quarta-feira, 20 de outubro de 2021

MÁRCIO CATUNDA | Stéphane Mallarmé (1842-1898)

 


Stéphane Mallarmé, cujo nome de batismo era Étienne Mallarmé, nasceu em Paris, no dia 18 de março de 1842, na rue Laferrière, nº 12, em Montmartre. Perdeu a mãe aos cinco anos de idade e foi educado pela avó materna em Auteuil. Aos 20 anos, casou-se com Marie Gerhard e foi para Londres tentar viver como professor. Passou um ano na Capital inglesa e voltou à França, em 1863, para ser professor de inglês, nos liceus de Tournon, Avignon e Besançon.

Do hotel onde estou hospedado, na rue de la Boule-Rouge, vou até o cruzamento das ruas Le Peletier com La Fayette, onde me confundo e tardo a encontrar o rumo certo na encruzilhada de tantas ruas. Ao avistar as colunas de Notre Dame-de-Lorette, oriento-me e tomo o rumo da rue Chateâudun, que corta a rue Laffitte. Encontro, ao lado da Igreja de Notre-Dame-de-Lorette, a rue Bourdaloue, que me dá acesso, por trás da igreja, à rue Notre-Dame-de-Lorette, cuja ladeira me conduz à place de Saint-Georges. Vejo, no centro da rua, a estátua do desenhista Paul Gavarni e, na esquina, a Bibliothèque Thiers e o Théâtre Saint-Georges. Subo um pouco mais e diviso a rue Laferrière, a pequena rua onde nasceu Mallarmé, a qual ascende em curva, descrevendo um semicírculo que vai da rue Notre-Dame-de-Lorette à rue Henri Monnier. É na metade da rue Laferrière, no ponto em que a curva é mais acentuada, que encontro a vivenda do nascimento do poeta. O prédio tem a fachada um pouco em arco, pela situação da própria rua. É simples, porém pitoresco, porque tem plantas cujas ramagens sobem pelas janelas do térreo. Os três andares superiores têm janelas que carecem de pintura. As manchas do tempo atribuem-lhe um ar de decrepitude. Uma mendiga se aproximou de mim, puxando conversa, perguntando se eu tinha um “portable”, para me pedir cinco euros. Dei-lhe um euro. Vizinho ao local, estão o hôtel Avor e a pequena igreja ortodoxa grega dos santos Constantino e Helena.

Enquanto esteve trabalhando em cidades do interior da França, Mallarmé passava férias e fins de semana em Paris, hospedado no hôtel des Étrangers, na rue Vivienne, nº 3.

A estreita rue Vivienne liga Montmartre ao Palais- Royal. Sua extensão é visível, de ponta a ponta. Num extremo está o boulevard Montmartre, que tem apenas uma quadra e é um hiato entre os bulevares Poissonnière e Haussmann. No outro extremo estão as janelas do Palais-Royal. Os principais monumentos da rue Vivienne são a Bourse e a Bibliothèque Nationale. O número 3, onde existiu o hôtel des Étrangers, é hoje uma extensão da Biblioteca Nacional Francesa. O hôtel Le Grand Colbert, em frente à biblioteca, é o número quatro da rua.

Em 1871, já instalado na rue de Moscou, 29, Mallarmé visitava a casa de Verlaine, na rue Nicolet. Nesse mesmo ano, conhece Rimbaud, num dos jantares dos Vilains Bonshommes. Em março de 1873, passa a residir na rue de Rome, nº 87 e, dois anos depois, no número 89 da mesma rua.

No dia 18 de janeiro de 2019, debaixo de neve e chuvisco, fui conhecer o número 89 da rue de Rome, onde o fabuloso Mallarmé promoveu, a partir de 1880, durante quase vinte anos, os festejados “mardis”, reuniões às quais compareciam, entre outras eminências, Leconte de Lisle, Pierre Louys, Henri de Régnier, Verhaeren, Catulle Mendès, Oscar Wilde, Manet, Gaugin, Renoir, Debussy, Verlaine, Maupassant, Zola, Gide e Claudel.

 Entre os edifícios imponentes da rua, vi aquele, de quatro amplas janelas em cada um dos seis andares, com a placa indicativa informando que, a partir de 1875, Stéphane Mallarmé viveu ali com sua família e reuniu, às terças-feiras, grandes expoentes das artes.

O prédio antigo e seu grande portal com alças douradas evocaram-me os personagens magníficos que ali estiveram. O local fica a uma quadra do boulevard des Batignolles. Diante da rue de Rome, há o precipício com grades, embaixo do qual passam os trens, sob o viaduto do boulevard des Batignolles, indo e vindo da Gare Saint-Lazare, a algumas quadras dali. Era diante desse abismo que Mallarmé sentia, segundo nos confessa, ânsias de se precipitar, angustiado pela doença de seu filho Anatole, que faleceu aos oito anos, em 1879.

Na casa da rue de Rome, decorada com quadros de Monet, Mallarmé fumava um cachimbo e lia seus poemas para os amigos. Leu, para Valéry, o seu Un coup de dés jamais n’abolirá le hasard e lhe perguntou se não o julgava insensato. Valéry elogiou a engenhosidade e a profundidade da obra. Segundo Henri Mondor, em seu ensaio sobre o encontro de Mallarmé e Valéry, o texto do Coup de dés ia ser publicado na revista Cosmopolis e no dia 30 de março de 1897, Mallarmé perguntou a Valéry, “com o sentimento de um homem universalmente inspirado e um admirável sorriso”: “ne trouvez-vous pas que c’est un acte de démence?” (MONDOR, 1947).

O segundo domicílio de Mallarmé, na rue Moscou, está próximo aos da rue de Rome. É uma área tranquila, se comparada aos chafurdos de Montmartre, do Louvre ou de Saint-Michel. O prédio da rue Moscou, nº 29, tem cinco andares. É estreito (tem três janelas por andar) e não está marcado com placa de indicação sobre a passagem de Mallarmé.

Segundo Jean-Paul Sartre, em seu livro Mallarmé, la lucidité et sa face d’ombre, o poeta casou-se com uma governanta alemã, que não lia os seus livros: “Elle est exilée en France comme lui est en exile sur terre”. (SARTRE, 1998).


Dentre as cartas de Mallarmé, publicadas pela editora Gallimard, sob o título de Correspondance: Lettres sur la poésie, a primeira, escrita da rue de Rome 87, é datada de 1 de novembro de 1873. E, a partir de 10 de maio de 1884, Mallarmé põe como seu endereço a rue de Rome, nº 89. É interessante notar que ele morou, sucessivamente, em dois edifícios vizinhos, sendo o de número 89 aquele onde permaneceu mais tempo.

Sartre recorda (à luz do que revelou Catulle Mendès a Henri Mondor, autor de Vie de Mallarmé), que Mallarmé era baixote, raquítico, tinha uma doce amargura na face, maos finas e um dandismo de gestos: “peu grand, chétif, avec, sur une face à la foi stricte et plaintive, douce dans l’ amertume, des ravages... il avait de toutes petites mains fines et un dandysme (un peu cassant et cassé) de gestes”. (SARTRE, 1998).

Esse professor provinciano, angustiado, modesto, reservado, menosprezado pelos diretores do colégio de Tournon, ateu inconsolável, cantor do nada e da morte, foi adotado pelos poetas parisienses de turno, por seus versos herméticos, pessimistas e niilistas, no contexto da realidade social negativa daquele Segundo Império que desiludiu a burguesia francesa. Essas características são notórias nas cartas que ele escreve aos amigos, especialmente a Eugène Lefébure e Henri Cazalis, nas quais derrama a alma, confessando sua insônia, seus esgotamentos e sua “horrible sensibilité”.

Os amigos Villiers de L’Isle-Adam, Catulle Mendès, François Coppée, Léon Dierx e Leconte de Lisle admiraram aquele “impuissant de l’ennui”, por sua “maladie de l’idéalité”. Segundo Sartre, certas palavras de Mallarmé, como “toute naissance est une agonie”, esclarecem o seu pensamento: “car il a mis l’Absolut dans son poème et l’Absolut n’est rien”. (SARTRE, 1998).

O laboratório da linguagem de Mallarmé impressionou sempre os grandes críticos. Maurice Blanchot ressalta que a poética de Mallarmé é um mergulho na própria linguagem da poesia que, portanto, “ne s’oppose plus alors seulement au langage ordinaire, mais aussi bien au langage de la pensée; en elle, le monde se tait; les êtres en leurs préoccupations, leurs desseins, leur activité, ne sont plus finalement ce qui parle, mais il semble que la parole seule se parle... Désormais, ce n’est pas Mallarmé qui parle, mais le langage se parle, le langage comme oeuvre du langage” (BLANCHOT, 1955).

Aduz Pierre-Henry Frangne, em Mallarmé philosophe, ao comentar as Notes sur le langage, do grande poeta, afirma que sua poesia peculiar se investe de um compromisso com o Absoluto da linguagem:

 

Realité autonome et libre se déployant par ses propres lois, le Langage (désormais avec une majuscule) n’est plus l’instrument sur lequel le moi posséderait la maîtrise de la signification et de la représentation: il est devenu un Absolut qui ne renvie qu’à lui-même et non à autre chose qui lui-même selon la définition ordinaire du signe (FRANGNE, 2018).

 

Georges Poulet, por sua vez, afirma, no capítulo intitulado “La ‘prose’ de Mallarmé”, do livro Les métamorphoses du cercle, que o poeta manifesta, em seus versos, uma exaltação gloriosa e espiritual:

 

(...) Telle est l’ exaltation mallarméenne. Exaltation a la foi magnifique et solitaire, puisque la “gloire” à laquelle elle vise n’a rien à voir avec la renommée ni le monde extérieur. Elle est le spectacle qu’offre le moi au moi en se projetant, pour ansi dire circulairement, à des distances sidérales, mais toujours en lui-même, de façon à ramener finalement à soi son image agrandie (POULET, 1979).

 


As extraordinárias cartas de Mallarmé revelam muito de sua biografia. Quando ele escreveu a Verlaine, em novembro de 1883, para enviar poemas que foram publicados no livro Les poètes maudits, editado em 1883, juntamente com os poemas, enviou o seu retrato, pintado por Manet, e terminou com as seguintes palavras: “comme vous devez être heureux d’être un sage, dans une chaumière!”. Noutra carta a Verlaine, de 20 de dezembro de 1886, remetida de Besançon, Mallarmé agradece o envio dos Poèmes saturniens, que o salvaram da inépcia diante dos barulhos de uma instalação. Diz que gostou tanto do livro que quisera recitar, perante o autor, alguns dos versos que mais apreciou.

Em sua antologia de poetas malditos, Verlaine publicou um fantástico estudo sobre Mallarmé, em que identifica como sua virtude maior a preocupação antes com a beleza do que com a claridade, na burla de uma deliberada extravagância, que fazia de seus versos os mais musicais, lânguidos ou excessivos. Verlaine menciona a severa e injusta crítica que Barbey d’Aurevilly publicara contra a excentricidade alambicada de Mallarmé, que, no entanto, permanecerá cintilante, na ardente fantasia de seu L’Après midi d’un faune, de deslumbrante esplendor.

No mês de março de 1889, durante um dos “mardis” da rue de Rome, Mallarmé lançou uma subscrição discreta a favor de Villiers de L’Isle-Adam, que vivia na penúria. O auxílio fraterno foi benéfico, mas Villiers não sobreviveu mais que quatro meses. Em agosto do mesmo ano, foi enterrado no cemitério des Batignoles.

Paul Valéry começa a frequentar o apartamento de Mallarmé a partir de 1891. A correspondência de Valery narra alguns acontecimentos relativos à amizade e à admiração que reciprocamente nutriam.

Nas citadas Correspondances, Lettres sur la poésie, há apenas uma carta endereçada a Valéry, de 5 de maio de 1891, em que ele agradece pelo envio de Narcisse parle e promete que falará a seu respeito, quando estiver com Pierre Louys.

São emblemáticas, no entanto, as duas cartas que Valéry escreveu a Mallarmé. Na primeira, remetida de Montpellier, em outubro de 1890, envia-lhe dois poemas, a saber, Le jeune prêtre e La suave agonie, e se declara “um jovem perdido nos confins da província que deseja unir-se, com o seu sonho pessoal, a alguns amantes da castidade estética”. O vocativo das cartas de Valéry a Mallarmé será sempre “Cher Maître”.

Noutra carta, também de Montpellier, em abril de 1891, Valéry solicita um conselho: (...) “une bonne parole, um geste lumineux vers le futur, et c’est ce que j’ai osé venir vous demander, cher Maître”.

No livro Varieté II, Valéry se diz honrado de haver sido o primeiro amigo de Mallarmé a ouvir, lido pelo autor, o impecável poema Le coup de dés e louva as virtudes do amigo e mestre:

 

Il me representait, sous les traits d’un homme le plus digne d’être aimé pour son caractère et sa grace, l’extrême pureté de la foi en matière de poésie. (...) Personne n’avant confessé, avec cette constance et cette assurance héroique, l’éminente dignité de la Poésie, hors de laquelle il n’ apercevait que le hasard… (VALÉRY, 1930).

 

Para Valéry, ninguém havia confessado, com tanta precisão, constância e segurança heróica, a eminente dignidade da Poesia, fora da qual Mallarmé não percebia senão o acaso.

Nos perfis poéticos que escreveu, Malarmé foi exuberante. O Tombeau de Charles Baudelaire, por exemplo, é um poema imerso na impureza baudelairiana.

 Em 1892, ele presidiu o comitê encarregado de erigir um monumento a Baudelaire. Em 1896, foi eleito Príncipe dos Poetas, sucedendo a Verlaine.

No soneto Tombeau, escrito em janeiro de 1897, que termina com “un peu profond ruisseau calomnie la mort”, ele deplora a pedra escura do túmulo e afirma: “Verlaine? Il est caché parmi l’herbe, Verlaine”.

Com igual sentimento de admiração, Mallarmé elogia a obra poética de Verlaine, cujos livros Fêtes galantes, La bonne chanson e Sagesse versam “un ruisseau mélodieux” que sacia os jovens lábios com uma onda suave, eterna e francesa.

Mallarmé recorda, em sua encantadora prosa poética de inimitável estilo, o heroismo com que Verlaine enfrentou, no estado de cantor e sonhador, a solidão, o frio e a penúria, que são injúrias infligidas à vítima que respondeu a tudo com outras feitas a si mesmo. Elogia a bravura com que, diante da repercussão do escândalo, Verlaine não se escondeu do destino, enfrentando os desafios e as hesitações com terrível probidade.


Depois de bendizer o formidável Verlaine, Mallarmé mostrou sua perplexidade ante a circunstância trágica dos episódios da vida de Rimbaud, ao recordar que o autor de Le bateau ivre saiu de Charleville aos 17 anos em 1872 e foi causar espécie nos salões dos intelectuais de Paris. Mallarmé rememorou o que lhe contara Théodore de Banville, quando hospedara Rimbaud. O jovem errante, depois de atravessar a pé os caminhos de sua província natal até a Capital da França, instalou-se no cômodo e jogou pela escada as velhas vestes, exclamando que não poderia ocupar um quarto tão limpo com aquela roupa cheia de pulgas. Daquele tempo em diante, a vida do rebelde Arthur foi um desassossego medonho, com sua fuga do mundo da cultura ocidental, errante e peregrino, até ser acolhido, enfermo, pela piedade de uma irmã.

L’après-midi d’un faune, inspirado num quadro de Boucher, que o poeta viu na National Gallery em Londres, relata a experiência de um jovem fauno, que, numa atmosfera calorosa, espreita entre os juncos o jogo das ninfas, e, para seduzí-las, toca sua flauta. Elas despertam o enxame eterno do desejo e ele, após o êxtase contemplativo, adormece, num vago fluir de voluptuosidade sonhadora.

Mallarmé queria que sua maravilhosa écloga, publicada em 1876, fosse representada no Théátre Français. A obra, contudo, foi objeto do poema sinfônico de Claude Debussy, composto em 1892. O afortunado encontro com Debussy aconteceu quando o poeta André Ferdinand Hérold, um amigo comum, os apresentou. Debussy passou a frequentar os saraus poéticos da casa de Mallarmé, na rue de Rome, onde tomou conhecimento do poema, que o entusiasmou. E foi compondo, gradualmente, o seu Prélude, que o poeta escutou, por vez primeira, na casa do compositor, na rue de Londres. A reação de Mallarmé foi de encantamento: “Je ne m’attendais pas à quelquer chose de pareil! Cette musique prolonge l’émotion de mon poème et en suite de décor plus passionnément que, la couleur”.

A primeira apresentação pública do Prélude à l’après midi d’un faune foi em dezembro de 1894, na salle Harcourt, rue Rochechouart, 40, no âmbito da Société Nationale de Musique, sob a regência de Gustave Doret. Após assistir ao espetáculo, Mallarmé escreveu, entusiasmado, ao compositor:

 

Mon cher ami,

Je sort du concert, très emu: la merveille! Votre illustration de l’après midi d’un faune, qui ne présenterait la dissonance avec mon texte sinon qu’aller plus loin, vraiment, dans la nostalgie et dans la lumière avec finesse, avec malaise, avec richesse. Je vous presse les mais admirablement.

 

Quiçá pelo prazer auditivo que fruímos no desenvolvimento harmônico do tema principal, em que se destacam, de permeio, os instrumentos de sopro, em união com as cordas, especialmente a harpa, o Prélude foi a obra mais interpretada durante a vida de Debussy.

Mallarmé foi homenageado por Valéry, com o histórico “banquet Stéphane Malarmé, no início de 1897. Valéry recorda, no citado Varieté II, a última visita ao seu mestre, no dia 14 de julho de 1898, na casa de campo de Mallarmé, em Valvins, perto de Fontainebleau. Eles conversaram, no gabinete de trabalho de Mallarmé, mais uma vez, sobre o texto de Coup de dés. Depois, colheram flores no campo, numa bela tarde e seguiram à estação de trens, onde Valéry embarcou de regresso a Paris. A morte parecia algo impossível ou indiferente. Mallarmé, no entanto, mostrara-lhe a planície que o precoce verão começara a dourar: “Voyez, dit-il, c’ est le premier coup de cymbale de l’automne sur la terre”.

Veio o outono, e Mallarmé não era mais. Sucumbiria à morte, bruscamente, dois meses depois, no dia 9 de setembro, com apenas 56 anos, quando retocava o seu poema Hérodiade.

A propósito do zelo obsessivo de Mallarmé pela palavra no poema e pelo livro ideal, o filósofo italiano Giorgio Agamben ilustra nossa compreensão no seguinte parágrafo de seu livro O Fogo e o Relato (Ensaios sobre criação, escrita, arte e livros):

 

É sabido que Mallarmé, convencido de que ‘o mundo existe somente para redundar em livro’, perseguiu por toda a vida o projeto de um livro absoluto, em que o acaso – le hazard – havia de ser eliminado ponto por ponto em todos os níveis do processo literário. Era necessário, para isso, eliminar antes de tudo o autor, visto que ‘a obra pura implica o desaparecimento elocutório do poeta’. Era preciso, em seguida, abolir o acaso das palavras, porque cada uma delas resulta da união contingente de um som e um sentido. (AGAMBEN, 2018).

 

Mallarmé permanece, na literatura francesa e mundial, como um poeta transgressor da sintaxe em nome da sensação, assim como proponente de profundas reflexões sobre a linguagem e a criação literária.

No Museu d’Orsay, um dos quadros daquele magnífico acervo que tive a satisfação de contemplar foi o retrato que Renoir pintou do ourives da palavra, o seráfico decifrador de mistérios, artífice dos ritmos e das filigranas semânticas.


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[A partir de janeiro de 2022]


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Número 184 | outubro de 2021

Artista convidado: Jaime Suárez (Puerto Rico, 1946)

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