terça-feira, 15 de abril de 2025

FLORIANO MARTINS | As chaves-mestras da poesia em três poetas brasileiras: Cecília Meireles, Maria Lúcia Dal Farra e Leila Ferraz

 


Há um sol que acende nossa perspectiva de vida que não é o mesmo astro colado na colcha de retalhos do universo. Também as luzes se originam em fontes dotadas de astúcia e aquela sempre imprevisível cilada do acaso. Três dessas janelas me encontraram em momentos distintos de minha vida e me provocaram uma correspondência entre os meus rabiscos poéticos e o sonho do mundo. Quando saímos pelas ruas de nossos sentidos ou vagamos pelos parques da contemplação nem sempre voltamos para casa com um paraíso perdido em versos, traços, sons, o que seja. Por vezes a imagem encontrada correspondente simplesmente ao seu reflexo. Uma espécie de preparativo para o que virá. Eu tenho com a leitura essa percepção de que a sua prática corresponde à acepção corrente de um dos mundos que legitimam a criação. Porém essa terra, signo ou raiz, não são a veemência do símbolo em si. O que eu crio é fruto de uma ideia controvertida do mundo. Tenho comigo que as palavras desabrocham como seres primordiais que me desafiam a inspirar um diálogo com o mundo. De algum modo o criador está um pouco além do banquete de ossos da existência, sem deixar de transitar por seus inesgotáveis acessos. Um mago que dança com a indiferença dos seres. Nem tudo no fogo é fogo. Os elementos estão compostos por uma incidência de semblantes que se agitam em seu íntimo e acabam por expor suas contradições. Os elementos e os estados da matéria. A vida que evocamos é uma realidade ajustada a seus impedimentos naturais. Recortamos as sensações para depois aprender a lidar com elas, inserindo-as na esfera errante de cada situação. Para mim, o número três sempre foi um impossível trevo de mistérios. Das bagagens do mistério até a ilusão de uma ordem intelectual do espírito. Essa ideia do princípio, da ação e do objeto, intuitivamente sempre foi um guia de minha existência. Com base nela hoje resolvi pensar em três mulheres que de algum modo desvelaram o estado natural de minha criação, aquele estágio em que o que concebemos vem de uma fonte qualquer entre o desejo e a substância.

Cecília Meireles, Maria Lúcia Dal Farra e Leila Ferraz. Um dia na morada imprevisível de cada uma delas. O que me deram de loucura e imprudência, naquela esfera mágica em que os sentidos são uma revelação não apenas da harmonia correspondente como também da voltagem inesgotável do paradoxo. O ato de estar o mais possível fora de si acaba por equivaler à entrada em uma metafísica do ser. Assim como as fábulas expõem os ramos de nossa precaução ou benevolência, por vezes uma má assimilação do desejo arromba a nossa compreensão de seus algoritmos como uma manada de búfalos rompendo as carnes suadas do tempo e as receitas indescritíveis dos elixires da imortalidade. Era isto? O poema, ao final, era para ser apenas isto? Nos levar de volta a um estágio que vivemos a perder e encontrar? Pois com essas três mulheres eu aprendi a não empacotar jamais a alma para viagem alguma. Elas são como as enamoradas de um eremita, a linha que traço entre o que escrevo e o que elas de algum modo vão me revelando escada após escada de nosso percurso. Quando converso com duas delas, sinto a presença da outra, e quis de algum modo lhes indagar se acaso eu não estava vendo fantasmas nessas pontes pênseis que arriscamos erguer entre os mundos. O olhar equivale ao que é visto. A tempestade no mar talvez inexista antes de nosso olhar. A profundeza de um vão, de um miolo vazio, a ausência de alma em quem nos ameaça, cada uma dessas mulheres me despertou um abismo distinto, a sombra caudal de um abismo único, o olho que observa além da matéria provável, a mais profunda ausência de Deus onde a personalidade de quem sonha ergue a cidade de mil olhares.

Em cada uma delas aprendi que nenhuma ortodoxia nos satisfaz e que o valor sagrado da existência da criação nessas mulheres não se limita a uma igreja, a um culto apocalíptico da criação, mas antes ao princípio da metamorfose como o símbolo revelador da identidade. Graças a elas aprendo que o que sou é o que somos. Se as reúno aqui neste ensaio significa que as portas possuem uma tradição copiosa de expectativas quanto ao que se encontra dentro e fora de seu domínio. Talvez conversando um pouco sobre a linhagem de nossos anseios e devassidões, seja possível perceber que elas excedem a condição de deuses que defendem, cada um, um estágio da imaginação. Quem são elas? Transcendências, alumbramentos, transmutações. Talvez estejam aí as chaves para adentrar a poética de cada uma. Cecília refulge com um lirismo que refaz as visões do sonho e da vigília, impregna a realidade de uma fina contemplação que permite ao leitor acompanhá-la em uma viagem que a cada passo revela os enigmas da alma universal. Maria Lúcia reconhece em si uma passagem silenciosa e vária para o mundo das palavras, tanto lhe atrai, a ela mesma, abrir as palavras, sondar seu espírito errante, e de maneira tão cativante nos diz que a natureza de seu alumbramento não é senão a luz expansiva e desigual que o outro lhe direciona, intencionalmente ou não. Leila alimenta seus verbos com o esplendor e a volúpia de um caminho que percorre pelos dois mundos da carne, sua vida física e os desafios prazerosos do desejo. Ela mesma revela que cria com as palmas das mãos viradas para o céu, prontas para receberem essas dádivas do inconsciente. Não é outro o sentido de sua transmutação, a descoberta de uma coisa em outra.

Sob o signo desses portais anunciados eu me sinto à vontade para fazer reverências a essas três vozes que me acompanham muito além de todas as leis físicas. Não importa a graça alcançada de haver escrito a quatro mãos com Leila e Maria Lúcia, ou as linhas psicografadas que me foram enviadas por Cecília. Tudo isto nos propiciou uma grande intimidade. Simbolismo, expressionismo, surrealismo. Tampouco essas aves com seus voos singulares, as imagens sugestivas de tempo e espaço, seus rasgos reflexivos, nada disso, sempre as senti a favor de um sonho maior, considerando chamado e pronúncia de seus desafios, a cordilheira repleta de grutas que se descortinava à minha frente, de algum modo recordei agora o que disse Manuel Bandeira a Mário de Andrade quando este lhe desacreditou por haver afirmado escrever de um jato só um poema em impecável correção formal. Bandeira então lhe disse que a forma é uma consequência natural da entrega à criação. Não é uma obsessão ou uma imposição de sentido. Isto é tão bonito de ler, e essas três mulheres o sabem. São impecáveis em sua entrega à própria existência, da qual a criação é uma raiz essencial.

Começamos por Cecília? Na última entrevista que ela deu, ao jornalista Pedro Bloch, nos revela uma adorável curiosidade: Uma das coisas que mais me encantavam em minha vida de infância era o eco que vivia em casa de minha avó. Eu vivia procurando o meu eco. Mas tinha vergonha de perguntar. Recolhida, tímida, deslumbrada, me debruçava no mistério das palavras e do mundo. Queria saber, mas tinha imenso pudor de confessar minha ignorância. A imagem de alguém à procura do próprio eco retrata a poesia em seu auge de esplendor. Gladys Mendía, tradutora/editora mais recente de Cecília ao espanhol, observa: Por meio de uma expressão poética rica e simbólica, Meireles explora a interconexão de todas as coisas e a natureza efêmera da existência humana. Seu chamado para renunciar às divisões artificiais e abraçar uma identidade expansiva e eterna oferece uma visão reconfortante e unificadora que desafia as preocupações mundanas e temporais. Se atentamos para as variações temáticas de alguns de seus livros, é impossível não perceber que se trata de uma mesma lente que sonda minuciosamente as alterações de humor do mundo, a exiguidade da alma humana, a natureza mutante até mesmo da percepção acerca desses planos físicos e materiais. Cecília tinha um olho carismático, que dava o prestígio certo a cada coisa observada. Quando conversei sobre ela com Leila Ferraz, me revelou uma proximidade mais ligada a vestígios ou suspeitas do que propriamente ao ambiente estético. Me disse: Meu corpo é de palavras e minha boca beija cada uma delas quando as pronuncio. Talvez Cecília Meirelles tivesse essa sensação, também, porque ao ler seus poemas, principalmente os poemas, é o que me toca a pele e o coração, criando imagens belíssimas em minha cabeça. Essa irradiação da beleza a golpes de uma simplicidade da revelação.

Quando Gladys Mendía me pediu para escrever umas breves palavras para constar em sua tradução de Cânticos, de Cecília, eis o que a memória me revelou:

A noite a encontramos na poesia de Cecília Meireles como um cântaro de horizontes, as folhas inúmeras de uma árvore-mãe, aquela que estende seus galhos por todo o espírito humano. A noite e sua conexão com a eternidade que a poeta sabe amar e, através dela, nos cativar com sua imagem reveladora de caminhos que sequer havíamos imaginado. É tão bonito quando ela nos diz que o espírito desfaz o efêmero, que a retidão nos impede de extirparmos porções do mar. Tudo em sua poesia faz da violência um paradoxo, quando ela é arbitrária e tirana, e não uma força natural da existência. O verbo em Cecília toca Deus como um silêncio que nos percorre a extensão inumerável de todos os sentidos. Graças a este contato abissal que ela põe em tudo é possível nos sugerir trocar o curto sonho humano pelo sonho imortal, como um presságio de que a vida se multiplica não lá fora, mas sim em nosso íntimo. Assim eu sempre compreendi a ideia de eternidade que esta perene senhora dos ritmos evoca em tua poesia, mesmo quando corre o risco de dissipação ou dilaceração naqueles momentos em que retrata o social ou o folclórico. Talvez tenha sido fruto de seu impulso pela descoberta de uma brasileira que a tenha levado a avançar pelo território de tais temas sem nada temer. E nisto não esteve sozinha em sua geração modernista. Tampouco perdeu a dimensão de seu voo, a dimensão poética que alcançou em sua voz singularíssima, o que nos dá prova o salto profundo dos salmos deste livro que tão belamente traduz agora para o espanhol a venezuelana Gladys Mendía.

