domingo, 15 de setembro de 2024

THOMAZ ALBORNOZ NEVES | 30 poemas surrealistas ao gosto do tradutor

 


Para a descoberta, o antigo é novo. E a depender da nossa inocência, o velho, mesmo o esgotado, será inédito para nós. Digo isso porque, para o jovem poeta que fui – sensível, intuitivo e ignorante – em uma Montevidéu envelhecida pelo êxodo provocado pela ditadura, pouco importou que o movimento surrealista tenha sido diluído décadas antes pela volição moderna.

O desterrado é permeável, mais poroso que o sedentário. Nele, as leituras se misturam aos lugares onde ocorrem e às circunstâncias vividas. Aos 18 anos, no início da década de 80, a descoberta do surrealismo está intimamente vinculada com a cidade de Montevidéu e o primeiro amor. Quando retorno aos poemas de Desnos ou Schehadé, seus versos têm aquela aura e têm o poder de trazê-la de volta. Não há, todos sabemos, melhor maneira de resgatar memórias que através da arte.

Eu era então um romântico leitor do Ultraismo e da espanhola Geração de 27 quando os poemas “O espelho de um momento” e “Max Ernst”, de Paul Éluard, viraram o meu universo do avesso. Com Éluard, a poesia de Char e de Breton dominaria não apenas o meu presente, como o enriqueceria com um novo passado. Foi por Breton que fui a Jarry e a Lautréamont e cheguei a Rimbaud e Baudelaire. O surrealismo determinaria também meu futuro dos anos seguintes, reverberando nos poemas de meu primeiro livro, escrito para aquele primeiro amor e publicado em 1987.

Por anacrônica que minha formação possa parecer vista de agora, nada contemporâneo no Brasil daqueles dias, fosse a poesia concreta ou a cabralina, fosse a marginal e a do mimeógrafo, teria tanto impacto quanto os surrealistas. Alguns dos seus poetas canônicos foram tão importantes para meus padrões estéticos que determinaram uma infinidade de afinidades posteriores; de Murilo Mendes a Paz, de Elytis a Lindegren, de Michaux a Tranströmer, de Ekelöf a Glissant. Já a atitude revolucionária do movimento ficou atrás, não me alcançou.

Hoje, traduzindo os poemas para comemorar com Floriano Martins o centenário do Primeiro Manifesto, tive a rara sensação de ter em mãos uma reunião escrita pelo l’air du temps, um único e anônimo autor, tal a onipresença da linguagem criada por Breton. A memória afetiva é tanta que os nomes dos poetas passaram estranhamente a fazer parte das poesias que encabeçam. Assim, por ex., Malcom de Chazal, Guy Cabanel, Giséle Prassimos, E.L.T. Messens, Ghérasim Luca, André Pierre de Mandiargues se tornaram, na minha leitura, sonoros versos surrealistas.

Sei da deselegância que é usar a própria biografia em notas deste tipo, mas diante da relutância em considerar categorias literárias fixas, convenções geracionais e identidades estáveis como parâmetros para a história, minhas experiências são o imaginário mais à mão. De resto, os ismos são generalizações didáticas que não substituem uma aproximação individual dos seus autores. De perto, o todo se embaça na medida em que cada poeta, por separado, se distingue. Mesmo que, como se verá na mostra que segue, o tal espírito do tempo ou o poder papal de Breton, tenham deixado com seu jato de energia tudo parecido. Por um momento. 

Sant’Ana do Livramento, 22 agosto de 2024

 

 


 

1 LOUIS ARAGON (1897-1982)

 

VELHO COMBATENTE

 

Fiz parte do movimento Dada Dizia o dadaista

Fiz parte do movimento Dada

 

E havia feito na verdade

 

 

2 JEAN ARP (1886-1966)

 

GAMAS DE SERRAGEM

 

enquanto lambo meu próprio corpo como o dia lambe o seu

entre o céu e o almoço

o canhão dispara na alma verde

o galo em cabides de cristal

salta atrás de um sino que gira no ar e relincha como madeira feminina

 

 

3 ANDRÉ BRETON (1896-1966)

 

GIRASSOL

 

A Pierre Reverdy

 

A viajante que atravessa Les Halles no fim do verão caminhava na ponta dos pés

O desespero fazia girar no céu seus enormes lírios tão belos E na bolsa estava meu sonho esse frasco de sais

que só foi aspirado pela madrinha de Deus

O torpor avançava como névoa no Chien qui fume onde o pró e o contra acabaram de entrar

A jovem mal podia ser vista por eles

Eu me encontrava diante da embaixadora do salitre

ou da curva branca sobre o fundo negro que chamamos pensar? O baile dos inocentes chegava ao apogeu

Lentamente faróis se incendiavam entre as castanheiras Na Pont-au-Change se ajoelhou a dama sem sombra

Rua Gît-le-Cœur os selos não eram os mesmos As promessas noturnas enfim se cumpriam

Os pombos-correio os beijos de socorro se uniam aos seios da bela desconhecida

Dardos sob a gaze dos significados perfeitos Uma granja prosperava em pleno Paris

Suas janelas davam a Via-Láctea

Mas ali mais ninguém vivia por causa dos sobreviventes

Os sobreviventes que como sabemos são mais devotos que os fantasmas Alguns como esta mulher tem o ar de nadar

e no amor entra um pouco da sua substância Ela os interioriza

Eu não sou joguete de nenhuma potência sensorial E ainda o grilo que canta nos cabelos de cinza

um anoitecer perto da estátua de Étienne Marcel me lançou um olhar de inteligência

André Breton ele disse passa

 

 

4 MAXIME ALEXANDRE (1899–1976)

 

OS SALTIMBANCOS

 

Na chuva do silêncio Na neve do desejo

Uma boca vivente e um braço que pendem a uma chama

Tantos minutos em queda sem as asas imprescindíveis Tanta inocência ao mentir

Os encontros semelhantes à solidão Grandes aventuras para cantar

Os muros derruídos

deixam seus rastros em um espelho

 

 

5 JACQUES BARON (1905-1986)

 

O DESCONHECIDO

 

Ele disse os meus lábios são cachos monstruosos de panteras cantando mais doces que os doces pássaros da colina e os touros sangrentos das pesadas nuvens escuras

Ele disse eu trago no seio ondas imensas e ácidas entre as tão belas flores dos grandes dias

Ele a chamou Maria

menina que trazia hortaliças Ele disse ainda ele disse

eu sou uma papoula

que pela manhã desperta o azul pálido das feras

 

 

6 JEAN-LOUIS BEDOUIN (1929-1996)

 

EMBARQUE IMEDIATO

 

Quando o tapete persa é levado na hora de pico Para o ancestral dos crustáceos

O céu cansado de estar só O céu tem fome

E no meu bolso a chave incendeia Ao canto de açoite dos sapos

Que me lembra o teu rosto na chuva Um ninho de andorinha na primavera

E esta pequena gare tomada pelo musgo

Onde o sol sem bagagem tritura suas conchas cor de tigre Tudo se reúne

O estuário preservado onde o trópico apodrece O molar da fonte cristaliza outra vez

Desde o gume afiado do adeus o prado decapitado Coram as maçãs

Mordida é melhor

Um inseto é igual a uma montanha de palavras

 

 

7 VINCENT BOUNOURE (1928-1996)

 

O CORREIO ESQUECIDO

 

O rito e o parque abatido O ar grave

Os ônibus invocados

 

Longe se extraviam os sinos

Para a minha maior determinação E a garganta da toutinegra

 

Votiva no meio do vento

 

 

8 GUY CABANEL (1926)

 

OS ANÉIS DO TEMPO

 

As moscas secam o mar, os pássaros

têm os gritos do sexo, logo mortos

Eles cospem piolhos irritantes, contorcem o sangue, fundem crimes, borrascas.

 

Cumes na água, amarelos nos poços, prazer da Arábia

Oh enxofre na mão, na ruga do ventre, alegria da estagnação.

Porquê a tua carícia, escaravelho?

 

Ao pé do colosso, os farrapos neste buraco, está o olho revolto.

As gotas que escorrem do sol

desbotam o campo.

Basalto macio como quem nada,

coroa nos ombros, é o fogo

 

 

9 AIMÉ CÉSAIRE (1913-2008)

 

SOL SERPENTE

 

Sol serpente olho fascinante meu olho

e o mar infestado de ilhas crepitando nos dedos das rosas lança-chamas e meu intacto corpo de fulminado

a água ergue as carcaças de luz perdidas no corredor sem bombeamento turbilhões de gelo aureolam os corações fumegantes dos corvos

nossos corações

são a voz dos relâmpagos domesticados rodopiando nas suas dobradiças trincadas transmissão de lagartixas à paisagem de vidros quebrados

são as flores vampiras no lugar das orquídeas elixir do fogo central

fogo apenas fogo noturno sobre a mangueira coberta de abelhas o meu desejo é um acaso de tigres surpresos nos enxofres

mas o despertar de estanho se doura com jazidas infantis e o meu corpo de seixo comendo peixe

comendo pombas e sono

o açúcar da palavra Brasil no fundo do pantanal

 

 

10 RENE CHAR (1907-1988)

 

LOUIS CUREL DE LA SORGUE

 

Sorgue que avanças atrás de uma cortina de borboletas cintilantes, com tua foice de reitor leal na mão, a cremalheira do suplício é um colar em teu pescoço para cumprir com tua jornada de homem. Quando poderei despertar e sentir a felicidade modelada por teu centeio impecável? O sangue e o medo começaram sua luta que continuará até a noite, até seu retorno, solidão com margens cada vez maiores. A arma dos teus mestres, relógio das marés, prestes a apodrecer. A criação e o riso se dissociam. O ar-rei se anuncia.

 

Sorgue, teus ombros como um livro aberto propagam sua leitura. Foste, filho, o noivo desta flor de caminho traçado na rocha, que evadia por um zangão… Curvado, observas hoje a agonia do perseguidor que arrancou do ímã da terra a crueldade de inumeráveis formigas para arremessá-la em milhões de assassinos contra os teus e a tua esperança. Esmaga então, uma vez mais, este ovo canceroso que resiste.

 

Há um homem de pé agora, um homem em um campo de centeio, um campo como um campo metralhado, um campo salvo.

 

 

11 ACHILLE CHAVÉE (1906-1969)

 

NOITE EM BRANCO

 

O reino vegetal O reino animal

o reino do terror Perda de jogos perda de sorte

Perda até onde a vista alcança

 

Nenhum simulacro a apunhalar nenhuma verdade a desvestir nenhum fantasma a despistar Estou cercado

de morte alguma lamentada Não tenho idade

sem mentira como a cozinha

com suas coberturas douradas

abrigando os estados avançados de solidão Estou sozinho

com a faca o pão

e a água

 

 

12 MALCOLM DE CHAZAL (1902-1981)

 

SEM MÁGICA

 

II

A água diz à onda: Tu me bebes Como eu poderia?

Responde a onda, Eu sou tua boca.

 

C

O verde

passou sua mão

no ombro do amarelo

que sentiu um calafrio malva

 

 

13 ROBERT DESNOS (1900-1945)

 

ÚLTIMO POEMA

 

Sonhei tanto contigo

Tanto andei, falei tanto

Amei tanto a tua sombra que nada mais tenho de ti

Me resta apenas ser a sombra entre as sombras ser cem vezes mais sombra que a sombra

ser a sombra que retornará e retornará sempre à tua vida cheia de sol

 

 

14 MARCEL DUCHAMP (1887-1968)

 

TEXTOS

 

Por condescendência um peso é mais pesado ao cair que ao ascender. As garradas de marca (tipo a do Benedictine) obedecem a um princípio de densidade oscilante.

 

 

15 PAUL ÉLUARD (1895-1952)

 

O ESPELHO DE UM INSTANTE

 

Dissipa o dia

Mostra aos homens imagens livres da aparência Retira dos homens o poder da distração

É duro como a pedra A pedra sem forma

A pedra do movimento e da visão

E tanto resplandece que todas as couraças, todas as máscaras falseiam O que a mão tomou recusa tomar a forma da mão

O que foi compreendido não existe O pássaro confundiu-se com o vento O céu com a sua verdade

O homem com a sua realidade

 

 

16 ELIE-CHARLES FLAMAND (1928-2016)

 

O ESTANHO DA LUZ MORTA

 

Cavaleiro de gelo

Preso ao centro do diamante na tela de ar

quando são derrubados os insensários dos teus sentidos Tu circundaste com as mãos as trevas espelhadas

Sobre o cume dos montes da noite extrema no ponto cego do nó dos mundos

 

 

17 GÉRARD LEGRAND (1927-1999)

 

FORA DE ALCANCE

 

As crianças que brincavam ao redor das fontes comunitárias na relva cor de couro quando resplandecem os reflexos cascas de ovos e cogumelos malvas os trompetes dos mortos responderam com um olhar ao eremita errante

Os druidas da neve cruzavam suas foices douradas muito além da encruzilhada onde ele se calava

O vimeiro do vento adormece em uma represa natural e os seixos confessaram a hora da estrela do mar

 

 

18 E.L.T MESSENS (1903-1971)

 

PERTO DA MEDIDA

 

Visto por um elefante sou grande

Visto por uma formiga pequeno

Nada de estranho então Que não me tenham confiança alguma Homem médio

De média condição de espírito médio

 

 

19 JOYCE MANSOUR (1928-1986)

 

BIOGRAFIA

 

As brumas sábias da folhagem outonal O lilás dos anseios

O chá das enfermeiras inglesas

O deserto que se agita atrás da cortina O irmão com quem nos casamos

O avô que enterramos

A criança que perde os dentes A cobra que acariciamos

e que sorri

Os assassinatos de veludo e creme

Os sussurros musicais dos negros ajoelhados Os pais que dormem no grande saco da noite

Os suspiros de leite as bofetadas de asas de ferro Bocas céticas Dilemas

A morte do marido que não anda mais

As montanhas com soluços de neve que vêm e vão A cada letra mal soletrada da criança que implora

e que balança entre as folhas suadas de seu décimo terceiro ano Certa de seu poder e do despertar do amor

Certa de seu poder e da morte inesgotável

 

 

20 JEAN MALRIEU (1915-1976)

 

A ALEGRIA

 

Com a vida na borda dos meus lábios

surpreso quando estava prestes a dizer teu nome És minha mulher e te conheço há cem anos

És um castelo de folhas

Eu peguei tua mão no final do sol

E o sol me contou uma longa história sobre o sol Com balsas no rio

E o rio me contou sobre teu corpo

E teu corpo termina com a mão que eu devolvi ao sol És tu

Sou feito de sombras ao seu lado Somos jovens e nossos dias são longos

 

 

21 JEHAN MAYOUX (1904-1975)

 

DEPOIS DE AMANHÃ (fragmento)

 

Quando eu for uma pedra, dormirei à noite em sopeiras e durante o dia em sacolas de mão

Quando eu for uma porta de prisão, pescarei com dinamite Quando eu for uma tábua de pão, telefonarei aos meus amigos Quando eu for uma faca, domesticarei as laçadas

Quando eu for uma bigorna, lavarei as roupas no rio Quando eu for uma lâmina de barbear, morderei cães

 

 

22 CÉSAR MORO (1903-1956)

 

VIAGEM DE LUZ

 

Eu vos saúdo benévolas aparições Mortalha remendada de uma andorinha Espuma do sonho interrompido

 

Liberdade de gestos Frio da noite

Rugas sombrias e peso sobre-humano Eu saúdo o cego pressentimento

E tomo suas mãos geladas Sua língua boia

Pouca luz para o milagre

 

Em sonho antecipo meus passos Troco de roupa me deito esqueço

E posso dormir como um maldito inocente

das grandes maravilhas que a noite desencadeia

 

 

23 PAUL NOUGÉ (1895-1967)

 

ALGUNS ESCRITOS E DESENHOS DE CLARISSA JURANVILLE

 

Agora

Sou eu quem fará companhia aos homens e mulheres de má vontade Serei o seu prisioneiro

Habitarei suas mentiras suas lembranças nos tantos aposentos das suas vidas

Entrarei furtivo nas suas desgraças Ordenarei seus ressentimentos Soprarei sobre suas cóleras

Aos empurrões os levarei para a praça cuidando suas costas

Seus gestos e seus gritos serão desconhecidos para eles Fieis trairão sua palavra

 

 

24 BENJAMIN PÉRET (1899-1959)

 

PISCADA

 

Papagaios cruzam minha cabeça quando te vejo de perfil e o céu de banha estriado por relâmpagos azuis

traça teu nome em todos os sentidos

Rosa que tem por coque uma tribo negra em uma escadaria

onde os seios agudos das mulheres olham através dos olhos dos homens Hoje olho por teus cabelos

Rosa de opala da manhã

e por teus olhos me desperto Rosa de armadura

e por teus seios de explosão penso Rosa de lago verdoso de rãs

e em teu umbigo de mar Cáspio durmo Rosa de rosal silvestre na greve geral

e nas tuas costas de via-láctea fecundada por cometas me perco Rosa de jasmim de noite de lavandaria

Rosa de de floresta negra inundada por selos postais azuis e verdes Rosa de cometa voando sobre um terreno baldio onde crianças batalham Rosa de fumaça de cigarro

Rosa de espuma de mar cristalizada Rosa

 

 

25 FRANCIS PICABIA (1879-1953)

 

NATAÇÃO

 

Eu sou a miragem acima da literatura dos absintos burgueses A terna suposição de um mata-borrão alcoólatra

o ghost writer de uma nova obra

A estrada é discretamente agreste, cortada por iluminações A morte

chance única para esplendores invisíveis deita em um leito de repouso

Ímpar, entre os poetas o mais inadequado

 

 

26 GISÈLE PRASSINOS (1920-2015)

 

VALE DO OURO E DO PARALELEPÍPEDO

 

Vale do ouro e do paralelepípedo esconde a tua chama nestes fios de palha nas pedreiras e nos bosques de mirtilos Para diminuir a sombra

sentir o som e a flor

 

 

27 JACQUES PRÉVERT (1900-1977)

 

O ARROIO

 

Passou tanta água debaixo das pontes e enormes quantidades de sangue Mas aos pés do amor

corre um grande arroio branco E nos jardins da lua

nos que a cada dia se comemora tua festa esse arroio canta enquanto dorme

E essa lua é minha cabeça onde gira un imenso sol azul E esse sol são teus olhos

 

 

28 GEORGES SCHÉHADÉ (1905-1989)

 

[MEU AMOR MARAVILHOSO]

 

Meu amor maravilhoso como a pedra insensata Esta palidez que julgas leve

de tal modo que te afastas de mim para retornar

na hora em que nós dois e o sol formamos uma rosa Ninguém jamais te encontrou

Nem o caçador, nem a esbelta amazona que habita as nuvens nem este canto que anima os quartos perdidos

e tu eras essa mulher e teus olhos molhavam de aurora a planície onde eu era a lua

 

 

29 TRISTAN TZARA (1896-1963)

 

CAMINHO

 

que caminho é aquele que nos separa e onde estendo a mão do pensamento

há uma flor escrita na ponta de cada dedo

e o extremo do caminho é uma flor que vai ao teu lado

 

 

30 BRETON, ÉLUARD E CHAR

 

GAZEAR A ESCOLA

 

C            Nós entramos pela porta traseira

B             Havia um coração no quadro-negro e uma vara de condão sobre a mesa Teríamos ouvido os passos do lobo

E                O primeiro amor ensinava boas maneiras aos amantes

C            As pedras seguiam sua sombra agridoce

E             O olho não soltou o nosso abraço

B                E se ela pedir minha vida Ele perguntou

De imediato a luz saltou como as raízes

E                armando as armadilhas de orvalho

 

Tua cabeleira ele perguntou E o silêncio foi conquistado

 

 


THOMAZ ALBORNOZ NEVES (Sant’Ana do Livramento, 1963) é um poeta brasileiro com uma trajetória traçada à margem da tradição lírica nacional. Sua poesia, escrita entre 1981 e 2018, está reunida no volume À espera de um igual. São seis livros que podem ser lidos como um só. Neles, o surrealismo extemporâneo leva a uma intensa concisão formal gradualmente desintegrada pelo confronto com o silêncio. Estruturada no presente, sua poesia parte da realidade para transcendê-la. Seja por um impulso original ou por uma busca de realização, é uma obra aberta à espiritualidade e que, segundo o poeta Ivan Junqueira, aspira a um estado não verbal da linguagem. O trabalho como tradutor de Albornoz reúne versões do Tao Te Ching, do Shin Jin Mei e do Hokyo Man Zai, além de uma seleção da poesia chinesa dos séculos I a XVIII e da poesia japonesa dos séculos VIII a XX, incluindo uma extensa antologia de haicai. Publicou ensaios biográficos com traduções de poemas de Kaváfis, Seféris, Montale, Éluard, Michaux, Char, Tranströmer, Brodsky, Heaney e Ashbery, entre outros. Através da sua editora, a tan ed., publica, desde 2020, autores que escrevem entre Porto Alegre e Montevidéu, em português, espanhol e portunhol. Vive do campo, na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, onde nasceu.
 

 


ANTONIA EIRIZ (Cuba, 1929-1995). Se graduó de la Escuela de Bellas Artes de San Alejandro en 1957. Participó en la II Bienal Interamericana de México en 1960 y en la VI Bienal de Sao Paulo en 1961, donde su obra recibió una mención honorífica. De 1962 a 1969 impartió clases en la Escuela de Instructores de Arte y en la Escuela Nacional de Arte, ambas en La Habana. En 1963 ganó el Primer Premio en la Exposición de La Habana, organizada por la Casa de las Américas. Al año siguiente, la Galería Habana presentó su importante exposición “Pintura/Ensamblajes”. En 1966 expuso su obra junto a Raúl Martínez en la Casa del Lago de la Universidad Nacional Autónoma de México, y un año después en el 23 Salón de Mayo en París, Francia. Eiriz tenía una forma muy particular de captar su entorno, optando por retratar las situaciones más dramáticas y grotescas de la condición humana, lo que provocó que su obra fuera incomprendida por el gobierno revolucionario, lo que la llevó a jubilarse anticipadamente. A finales de los años sesenta abandonó la pintura y se dedicó a la promoción de formas de arte popular, transformando su casa en un taller donde enseñaba técnicas como el papel maché y los trabajos textiles a la comunidad local. En 1989 recibió la Orden Félix Varela del Consejo de Estado de Cuba, la más alta distinción del país en el ámbito cultural. En 1991 se realizó una exposición de su obra titulada “Reencuentro” en la Galería Galiano de La Habana y en 1994 recibió una beca de la Fundación John Simon Guggenheim. Después de su muerte en 1995, el Museo de Arte de Fort Lauderdale organizó una retrospectiva de su obra: “Antonia Eiriz: Tributo a una leyenda”. Ahora ella es nuestra artista invitada, en esta edición de Agulha Revista de Cultura.




Agulha Revista de Cultura

Número 255 | setembro de 2024

Artista convidada: Antonia Eiriz (Cuba, 1929-1995)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2024


∞ contatos

https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/

http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/

FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com

 





  

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário