terça-feira, 28 de dezembro de 2021

ANDERSON COSTA, ELYS REGINA ZILS | De Itararé a uma deambulação contínua – Conversa com Floriano Martins sobre o surrealismo no Brasil



Afora as já conhecidas alusões sobre a influência do surrealismo na poesia de Murilo Mendes, o que foi estabelecido pela crítica é a ideia de que o surrealismo no Brasil é inexistente. Afrânio Coutinho, por exemplo, dizia que em nosso país o surrealismo se mostra em superfície ou em impregnações dispersas. Mas, talvez, emblemática mesmo seja a negação de José Paulo Paes de que o surrealismo literário no Brasil é como a batalha de Itararé: não houve. Contudo, sabemos que o surrealismo no Brasil se mostra além da percepção de Coutinho e da certeza de Paes. Convidamos o poeta, ensaísta e editor Floriano Martins para conversar conosco sobre este controverso tema. Martins, editor da Agulha Revista de Cultura, possui dois livros fundamentais sobre Surrealismo: Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América (2016) e 120 noites de Eros – Mulheres surrealistas (2020) e agora mesmo trabalha na finalização de Viagens do Surrealismo, que completa a trilogia.


P | Você é poeta, fotógrafo, tradutor, editor e estudioso do surrealismo com várias publicações sobre essa vanguarda. Gostaríamos de saber como o surrealismo entra na sua vida e a importância que ele tem para você, como pesquisador e como artista.

 

FM | O Surrealismo entra em minha vida bem antes de ser compreendido como tal. Na infância eu lia vorazmente, sem me deter em temas ou estilos. E recortava papéis, montava pequenas cenas imaginárias com esses recortes. Fui criado em uma espécie de burburinho, nas mãos do acaso, sem uma educação pensada. Criado em duas casas, a dos pais, a da avó materna, viúva. Eram dois mundos distintos, até mesmo em sua plasticidade. Havia muitos quadros nas paredes na casa da avó e muita música e livros na casa de meus pais. A vida constantemente recortada, a intuição de mesclar a diversidade de experiências sensoriais, isto foi revelando um surrealismo que somente na adolescência vai se reconhecer nos meus primeiros encontros com a obra de Salvador Dalí, Paul Éluard, García Lorca, também Murilo Mendes, sem me importar que fossem surrealistas ou não. Há uma frase de Hans Arp: Nossos atos são atos de sonhadores, de nadadores enigmáticos, o que sempre me lembra os amantes submarinos, aquele belíssimo poema do Murilo Mendes. Uma importância maior do Surrealismo se encontra na observação feita por Artaud de que se deve introduzir profundas transformações na escala de aparências, no valor de significado e no simbolismo do criado. Não há, portanto, transformação sem mergulho, e este é filho da curiosidade. Também eu sempre fui um nadador enigmático.

 

P | O surrealismo chegou na América Latina com extrema rapidez, como afirma Robert Ponge, e ainda que não foi uma recepção sem debates, temos na Argentina a revista Qué com o grupo ao redor de Aldo Pellegrini; no Peru, temos figuras como José Carlos Mariátegui e César Vallejo; no Chile temos a revista Mandrágora com Braulio Arenas, Teófilo Cid e Enrique Gómez-Correa, só para citar alguns exemplos que encontramos facilmente na literatura sobre o surrealismo na América Latina. Porém na Antología de la poesía surrealista latinoamericana, organizada por Baciu, não há um único brasileiro. E como você menciona em O começo da busca, José Paulo Paes e Gilberto Mendonça Teles negam a presença do surrealismo em terras brasileiras. Dito isso, a que devemos essa ausência ou negação?

 

FM | É verdade que os peruanos José Carlos Mariátegui e César Vallejo estiveram sempre muito atentos ao fluxo das vanguardas, em especial ao Surrealismo. O primeiro com reconhecimento, o segundo com certo desprezo. Tenho que aclarar que a revista Qué não foi propriamente uma publicação surrealista, embora Aldo Pellegrini tenha sempre sido um valioso difusor do Surrealismo, por seus ensaios, traduções e duas revistas posteriores. Creio que formalmente a revista chilena Mandrágora foi a primeira publicação declaradamente surrealista em todo o continente. O dilema com a classificação de América Latina é que para os nativos de língua espanhola apenas eles constituem essa fatia do continente, esquecendo que também o português falado no Brasil e o francês falado em metade do Canadá e no Caribe francês são partes dessa latinidade. Há equívocos e erros grosseiros de interpretação, o que poderíamos chamar de desonestidade intelectual, da parte de quase todos que escreveram sobre Surrealismo no Brasil. No entanto, como digo em uma conferência preparada para o Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade de Berlim, o dilema maior é que os brasileiros jamais se afirmaram surrealistas. Muitos de nossos surrealistas fizeram de tudo para que não fossem percebidos como tal. Não vamos agora querer que a ala intelectual acadêmica fosse defender a existência de Surrealismo entre nós.

 


P | No O começo da busca: o surrealismo na poesia da América Latina, você traz a presença de apenas dois poetas brasileiros Sérgio Lima e Roberto Piva. Temos ainda Murilo Mendes em O visionário (1941), As metamorfoses (1944) e Mundo enigma (1945) que claramente tem influência surrealista, mas que afirma ter abraçado o surrealismo à moda brasileira, tomando dele o que mais me interessava, como você afirma em Visões da Névoa: Brasil. Entre outros artistas nos quais é possível identificar afinidades com a estética surrealista, mas que a negam veementemente. Inclusive, você relata relutância dos artistas brasileiros em aceitarem o convite de Sergio Lima para integrarem o primeiro grupo surrealista brasileiro (1962 a 1967) e a exposição surrealista (1967). A que se deve essa falta de um diálogo franco entre surrealismo e a elite cultural brasileira.

 

FM | Eu quero primeiramente lembrar que o livro é uma pequena mostra da poesia surrealista, e suas ausências se verificam não apenas em relação ao Brasil, mas também a todo o continente. Era preciso dar essa primeira entrada no mundo editorial brasileiro, e o livro foi feito pensando na diversidade. Este livro foi ampliado diversas vezes, tendo edição na Costa Rica e na Venezuela, até chegar à edição mais ou menos completa, publicada pela ARC Edições em 2016 – nos três últimos casos já com o título: Um novo continente – Poesia e surrealismo na América. No caso específico do Murilo Mendes, é preciso citar a sua observação inteira, como o faço em capítulo dedicado ao Brasil neste meu livro: Abracei o Surrealismo à moda brasileira, tomando dele o que mais me interessava; além de muitos capítulos da cartilha inconformista, a criação de uma atmosfera poética baseada na acoplagem de elementos díspares. Tratava-se de explorar o subconsciente; tratava-se de inventar um outro frisson nouveau, extraído à modernidade; tudo deveria contribuir para uma visão fantástica do homem e suas possibilidades extremas. Murilo entendia que seguir a risco a cartilha do Surrealismo era algo verdadeiramente impraticável e que nem mesmo o próprio Breton o teria feito. Neste meu ensaio – posteriormente publicado em livro solo pela Sol Negro Edições – afirmo então que os excessos na postura iconoclasta de muitos surrealistas, juntamente com o método do automatismo convertido em religião – segundo o poeta brasileiro, aí residia o desleixo artesanal surrealista –, seriam razões suficientes para que Murilo Mendes mantivesse sempre certa reserva em relação ao movimento. Agora, no tocante à recusa de Claudio Willer e Roberto Piva de participarem do grupo capitaneado pelo Sérgio Lima nos anos 1960, isto se deu porque ambos não foram receptivos ao modelo pronto que lhes foi apresentado, sem que pudessem mais do que simplesmente a ele se submeter. Não embaralhemos mais esse baralho de cartas marcadas já suficientemente caótico.

 

P | No Tomo 2 de A Aventura Surrealista, Sérgio Lima traça um panorama histórico do Surrealismo no Brasil, não só nas manifestações individuais, mas também enquanto movimento organizado. Além do primeiro grupo nos anos 60, ele cita um outro momento nos anos 90, em torno do Grupo de São Paulo/Fortaleza, o qual contou com a sua presença. Como poderia comentar sobre as atividades do grupo e a sua participação nele? Como era a práxis desse grupo? Havia atividades coletivas?

 

FM | Vale lembrar aqui uma feliz observação feita pelo Claudio Willer em entrevista dada a vocês, a de que a cada momento que Sérgio Lima ressurgia da obscuridade com a formação de algum grupo surrealista seus componentes eram distintos. Jamais houve uma continuidade de princípios, o que afasta a ideia de movimento organizado. Neste seu livro Sérgio Lima se excede na enumeração de autores ligados direta ou indiretamente ao Surrealismo, deixando de mencionar outros por algum motivo pessoal. Quando estivemos juntos, cuidamos de duas exposições, uma delas na Alemanha, a publicação de dois números de uma pequena revista, e os encontros mais em plano afetivo, sem discussão alguma mais aprofundada sobre o que este grupo deveria defender ou realizar.

 

P | Na virada dos anos 90 para os 2000 surgiu em São Paulo o Grupo DeCollage, que se propôs ao estudo e à prática surrealistas, inclusive com produções e mesmo aproximações com nomes de gerações anteriores ligados ao surrealismo. O grupo encerrou as suas atividades em 2015. Pouco se sabe sobre o DeCollage, cujas atividades parecem permanecer na mesma invisibilidade de tentativas anteriores. Pode-se falar em um quarto momento do surrealismo no Brasil com esse grupo? E por quais razões, na sua opinião, grupos surrealistas parecem não alcançar grande longevidade, o que parece não ser exclusividade do Brasil. Faria ainda sentido atualmente organizar-se em um grupo surrealista?

 

FM | Não posso dizer o que pretendia o grupo DeCollage, isto teria que ser perguntado a eles. Conheci alguns pessoalmente e sempre mantivemos boas relações. Editorialmente continuam realizando um trabalho importante. Não esquecer que a eles se deve a recuperação dos escritos de Flávio de Carvalho. O tema da invisibilidade é curioso, porque ele se aplica mais precisamente ao Sérgio Lima, que habita uma espécie de mundo subterrâneo. Agora, a criação ou permanência de grupos surrealistas, em qualquer lugar do mundo, tem a ver com o propósito de uma ação coletiva idealizado por seus interessados. Em geral – mas não apenas isto – o que se nota na formação desses grupos é uma submissão às velhas cartilhas, sem haver uma expansão de princípios, contrastando até mesmo com a ideia de um mais-além frisada por Breton.

 

P | Claudio Willer já afirmou que a história do surrealismo no Brasil é uma história subterrânea, já Sérgio Lima fala em um infortúnio crítico sobre o surrealismo por aqui. A que se deve essa má vontade? Você acha que talvez possa ter algo a ver com certa tradição da literatura brasileira, pautada em sua grande parte por uma preocupação excessivamente formal, por um lado, e, por outro, pelo compromisso com o engajamento social? Isso desde Machado de Assis, pelo menos da leitura que dele é feita no século XX, passando pela geração de 30, pela geração que resistiu à ditadura, e mesmo à literatura a qual é dada mais visibilidade atualmente. Isso para ficarmos na prosa, indo para a poesia poderíamos citar o Concretismo e as práticas poéticas que vieram na sua esteira. Mesmo a poesia marginal da geração mimeógrafo, ainda podemos, em vários momentos, sentir essa preocupação formal. Se podemos falar em uma tradição literária no Brasil que transite por essas questões, também podemos dizer que o surrealismo nada tem a ver com isso. Essa poderia ser uma das razões para esse desconhecimento proposital sobre o surrealismo em nosso país?

 

FM | Hoje eu vejo um pouco diferente todo esse plano. O padrão formalista de nossa criação artística – não apenas literária – tem a ver diretamente com um enrijecimento do espírito, e não propriamente com a técnica reiterada até o desgaste de sua medula. Ou seja, não é na forma que debilitamos a criação, mas sim no modo como encaramos nossos fantasmas. Caberia mais falar na falta de ousadia do que na boa construção da linguagem artística. E volto a dizer: o desconhecimento proposital foi uma reação à falta de iniciativa e decisão de caráter de nossos surrealistas.

 


P | Entre suas contribuições para a nossa cultura, de modo mais amplo explorando não só o Brasil, mas a América Latina como um todo, está a Agulha Revista de Cultura (1999). Ao longo dos seus mais de 20 anos, a revista se tornou importante fonte de pesquisas e divulgação de artistas, arriscaríamos dizer com certa propensão ao surrealismo. Ou estamos equivocados? Como se dá esse extenso trabalho? E o reconhecimento no cenário brasileiro ou a carência do devido reconhecimento?

 

FM | Diante de tudo o que eu falei talvez se espere que eu afirme que sim, que a Agulha Revista de Cultura é uma publicação surrealista. Porém se trata de outra coisa. É importante lembrar que o Surrealismo foi a mais influente de todas as vanguardas e que essa influência tomou o planeta em sua boa magnitude. O século XX deve muito ao Surrealismo e aos Beatles. Ao mesmo tempo, sempre padecemos no Brasil de um grave problema de projeto editorial, até hoje o mercado editorial vive das sobras possíveis das liberações de direitos autorais internacionais e dos interesses financeiros imediatistas em torno de prêmios e adaptações para o cinema. Agulha Revista de Cultura surge em uma época em que não tínhamos uma melhor discussão dos valores literários em parte alguma, a começar pelo Brasil. A América Hispânica era uma completa desconhecida nossa. E mesmo a literatura de outros continentes, não a conhecíamos muito além dos clássicos, estes editados décadas atrás, muitos já fora de mercado. Trazer para o Brasil o que há de mais relevante na América Hispânica significa criar espaço, dentre outras coisas, para uma presença muito forte do Surrealismo no continente. Isto fez com que nos parecêssemos a muitos, para o bem e para o mal, como uma publicação surrealista. Mais recentemente, por exemplo, fomos o único periódico a comemorar, em 2019 e com desdobramento em algumas revistas nossas parceiras em Portugal (Athena e TriploV) e México (Blanco Móvil), o centenário do Surrealismo, e agora mesmo nos preparamos para lançar, em 2022, uma série intitulada “Surrealismo, Surrealistas”, que reúne 100 ensaios sobre os mais destacados nomes do Surrealismo em todo o mundo.

 

P | Seguindo por esse caminho, temos outra de suas frentes de atuação: a condução da ARC Edições. A editora surge em 2010 e seu nome vem da abreviatura da Agulha Revista de Cultura, com publicações importantes de autores brasileiros e estrangeiros que, podemos dizer, são menos comerciais. Destacamos do seu catálogo as obras Um novo continente: poesia e surrealismo na América (2016) e 120 noites de Eros: mulheres surrealistas (2020), ambas de sua autoria e citadas nesta entrevista. Elas apresentam um substancioso mapeamento e potencial dentro do que é um cenário quase invisível no nosso país. Como você consegue dar conta de pesquisas tão amplas e quais as dificuldades? Acreditamos que essas publicações contribuem significativamente para a bibliografia brasileira do surrealismo. Você sente esse retorno?

 

FM | O catálogo da ARC Edições, em sua versão impressa, é bem resumido. Tivemos um momento em que trabalhamos com uma parceria, na criação de uma coleção intitulada “O amor pelas palavras”, de circulação exclusiva pela Amazon, onde publicamos 95 títulos de autores de vários países. Na ARC editamos livros de Sérgio Campos, R. Leontino Filho, Péricles Prade, Andreia Carvalho Gavita, Zuca Sardan, Berta Lucía Estrada e Cruzeiro Seixas. Um novo continente e 120 noites de Eros compreendem uma trilogia, cujo terceiro título está em preparação: Viagens do Surrealismo, devendo ser publicado ao final de 2022. Sempre defendo que a determinação deve superar qualquer sentimento de pressa. E a determinação deve ser incondicional. Não penso em retorno. Jamais penso nisto. Vivemos em um país onde as perspectivas de retorno são ilusórias. Vamos em frente.

 

P | Ainda que o período entre guerras se torna cenário favorável para o questionamento do papel tradicional imposto às mulheres na sociedade, o surrealismo, em seu ambiente de nascimento, eleva a mulher, mas como musa, mulher-criança, objeto erótico e por terem acesso mais facilmente ao inconsciente, entre outros mitos sobre o feminino que acreditavam. Por isso, a sua obra 120 noites de Eros: Mulheres surrealistas (2020) se torna tão importante ao dar visibilidade para essas mulheres artistas que ficaram relegadas à marginalidade desse movimento. Entre as brasileiras, você cita a contemporânea Anna Apolinário; também Leila Ferraz que já no seu ensaio “Introdução ao pensamento mágico surrealista” revela certo desconforto com a misoginia do surrealismo; e Maria Martins que teve suas obras ignoradas pela elite cultural brasileira. Dito isso, gostaríamos que você comentasse um pouco sobre a participação das mulheres surrealistas no Brasil.

 


FM | O Surrealismo foi tremendamente falho com as mulheres, uma de suas maiores contradições. No Brasil não poderia ser distinto. Leila Ferraz foi uma das peças essenciais da montagem da exposição do Surrealismo nos anos 1960. Formava parte do quarteto responsável pela mostra e a edição da revista A Phala, ao lado de seu então marido, Sérgio Lima, de Paulo Paranaguá e Raúl Fiker. Logo depois da realização dessas duas coisas, o quarteto se desfez, Leila se separou de Sérgio, e este tratou de apagar as pistas dela em sua versão desse infortúnio crítico. Outras mulheres eventualmente tiveram suas relações de afinidades com o Surrealismo, seja a artista Wega Nery, ou as poetas Maria Lúcia Dal Farra e Andreia Carvalho Gavita. A questão não é elencar nomes, e sim averiguar de que modo nossos intelectuais e artistas se comportaram em relação ao Surrealismo. Neste caso, mais do que Surrealismo, o que importa é a magnitude espúria dessa misoginia, que é a tônica de nossas sociedades.

 

P | Entre iniciativas contemporâneas, citadas por você, temos as atividades editoriais de casas como Edições Nephelibata (Santa Catarina), Sol Negro Edições (Rio Grande do Norte), Edições Pantemporâneo. O surrealismo segue atual? Qual sua relevância nos nossos dias? E o que significaria o ser surrealista hoje em dia? O surrealismo no Brasil ainda se esgueira pelos subterrâneos de nossas manifestações artísticas?

 

FM | Mas nenhuma dessas casas editoriais pode ser pensada como um centro exclusivo de defesa do Surrealismo. A exemplo de outras editoras elas possuem em seu catálogo algumas obras surrealistas, o que é bem distinto, e não lhes invalida a importância em nosso cenário editorial. Uma delas, a Sol Negro Edições, publicou livros de Dolfi Trost, Hans Arp, Enrique Molina, César Moro e Aldo Pellegrini. É um absurdo pensar no Surrealismo como algo atual, pela simples razão de que ele sempre desejou estar mais além de tudo. Não resta dúvida que sua presença no Brasil é mais intensa do que se poderia pensar e infinitamente menor do que poderia ser. É fato, no entanto, que permanece em nós essa lacuna existencial, a de que não nos afirmamos surrealistas, que avançamos de modo algo esponjoso, e que naturalmente nada tem a ver com Surrealismo, ou seja, os brasileiros sentem imenso desconforto em definir algo, somos acanhados por natureza quando se trata de comprometer-se com algo.

 

Fortaleza/São Paulo, novembro de 2021

 

Anderson da Costa possui doutorado em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e tem se dedicado ao estudo do Surrealismo no Brasil, e da obra de André Breton. | Elys Regina Zils é tradutora e artista visual. Mestre em Estudos da Tradução pela PGET/UFSC/Florianópolis, Brasil. Se dedica à Literatura Latino-Americana pesquisando principalmente Vanguardas Literárias e Artísticas com ênfase em Literatura Surrealista Latino-americana.




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[A partir de janeiro de 2022]
 

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Número 198 | dezembro de 2021

Artista convidada: Evelyne Axell (Bélgica, 1935-1972)

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