeno
bairro para os levarem a todos os cantos da Terra, e não ao fim de cinquenta anos
de publicações esforçadas, sim num lapso de cinco minutos.
Recordo uma pergunta habitual de Antônio Abujamra
no seu carismático programa Provocações: Você é um autor internacional ou
da sua rua?
Qualquer estrangeiro que tenha sido entrevistado
por Abujamra é internacional, mais por a entrevista estar publicada também na Internet
e não tanto por na origem ser um programa televisivo.
Foi isto o que a Agulha Revista de Cultura
deu ao mundo, entre outros benefícios vários: internacionalização dos autores e
obras, com implícita permuta de conhecimento, estímulo à criação, e institucionalização
das editoras virtuais, o que pressupõe queda de barreiras entre poderes de avaliação,
e simultaneamente criação de espaços de cultura alternativos ao fluxo dominante,
com o seu poder comercial.
Tal como a Internet, alguns espaços virtuais
de edição, a exemplo da Agulha Revista de Cultura, foram revolucionários.
Os caminhos que abriram já não podem ser calados.
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ZUCA
SARDAN | Eccolequá Agulha Racatraca
Zuca querido
Em novembro de
1999 surgiu o primeiro número da Agulha Revista de Cultura. Desde então as
edições se deram de modo sistemático, por vezes variando a periodicidade: bimestral,
mensal, quinzenal. São quase 150 números, cada um deles constituindo denso volume
dedicado ao estudo crítico de diversos temas referentes à criação artística e à
cultura em geral. Estamos planejando, para a penúltima quinzena de 2019, uma edição
especial comemorativa de nossos 20 anos de atividade. Para tanto gostaríamos de
contar com a tua participação, tuas palavras sinceras e críticas sobre a revista.
A extensão do texto fica por tua decisão, e a data final de entrega será a última
semana de outubro. Antes disto, no entanto, esperamos contar com a tua confirmação
de presença. Nosso imenso agradecimento pela participação.
ZUCA
SARDAN
Queridos Floriano e Márcio!!!,
Eccolequá, Racatraca-traca!!! Evoééééé… Baaaaaaaaacco!!!
O Zuca estará sempre com vocês dois, e sempre testemunhará
pela qualidade da persistente resistência que, face à obviedade de nossa sociedade,
vocês sempre mantiveram e manterão. Nossa cultura vai cada vez mais aceitando os
padrões baforais e rebrilhantes difundidos pela televisão… e demais meios culturais
do Comércio Internacional. Dum lado o Buraco Negro do Cosmos… e do outro o Buraco
Rosa da Globalização.
Abbrazzzzzzzzzzzzzi/zzzzzzuca
FLORIANO MARTINS & MÁRCIO SIMÕES
Aguardamos então, querido. Será uma grande festa.
ZUCA
SARDAN
Vou procurar… com a lanterna do Sócrates…
Do Sócrates? Não, o Sócrates não tinha lanterna… E o
Platão… tinha uma câmera 8…
FLORIANO MARTINS & MÁRCIO SIMÕES
Aguardamos teu bem decorado improviso sobre a Agulha e seus 20 anos de glória…
ZUCA
SARDAN
A Festa
dos Vinte Anos
se
abre com um belo
Cortejo
de Caboclas
ao
som do Quarteto Kolax
Nossa
revista não dá refresco…
(mas
temos boa cachaça)
A Gula
da Agulha é proverbial…
A vitória
há de ser tua, tua,
Moreninha
prosa…
DOC
FLOYD
Vitória escapou de noitinha a buscar uma encruzilhada,
fez um pacto bem discreto com o chifrudo de plantão, desde então diz a lenda não
perde sequer disparate.
ZUCA
SARDAN
O chifrudo de plantão gostou do pacto, não reclamou.
Afinal, neste mundo cruel, ninguém é de ferro.
DOC FLOYD
Quem fuma a Agulha no varal das centelhas sabe o quanto
é magnético seu cordão umbilical e a linha do horizonte que ela faz passar pelo
buraco do camelo.
• VIVIANE DE SANTANA PAULO | A Agulha detrás do oceano
Navegando
à deriva, na Internet, alcancei a ilha onde ancorei minha curiosidade e descobri
a Agulha Revista de Cultura em 2001. Explorei
este território de língua portuguesa e espanhola que revela diversos aspectos da
literatura e da arte, e pirâmides, vulcões e amazônias. Meus primeiros contatos
com a revista foram de deslumbramentos e mares. Aqueles meus olhos de dois mil e
um impressionaram-se com a leitura de muitos artigos, como “George Bataille: Imagens
do Êxtase”, escrito pelo filósofo Luiz Augusto Contador Borges (2001); “Robert Graves:
uma experiência fantástica”, de Floriano Martins (janeiro/2001); “Wilson Martins:
o destino da crítica”, entrevista concedida a Iosito Aguiar e Aleilton Fonseca (ago/set/2000);
“Dashiell Hammett e os mistérios da criação literária: um depoimento e um poema”,
de Claudio Willer (abril/2001); “Carlos Graieb, Cadê a Crítica” (jun/2000); “Isaiah
Berlin: um homem de sorte” (set/2000) e assim seguem as arvoredos desta densa floresta.
Escrevi para Floriano Martins com o intuito de
parabenizá-lo pela publicação e após o trânsito de correspondência de um lado ao
outro do Atlântico, senti-me habitante ao poder colaborar com alguns artigos sobre
a literatura alemã. A arte possui o poder de ultrapassar fronteiras, uma das características
da arte é justamente ampliar os limites, derrubar muros, alcançar continentes, descobrir
mundos. Foi assim que, de uma ilha, a Agulha
Revista de Cultura passou
a se transformar em um continente para mim. A correspondência com Floriano Martins
cresceu, entrou nas minhas pernas, fez-me caminhar quilômetros e ainda me sustenta
cheia de fôlego e passos. A comunidade Agulha é um
incentivo para os colaboradores se conhecerem mutuamente e trocarem ideias, opiniões e reflexões, e naturalmente – artigos, e dentes mágicos que plantados no chão da inspiração viram escrita. Entrei em contato com pessoas instigantes, sensíveis e envolvidas com a arte e as letras, como Ademir Demarchi, Alfonso Peña, Fabrício Brandão, Fabrício Carpinejar, Joana Ruas, Marco Lucchesi, Maria Estela Guedes, Martín Palacio Gamboa, Mónica Saldías, Rodrigo Petronio, Susana Wald, Valdir Rocha e tantos outros e tantos textos e imagens povoaram minha curiosidade e ampliaram a morada dos meus conhecimentos.
incentivo para os colaboradores se conhecerem mutuamente e trocarem ideias, opiniões e reflexões, e naturalmente – artigos, e dentes mágicos que plantados no chão da inspiração viram escrita. Entrei em contato com pessoas instigantes, sensíveis e envolvidas com a arte e as letras, como Ademir Demarchi, Alfonso Peña, Fabrício Brandão, Fabrício Carpinejar, Joana Ruas, Marco Lucchesi, Maria Estela Guedes, Martín Palacio Gamboa, Mónica Saldías, Rodrigo Petronio, Susana Wald, Valdir Rocha e tantos outros e tantos textos e imagens povoaram minha curiosidade e ampliaram a morada dos meus conhecimentos.
A troca de e-mails com Floriano Martins (um amigo
que me desperta para os sonhos) tornou-se uma conversação ao longo do tempo e da
distância (eu, na Alemanha; Floriano, no Brasil) da qual nasceu uma profunda amizade
intelectual e criativa, fruto de uma afinidade intelectual simétrica e de imbricação
de devaneios, fruto desta época contemporânea marcada pelas tecnologias digitais
que desfazem distâncias geográficas e coloca-nos um de frente para o outro – cruzamentos
e saltos. A ponte foi gerada repleta de correntezas e suspensa sobre este mundo
de realidades palpáveis e toscas. Construímos nuvens e céu aberto.
Desde então, a Agulha Revista de Cultura aparece detrás do mar e brilha este raio claro
que atinge a íris dos pensamentos.
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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 147 | Dezembro de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS
| MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
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