Outro dia, ao conversar com Maria Lúcia Dal Farra, situamos aquele frágil mundo das influências literárias, sugerimos autores de importância para um e outro. Mas quando dei pela ausência de Cecília ela me disse:

 


Não toquei de propósito no nome dela porque é o santo nome que não posso desperdiçar em vão. Ela é a minha madrinha, minha mãe literária! O Alfredo Bosi me disse que descendo da linhagem dela. Será isso uma evidência? Gosto de pensar que sim e me sinto muito orgulhosa!

Admiro imenso a Gilka, a Lupe Cotrim Garaude, a Adalgisa Lery, a Francisca Júlia, mas a Cecília é hors concours: não conheço nenhuma poetisa como ela, com esse nível de perfeição no sugerir, no transcender os territórios sobre os quais se ocupa, na delicadeza de sensibilidade, na discrição, na feminilidade profunda do olhar na apreensão do mundo; no tipo de filtro espiritual e místico que utiliza para pensar a vida e senti-la; na destreza dos versos, no primor da escrita e não sei dizer mais em quantas outras tantas qualidades, demasiadas, para além do seu pendor pelo Oriente e pelas práticas religiosas (com laivos esotéricos) de lá.

Tenho diversos ensaios sobre a sua poesia, que me encanta loucamente, também por causa da ascendência portuguesa.

Ela foi criada e educada por sua avó, que era dos Açores, e que lhe legou toda uma sabedoria dos seus hábitos de então, da sua cultura diferenciada: uma postura mística, uma finesse de espírito impressionante, uma atenção ao banal. E isso, para além da empregada Pedrina, que sempre a assombrou com as histórias do nosso folclore! E por causa da sua coragem ímpar – uma estoica! – não só na escrita, mas também na sua vida difícil e muito machucada por perdas e injustiças.

No cenário literário brasileiro (e olha que no português, o Gaspar Simões, que era muito invocado e meio intratável, a enaltece sobremaneira! além de muitos outros críticos portugueses de então!), creio que ela é a matriz da poesia feminina – muito embora (e friso isso muito bem!) ela raramente (muito raramente mesmo) se expusesse claramente como mulher, no sentido de gênero.

Mas esse fundamento está por tudo quanto escreveu, e eu sempre me remeto àquele longo poema dela, de 1956, o “Prisão”, e que pertence aos seus Dispersos, e que termina, depois de multiplicar geometricamente de uma para quatro e, assim por diante, o número de mulheres presas no mundo:

 

Quatro mil mulheres, no cárcere,

e quatro milhões – e já nem sei a conta,

em cidades que não se dizem,

em lugares que ninguém sabe,

estão presas, estão para sempre

- sem janela e sem esperança,

umas voltadas para o presente,

outras para o passado, e as outras

para o futuro, e o resto – o resto,

sem futuro, passado ou presente,

presas em prisão giratória,

presas em delírio, na sombra,

presas por outros e por si mesmas,

tão presas que ninguém as solta,

e nem o rubro galo do sol

nem a andorinha azul da lua

podem levar qualquer recado

à prisão por onde as mulheres

se convertem em sal e muro.

 

Talvez tenha sido, no seu tempo, a mais intelectualizada das poetas brasileiras, a mais estudiosa e aplicada, digamos assim. Não esquecer que também foi educadora e professora; conferencista que viajou mundo afora.

Seu primeiro marido, o artista plástico Fernando Correia Dias, foi ilustrador da Águia, revista que antecede o Orpheu, e que já traz a marca modernista e a presença de Pessoa. Cecília era amiga de Armando Côrtes-Rodrigues (que foi a Violante de Cysneiros do primeiro Orpheu), também açoriano como sua avó, com quem carteou permanentemente durante 28 anos: nada mais nada menos que 246 peças!

Como se vê ela foi ligada ao modernismo português, tendo convivido com Ronald de Carvalho, o represente do Orpheu no Brasil, sem falar de outros escritores portugueses seus admiradores, como o sogro do Murilo Mendes, o Jaime Cortesão e tantos outros. Ela é a primeira aqui no Brasil a trazer o Pessoa em antologia preparada por suas mãos.

E há mesmo aquele célebre caso do seu programado encontro com o Pessoa, que lhe rendeu – com dedicatória! – um dos primeiros volumes publicados do Mensagem – mas que, infelizmente, não lhes permitiu reunirem-se, porque o horóscopo do Pessoa o aconselhara a não comparecer à Brasileira, onde ela o aguardava – em vão!

A Cecília é, para a minha poética, uma estrela-guia.

 

São considerações que valem uma vida. Talvez as novas gerações de poetas no Brasil desconheçam a poesia de Cecília Meirelles, o que é uma infâmia. Cabe ainda lembrar o que afirma Gladys Mendía na edição de Cânticos: Os versos sugerem uma busca pela transcendência e uma dissolução das barreiras convencionais do eu e do tempo. Meireles explora a futilidade das divisões impostas pelo homem, como a separação entre a terra e o céu, ou a ideia de pertencimento a uma pátria. Em vez disso, ela nos convida a adotar uma perspectiva expansiva, ilimitada no tempo e no espaço, refletindo uma unidade com tudo o que existe. São modos deliciosos, carinhosos, de tocar a poesia de quem tinha, segundo ela mesmo, por vício maior amar as pessoas. É o que sinto, em especial, até hoje quando a leio. Este encontro ao mesmo tempo estranho e vital, entre duas almas que não se conheceram. Pela amizade tão entranhável que tenho com as duas outras, Maria Lúcia Dal Farra e Leila Ferraz, é uma triangulação mágica essa que nos une a Cecília Meirelles.

Não à toa pensei nelas três ao me propor o desafio deste ensaio. As chaves são recordadas: transcendências, alumbramentos, transmutações. Meu primeiro encontro com Maria Lúcia Dal Farra se deu naquele cenário infernal da fronteira entre México e Estados Unidos. Até hoje não entendo bem o que nos reservou o destino ao definir aquela terra assustadora e quente como o sítio ideal para nosso primeiro abraço. O fato é que rimos de tudo, os dias foram leves em Ciudad Juárez, lemos nossos poemas, palavreamos com outros poetas, e voltamos para casa certos de que ali havia sido o esboço de uma grande amizade. Logo em seguida lhe fiz uma entrevista, trocamos livros, conversamos além do possível no palco virtual dos e-mails, porém não nos encontrávamos pessoalmente uma vez mais. Chegamos a escrever um livro a quatro mãos. O Brasil, no entanto, é um país tão curioso que durante anos não houve como romper a barreira do espaço que nos separava – não importa que vivamos em duas cidades em uma mesma região, o nordeste do Brasil, a menos de 2 mil km de distância –, nada. Somente em 2024 voltamos a nos encontrar, a primeira vez em terra brasileira, em evento surrealista na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo. No mesmo encontro também estava Leila Ferraz. As duas não se conheciam. Fui o ponto culminante dessa fortuna da amizade. No evento, Leila foi recebida como o nome mais expressivo do Surrealismo. Senti o carinho imenso da plateia. Também ao evento compareceu Paulo Paranaguá. E houve menção à morte recente de Sergio Lima. O trio foi o grande responsável pela presença do Surrealismo nos anos 1960 no Brasil. O cenário era expressivo o suficiente para gerar uma memória do que representava. No entanto, não se percebeu a relevância do acaso. Toda a imantação mágica da data – o evento se dava em torno das comemorações do centenário de publicação do primeiro manifesto do Surrealismo – não foi suficiente para evitar o vício adotivo do ego.

Mas ali estávamos, ali me encontrei pela primeira vez no Brasil com Maria Lúcia Dal Farra e revi Leila Ferraz, ao mesmo tempo em que elas ali mesmo se conheceram. Ah Cecília Meireles, vamos retomar o princípio das chaves: transcendências, alumbramentos, transmutações. Um enigma despercebido como tal. Porque a lei máxima do país será sempre essa: desconhecer a si mesmo. Quando conversei com Leila, ela me disse:

 


A poesia sempre foi a maneira mais intensa que tive e tenho ainda pata me expressar como ser humano. Além da Poesia que me habitava nas primeiras fases, no início de minha vida poética ativa, que era mais ligada às questões filosóficas da adolescência, como o existir e o fazer de modo a transformar a mim e ao mundo, nascia uma poética voltada ao amor. Naquela ocasião eu tinha Fernando Pessoa como meu mestre, exemplo e guia. Ele foi uma grande influência até para a minha forma de viver. Ele, seus heterônimos e eu conversávamos à solta. Em seguida, ao entrar para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, e trabalhar na Cinemateca, minha poesia ficou mais apagada dentro de mim, por assim dizer para renascer de uma outra forma explosiva sob o contexto amoroso e das paixões do corpo e da alma. A partir dessa época mergulhei na literatura europeia, principalmente no surrealismo e tudo mudou. Os poemas se tornaram viscerais e aos poucos, ganharam formas palpáveis através dos desenhos e gravuras que eu começara a me dedicar. Então vejo esse momento como uma fusão entre forma plástica e conteúdo poético ganhando espaço dentro do meu universo. Ao mesmo tempo eu me dedicava aos estudos da literatura surrealista e a poesia ficou adormecida, enquanto ganhavam vida os ensaios, traduções de autores estrangeiros inéditos em língua portuguesa, como os textos de Charles Fourier e outros pensadores e teóricos franceses. Nessa ocasião, já com 21 anos mergulhei de cabeça nos poetas franceses e outros surrealistas. Sem me esquecer dos poetas portugueses e dos espanhóis. Eu já começava a ampliar enormemente as minhas leituras em tudo o que concernia ao mundo surrealista, suas raízes e ampliações. Passei a me interessar pela magia e posso dizer que um novo vocabulário poético cresceu e começou a se manifestar em tudo o que eu escrevia. A partir do início dos anos 80 me voltei novamente às Artes plásticas e coloquei a poesia ao lado do desenvolvimento e aprimoramento das técnicas das artes e da fotografia. Estudando durante 4 anos e, obviamente, acrescentando novos autores e leituras ao meu mundo. A partir de então, minha poesia ganhou outros contornos. Tornou-se mais realista, mais voltada ao cotidiano da vida e seus meandros. Essa fase permanece inédita e durou cerca de 15 ou 18 anos. A partir dos anos 2000 e do meu encontro com você, minha poética deu um salto. E tudo o que eu já havia acumulado e conquistado de conhecimento literário, plástico e fotográfico explodiu de uma forma radiante. Fascinante, diria eu, e totalmente nova e bela. Então posso afirmar sem sobra de dúvida que a minha poética se tornou alquímica porque além da Poesia escrita, recomecei a criar colagens para exprimir as palavras através de imagens numa fusão simbólica e simbiótica. Cada imagem ou cada palavra passaram a ter consistência e peso mágicos. Transcendentes. Ganharam novas vidas e criaram novas realidades. Esse foi, talvez, o grande momento, a minha apoteose poética. Agora, um pouco antes de completar meus 80 anos e creio que daqui para frente, a minha poesia está revelando um outro olhar: construído, mas sem perder o encantamento. Aliás, meus versos se tornaram precisos e o poema algo tão vital que é impossível não enxergar um desenvolvimento vital neles corpo, alma e voz universal.

 

Também com Maria Lúcia Dal Farra o tempo se reconfigura interminavelmente, porque damos uma tamanha intensidade às nossas conversas que quase as somamos todas como se fossem frutos de um mesmo momento. Quando indaguei a ela sobre o espírito da escritura, não sei ao certo o que me levou a pensar naquele sintoma que se passa em nosso cérebro, de percepção de padrões em certos estímulos visuais. Não queria me referir à chamada imagem fantasmagórica, mas o fato é que vemos formas dentro de formas, e graças a isto é que muitos poemas encontram em nossa mente sua porta de saída. Maria Lúcia me disse algo curioso a este respeito:

 

Eu sempre quero ver o que lá não está. E não pense que algum escritor famoso me ensinou isso: foi o meu pai que, desde muito cedo, me atentou sobre tal olhar. Ele me dizia que eu nunca deveria encampar aquilo que os outros pensavam e registravam, mas que eu sempre procurasse descobrir outros ângulos e qualidades naquilo que estava diante de mim, fosse real ou não – porque isso me faria mais feliz.

Quero dizer que fomos (nós, quatro irmãs) criadas dessa maneira, e você bem pode imaginar o fuzuê que é uma reunião da gente, porque cada uma é bem diversa da outra; todas, no entanto, sustentando essa diretriz de comportamento na sua habitação do mundo. 

Então, tenho para mim, que há sempre uma perspectiva, um realce, um lance, um dado, um segredo na realidade ou naquilo que está diante de mim, que não está a descoberto – e é justo isso o que eu procuro quando escrevo. Diria que é a minha bússola diante do papel e do que estiver observando, lembrando, contemplando.

Mas para chegar a isso é preciso também que eu conheça os outros pontos-de-vista sobre aquele assunto, enfim, sobre aquele objeto (seja ele qual for), e, nesse sentido, tenho de me aplicar um bocado para alicerçar a minha posição. Isso quer dizer que estou sempre em interlocução com alguém, com um parecer sobre o mesmo ponto – o que é de fato trabalhoso e... prazeroso!!! Eu sou uma estudiosa do mundo.

Porque nunca estou sozinha quando escrevo, estou sempre num conversê animado e povoado de gente. Muitas vezes a sensação é que estou num campo santo (creio que falo mais e quase sempre com o passado) que se abre ao meu conhecimento, cujos túmulos não estão interditos porque se abrem para mim, porque são livros, obras primas que lá estão, de maneira que todo mundo fala comigo nesse momento de escrita.

Não sei, talvez o que te revelo seja um método de trabalho e não um espírito da minha escrita, como você me pede. Talvez esse espírito seja eu estar plenamente em felicidade quando escrevo, porque a primeira coisa que se escancara para mim sou eu mesma, e esse conhecimento, que é especialíssimo e só se dá dessa maneira, me enche de uma inquietação que me faz muito bem e me mostra que estou viva.

Não sei, talvez se trate de responder a uma permanente indagação – de por que vim ao mundo. Isso não é pretensioso, creio, mas é algo que cada um de nós devia botar no seu horizonte para se interrogar. E a resposta não é assim tão fácil de se dar – porque a pergunta nunca cessa de insistir a cada vez. E a gente muda, mas a questão persiste, porque, como diz o Camões, a mudança também muda, e não muda mais como soía acontecer...

 

O mistério da escrita em muito se relaciona com o mistério da própria vida. O que lemos é apenas uma parte do que somos. As leituras podem até revelar, isoladamente, um domínio da escrita, porém a criação está além desse patamar. Querem saber mais? Eu também. Porque a versão derradeira da vida é seu esgotamento ou a ilusão do fim. Quanto mais conversamos com essas duas mulheres, mais descobrimos sobre a vertiginosa trilha de um mundo que não damos pela conta no cotidiano. O mundo da escrita? Não exatamente. A escrita, claro, possui sua linha própria, não se deixa contagiar pelo engodo de outros carretéis, mas é uma pequena parte do que representa a criação em si. Cecilia Meireles nos deu uma pista valiosa sobre essa relação com a escrita: Nunca esperei por momento algum na vida. Vou vivendo todos os momentos da melhor maneira que posso. Quero realizar coisas, não para ser a autora, mas para dar-me, para contribuir em benefício de alguém ou de alguma coisa. Quando adoeci e tinha que repousar uma hora depois do almoço, ficava calculando quanto poema deixava de escrever, quanta coisa linda deixava de ler e conhecer naquelas horas perdidas. Mas aprendi também a renunciar. Não tenho poema predileto. Ainda não o escrevi. A intenção é que é perfeita. Às vezes, um poema viaja comigo muito tempo sem ser escrito. Se não lhe dou muita importância, vai embora. Tenho muita pena dos poemas que não escrevo. E também muita dos que escrevo.

A leitura é uma fração da vida. A apreensão do mundo se dá de imprevisíveis maneiras. O acaso garante que nem sempre estamos onde esperávamos estar. Maria Lúcia Dal Farra foi muito direta ao falar de suas raízes:

 

Penso que as minhas leituras e a minha terra (tomando por esta o lugar da minha natividade, a minha família, os amigos, os hábitos, os acontecidos, a cultura local, a vida que tive na minha casa de infância e de adolescência, as terras que adotei durante a minha vida de adulta até agora e seus costumes) são basicamente as minhas raízes vivas – digamos inapropriadamente – autóctones.

Creio que essas experiências transparecem de algum modo na minha escrita. E mesmo no meu vocabulário, na minha sintaxe, na melodia (que busco encontrar nas minhas letras) e daí outra raiz “autóctone” – a música.

Toda a minha família, a mais ancestral, toca um instrumento ou mais e canta, e eu nasci nesse meio, e canto pelo menos com o meu pai desde os 5 anos de idade. Logo após comecei a estudar piano e canto lírico, de maneira que a música está nas minhas tripas, irreversivelmente. E é muito natural que ela também seja buscada e – esperançosa - encontrada por mim nos meus poemas.

Aliás, penso, quando comecei a escrever, era muito mais a oitiva que parecia me guiar, porque esse era o maior repertório que eu tinha, além das minhas leituras. Meu pai nos levava para conhecer os velhos da minha cidade, deixava-nos na casa deles para escutarmos as histórias que contavam; ou nos levava aos velórios dos negros para ouvirmos as incelências; levava-nos à roça para convivermos com os colonos; às festas de interior, onde recolhia folclore (era um dos seus grandes interesses para além da pescaria e da heráldica – e talvez por isso a minha paixão pelas artes plásticas: basta ver os meus poemas ecfrásticos).


Havia sempre em casa, pelo menos uma vez por mês, um encontro de músicos da família e da cidade, com os compositores e poetas locais – e o ambiente em que cresci era esse. Ainda na minha infância eu estudava “declamação”, como se dizia então: a gente escolhia um poema e o decorava para depois o dizer com grande ênfase... nesses eventos familiares, onde era figura constante o Angelino de Oliveira e o Zé Maria, o seu acompanhante violonista eterno. O Hernâni Donato, amigo de papai, aparecia quando vinha a Botucatu. Meu pai era amigo do Cornélio Pires e do Raul Torres, (também botucatuense); do jornalista e tradutor Odair Marzano e do escritor Ibiapaba Martins, ambos botucatuenses, que foram seus colegas de escola. 

Na época de estudos do meu pai, o Juó Bananère estava muito em voga nos círculos de imigrantes italianos, e o meu pai escreveu vários poemas satíricos nesse patois; produziu diversas emboladas e pôs a sua sanfona semitonada de botões (uma tradição que vinha dos suas bisavós – para você ter ideia, Flori, só na minha casa havia 4 delas, todas Stradellas, e papai tocava até ária de ópera nelas) para trabalhar, além do canto e do violão. Ele adorava dizer poemas longos, assim como a minha mãe, daqueles muito românticos e meio trágicos, que nós, as filhas (que chorávamos a cada vez) fomos, com o tempo decorando, um por um.

A propósito do que me pergunta, Flori, uma amiga minha, que era linguista, me dizia não saber reconhecer na minha escrita as minhas fontes - segundo ela, era uma grande bagunça, porque havia de tudo um pouco: linguajar e sotaque caipira de Botucatur (a gente escreve assim quando quer enfatizar a nossa caipirice); um tanto de acento carioca (que não sei como foi parar em mim, visto que nunca frequentei o Rio de Janeiro!); termos inusitados ao brasileiro, advindos do português de Portugal; sintaxe por vezes lusitana; uma certa inflexão francesa (que ainda me é remanescente, acho, na oralidade, uma vez que tratei de me educar assim, lá, para não me tolherem e me descriminarem, e esses tiques nunca me abandonaram mais, ficaram impressos na minha língua).

 O querido João Lafetá, que foi meu amigo e colega, e que, no leito de morte, ainda leu o meu Livro de Auras, me falou mais ou menos isso no que concerne às minhas influências literárias, aliás. E deveras: é uma mistureba total, mesmo quando estou conversando com um autor específico e quero me colar a ele.

No que escrevi na adolescência e não publiquei, eu era muito Pessoa, por quem estava apaixonadíssima – e continuo, mas sem o exagero antigo. O Machado de Assis, que amo, não suponho que apareça na linguagem dos meus poemas; o mesmo para o Eça (mas vou focar somente os poetas, não sem antes lembrar do Proust, do Walter Benjamin, do Bachelard); o Jorge de Lima sim; o Murilo Mendes também; o Bandeira também, o Mário de Andrade, algum Drummond, muito João Cabral, sobretudo depois que vim para o Nordeste.

O Francis Ponge me é muito especial, o Baudelaire; o Rilke, nem se fala; a Edna Saint-Vincent Millay; o T.S.Eliot; o Lorca; o Lezama Lima; a Silvina Ocampo; a Sylvia Plath; o Jorge de Sena, o Herberto Helder demais; a Florbela é mais como emblemática, e menos uma influência poética, digamos assim; a Fiama Hasse Paes Brandão; a Sophia de Melo Breyner Andresen; o Carlos de Oliveira – sublinho mais os que já não estão aqui, mas estão comigo, e mais perto de mim. Também o meu aprendizado esotérico me acompanha. Estamos falando de raízes.

 

Quando a lemos pensamos que o mundo se refaz a cada instante, e que não há propriamente um instante em que a história receba o respingo de um congelamento, uma máquina de fixação que lhe determine um status a ser seguido, venerado, contradito, esquecido. Estar vivo é outra coisa. Criar é ir além do tempo. A mesma indagação sobre as contradições que ocasionalmente suportem a criação eu fiz à Leila, que me disse:

 

Eu escrevo pela imensa paixão de me transbordar. Sempre tive emoções, percepções, memórias e invenções em excesso. Comecei a falar muito cedo e lembro-me de episódios de quando ainda era bebê.  Talvez tivesse a visão periférica do mundo, ou seja, visse tudo em 180° e bastava um movimento para conquistar os 360° que me cercavam. Quase nada me passava despercebido e minha imaginação se confundia com a realidade.  Tive a sorte de ter nascido em uma família absolutamente intensa, que valorizava a cultura e as coisas belas.  Havia muita liberdade e abertura para dar asas e voar. Às vezes eu sentia não fazer parte desse grupo de familiares que me cercavam, porque estava sempre os observando como se fossem personagens. De certa forma, eu construía uma realidade própria que aos poucos foi ganhando forma e tão logo aprendi a ler e escrever já comecei a externar meus pensamentos através de verbalização e escritos. Aos poucos, deixei-me encantar por versos, poemas, contos e leitura de revistas e jornais – atividades raras para crianças de 6 ou 7 anos. Assim fui crescendo e tornei-me boa aluna em redação. Adorava narrar, descrever, inventar – escrever!

Minhas primeiras influências foram os livros de Júlio Verne – todos, pois tínhamos a coleção completa e, em seguida, As aventuras de Tarzan.  E não parei mais, mergulhei em Monteiro Lobato e descobri um prazer raro: ler dicionários. Estes, então, passaram a ser os meus prediletos porque davam o nome das coisas e me faziam descobrir as que nem eu imaginava existirem. Assim cresci! E, claro, comprometida com toda a literatura formal escolar. Do primário à Universidade. E mais um pouco. As minhas preferências se concentraram em livros sobre filosofia e tudo o que fosse concernente ao pensamento. Daí para os livros orientais foi um pulo. E deles para os esotéricos outro. Durante anos dediquei-me disciplinadamente a estudar literatura, sociologia, psicologia e principalmente sobre artes e fotografia. E jamais parei de ler. Até hoje. Contudo, mantive uma fidelidade à leitura de Fernando Pessoa, Yeats, os clássicos brasileiros, nossos poetas, como Bandeira, entre outros , e Millôr Fernandes, além de toda a corrente de pensadores, romancistas e escritores modernos e contemporâneos, como Octávio Paz,  Umberto Eco, Yourcenar, e, é claro, a partir dos 20 anos, com minha proximidade ao Surrealismo, André Breton, Benjamim Péret, Joyce Mansour e todos os surrealistas ou aqueles que deram ao Surrealismo o conteúdo para que este movimento se tornasse o que se tornou. Pouco importando a época ou mesmo seguindo uma ordem cronológica.

Por todo esse histórico, creio ter um estilo meu. Único e exclusivo. Uma expressão de sentimentos, sensações, filosofia próprios. Na verdade, uma Fala própria e individual. Como se fosse um idioma natural, intrínseco ao meu ser. Não me vejo dentro de um estilo; talvez nem o tenha. Escrevo o que me chega e muitas vezes da forma que me chega. Pratiquei escrita automática por um tempo e depois, durante cerca de 15 ou 20 anos escrevi poemas – ainda inéditos – tentando encontrar um estilo. Algo no qual pudesse me enquadrar. Mas, rebelde que sou, transgrido e não me prendo. Escrevo no tom da minha liberdade. Nos últimos anos tive a felicidade de encontrar Floriano Martins e juntos, a quatro mãos, durante muito tempo, nos correspondêssemos e creio que daí produzimos poemas belíssimos, exemplares, com ritmo, conteúdo, forma e liberdade. Belos poemas. Então percebi, já nesta velhice, ser capaz de ordenar meu caos interno e criei poemas intensos em estilos, forma e conteúdo. Poemas que fazem uma enorme diferença no sentido dos meus trabalhos. E mais ultimamente, nos meados dos meus setenta anos, já chegando aos 80, encontrei toda a beleza poética que procurei a vida inteira. Tenho criado poemas que conquistam um lugar no mundo da poesia. Com sentido e movidas pela estética de versos e busca da perfeição na escolha das palavras. Estes são os poemas que concluem o meu existir. E me dão significado.

 

O mundo era só isto? Um significado buscado ao queimar da palha, ao piscar de um olho, ao mergulho inesperado no vazio? Criar talvez defina melhor o mundo do que ele próprio porventura possa esperar de si. Não somos um trapo de qualquer realidade. Tampouco somos a regulação de um sistema existencial. O mundo nos apanha em lugares inóspitos. O imprevisível atordoa, provoca, até mesmo antecipa as reações mais díspares. Escrever é parte do viver. Eu não pretendi um ensaio crítico sobre a poesia de Cecília Meirelles, Maria Lúcia Dal Farra e Leila Ferraz. A minha ideia era criar um espectro sugestivo, uma teia de curiosidade em torno da poesia de cada uma delas, de modo que o leitor pudesse reconhecer sua importância e reconhecer-se na dimensão poética de cada uma delas. Este é o ponto. Os ensaios em geral nos informam. O que desejei aqui foi estar entre elas e atiçar a curiosidade do leitor.

Abraxas




FLORIANO MARTINS (Fortaleza, 1957). Poeta, editor, dramaturgo, ensaísta, artista plástico e tradutor. Criou em 1999 a Agulha Revista de Cultura. Coordenou (2005-2010) a coleção “Ponte Velha” de autores portugueses da Escrituras Editora (São Paulo). Curador do projeto “Atlas Lírico da América Hispânica”, da revista Acrobata. Esteve presente em festivais de poesia realizados em países como Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Equador, Espanha, México, Nicarágua, Panamá, Portugal e Venezuela. Curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará (Brasil, 2008), e membro do júri do Prêmio Casa das Américas (Cuba, 2009), foi professor convidado da Universidade de Cincinnati (Ohio, Estados Unidos, 2010). Tradutor de livros de César Moro, Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Vicente Huidobro, Hans Arp, Juan Calzadilla, Enrique Molina, Jorge Luis Borges, Aldo Pellegrini e Pablo Antonio Cuadra. Entre seus livros mais recentes se destacam Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad (ensaio, México, 2015), O iluminismo é uma baleia (teatro, Brasil, em parceria com Zuca Sardan, 2016), Antes que a árvore se feche (poesia completa, Brasil, 2020), Naufrágios do tempo (novela, com Berta Lucía Estrada, 2020), Las mujeres desaparecidas (poesia, Chile, 2022) e Sombras no jardim (prosa poética, Brasil, 2023).
 




ANA MARIA PACHECO (Brasil, 1943). Escultora, pintora e gravadora. Sua obra possui um acento impressionante estabelecido no centro das relações entre sexualidade e magia, sem descuidar da tensão inevitável entre Eros e Tanatos. A personificação de sua escultura encontra amparo vertiginoso nas lendas, mitos e em sua própria biografia. Tendo sido inicialmente atraída pela música, nos anos 1960 foi exímia concertista, porém o piano iria encontrar melhor abrigo, com sua força rítmica sugestiva na narrativa que acabou aprendendo a compor, a partir de sua fascinação pela escultura barroca policromada e o ideário ritualístico das máscaras africanas. Nos anos 1970 viajou para estudar na Slade School of Art em Londres e ali mesmo resolveu mudar definitivamente de endereço. Com o tempo foi desenvolvendo uma maestria singular, a criação de conjunto escultórico que se destacava como a representação tridimensional de uma narrativa. Embora tenha igualmente se dedicado à pintura, com seus trípticos fascinantes, é na escultura que esta imensa artista brasileira se destaca, com o uso de recursos teatrais e a mescla de elementos constitutivos de diversas culturas. É também uma valiosa marca sua a montagem de cenas emprestadas da literatura ou de evidências do cotidiano. Agradecimentos a Pratt Contemporary, Dictionnaire Universel des Créatrices, AWARE – Archives of Women Artists, Research & Exhibitions. Graças a quem Ana Maria Pacheco se encontra entre nós como artista convidada da presente edição de Agulha Revista de Cultura.

 


Agulha Revista de Cultura

Número 260 | abril de 2025

Artista convidado: Ana Maria Pacheco (Brasil, 1943)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2025


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