Conhecera, ainda estudante da université languedocienne, em 1890, o jovem
poeta Pierre Louys, circunstância capital em sua vida, já que este companheiro de
intercâmbios o apresentaria a Mallarmé, e seria seu primeiro e constante leitor,
no contexto de um intercâmbio de admiração recíproca. Valéry dizia não ter precisado
de mais que cinco ou seis minutos para perceber a imensa afinidade que o aproximou
do autor de Aphrodite e das Chansons de Bilitiz.
No dia 25 de janeiro de 2019, saio
pela boca do métro Cluny-Sorbonne, diante do místico, misterioso e velho mosteiro
(hoje Museu de Cluny) que se levanta com garbo entre os dois fabulosos bulevares.
Em tijolo cru, como no medievo, paredes carcomidas, o cenóbio faz pensar nos tempos
de outrora. O Museu de Cluny exala sua antiguidade verticalmente profunda, em sua
avoenga carcaça. Desci o boulevard Saint-Michel, cruzei a fachada da Sorbonne, de
aspecto clerical. As colunas, as estátuas, a cúpula cingida pela cruz, o relógio
ao centro e a fonte, ornamentada de estátuas, (a de Auguste Comte se destaca na
dianteira). Em frente, há os cafés, os restaurantes e as livrarias. Tudo isso me
dá um imenso prazer estético.
Avisto as opulentas colunas do Panthéon
e vou até o Théâtre Saint-Michel, já depois da entrada do jardin du Luxembourg,
comprar o ingresso para ver o recital de Madame Bovary, pelo grande ator Eric Chartier.
Volto, até a quadra anterior, e sigo
pela rue Gay-Lussac, onde morou Valéry. Deparo um edifício de fina estampa, de seis
andares, cada um com quatro janelas e varandas de grades filigranadas. A placa informa
que o poeta viveu no local de 1891 a 1899. O grande bardo teve o merecimento de
morar a dois passos do jardin du Luxembourg, numa avenida requintada, o que significa
que seu salário de funcionário do Ministério da Guerra, em que trabalhou como redator,
era suficientemente alentado, de maneira que lhe permitia pagar o aluguel caro de
um grande apartamento nesta zona luxuosa do Quartier Latin.
Quando Valéry chega para residir na
rua Gay-Lussac, onde então existia o Hotel Henri IV, recebe carta de Gide, que lhe
escreve da Normandie: Je te rêve sur les boulevards,
étourdi, fébrile et navré.
Da porta da antiga residência de Valéry
ao Jardin du Luxembourg são poucos metros. Fui caminhando e imaginando Valéry a
passear como eu, nos dias ensolarados, desfrutando da clara e prazerosa plenitude
de um outono ou de uma primavera. As benesses do ar, a quietude, o perfume da vegetação,
a dança da água cintilando no espelho circular, diante do palácio iluminado, e os
pássaros sugerindo uma sinestesia de flores sonoras, fazem do Jardin du Luxembourg
um dos lugares mais auspiciosos do planeta.
Neste remanso da cidade das alegorias
apoteóticas, dos boêmios iluminados e do céu úmido, à sombra da chuva, vou-me deleitando
e ouvindo o pássaro azul da inspiração, em plena fuga das igrejas e das boutiques.
O verde frio, delicioso, se imprime no azul que se escreve azur, no nevoeiro de gazas grises. A fachada do palácio, acesa em pétalas,
tem cores que me seduzem. O perfume das flores é feminino e delicado.
Uma das melhores ocasiões da minha vida foi assistir,
na noite de 25 de janeiro de 2019, uma vez mais, a um recital do ator Eric Chartier.
A primeira vez foi em 2015, quando o vi dizer um grande excerto de Marcel Proust.
Desta feita, o grande dramaturgo brindou o público, no teatro La Comédie Saint-Michel,
com uma hora e meia de um longo trecho de Madame Bovary, do monumental Flaubert.
É verdadeiramente
um deleite estético presenciar a interpretação oral de um mestre universal da literatura
por um dramaturgo talentosíssimo. Não menos admirável é a disciplina artística de
anos de trabalho de um grande ator para mostrar a respiração secreta do gênio de
um grande escritor. Tal zelo permite ao espectador recriar a obra literária em seu
imaginário, por meio da dimensão oral da palavra.
Segundo Henri Mondor,
Paul Valéry vivia ainda em Montpellier, quando Pierre Louÿs lhe falou de Mallarmé
e facilitou o encontro dos dois grandes poetas. Descreveu Mallarmé como (…) un homme qui parle bas, d’une voix lente, mais
avec tant d’expression que les superlatifs prennent dans bouche une largeur inconnue.
Em 1890, Valéry bateu
à porta dos mardis mallarmaicos. Desde
então, adotará uma conduta semelhante à de seu mestre, exemplo admirável de dedicação
à arte poética. Com Mallarmé, Valéry aprendeu a colocar na arte a obrigação do esforço
intelectual.
Além de Pierre Louÿs, outro amigo
que sobremodo ajudou Valéry, a partir de 1891, foi André Gide, que intermediou a publicação de seus poemas
junto a difusores de prestígio como o editor Gaston Gallimard e La Nouvelle Revue Française.
Acerca de Bergson, Valéry destacou
a propriedade e o acerto com que o filósofo, inspirado na biologia, concebeu a vida
como portadora do espírito e renovou a consideração de problemas antigos e difíceis
como o do tempo, o da memória e o da evolução da vida. O poeta pronunciou discurso
em homenagem a Henri Bergson, na Académie Française em 1941, no dia 9 de janeiro,
cinco dias após a morte do grande filósofo, que falecera no dia 4 de janeiro daquele
ano.
Swedenborg e Leonardo da Vinci também
o impressionam sobremaneira. Ao primeiro, ele se refere como o sábio engenheiro,
instruído em todas as coisas, um iluminado teósofo, familiar dos Espíritos e dos
Anjos que realizou uma metamorfose substancial de um pensamento científico e metafísico-teológico
numa realidade segunda, intuitiva, transformada em doutrina transcendental. Em suma,
Swedenborg é visto como um visionário que revela as correspondências entre as partes
do organismo e os mais estranhos significados, avaliações ou criações espirituais.
Sobre Da Vinci, escreveu Introduction à la
méthode de Léonard de Vinci (1895) que contém, igualmente, elementos essenciais
dos estudos filosóficos de Valéry.
Emergiria
Valéry da longa fase sem publicar, para dar a conhecer La jeune parque, em 1917, dedicado a André Gide. O livro recebe elogios
de Léon Paul-Fargue e de Valéry Larbeau. Ambos destacam a linguagem melodiosa, a
inovação no ritmo da frase e a redução da lacuna entre a impressão e a expressão,
em que o autor questiona os temas da vida e da morte. Com efeito, perplexo, em embriaguez
lúcida, ao mergulhar em sua espiritualidade panteísta, o poeta escreveu versos como
estes, que prenunciam o enunciado da filosofia existencialista:
Tenho
piedade de todos nós,
Ó turbilhões
de poeira!
Augusto de Campos, em Via Línguaviagem, destaca as semelhanças
entre a Hérodiade de Mallarmé e a Jeune Parque de Valéry. Mostra que, em ambas,
há o contrário da eloquência, sedno admiráveis as sonoridades e as surpresas. Em
Herodias, a esterilidade e a virgindade
são condição de beleza. Na Jovem Parca,
existe a intenção de definir um conhecimento do ser vivo, que é preciso aprender.
Mallarmé alude ao pensamento que se pensou. Nele, a
linguagem fugidia, atravessada de metonímias e metáforas, pinta não a coisa, mas
o efeito que ela produz.
A Herodias mallarmeana corresponde, em princípio, à Salomé da conhecida
passagem Bíblica:
(...) A filha de Herodias, esposa incestuosa do Rei Herodes Antipas; a mesma
jovem sedutora, que dança perante o tetrarca, a pedido de sua mãe, para obter como
prêmio a cabeça de João Batista, profeta e santo.
A Jovem Parca nasce após 20 anos de silêncio poético, com 512 alexandrinos. Trata-se
da crise de uma jovem que luta contra seus instintos, recusa a maternidade, expressa
a alegria amarga de se conhecer e a angústia de viver na dualidade da natureza.
Herodias e a Parca têm personalidades complexas e fugidias, na
tecedura da abstração temática, da elaboração vocabular e da torção sintática.
Herodias, poema concebido de início como drama em versos, assim como A Jovem
Parca, utiliza um alexandrino com rimas emparelhadas.
A Jovem Parca não tem um tema específico.
É um devaneio cuja personagem é a consciência consciente, conforme revela o próprio
Valéry.
Em ambos os poemas, “a elocução se faz por meio de uma persona – uma jovem,
uma virgem, simbolizando a solidão e a incomunicabilidade em confronto com as solicitações
do mundo sensório.
A respeito de sua amizade com Mallarmé,
escreveu Valéry o seguinte em seu texto Lettre
sur Mallarmé:
A l’âge encore assez tendre de vingt ans, et au point critique d’une étrange
et profonde transformation intellectuelle, je subis le choc de l’ oeuvre de Mallarmé;
je connus la surprise, le scadale intime instantané, et l’éblouissement et la rupture
de mes attaches avec mes idoles de cet âge.
Quando ele escreve a Mallarmé, fala
do seu conceito de poesia como uma expressão delicada e bela do mundo, repleta de
música singular e contínua, pela qual busca um gesto luminoso em direção ao futuro.
Valéry reconhece que muito deve a
Mallarmé, no que se refere à concepção da arte, à técnica e ao vocabulário.
No seu extraordinário ensaio de Variété II, Valéry narra o seu derradeiro
encontro com Mallarmé, em 14 de julho de 1898, em Valvins e reitera sua admiração
por aquele que jamais pedira ao mundo senão
o que ele contém de mais raro e mais precioso. E ele encontrava isso em si mesmo.
Em sua vida social, Valéry frequentou,
também, os samedis de José-Maria Hérédia e se divertiu com as proezas de Alfred
Jarry e o bom humor de Joris-Karl Huysmans.
O imortal Cimetière marin, publicado em 1922, no livro Charmes, autêntico hino à perplexidade e ao encantamento, contém alguns
dos versos mais maravilhosos da língua francesa. No êxtase da contemplação do mar,
a consciência se dilui no não ser. O meio-dia compõe de fogo o mar, no eterno recomeço
do seu movimento:
Ce toit tranquille, où marchent
les colombes,
Entre les pins palpite, entre
les tombes,
Midi le just y compose de feu
La mer, la mer toujours recommencée!
O meio-dia (hora em que não há sombra)
corresponde, na ciência oculta, ao solstício do ciclo anual em que se projeta no
mundo a culminação da luz espiritual. É o instante sagrado da plenitude luminosa,
que marca, entre o yang em repouso e o
ying semovente, um interlúdio no movimento
cíclico da natureza. Tem seu antípoda complementar na meia-noite, que sugere também
uma imagem da eternidade ou uma imobilização no curso do frágil equilíbrio da grandeza
transitória.
Em face do Ser e do Nada, o mar suscita
a deleção e a sublimação da angústia. E o tempo cintila, quando o sol repousa sobre
o abismo:
Quand sur l’abîme un
soleil se repose,
ouvrages purs d’une
éternelle cause,
le Temps scintille et
le Songe est savoir.
O tempo, com T maiúsculo,
Tempo sem tempo, mistério do movimento eterno da natureza, suscita quieta contemplação,
na hora extática em que a cintilação serena irradia sua soberana grandeza como um
desdém pela atitude terrenal:
Temple
du Temps, qu’un seul soupir résume,
à ce point pur je monte
et m’accoutume,
tout entouré de mon
regard marin;
Et comme aux dieux mon
offrande suprême,
La scintillation sereine
sème
Sur l’ altitude un dédain
souverain.
Toda uma atmosfera mediterrânea com
referências helênicas aparece no extraordinário texto do poema, de um lirismo encantatório,
com o tom de uma grave reflexão sobre a morte.
Na estrutura de seu sistema de representar,
que não explica, apenas enuncia, Valéry constitui seus axiomas esotéricos: no começo,
o Espírito criou o mundo à sua imagem, para preencher o Nada que ele se sentia e
conhecer a si mesmo. Cansado de um puro espetáculo, Deus rompeu o objetivo de sua
perfeita eternidade e se fez Aquele que, em consequência, dissipa seu Princípio
e sua unidade em infinitas estrelas. O Espírito plasma o objeto incógnito do conhecimento.
Midi sans movement é o tempo em que a
flecha voa e não voa.
Valéry fez viagens iniciáticas, entre
1925 e 1929, em dois cruzeiros pela costa italiana (Sardenha, Córsega e Nápoles),
estudando os esplendores do romanismo nos cantos de Virgílio e na filosofia de Lucrécio.
Ele menciona, no livro La Renaissance de la liberté (Souvenirs et réflexions),
momentos especiais, tais como os encontros que manteve com Rainer Maria Rilke. A
amizade começou em 1922, quando Valéry planejou visitar Rilke na Suíça. Mas o primeiro
encontro só aconteceu, oportunamente, em fevereiro de 1924, quando ele teve a honra
de receber do poeta theco a tradução de 16 de seus poemas, constantes do livro Charmes. Em abril do mesmo ano, Valéry esteve
no castelo de Muzot, na condição de hóspede de Rilke. Novos encontros se registraram
em Paris, em 1925, e às margens do lago Léman, em setembro de 1926. Em dezembro
do mesmo ano, o genial Rilke faleceria inesperadamente.
Constam, no segundo
volume das obras completas de Paul Valéry (Oeuvres
II), dois artigos sobre Paris, a saber: Fonction
de Paris, de 1927 e Présence de Paris,
de 1937.
Em Fonction de Paris, ele enaltece a cidade, cujo caráter resulta de uma
infelicidade de vicissitudes históricas, em que foi teatro de meia dúzia de revoluções
que, no espaço de 300 anos, fora duas ou três vezes a cabeça da Europa, três vezes
conquistada pelo inimigo:
Paris, valor de um núcleo que resulta
de 20 séculos de construção. Obra e fenômeno; teatro de acontecimentos de uma importância
universal. Pensar Paris é pensar o espírito mesmo. É conceber o lugar misterioso
da aventura instantânea do pensamento. Le NOMBRE de PARIS occupe, obsède, assiège
mon esprit.
No dia 19 de novembro de 1925, Valéry
foi eleito para a Académie de la Langue Française como sucessor de Anatole France.
Em seu discurso de posse, não disse palavra sobre seu antecessor. Só a partir de
sua entrada na Académie, Valéry passou a viver exclusivamente de literatura, fazendo
conferências na Inglaterra, na Suíça e na Alemanha.
Já maduro na idade e no pensamento,
Valéry cultiva ainda suas musas. Catherine
Pozzi foi sua namorada entre 1913 e 1934. Para ela escreveu: Car j’ai vécu de vous attendre,/ et mon coeur
n’était que vos pas. A poeta francesa Catherine Pozzi foi sua namorada, entre
1913 e 1934. A partir de 1937, a jornalista e escritora Jeanne Loviton (nome
artístico: Jean Voilier) foi a principal fonte de sua inspiração lírica. Escreveu
a ela 600 cartas de amor, até 1945, quando o poeta deixou este mundo.
Em 1945, ano de sua morte, aos 67
anos, Valéry deu a conhecer os 150 poemas de amor, dedicados a Jeanne Loviton, sua
musa de 35 anos de idade.
Valéry, clássico moderno, recriou,
com personalíssimas versões, mitos fundamentais como a Parca, Narciso e a Pítia,
conciliando magnificamente o classicismo e o lirismo.
Seu exercício de contemplação de si
mesmo no ato do poema é destacado por Jacques Charpier, em Essai sur Valéry:
Il va faire de la poésie la conaissance
de ce qu’elle est. Quels que soient les sujets apparents de ses poèmes, le Sujet
fondamental de Valéry c’est la contemplation de lui-même en tant que poète. Ainsi
sa poésie sera-t-elle, à sa manière, une critique de la poésie.
Cioran, em seu ensaio Valéry face à ses idoles, afirma que, pela
obsessão da linguagem e a reflexão sobre o funcionamento da consciência, Valéry
é um poeta que colocou a poética acima da poesia. Seu narcisismo se configura como
uma vontade de ser clarividente.
O discurso hermético, herdado de Mallarmé,
qualifica Paul Valéry como inventor de um fazer poético em que se conjugam a estética
e a epistemologia.
Paul Valéry instigou-me intensamente
desde que o li pela primeira vez, com o poema Le vin perdu:
J’ai, quelque jour, dans l’Océan,
(mais je ne sais plus sous quels
cieux)
jeté, comme ofrande au néant,
tout un peu de vin précieux.
