O desterrado é permeável,
mais poroso que o sedentário. Nele,
as leituras se misturam aos lugares onde ocorrem e às circunstâncias vividas. Aos
18 anos, no início da década de 80, a descoberta do surrealismo está intimamente
vinculada com a cidade de Montevidéu e
o primeiro amor. Quando retorno aos poemas de Desnos ou Schehadé, seus versos têm
aquela aura e têm o poder de trazê-la de volta. Não há, todos sabemos, melhor maneira
de resgatar memórias que através da arte.
Eu era então um romântico
leitor do Ultraismo e da espanhola Geração de 27 quando os poemas “O espelho de
um momento” e “Max Ernst”, de Paul Éluard, viraram o meu universo do avesso. Com Éluard, a poesia de Char e de
Breton dominaria não apenas o meu presente,
como o enriqueceria com um novo passado. Foi por Breton que fui a Jarry e a Lautréamont
e cheguei a Rimbaud e Baudelaire. O surrealismo determinaria também meu futuro dos anos seguintes, reverberando nos poemas
de meu primeiro livro, escrito para aquele primeiro amor e publicado em 1987.
Por anacrônica que minha
formação possa parecer vista de agora,
nada contemporâneo no Brasil daqueles dias, fosse a poesia concreta ou a cabralina, fosse a marginal e a do mimeógrafo,
teria tanto impacto quanto os surrealistas.
Alguns dos seus poetas canônicos foram
tão importantes para meus padrões estéticos que
determinaram uma infinidade de afinidades posteriores; de Murilo Mendes a Paz, de Elytis a Lindegren,
de Michaux a Tranströmer, de Ekelöf a Glissant. Já a atitude revolucionária do movimento
ficou lá atrás, não me alcançou.
Hoje, traduzindo os poemas
para comemorar com Floriano Martins o
centenário do Primeiro Manifesto, tive
a rara sensação de ter em mãos uma reunião
escrita pelo l’air du temps, um único e anônimo autor,
tal a onipresença da linguagem
criada por Breton.
A memória afetiva é tanta que os nomes
dos poetas passaram
estranhamente a fazer parte das poesias que encabeçam. Assim,
por ex., Malcom de Chazal, Guy Cabanel, Giséle Prassimos, E.L.T. Messens, Ghérasim Luca, André Pierre de Mandiargues se tornaram, na
minha leitura, sonoros versos surrealistas.
Sei da deselegância que é usar a própria biografia em notas deste tipo, mas diante da relutância em considerar categorias literárias fixas, convenções geracionais e identidades estáveis como parâmetros para a história, minhas experiências são o imaginário mais à mão. De resto, os ismos são generalizações didáticas que não substituem uma aproximação individual dos seus autores. De perto, o todo se embaça na medida em que cada poeta, por separado, se distingue. Mesmo que, como se verá na mostra que segue, o tal espírito do tempo ou o poder papal de Breton, tenham deixado com seu jato de energia tudo parecido. Por um momento.
Sant’Ana do Livramento, 22 agosto de 2024
1 LOUIS ARAGON (1897-1982)
VELHO COMBATENTE
Fiz parte do movimento Dada Dizia o dadaista
Fiz parte do movimento Dada
E havia feito na verdade
2 JEAN ARP (1886-1966)
GAMAS DE SERRAGEM
enquanto lambo meu próprio corpo
como o dia lambe o seu
entre o céu e o almoço
o canhão dispara na alma verde
o galo em cabides de cristal
salta atrás de um sino que gira no ar e relincha como madeira feminina
3 ANDRÉ BRETON (1896-1966)
GIRASSOL
A Pierre
Reverdy
A viajante que atravessa
Les Halles no fim do verão caminhava na
ponta dos pés
O desespero fazia
girar no céu seus enormes lírios tão
belos E na bolsa estava meu sonho esse frasco de sais
que só foi aspirado pela
madrinha de Deus
O torpor avançava como
névoa no Chien qui fume onde o pró e o
contra acabaram de entrar
A jovem mal podia ser vista
por eles
Eu me encontrava diante
da embaixadora do salitre
ou
da curva branca sobre o fundo negro que
chamamos pensar? O baile
dos inocentes chegava ao apogeu
Lentamente faróis se incendiavam
entre as castanheiras Na Pont-au-Change se
ajoelhou a dama sem sombra
Rua Gît-le-Cœur os selos não eram os mesmos As
promessas noturnas enfim se cumpriam
Os pombos-correio os beijos
de socorro se uniam aos seios da bela desconhecida
Dardos sob a gaze dos significados
perfeitos Uma granja prosperava em pleno Paris
Suas janelas davam a Via-Láctea
Mas ali mais ninguém vivia
por causa dos sobreviventes
Os
sobreviventes que como sabemos são mais
devotos que os fantasmas Alguns como
esta mulher tem o ar de nadar
e no amor entra um pouco
da sua substância Ela os interioriza
Eu não sou joguete de nenhuma
potência sensorial E ainda o grilo que canta nos cabelos de cinza
um anoitecer perto da estátua
de Étienne Marcel me lançou um olhar de inteligência
André Breton ele disse
passa
4 MAXIME ALEXANDRE (1899–1976)
OS SALTIMBANCOS
Na chuva do silêncio Na neve do desejo
Uma boca vivente e um braço que
pendem a uma chama
Tantos minutos em queda sem as asas imprescindíveis Tanta inocência ao mentir
Os encontros semelhantes à solidão Grandes aventuras para cantar
Os muros derruídos
deixam seus rastros em um espelho
5 JACQUES BARON (1905-1986)
O DESCONHECIDO
Ele disse os meus
lábios são cachos monstruosos de
panteras cantando mais doces que os doces pássaros da colina e os touros sangrentos
das pesadas nuvens escuras
Ele disse eu trago no seio ondas imensas e ácidas entre as tão belas
flores dos grandes dias
Ele a chamou Maria
menina que trazia hortaliças Ele disse ainda ele disse
eu sou uma papoula
que pela manhã desperta o azul pálido das feras
6 JEAN-LOUIS BEDOUIN (1929-1996)
EMBARQUE IMEDIATO
Quando o tapete persa é levado na hora de pico Para o ancestral dos
crustáceos
O céu cansado de estar só O céu tem fome
E no meu bolso a chave incendeia Ao canto de açoite dos sapos
Que me lembra o teu rosto na chuva Um ninho de andorinha na primavera
E esta pequena gare tomada pelo musgo
Onde o sol sem bagagem tritura suas conchas cor de tigre Tudo se
reúne
O estuário preservado onde o trópico apodrece O molar da fonte cristaliza
outra vez
Desde o gume afiado do adeus o prado decapitado Coram as maçãs
Mordida é melhor
Um inseto é igual a uma montanha de palavras
7 VINCENT BOUNOURE (1928-1996)
O CORREIO ESQUECIDO
O rito e o parque abatido O ar grave
Os ônibus invocados
Longe se extraviam os sinos
Para a minha maior determinação E a garganta da toutinegra
Votiva no meio do vento
8 GUY CABANEL (1926)
OS ANÉIS DO TEMPO
As moscas secam o mar, os pássaros
têm os gritos do sexo, logo mortos
Eles cospem piolhos irritantes, contorcem o sangue, fundem crimes,
borrascas.
Cumes na água, amarelos nos poços, prazer da Arábia
Oh enxofre na mão, na ruga do ventre, alegria da estagnação.
Porquê a tua carícia, escaravelho?
Ao pé do colosso, os farrapos neste buraco, está o olho revolto.
As gotas que escorrem do sol
desbotam o campo.
Basalto macio como quem nada,
coroa nos ombros, é o fogo
9 AIMÉ CÉSAIRE (1913-2008)
SOL SERPENTE
Sol serpente olho fascinante meu olho
e o mar infestado de ilhas crepitando nos dedos das rosas lança-chamas
e meu intacto corpo de fulminado
a água ergue as carcaças de luz perdidas no corredor sem bombeamento
turbilhões de gelo aureolam os corações fumegantes dos corvos
nossos corações
são a voz dos relâmpagos domesticados rodopiando nas suas dobradiças trincadas
transmissão de lagartixas à paisagem de vidros quebrados
são as flores vampiras no lugar das orquídeas elixir do fogo central
fogo apenas fogo noturno sobre a mangueira coberta de abelhas o meu
desejo é um acaso de tigres surpresos nos enxofres
mas o despertar de estanho se doura com jazidas infantis e o meu
corpo de seixo comendo peixe
comendo pombas e sono
o açúcar da palavra Brasil no fundo do pantanal
10 RENE CHAR
(1907-1988)
LOUIS CUREL DE LA SORGUE
Sorgue que avanças
atrás de uma cortina
de borboletas cintilantes, com tua foice de reitor leal na mão, a cremalheira do suplício é um colar em teu pescoço para cumprir com tua jornada
de homem. Quando poderei despertar e sentir a felicidade
modelada por teu centeio
impecável? O sangue e o medo começaram sua luta que continuará
até a noite, até seu retorno, solidão com margens cada vez maiores. A arma dos teus mestres, relógio das marés,
prestes a apodrecer. A criação e o riso se dissociam. O ar-rei se anuncia.
Sorgue, teus ombros como um livro aberto propagam sua leitura.
Foste, filho, o noivo desta flor de caminho traçado na rocha, que evadia
por um zangão… Curvado, observas hoje a agonia do perseguidor que arrancou do ímã da terra a crueldade
de inumeráveis formigas para arremessá-la
em milhões de assassinos contra os teus e a tua
esperança. Esmaga então, uma vez mais,
este ovo canceroso que resiste.
Há um homem de pé agora, um homem em um campo de centeio, um campo
como um campo metralhado, um campo salvo.
11 ACHILLE CHAVÉE (1906-1969)
NOITE EM BRANCO
O reino vegetal O reino
animal
o reino do terror Perda
de jogos perda de sorte
Perda até onde a vista alcança
Nenhum simulacro a apunhalar nenhuma verdade a desvestir nenhum fantasma
a despistar Estou cercado
de morte alguma lamentada Não tenho idade
sem mentira como a cozinha
com suas coberturas douradas
abrigando os estados avançados de solidão Estou sozinho
com a faca o pão
e a água
12 MALCOLM DE CHAZAL (1902-1981)
SEM MÁGICA
II
A água diz à onda: Tu me bebes Como eu poderia?
Responde a onda, Eu sou tua boca.
C
O verde
passou sua mão
no ombro do amarelo
que sentiu um calafrio malva
13 ROBERT DESNOS (1900-1945)
ÚLTIMO POEMA
Sonhei tanto contigo
Tanto andei, falei tanto
Amei tanto a tua sombra que nada mais tenho de ti
Me resta apenas ser a sombra entre as sombras ser cem vezes mais
sombra que a sombra
ser a sombra que retornará e retornará sempre à tua vida cheia de
sol
14 MARCEL DUCHAMP (1887-1968)
TEXTOS
Por condescendência um peso é mais pesado ao cair que ao ascender.
As garradas de marca (tipo a do Benedictine) obedecem a um princípio de densidade
oscilante.
15 PAUL ÉLUARD (1895-1952)
O ESPELHO DE UM INSTANTE
Dissipa o dia
Mostra aos homens imagens livres
da aparência Retira dos
homens o poder da distração
É duro como a pedra A pedra sem forma
A pedra do movimento
e da visão
E tanto resplandece que todas as couraças, todas as máscaras falseiam
O que a mão tomou
recusa tomar a forma da mão
O que foi compreendido já não existe O pássaro
confundiu-se com o vento
O céu com a sua verdade
O homem com a sua realidade
16 ELIE-CHARLES FLAMAND (1928-2016)
O ESTANHO DA LUZ MORTA
Cavaleiro de gelo
Preso ao centro do diamante na tela de ar
quando são derrubados os insensários dos teus sentidos Tu circundaste
com as mãos as trevas espelhadas
Sobre o cume dos montes da noite extrema no ponto cego do nó dos
mundos
17 GÉRARD LEGRAND (1927-1999)
FORA DE ALCANCE
As crianças que brincavam
ao redor das fontes comunitárias na relva
cor de couro quando resplandecem os reflexos cascas de ovos e cogumelos malvas os trompetes dos mortos responderam com um
olhar ao eremita errante
Os druidas da neve cruzavam suas foices douradas muito além da encruzilhada onde ele se calava
O vimeiro do vento adormece
em uma represa natural e os seixos confessaram a hora da estrela do mar
18 E.L.T MESSENS (1903-1971)
PERTO DA MEDIDA
Visto por um elefante sou grande
Visto por uma formiga pequeno
Nada de estranho então Que não me tenham confiança alguma Homem médio
De média condição de espírito médio
19 JOYCE MANSOUR (1928-1986)
BIOGRAFIA
As brumas sábias da folhagem
outonal O lilás dos anseios
O chá das enfermeiras inglesas
O deserto que se agita
atrás da cortina O irmão com quem nos casamos
O avô que enterramos
A criança que perde os
dentes A cobra que acariciamos
e que sorri
Os assassinatos de veludo
e creme
Os sussurros musicais dos
negros ajoelhados Os pais que dormem no grande saco da noite
Os suspiros de leite as
bofetadas de asas de ferro Bocas céticas Dilemas
A morte do marido que não
anda mais
As montanhas com soluços
de neve que vêm e vão A cada letra mal soletrada da criança que implora
e que balança entre as
folhas suadas de seu décimo terceiro ano Certa de seu poder e do despertar do amor
Certa de seu poder e da
morte inesgotável
20 JEAN MALRIEU (1915-1976)
A ALEGRIA
Com a vida na borda dos meus lábios
surpreso quando estava prestes a dizer teu nome És minha mulher e
te conheço há cem anos
És um castelo de folhas
Eu peguei tua mão no final do sol
E o sol me contou uma longa história sobre o sol Com balsas no rio
E o rio me contou sobre teu corpo
E teu corpo termina com a mão que eu devolvi ao sol És tu
Sou feito de sombras ao seu lado Somos jovens e nossos dias são longos
21 JEHAN MAYOUX (1904-1975)
DEPOIS DE AMANHÃ (fragmento)
Quando eu for uma
pedra, dormirei à noite em sopeiras
e durante o dia em sacolas
de mão
Quando eu for uma porta de prisão, pescarei com dinamite Quando eu
for uma tábua de pão, telefonarei aos meus amigos Quando eu for uma faca, domesticarei
as laçadas
Quando eu for uma bigorna, lavarei as roupas no rio Quando eu for
uma lâmina de barbear, morderei cães
22 CÉSAR MORO (1903-1956)
VIAGEM DE LUZ
Eu vos saúdo benévolas aparições Mortalha remendada de uma andorinha
Espuma do sonho interrompido
Liberdade de gestos Frio da noite
Rugas sombrias e peso sobre-humano Eu saúdo o cego pressentimento
E tomo suas mãos geladas Sua língua boia
Pouca luz para o milagre
Em sonho antecipo meus passos Troco de roupa me deito esqueço
E posso dormir como um maldito inocente
das grandes maravilhas que a noite desencadeia
23 PAUL NOUGÉ (1895-1967)
ALGUNS ESCRITOS E DESENHOS DE CLARISSA JURANVILLE
Agora
Sou eu quem fará
companhia aos homens e
mulheres de má vontade Serei o
seu prisioneiro
Habitarei suas mentiras
suas lembranças nos tantos aposentos das suas vidas
Entrarei furtivo nas suas
desgraças Ordenarei seus ressentimentos Soprarei sobre suas cóleras
Aos empurrões os levarei
para a praça cuidando suas costas
Seus gestos e seus gritos
serão desconhecidos para eles Fieis trairão sua palavra
24 BENJAMIN PÉRET (1899-1959)
PISCADA
Papagaios
cruzam minha cabeça quando te vejo de perfil e o céu de banha estriado por relâmpagos
azuis
traça teu nome em todos
os sentidos
Rosa que tem por coque
uma tribo negra em uma escadaria
onde
os seios agudos das mulheres
olham através dos olhos dos homens Hoje olho por teus cabelos
Rosa de opala da manhã
e por teus olhos me desperto
Rosa de armadura
e por teus seios de explosão
penso Rosa de lago verdoso de rãs
e em teu umbigo de mar
Cáspio durmo Rosa de rosal silvestre na greve geral
e nas tuas costas de via-láctea fecundada por cometas
me perco Rosa de jasmim de noite de lavandaria
Rosa
de de floresta negra inundada por selos postais azuis e verdes Rosa
de cometa voando sobre um terreno baldio onde crianças batalham Rosa de
fumaça de cigarro
Rosa de espuma de mar cristalizada
Rosa
25 FRANCIS PICABIA (1879-1953)
NATAÇÃO
Eu sou a miragem acima da literatura dos absintos burgueses
A terna suposição de um mata-borrão alcoólatra
o ghost writer de uma nova
obra
A estrada é discretamente agreste, cortada por iluminações A morte
chance
única para esplendores invisíveis deita em um leito de repouso
Ímpar, entre os poetas
o mais inadequado
26 GISÈLE PRASSINOS (1920-2015)
VALE DO OURO E DO PARALELEPÍPEDO
Vale do ouro e do paralelepípedo
esconde a tua chama nestes fios de palha nas pedreiras e nos bosques de mirtilos
Para diminuir a sombra
sentir o som e a flor
27 JACQUES PRÉVERT (1900-1977)
O ARROIO
Passou tanta água debaixo
das pontes e enormes quantidades de sangue Mas aos pés do amor
corre um grande arroio
branco E nos jardins da lua
nos que a cada dia se comemora
tua festa esse arroio canta enquanto dorme
E essa lua é minha cabeça
onde gira un imenso sol azul E esse sol são teus olhos
28 GEORGES SCHÉHADÉ (1905-1989)
[MEU AMOR MARAVILHOSO]
Meu amor maravilhoso como
a pedra insensata Esta palidez que julgas leve
de tal modo que te afastas
de mim para retornar
na hora em que nós dois
e o sol formamos uma rosa Ninguém jamais te encontrou
Nem
o caçador, nem a esbelta amazona que habita as nuvens nem este canto que anima
os quartos perdidos
e tu eras essa mulher e
teus olhos molhavam de aurora a planície onde eu era a lua
29
TRISTAN TZARA (1896-1963)
CAMINHO
que caminho é aquele que nos separa e onde estendo a mão do pensamento
há uma flor escrita na ponta de cada dedo
e o extremo do caminho é uma flor que vai ao teu lado
30 BRETON, ÉLUARD E CHAR
GAZEAR A ESCOLA
C Nós entramos pela
porta traseira
B Havia um coração no
quadro-negro e uma vara de
condão sobre a mesa Teríamos
ouvido os passos do lobo
E O primeiro amor
ensinava boas maneiras
aos amantes
C As pedras seguiam
sua sombra agridoce
E O olho não soltou
o nosso abraço
B E se ela pedir minha vida Ele perguntou
De imediato a luz saltou como
as raízes
E armando as
armadilhas de orvalho
Tua
cabeleira ele perguntou E o silêncio foi conquistado
THOMAZ ALBORNOZ NEVES (Sant’Ana do Livramento, 1963) é um poeta brasileiro com uma trajetória traçada à margem da tradição lírica nacional. Sua poesia, escrita entre 1981 e 2018, está reunida no volume À espera de um igual. São seis livros que podem ser lidos como um só. Neles, o surrealismo extemporâneo leva a uma intensa concisão formal gradualmente desintegrada pelo confronto com o silêncio. Estruturada no presente, sua poesia parte da realidade para transcendê-la. Seja por um impulso original ou por uma busca de realização, é uma obra aberta à espiritualidade e que, segundo o poeta Ivan Junqueira, aspira a um estado não verbal da linguagem. O trabalho como tradutor de Albornoz reúne versões do Tao Te Ching, do Shin Jin Mei e do Hokyo Man Zai, além de uma seleção da poesia chinesa dos séculos I a XVIII e da poesia japonesa dos séculos VIII a XX, incluindo uma extensa antologia de haicai. Publicou ensaios biográficos com traduções de poemas de Kaváfis, Seféris, Montale, Éluard, Michaux, Char, Tranströmer, Brodsky, Heaney e Ashbery, entre outros. Através da sua editora, a tan ed., publica, desde 2020, autores que escrevem entre Porto Alegre e Montevidéu, em português, espanhol e portunhol. Vive do campo, na fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, onde nasceu.
ANTONIA EIRIZ (Cuba, 1929-1995). Se graduó de la Escuela de Bellas Artes de San Alejandro en 1957. Participó en la II Bienal Interamericana de México en 1960 y en la VI Bienal de Sao Paulo en 1961, donde su obra recibió una mención honorífica. De 1962 a 1969 impartió clases en la Escuela de Instructores de Arte y en la Escuela Nacional de Arte, ambas en La Habana. En 1963 ganó el Primer Premio en la Exposición de La Habana, organizada por la Casa de las Américas. Al año siguiente, la Galería Habana presentó su importante exposición “Pintura/Ensamblajes”. En 1966 expuso su obra junto a Raúl Martínez en la Casa del Lago de la Universidad Nacional Autónoma de México, y un año después en el 23 Salón de Mayo en París, Francia. Eiriz tenía una forma muy particular de captar su entorno, optando por retratar las situaciones más dramáticas y grotescas de la condición humana, lo que provocó que su obra fuera incomprendida por el gobierno revolucionario, lo que la llevó a jubilarse anticipadamente. A finales de los años sesenta abandonó la pintura y se dedicó a la promoción de formas de arte popular, transformando su casa en un taller donde enseñaba técnicas como el papel maché y los trabajos textiles a la comunidad local. En 1989 recibió la Orden Félix Varela del Consejo de Estado de Cuba, la más alta distinción del país en el ámbito cultural. En 1991 se realizó una exposición de su obra titulada “Reencuentro” en la Galería Galiano de La Habana y en 1994 recibió una beca de la Fundación John Simon Guggenheim. Después de su muerte en 1995, el Museo de Arte de Fort Lauderdale organizó una retrospectiva de su obra: “Antonia Eiriz: Tributo a una leyenda”. Ahora ella es nuestra artista invitada, en esta edición de Agulha Revista de Cultura.
Agulha Revista de Cultura
Número 255 | setembro de 2024
Artista convidada: Antonia Eiriz (Cuba, 1929-1995)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2024
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário