segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

ZUCA SARDAN | História abreviadíssima do mundo, surrealismo e… a trombeta

 


O texto da Teologia, que para orientar a Fé, explicava o Mundo, foi precisando adaptar-se às inovações impostas pela Ciência, que botou o Sol no Centro do Mundo, e a Terra passou a girar democraticamente com os demais planetas… Até aí, tudo bem, Mas!… Doutor Darwin flagra então a Evolução das Espécies, e os cientistas começam a descobrir as caveiras e esqueletos dos primatas, e símios mutantes, que foram aos poucos passando de macacos a primatas mais espertos, até se transformarem no Pitecântropo Ereto, um macaco mais elegante a quem a Fala se Manifestou e… inventou o Homem, e, melhor ainda, a Mulher que é, sabidamente, mais falante que o Homem. E com a Fala… vieram todos os Mistérios e Mythos, ao som dos tambores, e cantos, e, nas profundezas das cavernas, os graffiti!… Mas, organizando-se a Sociedade, surge novo personagem, o … Soberano. E passamos da Pre-História pra História.

O Soberano, para obter seus bens e manter o poder, se apoiou nas classes dos funcionários, guerreiros e sacerdotes:

 

a) Os Sacerdotes explicam a origem sagrada do Soberano;

b) Os Funcionários cobram os impostos;

c) Os Guerreiros mantêm a disciplina e obediência da população, e, eventualmente aumentam os domínios do Reino, massacrando os vizinhos.

 

A Ciência era útil já nos Tempos de Faraós e Pyrãmides do Egypto, pra organizar o cálculo dos impostos, e regular os trabalhos agrícolas pelo estudo dos astros. Todos os Mistérios e Mitos foram assim sendo transformados em fábulas, da fantasia popular, as únicas verdadeiras sendo as outorgadas pelos Sacerdotes, garantes da natureza divina do Soberano. Mas, sem tal dizer, porém tacitamente aceito em comum pelo Poder Estatal, o que valia mesmo era a Ciência Racional, que planejava as colheitas mediante seus conhecimentos astronômicos.

A Origem da Vida e do Homem passou a ser interpretada por Darwin, com material que recolheu, de 1831 a 1836, nas costas da América do Sul, e utilizou pra elaboração de sua teoria, da origem das espécies através da seleção natural, de modo a estarem, os variados animais, mais aptos a obter sua alimentação, constituída de vegetais, para os ruminantes, e de vegetais e animais de espécies variadas, inclusive ruminantes, para os onívoros, acabando a primazia da luta pela sobrevivência consagrando o Homo Sapiens, descendente do Símio Pitecântropo Ereto, que, pela graça divina da Fala, aprendeu a pensar racionalmente, e assumiu o domínio da Natureza.


Encantando-se com a Teoria de Darwin, Marx inventou a Porrada de Classes, no seu livro O Capital, que quis dedicar ao Darwin, mas este, polidamente declinou o convite, porque já passava ele então por violenta oposição na Inglaterra, por ter afastado o Santo Deus Pai da Criação do Homem, a quem Ele dera a Chefia sobre todos os Animais, que vieram em fila prestar-lhe sinal de obediência. Foi preciso então Doutor Freud descobrir a existência do Inconsciente e sua ação subversiva nos pressupostos científicos da Realidade, e a volta do Mytho com sua importância fundamental, ao lado, mas independente do domínio da Racionalidade, para a explicação completa do Espírito Humano.

Ora, a manisfestação mais direta do Inconsciente nos vem do Sonho, que nos liga diretamente aos Mythos, à Alquimia, à Astrologia e Magia, renegados ao campo das supertições, desde o fim do Século 18, e da Revolução Francesa, que vieram fornecer involuntário apoio, no Século 19, ao Colonialismo Europeu no Mundo inteiro, que criou um Império autoritário, cioso da sua Missão Civilizatória e de Catequese, pra trazer a Civilização e a Fé Cristã, pra salvação dos nativos.

Na Arte, respeitavam-se os Gregos e Romanos, e os Mestres consagrados da Renascença, a serem continuados pelo Neo-Classicismo, a Arte do Belo, mas sério e distinto, pra inspirar as boas famílias, apoiadas pelo Cristianismo asséptico dos Altos Sacerdotes, e no respeito à Filosofia Racionalista fiel aos avanços da Ciência, e do apoio e da aceitação automática da Verdade Científica do Racionalismo Utilitário… O Surrealismo foi a Grande Bomba da Revolta que explodiu em 1924 em Paris, e que se tornará cada vez mais importante, quanto mais a Tecnologia e a Indústria da Globalização ameaçarem a sobrevivência da Natureza, e esta, aliás, vem  reagindo com acelerada fúria e violência inaudita que não podemos mais controlar, anunciando o Armagedom, com ou sem o Arcanjo Diego para tocar, ou não tocar a  Trombeta, porque, a essas alturas… com o Fim do Mundo à vista, se acaba este não-papel pega-mosca que ficará manhosamente voleteando quando ocorrer o Bang Final.

 

ALFREDO ESPINOZA | Mas escuta, esse tal de Não-Papel Pega-Mosca Pyrológico não havia sido apurado no Primeiro Manifesto do Surrealismo, quando o Beltrão, copiando o Rimbaud que trombeteava que Oráculo é aquilo que eu digo, logo entronizava: A piedade dos homens não me engana? Então o Fim do Mundo já não estava contido no Gênesis e desde então a natureza humana é um descarrilhar sem fim dessa história secreta que acabou tornando o peixe solúvel e as obras vivas um arbítrio procastinado? Nesse triângulo sofismático compreendido por Darwin, Marx e Freud, sobrou alguma novidade para os dias de hoje?

 

ZUCA SARDAN | Meu prezadíssimo Espinoza, gratíssimo por tuas observações preciosas, que elevaram às cumeeiras  do Theatro Garnier  o entusiasmo de nossa engajada plateia.

 


PLATEIA | Bravooooooo!!! Dá-lhe Pinoza!!!! Olééééé!!! Paff!!! Plek!!! Poff!!! (palmas furibundas, patadas nas cadeiras, foguetões)…

 

ZUCA SARDAN | Agora, passados dez minutos de delírio do nosso antenado público, respondo-te enfim, meu velho Zpina, tua questão: o trio Robinet-Marx-Freud…

 

RANDYRA (na plateia, levanta-se)| Ora, Zuca, estás confundindo alhos com bugalhos! Não era o Robinet que ninguém conhece, mais sim o Darwin!!!…

 

ZUCA SARDAN (estal’os dedos) | Exatamente, Dona Randyra!!! Como sempre, a senhora acerta na moooooooooooooooosca!!!

 

PLATEIA | Bravoooooooooooooooooooo!!! Randy!!! Randy!!!

 

ZUCA SARDAN | Sucesso total, Dona Randyra, e por favor contenha o nosso fenomenal Doutor Oscar, muito culto, mas preciso  responder à questão do  Espinoza, antes que esqueça o que ele me perguntou.

 

RANDYRA (segurando Oscar) | Sentadinho, Doutor Oscar, ou te torço o gasnete… bilu-biluuuu ...

 

ZUCA SARDAN | Muito bem, Zpina, a trinca Darwin-Marx-Freud, pertence ao mundo racional-científico, que após seu triunfo absoluto até o começo do Século XX, começou a bater pino com o massacre  de toda uma geração de jovens na Europa, de 1914 a 18, por conta da dignidade patriótica do Kayser Woskar da Prússia que não aceitava que o Tzar Nikoloff da Rússia tivesse no capacete plumas maiores dos que as do capacete teutão. Este massacre de toda uma geração, em nome da Pátria, Deus e Finanças, gerou a fúria dos artistas Dadá do Café Voltaire em 1917 em  Zurich, logo transportada pra Paris, onde, em 1924, estourou a Revolução Surrealista. A grande Mudança que de repente ocorreu na visão sócio-filosófica do Mundo, é que nem Darwin, Marx ou Freud, pensou no Fim de Tudo. É uma questão nova, de que não temos mais muito tempo para pensar. Com os excessos de ganância da Globalização, agora, o Globo está aceleradamente rachando, e ninguém quer pagar o conserto.

 


Cortina Negra, cai – PAAAFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT

 

ALFREDO ESPINOZA | Diabos dessa cortina, há dois séculos que cai fora da hora. Talvez seja os restos da Bastilla, os panos ensanguentados da Revolução e o chumbo derretido das obras que o Nazismo disparava contra os rebeldes, talvez o teatro tenha pegado esse cenário ruído e o adaptado aos tempos modernos. O fato é que a qualquer instante a cortina pode desabar sobre nossas cabeças e encerrar o espetáculo. Como sempre, a ralé fica sem saber lá muito bem o que está se passando e a história toma o rumo que lhe aprovam as mais altas dinastias e suas versões vitoriosas. Agora, se o intrépido trio não chegou a pensar no Armagedão, que já circulava na trombeta desenfreada de sua época, para que diabos nos estimulou a crer nos tormentos da libido, nos sacrifícios ao sindicalismo e nos avanços cirúrgicos da mudança de sexo? Há algo nessa trombeta que desafina. Aposto que a Randyra sabe, ou melhor, ela sofre em seu lombo sem saber explicar. 


 


ZUCA SARDAN (Brasil, 1933). Canhotão, quebrou várias ânforas thrácias de Tia Olga. Viu o Zeplin sobrevoar o Pão de Açúcar, procurando pousar no Cassino da Urca. Primeiríssimos desenhos calcados nas fotos de jornais, truque sacado d'A Manhã, pasquim do Barão de Itararé. Primeira poesia, a partir de narrativa da professora,“O Macaco e o Violão Cego“. Rapazola preguiçosão, em vez de ler Drummond e Cabral, inspirou-se em Baudelaire e Carlos Gardel. Livros, alguns: Osso do coração (Ed. da Unicamp, 1993), Ás de Colete (Ed. da Unicamp, 1994), Babylon (Companhia das Letras, 2004), Ximerix (Cosac Naify, 2013), Voe no Zeplin (Maria Papelão, 2014), O iluminismo é uma baleia (teatro automático, com Floriano Martins, ARC Edições, 2016).
 

 


JEAN GOURMELIN (Francia, 1920-2011). Magnífico diseñador cuya línea abarcó desde el absurdo y el humor negro hasta un enfoque metafísico. En todo momento, sin embargo, su obra se caracterizó por un intenso espíritu rebelde. Trabajó con dibujos animados, historietas, vestuario y escenografías, además de embarcarse incansablemente en el grabado, el dibujo técnico, la escultura, los vitrales, el diseño de papel tapiz, en cualquiera de estas motivaciones por el brillo de su inquietud creativa siempre encontró un lugar para el reconocimiento, y cerca de su muerte, fue honrado con una gran retrospectiva de su obra en la Biblioteca del Centro Pompidou de París en 2008, titulada “Los mundos de los dibujos de Jean Gourmelin”. Y de eso se trataba, pues de su pluma saltaban a la realidad infinidad de personajes, formando un mundo único propio de su visión fantástica, sin que en modo alguno pudiera enmarcarse en una línea plástica determinada. Entre lo erótico y lo bizarro, el surrealismo visionario y lo fantástico, especialmente en su dibujo en blanco y negro, Gourmelin fue un auténtico artista del siglo XX cuya obra evoca un universo personal donde se mezclan el horror y la belleza, en cuyas formas a veces imágenes distorsionadas interpelan conceptos de tiempo y espacio. Tenerlo como nuestro artista invitado, siguiendo la hermosa sugerencia del periodista João Antonio Buhrer, trae a Agulha Revista de Cultura una grandeza que ilumina mucho esta primera edición de 2023.




Agulha Revista de Cultura

Número 221 | janeiro de 2023

Artista convidado: Jean Gourmelin (França, 1920-2011)

editor | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2023

 


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