Qui volut ta perte, ô liqueur?
Peut-être au souci de mon cœur,
songeant au sang, versant le
vin?
Sa transparece accoutumée
après une rose fumée
reprit aussi pure la mer.
Perdu ce vin, ivres les ondes
!
J’ai vu bondir dans l’air amer
les figures les plus profones.
Trata-se de um diálogo de si mesmo
com a natureza vertiginosa do mar. O poema é um rutilante afluente, cuja vertente
caudal é Le bateau ivre. Na distância
do voo do olhar, o poeta precipitou o fluido licor da temerosa insônia no abismo
da claridade e da surpresa. Perplexo diante do seu próprio gesto, ele deitou no
Oceano o vertiginoso eflúvio, envolto em um evasivo sopro aéreo, e sente o surgimento
de modalidades inusitadas. O vinho desaparece no instantâneo da visão. A fusão dos
líquidos numa alquimia misteriosa suscitará percepções insólitas.
Um vinho precioso foi perdido no mar
das sensações. Eis a metáfora com que ele representa a impressão de fluidez do tempo
em nós. As coisas, de súbito, ardem na fervilhante treva onírica. E só restam os
átomos frementes do recôndito e fascinante momento. O poeta perscruta o sentido
da pulsação do vento, o que lhe desperta os sentidos para as perguntas fundamentais:
quem pressente o cristal do tempo, se só existimos entre a presença e o vazio? Que
tesouro jaz na expectativa do milagre e faz a hora do ser?
Num fim de noite, a melhor programação
é flanar pela avenida des Champs-Élysées, amplo corredor pontilhado de candelabros
e letreiros luminosos. Segui a insônia da multidão, diante das vitrines e do Arco
do Triunfo, feérico farol, pulsando de vida e luz, irisada esfinge, ungida pelo
noturno fantástico do carrilhão flamejante. Árvores gotejam luz violeta no coração
do mundo. Os automóveis passam, num festim de meteoros extasiantes. A grande avenida
iluminada, cingida pelo esplêndido arco, é uma passarela onde a humanidade desfila
com seus trajes e idiomas. Que o digam a ostentação dos cafés ao ar livre, os jornais
do mundo num quiosque, o clima de outubro, agradabilíssimo, o movimento incessante
dos carros e a pele branca e delicada de algumas mulheres.
Da avenue des Champs-Élysées,
num trajeto pela avenue Victor Hugo, chego à atual rue Paul Valéry, após caminhar
algumas quadras. A rua do poeta se chamava rue Villejust, quando ele ali passou
a residir, em junho de 1906, depois de seu casamento, em 1900, com Jeannie Gobillard,
sobrinha da pintora Berthe Morisot. Seu casamento teve André Gide e Pierre Louys
como testemunhas. Ele foi pai de uma filha, chamada Agathe, nascida em 1906.
Nesse período, Valéry
trabalhou como secretário da agência de notícias Havas, emprego que lhe arranjara
André Lebey, sobrinho do diretor da empresa.
No esgalgo prédio de nº 40 da tranquila rue Paul Valery, morou também
a pintora impressionista Berthe Morisot, casada com um irmão de Édouard Manet. Esse
endereço foi a derradeira estância do autor de La Jeune Parque. Ele recebeu ali a visita de T.S. Eliot (Thomas Stearns
Eliot), com quem manteve intercâmbio sobre temas de poesia e de cultura europeia.
Ao tomar conhecimento da morte do poeta, no dia 20 de julho de 1945,
Charles de Gaulle, de quem Valéry foi grande amigo, mandou render-lhe homenagem,
com funerais nacionais, naquele dia 20 e marcha fúnebre entoada pela guarda de honra
do líder francês na Esplanade du Trocadéro.
De Valéry podemos dizer que foi dotado de particular talento na arte de combinar
os recursos musicais e plásticos da linguagem com os sentimentos e as meditações.
Produziu, desse modo, a expressão do que há de melhor em sua vitalidade espiritual.
Agulha Revista de Cultura
Número 225 | março de 2023
Artista convidada: Briget Bate Tichenor (França, 1917-1990)
editor | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2023
∞ contatos
Rua Poeta Sidney Neto 143 Fortaleza CE 60811-480 BRASIL
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário